30 de out. de 2019

MUTIRÕES AGROFLORESTAIS

A Rede agroflorestal por meio de seus integrantes disponibiliza neste espaço divulgação de mutirões agroflorestais no Vale do Paraíba, Mantiqueira, Bocaina e Litoral.
Venha prá REDE AGROFLORESTAL e ajude a divulgar os SISTEMAS AGROFLORESTAIS!!!!  Nos envie dados da localidade para que possamos divulgar.








AÇÕES COM SISTEMAS AGROFLORESTAIS NO ASSENTAMENTO EGÍDIO BRUNETTO EM LAGOINHA - SP


Caminhada Agroecológica – Projeto de Assentamento Egídio Brunetto – Lagoinha - SP

Horta comunitária do Assentamento Egídio Brunetto, Lagoinha - SP.

José Miguel Garrido Quevedo, Engenheiro Agrônomo, Mestre em Planejamento Agropecuário pela UNICAMP e Perito Federal Agrário (INCRA-SP).
Tiago Ribeiro Coutinho, Biólogo, Representante da Coordenação do Assentamento e Membro da Rede Agroflorestal do Vale do Paraíba.
Verônica Andressa de Castro, Discente de graduação em Engenharia     
Agronômica pela FCA – UNESP – Botucatu.
 APRESENTAÇÃO

A Oficina denominada “Caminhada Agroecológica” ocorreu  no Projeto de Assentamento Egídio Brunetto em Lagoinha, realizada dia 04 de julho  de 2019, foi conduzida pelo pesquisador científico da APTA Antonio Carlos Pries Devide, José Miguel Garrido Quevedo, engenheiro agrônomo do INCRA SP, membro do Serviço de Meio Ambiente e Recursos Naturais da Divisão de Obtenção de Terra e Implantação de Projetos de Assentamento do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária em São Paulo, e pelo biólogo Thiago Ribeiro Coutinho, representante da coordenação do assentamento e membro da Rede Agroflorestal do Vale do Paraíba. Tal oficina teve por objetivo realizar o diagnóstico rápido dos sistemas agroflorestais existentes no projeto de assentamento e realizar um manejo de um SAF em uma área específica. O eixo principal de diálogo com os participantes foi mostrar em que estágio se encontra este modelo de agricultura no assentamento, mostrando que é possível produzir alimento respeitando as forças que vem da natureza.
Cartaz do I Seminário Popular em Defesa das Águas organizado pelo coletivo popular de trabalhadores e trabalhadoras da reforma agrária do Assentamento Egídio Brunetto, Lagoinha - SP.

METODOLOGIA

Foi utilizado como metodologia a caminhada transversal na estrada principal do projeto de assentamento, observando-se o uso e conservação das áreas de preservação permanente e relevo da propriedade com  uma breve visita a área de horta agroecológica coletiva, onde ocorre os mutirões entre os agricultores para estimular a participação dos mesmos no aprendizado em trabalhar junto e experimentar uma área de aprendizado em Sistemas Agroflorestais. Espaço importante onde é estabelecido os laços afetivos entre os agricultores e apreendido as técnicas que fazem parte dos princípios da Agroecologia. Uma horta diferente, onde há verdura, legume e plantas medicinais cultivados com banana e frutíferas. Espécies vegetais únicas que são cultivadas ali e servem de berço para serem distribuídas entre as famílias que participam daquela comunidade, escola viva de aprendizado das normas que regem a natureza.

Mais adiante, fomos visitar o ponto turístico do Projeto de Assentamento Egídio Brunetto: uma cachoeira com as ruínas de uma residência da fazenda onde existe um moinho de pedra. Lá estava a tarefa do dia: um mutirão para revitalizar um Sistema Agroflorestal que está nascendo neste espaço. Uma moita de bananas, variedade antiga da fazenda, uma pastagem com braquiária, uma casa em ruínas. O transformar da natureza bruta em natureza bela.

PREÂMBULO

            O manejo deste SAF, talvez trouxe o meu maior aprendizado deste curso, nosso instrutor, o pesquisador científico Antonio Devide, se acidentou com o manejo do facão. Um acidente que nos trouxe aprendizado para o resto de nossas vidas como agrofloresteiros. Seu equilíbrio, sua saída sem fazer alarde, minha necessidade de acompanhar o amigo ao atendimento de emergência na unidade de pronto socorro do município me mostraram que este Ser é mesmo especial. Caridoso, manteve a calma o tempo todo, aguardou o atendimento pacientemente e procurou me conduzir tendo a atenção que necessitava. Precisava continuar com a atividade em tela com aqueles agricultores, de forma a não quebrar a boa vibração que nos encontrávamos.  Certo de que meu amigo foi atendido e encaminhado ao hospital regional de Taubaté, voltei à capacitação para encarar de frente o desafio de conduzir aquele processo de aprendizado.


Thiago Coutinho explica o histórico do local destinado como ponto turístico e sua proposta de manejo da vegetação para instalação de SAF ao lado de ruína de imóvel 

            O manejo do facão na Agrofloresta é a ferramenta que mais nos empodera como arquitetos da Natureza, compreender o manejo da Luz é o segredo, nos liberta, vamos ceifando, escolhendo quem serve ao sistema como alimento de vida e quem é promovido a renascer. A planta ceifada que é retirada do sistema serve de fornecedora de seiva nutritiva para as que permaneceram, a banana é principal planta a fornecer a seiva nutritiva, a umidade necessária e o controle de ervas espontâneas ao redor da mudinha que está sendo criada por nós e por Deus. A planta que é promovida a renascer modifica nosso paradigma: o ser vegetal aceita como ninguém o corte de sua “carne”. Ser evoluído, sempre pronto a se doar, quando tem um galho cortado, estimula as gemas da vida, solta brotos, solta frutos e dá o recado às outras plantas: É tempo de renascer, de estimular o crescimento. Retira o velho, o que está doente e em senescência para fazer ressurgir o novo, o belo.
Rodrigo Dametto fala e sua experiência com o cultivo de mamona preta (Paraguaçú) oriunda de pesquisas na APTA - Polo Regional Vale do Paraíba, em Pindamonhangaba-SP 

            O manejo do facão necessita atenção plena, silêncio absoluto, é nossa alma comandando nossa mente a executar o movimento preciso, com o cuidado necessário. O movimento cirúrgico. Neste momento nos ligamos a algo maior, conectado as Forças da Natureza, manejando-o com sabedoria e presteza. Se nos liberta por um lado, nos esclarece que seu manejo necessita equilíbrio, atenção e a mente quieta para o fluir necessário ocorrer sem contra tempo.
            Ficou a lição pela dor, para o resto de nossas vidas.




