9 de dez. de 2020

MANEJO DE SISTEMA AGROFLORESTAL COM MACAÚBA (Acrocomia aculeata), VARIEDADES DE BANANA, FRUTAS E MADEIRAS NATIVAS


Por: José Miguel Quevedo Garrido - Perito Federal do INCRA/SP

Figura 1. Sistema agroflorestal SAF MACAÚBA, Polo Regional Vale do Paraíba - APTA/SP. Fonte: Antonio Devide







Juntou mais de um, um que sabe. Um que quer aprender. Boa vontade, colaboração, histórias ditas a toa, risadas, trocas profundas, lições de uma Vida. Está montado o circo. Ele se chama mutirão. 

Hoje fizemos o manejo de SAF com macaúba (Figura 1), nas entrelinhas de bananeiras Prata anã, BRS Conquista e Nanicão.
Nas linhas das bananas, gliricídias são podadas para adubar o solo (adubação verde) e as estacas são dirigidas para implantação de novas áreas de SAF no Vale do Paraíba (Figura 2).

Estacas de gliricídia (Gliricídia sepium) para o plantio. (Fonte: Antonio Devide)
Figura 2. Estacas de gliricídia para o plantio de novos SAF. Fonte: Antonio Devide.

Nas entrelinhas tem a macaúba, diversidade de frutíferas e madeiras nativas, além de cúrcuma.
Ainda na linha da banana, tem o palmito juçara (Euterpe edulis), que já é grandinho, foi plantado de mudas, e pimenta dedo-de-moça em produção (Figura 2).

Palmeira juçara (Euterpe edulis) com cúrcuma (Curcuma longa) em Sistema Agroflorestal. (Fonte: Antonio Devide).
Figura 3. Palmeira juçara e açafrão (cúrcuma). Fonte: Antonio Devide.

O manejo de desbaste da bananeira objetiva deixar uma planta mãe, uma planta filha descendente direta, e uma neta, que se origina do rizoma de uma planta filha.

Mas vá lá. O manejo tem seus mistérios. 
O instrumento? Uma foice, daquelas curvadas, utilizadas para ceifar capim; um facão, daqueles utilizados no corte da cana (peixeira). Pelo menos duas pessoas. Uma que vai desbastando e outra que vai picotando as partes da bananeira de desbaste que alimentam a Vida do sistema.

O primeiro golpe, certeiro, mira a copa da bananeira (terço superior do pseudocaule, se tiver em produção, vem o engaço e as folhas pro chão). O cuidado é não amassar o açafrão da terra que cresce bonito ao lado, entre a linha de macaúba e a linha da banana.

Os golpes seguintes são dados picotando o pseudocaule, como que a tirar bolachas que serã utilizadas na pesquisa de controle biológico. Encontram-se fibrosos, desprovidos de seiva por causa da longa seca do outono-inverno. Devem ser apenas picotados.

Abaixo, rumo à base da planta, sai dali alguns pedaços de dois palmos de pseudocaule. Vão formar as telhas. Peças que lembram telhas, já que são cortadas longitudinalmente. Ricos em seiva nutritiva, são dispostas de maneira caprichada ao lado das mudas que crescem no SAF (como frutíferas e madeiras nativas) e que se quer nutrir, fertirrigar.
As partes internas são dispostas em cima da terra, do solo que está recoberto de folhas caídas da gliricídia no inverno e que estão em decomposição.

Resta o 'filé', terço inferior do pseudocaule. No nosso caso, utilizamos na montagem de um experimento de controle biológico do moleque da bananeira (Cosmopolites sordidus) ou da broca da palmácea (Rincophorus palmarum), dentre outras brocas que atacam as bananeiras (Figura 4). Serão nossas iscas: bolachas e telhas inoculadas com fungos benéficos.

Danos causados por broca no peseudocaule da bananeira (Fonte: Antonio Devide).
Figura 4. Danos causados por broca no pseudocaule da bananeira. Fonte: Antonio Devide.

Mas qual muda ou planta adulta de bananeira eu retiro do sistema?
1) As mais tortas. As que saem inclinadas e tendem a tombar com o peso do cacho da banana.
2) São preservadas as que estão ou emitirão os cachos das bananas da safra atual.
3) São preservadas as que fornecerão mudas para os outros produtores.
4) São preservadas as mudas irmãs que estando situadas no centro da linha, estão bem dispostas, sem estar inclinadas, para manter o alinhamento das bananeiras no SAF.

Vídeo 1. Manejo de condução da touceira da bananeira com o corte de pseudocaule, com José Luis de Oliveira. Fonte: José Miguel Quevedo Garrido.

O resto é suprimido sem dó. Enriquecem o sistema com a rica seiva fornecedora de potássio. Fornecem Vida ao Sistema Agroflorestal!!! 
As mudas que saem do Sistema para formar outros pomares são divididas pelo tamanho: as grandes, são levadas grandes ao novo pomar, dão trabalho para retirar, pois tem que ir com boa fração do rizoma da moita original. São podadas no novo campo de cultivo e plantadas de cabeça prá baixo, a fim de forçarem um brotamento adequado posterior ao enraizamento tornando as touceiras mais resistentes ao tombamento. São plantados em berços 50 x 50 centímetros. 
As mudas chifrão e chifrinho são plantadas no fundo de berços caprichados , na mesma dimensão mencionada. Resta as chifrinhos, o 'filé'.

Causos ouvidos... a vacina contra o Covid-19 ricamente discutida... o coração transbordando de amor, as roupas sujas, impregnadas com a seiva das plantas... 'Sangue vegetal' que não deixará minha calça hering que acabei de perder. Ela foi batizada com o suor do conhecimento, impregnada com o saber de Sr. Zé Luiz, nosso Mestre deste aprendizado. Levo minhas mãos sujas com a borra que insistirei deixar lá, a marcar este maravilhoso dia.