Visita a horta comunitária - cultivo de hortaliças, grande diversidade de PANC no sub-bosque de bananeiras biodiversas.

DESENHO DO SAF PROPOSTO PARA A HORTA
            Uma horta modelo, é de lá que se multiplica as matrizes que comporão as hortas dos agricultores no assentamento e local de aprendizado, sala de aula nos mutirões, é ali que o conhecimento é massificado e serve de “liga” entre as famílias, pois no diálogo proporcionado pela convivência que se acerta arestas, que se firma laços de amizade mais profunda. É a família que estes agricultores resolveram ter.
            Uma linha de diversidade, em sistema de aléia, com mudas nativas e mudas frutíferas, entre elas a bananeira, espaçadas de 3 a 6 metros, uma muda da outra, variedade originada ali mesmo, as mudas foram retiradas em moitas existentes na fazenda. É o banco genético local. As bananas tem papel fundamental no SAF, servem tanto para produção de cachos generosos, como ao ceifados e cortado em formato de telha, servem de manto sagrado para o solo, protegendo e criando as mudas de árvores nativas, demais árvores frutíferas e o que se quer cultivar nesta linha de diversidade, as culturas de preenchimento desta linha, vai bem por exemplo, tomate cereja, salsinha, alho poró, erva doce, e os tubérculos açafrão da terra ou conhecida como cúrcuma. O espaçamento adequado para cada vegetal desenvolver: a alface necessita de 30 centímetros entre plantas seus pares, a rúcula 15 centímetros, o alho porró 15 centímetros, a couve chinesa “shingensai” 20 centímetros, a mandioca 1 metro e o tomate 1 metro, e assim por diante, cada espécie tem respeito  o espaçamento de seu par. Deve-se compreender a função do tempo no amadurecimento de seu SAF, as olerícolas  podem ser cultivadas todas juntas, sendo colhidas uma a uma, no tempo. Na entre linhas, os canteiros das verduras, comestíveis e medicinais, tudo plantado junto, crescendo juntas, umas vão dando condições ambientais para as outras virem juntas, crescendo a sombra da outra, é uma criando outra. Cada uma é colhida no seu tempo, primeiro as que crescem primeiro, como por exemplo os rabanetes e a rúcula, depois as medianas, como por exemplo os alfaces e beterrabas e finalmente as couves, repolhos e couve-flor.  A ainda a opção das aléias, que tem o espaçamento sugerido de 6 metros, entre estas linhas de diversidade, formam no meio delas, o espaço para as culturas brancas, as de safra de verão, como o milho e o girassol e as de inverno, com o centeio e a aveia branca, e ainda as semi perenes como a mandioca e a cúrcuma. Pode-se finalmente optar em especializar-se em módulos,  levantando canteiros para a produção das verduras neste espaço  entre as aléias, formando 3 linhas de canteiros, que podem ser cultivadas todas juntas, como descrito anteriormente, ou em plantio convencional, em módulos homogêneos, com canteiros de brócolis, de alface, de couve-flor, de couve, de beterraba, de rúcula e de rabanete, por exemplo, cultivados isoladamente, mas formando um mosaico de produção.

Visita e planejamento de ações na Horta Comunitária
            Nestes canteiros das verduras, além das comestíveis, são cultivados as de uso medicinal, como por exemplo a erva doce. Percebe-se que com o tempo vão nascendo as ervas espontâneas que vão ocupando o seu território ali, algumas com valor alimentício, como o caruru e a serralha, outras com valor medicinal, como o picão preto, outras ainda, como a trapoeraba, a mostarda e o cosmo funcionam como a braquiária era no sistema original, com o avanço da idade dos canteiros, vão formando a “pele” do solo, são aquelas espécies vegetais que na natureza tem a função de não permitirem que o solo fique descoberto, que fique nu, elas na verdade criam as demais, principalmente as mudas nativas e frutíferas do futuro, permitem as condições micro climáticas que permitem que as mudas se desenvolvam em um micro-clima favorável.
            Percebe-se que o “mato” que é ceifado, ou apenas podado, para ter seu sistema radicular ainda preservado, mantendo sua função no sistema,  é caprichosamente disposto sobre o solo, deixando sempre o solo coberto, quando levantamos tal “manto sagrado” observamos que a vida reina ali, insetos e fungos crescem debaixo da cobertura morta, que de morta não tem nada, é sim berço de vida!
            Chama a atenção também a diversidade de cultivos, várias espécies crescem no local, a monotonia de canteiros de alface, no sistema convencional, não se vê ali. Compreendeu-se o conceito sucessional dos sistemas agroflorestais.


PANC - couve de árvore na horta comunitária.
PANC - planta de melão andino na horta comunitária.

Bucha - válida como hortaliça PANC (colheita imatura) e como bucha (colheita madura)

PANC - melão andino
Fomos visitar também a área de expansão da horta, a várzea com capim braquiária, enorme cresce ali, tem ruas ceifadas, retiras pela raiz  e já inicia-se o plantio de espécies pioneiras, no caso, como estávamos no inverno, linhas de gramíneas de inverno, como aveia branca, foram cultivados para ir amansando a terra e dominando a braquiária, que é retirada do sistema, quando se alcança um sombreamento que a inibe,  posteriormente a este “adubo verde” entrarão as linhas de mudas de diversidade e as entre linhas de cultivo de hortaliças e ervas medicinais.


Visita na área de pousio para expansão da produção de hortaliça com aveia de inverno (pré-cultivo) para formação de SAF na Horta comunitária. Sementes de aveia foram obtidas na área de pesquisas no Polo Regional Vale do Paraíba, em Pindamonhangaba - SP. 


Detalhe de tefrósia e seringueira formando junto com aveia branca de inverno na área de SAF em Horta coletiva. A tecnologia de plantio de SAF no inverno a partir da semeadura de aveia foi obtida de pesquisas no Polo Regional Vale do Paraíba, em Pindamonhangaba - SP.
Senti falta dos cordões de isolamento, as espécies “zíperes” que nos SAFs produtivos são dispostos nas bordas e  tem a função de isolar os módulos produtivos, impedem a entrada de sementes de invasoras, aumentam a umidade do local e atraem polinizadores, como espécies exemplos tem-se o margaridão e o boldo do chile e ainda o capim Guatemala. E também a falta da mamona preta, espécie que tem diversos usos nos sistemas agroflorestais, serve de adubo, pelo fornecimento generoso da parte aérea, as folhas crescem em tamanho generoso, apresentam um óleo que tem importante papel no controle de formigas cortadeiras, seus caules são ricos em celulose e lignina, auxiliando após a sua decomposição na estruturação do solo e também como espécie emergente, auxiliam a criar todo o sistema.

DESENHO PROPOSTO PARA O SAF DE BANANAS NO ESPAÇO “IANSÔ
As bananas tem papel fundamental no SAF, servem tanto para produção de cachos generosos, como ao ceifados e cortado em formato de telha, servem de manto sagrado para o solo, fornecendo nutrientes e umidade, protegendo e criando as mudas de árvores nativas, demais árvores frutíferas e o que se quer cultivar nesta linha de diversidade, as culturas de preenchimento desta linha.
Os pseudo caule das bananas fornecem a seiva que alimenta e protege do ressecamento através da conservação da umidade. Vão aos poucos, conforme os aportes de lignina e celulose que são acrescidos junto aos pseudo caules, formando solo de floresta. Um ponto que assusta um pouco, nestas linhas de diversidade é de costume colocar leiras de galhos picados e folhas de poda, que muitas vezes é resíduo nas cidades, ao contrário da serragem fina, que demora a se decompor, são o alimento de fungos e insetos, que vão formando o húmus.
Assim temos três, pelo menos, funções desempenhadas pelas mudas lenhosas, as mudas de diversidade, são as árvores do futuro, as mudas frutíferas, nativas, entre elas a madeireiras. As mudas de preenchimento, as mudas que preencherão o espaço de cada muda de diversidade, entre elas as não lenhosas: são as olerícolas e ervas medicinais, por exemplo, e ainda as culturas “pele” como o picão preto da agricultura orgânica e o cosmos da permacultura, como poros do solo, não permitem que o solo fique exposto e como nascem primeiramente no sistemas, devido a agressividade, criam as demais, dando-lhes condições micro-climáticas favoráveis as demais. Há ainda as chamadas plantas de serviço, os adubos verdes, a mamona e a gliricídia, entram neste conceito, são plantas que depois de ceifadas “alimentam” o sistema, seja de nitrogênio e celulose e lignina, formando a matéria orgânica do solo, o húmus, responsável pelo solo de floresta que estes sistemas são capazes de formar, regenerando os solos degradados pela cultura e pecuária convencional.
A tarefa do dia: as mudas de nativas, de um metro a um metro e meio de altura, diâmetros a altura do peito de 5 a 10 centímetros são podadas. Darão o estímulo de crescimento as demais quando iniciarem a brotação e limpam a área para a entrada de luz regenerante. O manejo do facão, se trás liberdade e sensação de domínio com a natureza, trouxe-nos o maior aprendizado que o curso pode nos dar. A necessidade da atenção plena.
Nas linhas de diversidade, as mudas de banana foram dispostas a cada 6 metros, umas das outras, entre elas são dispostas as mudas nativas e frutíferas. Já as mudas nativas e frutíferas, distam 2  metros entre berços. Este foi um padrão que pode modificar apertando ou alargando o sistema. De forma que a cada espaçamento das bananas, vai disposto nesta linha, duas mudas nativas/frutífera.  Iniciamos pelas espécies emergentes, aquelas que despontam no dossel da floresta, as que percebíamos ser de maior porte, em seguida foi disposto, no berço seguinte, uma de menor porte, podendo ser frutífera ou nativa, podendo ser uma madeira de lei. Esta disposição faz uma onda de crescimento entre as plantas desejável nos sistemas agroflorestais, as mudas são dispostas pela sua necessidade de luz, nativas e frutíferas cultivadas juntas, tendo em vista, sua necessidade de sombreamento, sua adaptação as condições de luz, uma após outra. É o conceito de estratificação nos sistemas agroflorestais, observa-se o crescimento vertical, como cada planta se adapta a este estrato na floresta, estas camadas de aptidão pela luz.
O mais difícil é o conhecimento do habitat de cada espécie, ao meu ver, este conhecimento virá com o tempo, quando algum fato nos ligar a planta. A moringa oleífera é sagrada para minha condição de diabetes, o pau ferro, outra planta do estrato emergente, juntamente com o guapuruvú, e as árvores intermediárias como o ipês, amarelos, brancos e lilás, já fazem parte de minha trajetória de vida. Assim cada planta vai entrando no nosso glossário de conhecimento da natureza. A elas são adicionadas as frutíferas como a pitanga, a nêspera, a goiaba e uvaia. E no mutirão, na troca de saberes, vai se partilhando este conhecimento, que pouco a pouco é sedimentado em nosso coração e em nosso olhar. Com a experiência dos mais vividos, vamos compartilhando o saber, vamos aos poucos nos tornando arquitetos da Natureza.

Transcrição e Revisão: Ecóloga Maria Thereza Quevedo


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RELATO PESSOAL – ASSENTADO CARIJÓ, DIRIGENTE REGIONAL DO VALE DO PARAÍBA DO MST-SP

Por:
Verônica Andressa de Castro, Discente de graduação em       
Engenharia  Agronômica pela FCA – UNESP – Botucatu.



A seguir está o relato pessoal do assentado Carijó - Assentamento Egídio Brunetto, Lagoinha - apresentado ao INCRA-SP, do qual tem como finalidade complementar o Diagnóstico Rural Rápido (DRR) aplicado ao planejamento agropecuário no Projeto de Assentamento Egídio Brunetto em Lagoinha-SP, fornecendo informações testemunhadas pelo membro do assentamento e dirigente regional do Vale do Paraíba e, assim, para que seja possível constituir a retrospectiva da comunidade.

“Sou Carijó, tenho 10 anos de luta no MST, vim aqui para essa terra em 2010, quando foi bastante conflitante nossa chegada até mesmo por conta de fazendeiro e alguns jagunços, capangas da fazenda, e logo em seguida teve o problema da enchente. Encheu o rio Paraitinga e que inclusive afetou bastante a região e nós tivemos que retirar o assentamento em 2010. Quando em seguida em 2012 a presidenta Dilma decreta essa terra para reforma agrária e então a gente voltou para o acampamento novamente e reinicia-se a luta para que essa terra fosse verdadeiramente desapropriada e fosse das famílias. Em 2013, perco minha vista dentro do acampamento num conflito interno com um fazendeiro, perdi o olho, o cara enfiou um bambu e perdi meu olho. Logo em seguida, 2014 fomos imitidos na posse dentro deste espaço, o INCRA foi imitido na posse. A gente veio para terra e permanecemos por 11 meses, quase um ano. Logo em seguida o INCRA também foi desimitido da posse novamente, onde as famílias estavam sem espaço, sem subsídio, alguns se espalharam, outros foram para outros acampamentos também. Em 2015, se retorna a luta por essa terra aqui, nesse espaço da Fazenda Bela Vista, onde eu volto novamente ao acampamento. Em 2016, perpetua-se a luta ainda na beira da estrada. Em 2017, perco meu filho também dentro do espaço, por acidente de moto, 14 anos, grande companheiro de luta, era pai de 5 filhos, mantinha o orgulho de ser pai de 5 filhos e criar eles sozinhos também por não ter esposa e de todas situações essa foi a mais conflitante na minha vida e na vida da minha família inclusive que hoje também continua comigo todos os filhos menos o falecido, claro. Passa-se esse grande momento turbulento, que foi essa grande perda, logo em seguida ocupamos a fazenda e fomos imitidos a posse em 2017 para 2018 pelo INCRA. Em 2019, perpetua-se totalmente, a gente começou a mexer com a nova fase do assentamento. Acho que seria mais ou menos assim em breves palavras. Contar tudo em si demandaria muito tempo. Bastante difícil e conflitante por ser sem-terra e sem nada e a cidade de começo nos recebe muito mal, muito mal mesmo, muito impasse a nível de pessoa e sociedade, ser sem-terra, pobre e jogado na cidade. A cidade nos recebe como criminoso e não como pessoas. Logo em seguida, a gente vai mostrando e trazendo elementos da agroecologia em nosso espaço, somos agora um pré-assentamento agroecológico e formamos isso através do coletivo, somos da organização do MST, porém temos a nossa necessidade interna de ter uma direção coletiva. A gente faz parte da direção coletiva tanto eu como a companheira Dani e somos dirigentes regionais do Vale do Paraíba e essa daqui foi uma das conquistas mais importantes da minha vida. Tem um pouco do meu sangue dentro dela e tem um pouco de sangue da minha família. E quem escutar esse depoimento fique sabendo que foi muito difícil minha conquista, ensinar que seus filhos lutem não é fazer que eles sofram, é fazer com que eles lutem também. Tirar o direito dos filhos de lutar porque os pais lutam por eles é ensinar seus netos a sofrer e aprender a lutar nunca. Demonstre amor às pessoas que você ama e que estão do seu lado como seus próximos instantes fossem os últimos, porque tenho certeza que você amaria eles assim intensamente. Meu filho que me ensinou isso. “


Equipe de trabalho reunida para o café da manhã no Assentamento Egídio Brunetto, Lagoinha - SP.

18 de out. de 2019

Encontro Rede Agroflorestal

Quarta-feira, 23 de outubro de 2019 de 08:00 a 12:00
Local: APTA - POLO REGIONAL VALE DO PARAÍBA 
SETOR DE FITOTECNIA Av. Dr. Antônio Pinheiro Junior, 4009
Ponte Alta - Pindamonhangaba / SP




Encontro para alinhamento de ideias sobre novos passos e caminhos da
Rede Agroflorestal Vale do Paraíba.

Programação:
8h Boas vindas e Café participativo
8:30h Descrição do projeto cambuci e frutíferas da mata atlântica e a participação
da Rede Agroflorestal
9h Leitura minuta de estatuto, lapidação e encaminhar novo documento. Caminhos e trâmites burocráticos para formalização.
11h Organização de calendário de mutirões e atividades 2019/2020, organização dos núcleos.

Organização: Thiago Ribeiro Coutinho


15 de out. de 2019

AGROFLORESTAS INTEGRADAS COM PISCICULTURA

Local> Sítio Terra de Santa Cruz, Aparecida - SP


Por: Engº Agrº Edson Fontella

No dia 20 de agosto os participantes do Curso Pedagógico-profissional de Longa Duração em Agroecologia puderam vivenciar as experiências desenvolvidas no Sítio Terra de Santa Cruz, mantido pelos Engºs Agrºs  Marcos Marsicano e Ana Salles Aguiar e por zelosos colaboradores.  O casal produz orgânicos há cerca de trinta anos e no sítio em Roseira possuem áreas de sistemas agroflorestais beirando os dez; com eles pudemos nos sensibilizar com relação aos desafios inerentes à produção agrícola e à importância do planejamento de atividades e da propriedade.

As principais atividades econômicas desenvolvidas no sítio são: o beneficiamento de bananas em bananas-passa, a criação de alevinos de tilápias e o beneficiamento do açafrão da terra. Além disso, uma grande variedade de alimentos são produzidos nos SAFs, com destaque para o mamão, que encontra mercado consumidor na cidade de São Paulo. Madeiras para o futuro também merecem destaque, como o araribá rosa e o cedro africano.

Figura 1 produção de café e banana em sistema agroflorestal

A Engª Agrº Ana Salles nos explicou que a qualidade dos seus produtos (atestada por nossas papilas gustativas), além de ser conseqüência do bom manejo do solo, dos nutrientes e das plantas, “vem do amor incondicional, que é a condição básica para se fazer agrofloresta”, nas palavras dela. De fato, a filosofia se aplica ali na forma de uma agricultura regenerativa ao solo e aos processos biológicos; também se aplica na boa convivência com empregados, os fornecendo capacitações e sensibilizações para melhor qualidade de vida.


Figura 2 Marcos nos explicando sobre a dinâmica e funcionamento do SAF

O Marcos nos acompanhou numa visita de campo. Primeiro, visitamos as criações de alevinos. O sistema funciona com a reutilização da água, que retirada do fundo das baias com a “sujeira” rica em matéria orgânica, passa por um tanque de decantação primário para a retirada de sólidos. Em seguida, a água passa por tanques com plantas aquáticas (primeiro o papirus e depois a alface-d’água), chamados de 'wetlands', retornando a água em seguida para os tanques de alevinos ou sendo utilizada na fertirrigação de determinadas áreas de SAFs.


Figura 3 oxigenação de um dos tanques de alevinos


Figura 4 Wetland para filtragem biológica com alface d'água

Dentre todos os sistemas agroflorestais do sítio, o mais antigo (e por isso chamado de “Pioneiro”), produz principalmente banana nanica e mamão, tendo ainda espécies de café, araribá rosa, pupunha, dentre outras. Sob os aspectos do manejo, chamou a atenção a experiência de que a calda bordalesa (utilizada no combate à cercosporiose do café), provoca desequilíbrio do elemento nitrogênio na planta e para contornar o problema o Marcos nos disse que adiciona entre 0,5 e 1,0% de xixi de vaca na solução da calda. Também, foi interessante constatar o efeito protetor contra geada de um estrato de plantas mais alto sobre as bananeiras, que apresentam elevada produtividade.


Figura 5 SAF pioneiro com bananeiras no estrato médio entremeadas com árvores e palmeiras do estrato alto e emergente em formação.

Foi apresentado a seguir o SAF chamado de “Bambu” por estar próximo a um bambuzal; tem entre suas espécies a banana caipira, o café, o mogno africano, dentre muitas outras. Das duas espécies de mogno, Kaya ivorensis e Kaya senegalensis, a segunda apresentou desenvolvimento melhor. As adubações periódicas deste e dos outros SAFs consistem em adubação foliar, aplicação de farelos com microrganismos, cobertura de solo com matéria orgânica (troncos de madeira e palhada), além de esterco. Este SAF, diferente do anterior, não apresenta “linhas de serviço”, as quais são linhas de plantas cultivadas com destino a serem podadas para virar cobertura de solo (mulch). Marcos nos disse que pretende enriquecer o sistema com plantas pioneiras, a exemplo das gliricídias, árvores que fixam o nitrogênio do ar em simbiose com bactérias do solo e também intensificam a atividade micorrízica, conferindo maior estabilidade do sistema como um todo, pois, muitos desses organismos também se associam com plantas cultivadas fortalecendo a teia da vida do solo. No SAF “Bambu”, também, aprendemos que a mudança radical da quantidade de luz (derivada da poda de plantas que ocupam dossel), pode causar estresse em plantas de estrato inferior, como no caso, o cafeeiro que “queima” suas folhas. Uma das alternativas é realizar a poda parcial, em que espécies emergentes com o estrato da copa pouco superior ao café são poupadas. Essas espécies em associação interceptam parcialmente a energia luminosa, dando tempo para que o cafeeiro adeque os teores de clorofilas para captar a energia luminosa de maior intensidade, reduzindo os teores de clorofilas 'c' e 'b', que são adaptadas a comprimentos de luz de baixa frequência de subosque, por clorofila 'a' adaptada a alta intensidade luminosa do pleno sol.

O SAF “Flora” é um experimento implantado pelo mestre Zé Ferreira (agricultor agroflorestal do Sertão do Taqueari, de Paraty-RJ) em um projeto associado com a Faro (Faculdade de Roseira), há cerca de dois anos e meio, que contou com a parceria de Laura Schmidt e Edson Oliveira. Esse SAF já produziu em sua fase inicial: abóbora, feijão e inhame. No atual estágio, tem como principais espécies: o cafeeiro e a bananeira, os quais tem suas linhas intercaladas com “plantas de serviço” (adubadeiras), tais como a gliricídia, a tefrósia, a flemíngia e a sesbânia. O guanandi, cultivado como madeira nobre, também se faz presente como “árvore do futuro”. 


Figura 6. Thiago Ribeiro Coutinho do do pré Assentamento Egídio Brunetto de Lagoinha realiza a coleta de sementes de tefrósia para distribuição aos participantes do curso.

O sítio apresenta ainda outras áreas de SAFs, todas com grande diversidade de espécies, estimando-se em pelo menos 50 o número total de espécies dentro dos consórcios. Dentre elas estão: a pffáfia, também conhecida como ginseng brasileiro - tônico físico e mental. Outra planta que nos chamou a atenção foi o rami - erva multifuncional que tem folhas que se prestam à alimentação animal por ter alto teor de proteína e que serve para a extração de fibras, as quais são resistentes e longas.


Figura 7 Marcos realiza a explicações sobre os múltiplos usos do rami (á direita)

Figura 8. Marcos demonstra o cultivo agroflorestal do Ginseng brasileiro.

Por fim, nos foi apresentado algumas caldas biológicas, as quais são preparados feitos a partir da fermentação (aeróbia e/ou anaeróbia) de diferentes produtos com fins a enriquecer um substrato ou  um plantio; os microorganismos eficientes (EM) também são aplicados com farelo de arroz nas áreas de cultivo.
Devido a tantas atividades desenvolvidas e à riqueza dos detalhes, tratos e processos, o tempo de um dia não foi suficiente para vivenciar todos os aprendizados que o sítio poderia nos proporcionar. Da rica experiência no cultivo, processamento e fornecimento ao mercado fica a gratidão e a lembrança de um belo dia de contemplação, cultivo de amizades e troca de experiências.

Imagens: Edson Fontella
Revisão/adaptação: Antonio Carlos Pries Devide - Pesquisador da APTA Polo Vale do Paraíba

RELATO SÍNTESE DO CURSO DE LONGA DURAÇÃO EM AGROECOLOGIA


Por José Miguel Quevedo Garrido - Perito Ambiental do INCRA
Revisão: Verônica Castro - acadêmica de Engenharia Agronômica da UNESP


       Um curso de longa duração com três meses de aprendizado constante, um início na prática desta agricultura que respeita a Vida e respeita a Deus. Sua forma de agir, de criar Vida. Aprendemos que uma planta cria a outra, tudo junto, tudo misturado. Intrigado observei um Sistema Agroflorestal, no sistema “muvuca”, onde a semeadura se dá por sementes de árvores nativas, frutíferas e os adubos verdes sendo semeados ao mesmo tempo, sendo criados pelo capim gordura, por exemplo, estruturar o solo. Sim, não apenas o aspecto biológico e nutricional das plantas, identificado pelo fervilhar da água oxigenada, mas a formação de grumos vistos a olho nú, mostrando que ali, reina a vida, estruturados pela matéria orgânica e interação de microrganismos e raízes. E pelas Forças de Deus. Um sistema de plantio ao lado do sistema agroflorestal “convencional” de plantio em mudas, apresenta-se com solo desestruturado, fértil, mas desestruturado e imediatamente ao lado dele, um solo estruturado, tipo as terras roxas de café do Paraná. Mistério e admiração pelas Forças que regem a Natureza.

No primeiro módulo, conduzido pelo pesquisador Antonio Devide, nos sentimos agrofloresteiros, semeamos sementes de adubos verdes, de gramíneas de inverno, sementes do sol como o girassol:


Foto 1. Semeadura de culturas de inverno – aveia e girassol. Área de aleia com cordão de isolamento de margaridão e boldo do chile ao lado do reflorestamento regenerativo (sistema agroflorestal com o carro chefe banana ao lado da APP  e a outra aleia formada por capim Guatemala.



Descobrimos o sabor do palmito da banana:





Figura 2. Elaboração de palmito de banana, o pseudo caule tem no seu interior um palmito. Este é imediatamente colocado em água com vinagre ou limão. Deixado repousar na geladeira por uma noite e fervido com esta água com vinagre por umas duas vezes, por 20 minutos. Depois fervida novamente com água pura. Depois é só temperar e fazer os pasteizinhos.


  
Descobrimos que somos transmissores do Poder Divino na Terra:




Foto 3. Imposição de mãos e emissão de vibração positiva sobre o fertilizante Super Magro. Como constantemente é pulverizado diluído nas culturas e no solo, segue o princípio da Agricultura Biodinâmica e Agricultura Bioenergética.


Sim, que somos agrofloresteiros:



Foto 4. Implantação de um SAF regenerativo ao lado de APP, com banana e palmito juçara como carros chefes. Além das mudas de nativas e frutíferas há a semeadura de gramíneas de inverno e adubos verdes.


No segundo módulo, conduzido pela pesquisadora Cristina Castro, podemos aprender que os alimentos chamados matos ou PANC - plantas alimentícias não convencionais podem alimentar o corpo e a alma:



Foto 5. A Moringa oleífera, espécie de valor sentimental para o autor.


Foto 6. O Portal da pesquisadora Cristina Maria de Castro que descreve as propriedades das plantas medicinais.


No terceiro módulo, conduzido pela pesquisadora Sandra Pereira, entendemos o sagrado poder de cura das plantas:
  

Foto 7. A cúrcuma, açafrão brasileiro, com propriedades anti-inflamatórias

Do Homem e das plantas:


Foto 8. A seiva da Coroa de Cristo, espécie ornamental, bastando algumas gotas diluídas em água para controle de lesmas e caracóis como o Caramujo africano, importante praga da olericultura.


No quarto módulo, conduzido pelo perito ambiental do INCRA José Miguel Garrido, conhecemos a realidade de um assentamento:


Foto 9. Sr. Antonio “saci”, agricultor habilidoso, plantador de banana e mandioca e plantador de “gente” em seu lote. 5 famílias residem junto do avô.

Nos sentimos técnicos agrofloresteiros:


Foto 10, Análise das condições físicas do solo. Verificação do pé de arado e da camada enegrecida superficial do solo, resultado das estufas orgânicas cultivadas num tempo pretérito, na era da agricultura  natural do Assentamento (década de 90)



No quinto módulo, conduzido pelo biólogo agricultor Thales Guedes Ferreira: conhecemos uma vitrine da recomposição ambiental ao vivo:





Foto 11. Sistema Agroflorestal Regenerativo cultivado em “muvuca”. As sementes semeadas todas juntas depois do solo ser corrigido tem as mudas  criadas pelo capim gordura.


No sexto módulo, conduzido pelo biólogo agricultor Thiago Ribeiro Coutinho, ousamos sonhar junto com o sonho desta agricultora chamada Janaína Anacleto:



Foto 12. Sonhar um sonho possível. Vista da área onde foi instalada o primeiro módulo de Sistema Agroflorestal com ênfase em produção de geleias do Vale do Paraíba. (módulo 1 do presente relatório).
  

No sétimo módulo, conduzido pelo perito ambiental Engº Agrº José Miguel Garrido, deslumbramos uma nova possibilidade de um mundo agroecológico, a “Terra Prometida” - Um território reformado:




Foto 13. Este projeto de Assentamento, o Egídio Brunetto tem uma pegada diferente dos demais do Projeto de Assentamento. Respira Agroecologia.



Foto 14. Produto da Oficina de Planejamento Agropecuário: O Mapa de Recursos Hídricos da propriedade elaborados pelos agricultores.

No oitavo módulo, conduzido pelo agricultor agroecológico Valdirzinho - Valdir Martins, conhecemos um mestre da agroecologia:


Foto 15. Seu viveiro, mudas são produzidas e armazenadas a espera de irem para os berços.

Vimos como uma horta pode ser agroflorestal:
  

 Foto 16. Módulo produtivo de um horta agroflorestal. Três canteiros. Cultivados tudo junto, colhidos a seu tempo.

No nono módulo, conduzido pelo pesquisador Antonio Devide, sentimos a presença de Deus, naquela montanha.
  

Foto 17. O Mistério do renque de palmitos juçara na franja do fragmento florestal: Algumas árvores emergentes são o puleiro dos jacús, que “plantam” através das fezes o precioso palmito.

 No décimo módulo, conduzido pelo Marcos, aprendemos que um desafio é necessário para nos fazer crescer:


Foto 18. O moleque da bananeira, é um inseto chave na cultura da bananeira. Mesmo o controle com um fungo, o boveria, merece atenção plena.



Foto 19. As filhas bonecas da Janaína, a agricultora geleira, na sua casa de bonecas.

Nossos sinceros agradecimentos a equipe da APTA que nos acolheu nestes meses de formação: em especial, a Rosana, a Silvia, ao José Luiz, a Ana Alice e Andréia e demais funcionários do Polo e aos mestres instrutores: Antonio, Cristina, Sandra, Patrícia, Denise, Thales, Tiago, Mariana, Valdirzinho e ao Lucas que nos transmitiram suas vivências e seus saberes.
 Agradeço aos agricultores Sr. Antonio “Saci”, Janaína, Dona Toninha, irmãs Baianas, aos acampados Daniela, Tainara e Ana que mostraram ser o elo vivo da Rede Agroflorestal Vale do Paraíba.
Aprendizes do Curso de Longa duração: Capacitação Pedagógico em Agroecologia:
Ana Cacau;
Deise Alves;
Rodrigo Dametto;
Edson Fontele;
Paulo Luiz Pinto;
Vinicius Reis;
José Miguel Garrido Quevedo;
Verônica Andressa Castro;
Alice Pereira Monteiro da Silva;
Dalmir Ribeiro Lima;
Paulo Alex das Virgens;
Magali Gasan;
Benedito Gomes da Silva;
Graça, Gabriela e Jorge.
            Compreendemos o que quis dizer Capacitar alguém, melhor dizendo,  formar professores. Pedagógico, pois traz no Sistema em Mutirão, uma forma de aprendizagem que desarma, que nos liberta, faz-nos sentir agricultores a manejar a Mãe Natureza. E em Agroecologia, esta ciência que respeita a vida e respeita a Deus.
            Como conclusão do Curso, conquistamos o Conquista, implantamos 3 modelos de SAFs, em área de alunos deste Projeto de Assentamento, situado em Tremembé, a poucos quilômetros do Polo, só agora, está preparado para receber este processo de formação. Agricultores de Referência em Sistemas Agroflorestais e em Agroecologia. Mais um elo da Rede Agroflorestal do Vale do Paraíba foi formado. Mai uma esperança de um novo mundo foi semeado. Mais um elo de relações humanas foi firmado, mais que amigos, podemos conhecer companheiros de um Ideal.

    1)      Módulo 1: Agricultora Janaína Cristina Santos, por José Miguel Garrido Quevedo.

Apresentamos a seguir, as possibilidades do guarda-chuva que a agroecologia nos apresenta, existente neste sítio:

     1)      Viveiro de mudas agroecológicas pulverizadas com Microrganismos Eficientes (EM): mudas de tomate, mudas de hortaliças, mudas de Moringa oleífera, mudas de árvores nativas;
      2)      Produção de tomate orgânico para produção de molho artesanal com insumos orgânicos e EM;
      3)      Quintal agroflorestal com utilização de fruteiras e árvores nativas emergentes;
     4)      Produção de mandioca para mesa, sob viés agroecológico, com preparo de solo motomecanizado em canteiros e adubação com cinzas de olaria, calcário e consórcio com o milho variedade;
    5)      Cultivo de pitaia em sistemas agroflorestais com planta estaqueada em mourões de concreto e linha de preenchimento de abacaxi e “pele’ do solo formada com telhas de pseudo-caule de banana; nas entre linhas pode vir a ser cultivado com culturas brancas como o feijão.
     6)      Criação de porcos crioulos com alimentação de restos de alimentos da cidade, complementados com mandioca, restos de hortaliças e farelos;
     7)      Implantação de módulo de Sistema Agroflorestal da Rede Agroflorestal do Vale do Paraíba, com ênfase em plantas, como a vinagreira ou hibisco para a produção de geleias artesanais.

 Um SAF multidiverso, onde irá florescer:

     1)      Linha de adubadeira cultivada em muvuca, sementes de adubo verde misturadas juntas e semeadas em linha. (duas linhas formam este sistema)
      2)      Linhas de mudas nativas alternada com mudas frutíferas e tendo como preenchimento semeadura de vinagreira ou hibisco e trefósia, ainda com gliricídia e banana nanica ou prata regularmente espaçadas, estas últimas a serem instaladas futuramente,  orientado pelo pesquisador da APTA Antonio Devide, que visitou a área no dia seguinte ao mutirão de instalação daquele SAF. Estas linhas representam as linhas de diversidade deste SAF. (três linhas compõem este sistema).
     3)      Linhas de semeadura em muvuca de vinagreira e como a adubadeira, o adubo verde trefósia. (duas linhas compõem este sistema).
     4)       Espaço para cultivo de hortaliças com brócolis, couve-flor, salsinha e cebolinha, em canteiros solteiros nas entre linhas destes dois sistemas, de tamanho generoso, para o cultivo futuro do gengibre e cubio, ambas para produção de geleias.  O cultivo das hortaliças garantirá o atendimento imediato do compromisso com a merenda da escola e foi sugerido pelo companheiro da Janaína, também em visita posterior a concepção do referido SAF realizado em mutirão.
    5)       Instalação de linhas de isolamento, uma de cada lado do território de mando da mulher,  possuindo uma linha contínua de cana de açúcar e trefósia, quiabo de árvore e mamona preta semeadas em sulcos espaçados regularmente, ao lado da linha de cana de açúcar, no limite da propriedade e Phisales, já instalado do SAF anterior, com Moringa oleífera a ser plantada, quando as mudinhas já nascidas em viveiro do sítio, se tornarem mais fortinhas, no limite com o território do marido, a cultura de pitaia.
     6)      A “pele” do solo está sendo cultivada inicialmente com batata doce roxa e outra variedade laranja, algumas leiras para produção de mudas foi instalado.

Foi este o desenho proposto para este SAF, orientado pelo biólogo Thiago Coutinho.
Este é o leque de possibilidades produtivas deste sítio modelo.
Estamos diante de uma célula de possibilidades da rede agroflorestal do Vale do Paraíba, desta guerreira chamada Janaína.
Seu marido tornou-se meu amigo, já é um agricultor agroecológico experimentador, que ouve atentamente como foi desenhado o SAF experimental materializando o sonho de sua companheira.
Instalamos o primeiro módulo, de nosso trabalho de conclusão do curso de formação Pedagógico-Profissional de Agroecologia promovido pela APTA, Polo Regional do Vale do Paraíba e do Serviço de Meio Ambiente e Recursos Naturais do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária em São Paulo no dia 26 de agosto de 2019,  com o auxílio de sua filha Ariele, herdeira agroecológica da mãe guerreira, que já posta no “Istagram”, junto da irmã Ana, ensinamentos como quebrar a dormência de uma muda nativa de guapuruvú.
Tivemos a condução do biólogo Thiago Coutinho, que soube conduzir nosso dia de aprendizado,  pés descalços, dispôs as mudas nativas, florestais, e mudas frutíferas, respeitando seu gosto pela altura, a tal adaptação ao extrato vegetal, o habitat de cada planta, as regras de tolerância a luz de cada vegetal, quem aguenta sombreamento, quem aguenta um sombreamento médio, e quem não aguenta sombreamento. Uma muda emergente, mais uma muda de extrato médio e ainda outra muda de extrato mais baixo, são cuidadosamente dispostas em linha, formando um “contínum”, uma onda de crescimento que se formará com o desenvolvimento daquelas mudas. Foi o precioso ensinamento do dia. Foram dispostas sobre o solo em três linhas, com espaçamento de 5 metros entrelinhas e 3 metros entre plantas, deixando um grande canteiro para espaço de culturas anuais, na entre linhas, para o cultivo, como por exemplo o cubio e o gengibre, que será instalado posteriormente. Estas mudas foram “plantadas” pelas mãos do Assentado Paulo Luiz Pinto e do agrônomo Rodrigo Dametto, participantes assíduos do nosso curso de formação. Mais dois participantes externos se juntaram a nós, neste caminhar pelo saber agroecológico, nos auxiliaram nesta última etapa de nossa formação em Sistemas Agroflorestais, o agrônomo Ricardo Vasconcelos Siqueira e o Benedito Suzigan, agricultor que presta serviços de motomecanização para os assentados da região e também o Pai da Janaína, o Senhor Acácio, que mais uma vez, auxilia na concretização do sonho da filha e das netas.
Cada muda cultivada teve sementes semeadas ao seu lado, serão adubos verdes, entre elas o girassol e o cosmos, criadoras de nossa floresta geleeira.
A cobertura com braquiária ceifada é a proposta de cobertura morta.
O sistema de irrigação por aspersão, a forma de irrigação a ser adquirido com dinheiro do trabalho do marido, que faz bicos na cidade, para entrada de recursos financeiros no território, onde cria sua família de agricultores agroecológicos. Sonha em retirar renda apenas do sítio, que num futuro próximo, diante de tantas frentes de possibilidades, se concretizará. Que assim seja.
Esta é a apresentação de nosso primeiro módulo de agricultor de referência para O ASSENTAMENTO CONQUISTA.
      2)      Módulo 2: Agricultora Deise Alves, por Antonio Devide.
    3)      Módulo 3: Agricultor Paulo Luiz Pinto, por José Miguel Garrido Quevedo e Thiago Coutinho.

“Em mi sitio you reino”, assim me despedi do mestre José Luiz, neste último dia do curso de capacitação, abraço apertado pelo agradecimento que o convívio com este funcionário público me proporcionou nestes 3 meses de aprendizado, é no carro do filho que deixo as chaves do alojamento que me acolheu neste Centro de Saber, na área de agroecologia do Governo do Estado, quando retorno para minha Piracaia de madrugada. Seu pequeno quintal onde mora, é o seu reino, lá me ensinou como enxertou um pé de limão taiti, tinha feito a técnica da alporquia, tem ali seu moinho de cana, para tomar uma garapa, me presenteou com uma vassoura de sorgo, aquelas, de bruxo. Assim que saio daqui deste processo de formação, conhecendo um pouco, os segredos da Natureza, com meus mestres instrutores, aprendi a ouvir também meu coração, me recordei quando me tornei agrônomo do Estado, quando auxiliei meu companheiro Benedito Gomes da Silva, na fiscalização do imóvel rural.

Me tornei agrofloresteiro pelas mãos do amigo Antonio Devide, que muito mais que o ensinamento técnico me proporcionou o aprendizado espiritual. Pelas mãos do irmão Thiago Coutinho, me reconheci como extensionista, ao compartilhar saberes com aquela comunidade em formação. E ouvindo meu coração vi que sou poeta. Se você ao ler estes relatos, poder sentir um pouco do que senti, alcançamos nosso objetivo, de repassar um pouco do que vivemos nestes 3 meses de convívio e aprendizado.

Última etapa, como agradeci de ter sido teimoso, e contradizer o amigo Antonio, sim, modifiquei o planejado o quanto foi necessário, o quanto senti que valeria a pena. De um mutirão no Assentamento Conquista, conseguimos instalar três. Este último por ”imposição” nossa. O assentado Paulo Luiz estava preocupado com a alimentação, não sabia se daria as condições de recebermos a altura que ele desejava, pois está iniciando o caminhar agroflorestal. De origem urbana, trabalhador de fábrica, está vindo para o rural empreender nas terras do pai. É livre, sem vícios, inocente, solta aquele sorriso tímido, de quem afirma que não sabe, que está aprendendo. 

Para nós, que está apreendendo. Caprichoso, fez o melhor croqui que vimos em toda a capacitação. Em escala, colocou no papel exatamente o número de mudas de lichia que plantou, quantos pés de mamão existem ali, exatamente descreveu as Aléias que quer formar, a Aléia agroflorestal, a Aléia de bananas, a Aléia de mandioca. O que foi sugerido no encontro anterior quando discutíamos as possibilidades daquela área.

A tarefa do dia foi caprichosamente preparada, preparo dos berços com trator acoplados a uma furadeira, fizeram um trabalho excelente, complementados com o trabalho manual, por escavadeira.  Tínhamos um xadrez para escolher qual mudas colocaríamos em cada berço.

E nosso instrutor, o biólogo Thiago Coutinho nos pregou uma peça. Como vem de longe, tardou a chegar. Nos vimos obrigado a prestar o exame final do curso. Éramos os mestres a desenhar aquele SAF multidiverso. O Agrônomo Rodrigo Dametto, o assentado Paulo Luiz Pinto e este servidor fomos obrigados a ser arquitetos da Natureza.

As lichias estavam plantadas a cada 10 metros tanto na linha como na entre linha, fazendo o papel de guia. 3 linhas de berços tinham sido formadas pelo trator, num espaçamento de 3 metros na linha, entre cada berço. Entre estas entre linhas, berços menores tinham sido cavados pelas mãos do agrofloresteiro aprendiz, Paulo Luiz.

Iniciamos pela linha do meio. Tínhamos a disposição algumas dezenas de mudas, vindas da APTA, cultivadas por ele mesmo em seu viveiro e fornecidos pela companheira Deise Alves. Não sabíamos identificar todas elas, mas conseguimos classifica-las nos grandes grupos, leguminosas e não leguminosas, emergentes e mais baixas, frutíferas e não frutíferas, as bananas carro chefe daquela Aleia.

Iniciamos pelas emergentes, depositamos na linha central muda a muda sobre o solo, ao lado do berço, a que nos percebíamos ser de maior porte, ao lado de uma de menor porte e ao lado de uma de menor porte ainda. Fazendo a onda de crescimento apreendido no módulo anterior.

Nas linhas laterais, dispusemos as mudas de banana, tendo o cuidado de deixar as diversas variedades fornecidas pela APTA, umas próximas as outras, para melhor controle. Passamos então a distribuir as mudas queridas do agricultor, mudas de nêspera, pitanga e uvaia, formadas por ele em seu viveiro. Atento, sempre coleta sementes durante as visitas no transcorrer do curso e nas suas viagens sentindo o chamado das árvores para colher seus frutos e formar novas mudas. 

Tudo isto observando e imaginando como crescerá as vedetes do sistema, as lichias espaçadas a 10 metros. As nêsperas, pitangas e uvaias, como são plantas de porte menor ou de crescimento meio esguio, foram dispostas em frente as lichias. Analisamos como será o crescimento da cultura principal e imaginamos como crescerá a muda que estamos dispondo naquele berço em específico. Como as duas crescerão juntas, lado a lado.

Passamos então a distribuir as mudas fornecidas pela companheira Deise, as castanhas do maranhão, por ter um crescimento intermediário, dispomos as mudas próximo ao quadrante das lichias, no centro das quatro mudas de lichias que formam um quadrado.

Por fim, dispusemos o restante das mudas, encaixando nos berços disponíveis, sempre tendo em mente o habitat da planta, seu gosto pela luz, como é afetada pelo sombreamento.

Nos berços realizados pela cavadeira, seriam semeamos as plantas de serviço, as adubadeiras, mamona, feijão guandú e trefósia, crescerão ali para alimentar o sistema em conjunto do manejo da braquiária, cultura “pele” do sistema.

Hora do almoço, a companheira Deise Alves, mostrou o que ela representa para este grupo de famílias, líder carismática, que dedica sua vida ao movimento social, liderança do bem, nos presenteou com um banquete: arroz, feijoada vegana feito com capricho pelas irmãs baianas, em preocupação à estudante vegana Verônica Castro, que acompanhou módulos anteriores, ovos caipiras, couve da guerreira Janaína e por que não uma bisteca suína feito com cebolas refogadas. 
Os mais urbanos, o agrônomo Rodrigo e este servidor, já esgotados pela labuta da terra, foram até seu sítio se alimentar, refazendo suas forças e levar as marmitas para os colegas que ficaram no campo.

Na sua cozinha, aquela mesma da troca e saberes e poltronas “retros”, sorri vendo aquela amiga de avental, toca na cabeça, mostrando seus “dotes” de tia a alimentar suas crianças e a me ralhar por misturar tudo na panelona de alumínio penteado que roubei e queimei nos fogões a lenha que me acompanharam no transcorrer do curso.
Refeito, fomos alimentar nossos companheiros.

Chegando lá, uma surpresa, o trabalho tinha terminado, mostrou-nos por que éramos os técnicos e eles os agricultores.

Imagens dos participantes do curso, Imagens das mãos - Isabella Lacaz