Local da atividade: Sistema Agroflorestal 'SAF Macaúba', no setor de Fitotecnia do Polo Regional Vale do Paraíba - APTA/SAA.

Participaram deste manejo: José Miguel Quevedo Garrido (Perito Agrário - INCRA/SP), Rudson Haber Canuto (discente do Curso EAD de Agroecologia - Universidade de Taubaté), José Luiz de Oliveira e Luiz Ramos (apoio à pesquisa - APTA).

Editoração: Antonio Carlos Pries Devide (Pesquisador APTA/SAA-SP)

16 de set. de 2020

Estudo de caso sobre Aplicação de Radiestesia na Agricultura Agroecológica do Sítio Aldeia Puri, em Piracaia, Serra da Mantiqueira (SP)

José Miguel Garrido Quevedo - Perito Agrário Mestre, INCRA – São Paulo, Brasil, jose.quevedo@spo.incra.gov.br

Antonio Carlos Pries Devide - Pesquisador Doutor, APTA/SAA – São Paulo, Brasil, antoniocarlosdevide@gmail.com


Resumo

A radiestesia é uma técnica antiga utilizada para caracterizar a energia telúrica que transita no planeta. A aplicação dos parâmetros radiestésicos à Agroecologia pode auxiliar os(as) agricultores(as) no planejamento de atividades agrícolas e conservacionistas, como neste estudo de caso em uma pequena propriedade rural situada na Serra da Mantiqueira no estado de São Paulo, Brasil.

Detectamos estreita relação do movimento do pêndulo na caracterização edafo-ecológica de cinco áreas, com rotação no sentido horário para áreas de uso agrícola e anti-horário para áreas de conservação (preservação permanente e regeneração natural), além de movimento vertical qualificado como área de reforço de recarga hídrica, conferindo resultados consistentes como ferramenta no planejamento do uso do solo.

Palavras-chave: análise de meio ambiente; planejamento agropecuário; pêndulo; Agroecologia.

 

Abstract:

 Dowsing is an ancient technique used to characterize the telluric energy that transits the planet. The application of dowsing parameters to Agroecology can assist farmers in planning agricultural and conservation activities, as in this case study on a small rural property located in Serra da Mantiqueira in the state of São Paulo, Brazil.

We detected a close relation of the pendulum movement in the edaphological-ecological characterization of five areas, with clockwise rotation for areas of agricultural use and counterclockwise for conservation areas (permanent preservation and natural regeneration), in addition to qualified vertical movement as an area of reinforcement of water recharge, providing consistent results as a tool in land use planning.

Keywords: environmental analysis; agricultural planning; pendulum; Agroecology.

 

Introdução

A radiestesia é uma prática conhecida desde o Egito Antigo, também chamada rabdomancia, tradicionalmente utilizada na busca de veios de água no solo e minérios (SILVEIRA 2011), mas também uma ferramenta complementar no diagnóstico de enfermidades (CHOW 2005).

A aplicação da radiestesia na unidade agrícola pode subsidiar a análise do ambiente de cultivo, a escolha de culturas em função do ambiente e dos métodos de preparo do solo, além de promover o equilíbrio no ambiente, a prospecção hídrica e de subsolo (geobiológica) (SILVEIRA 2011).

Muitas teorias foram elaboradas para explicar os movimentos dos pêndulos e das forquilhas que são ferramentas da radiestesia. O abade Alexis Mermet descreveu que “os corpos emitem ondas e radiações, cujo campo denominado radiestésico produz no corpo humano determinadas reações nervosas”, empregando o pêndulo para escolha do melhor preparado homeopático para o tratamento de enfermidades (CHOW 2005). Para Silveira (2011), há sensores magnéticos no corpo humano que registram as variações do campo energético denominado geocampo. Esses sinais são enviados ao cérebro humano. Essas reações, segundo Mermet, geram uma corrente que se desloca pelas mãos do(a) radiestesista. Para Silveira (2011), o cérebro, pela ação neuromuscular, promove a microconcentração das miofibrilas dos dedos o que gera o movimento do pêndulo (FIGURA 1).


FIGURA 1. Captação do geocampo pelo cérebro do radiestesista, corrente elétrica que se desloca as mãos e movimento do pêndulo. Fonte: Borba, 2014. 

É preciso compreender que o pêndulo se movimenta em sintonia e consonância com a energia telúrica do local em associação com a capacidade radiestésica do observador e em resposta às perguntas mentais realizadas. A manipulação do pêndulo requer a dedicação e treinamento prático do radiestesista. O exercício interior do observador deve partir do despertar do poder suprassensível que possibilita o religar do humano ao Criador (energia universal) (DEVIDE 2019). Assim, o movimento do pêndulo, aos poucos, torna-se involuntário da vontade do observador refletindo as emanações do meio em estudo.

Nesta pesquisa avaliou-se os resultados da aplicação da radiestesia com o pêndulo no planejamento do uso do solo do Sitio Aldeia Puri, situado em uma importante área para a conservação ambiental da Serra da Mantiqueira no município de Piracaia – SP.

 

Metodologia

Este estudo de caso foi realizado no Sítio Aldeia Puri (22°59’56’’ S e 46°17’28’’W) localizado no município de Picaracaia – SP em relevo suave ondulado com altitude média de 792 m. A paisagem apresenta mosaico de conexões de solos hidromórficos, vegetação em estágio inicial de regeneração e áreas de uso consolidado (cultivos e moradia). 

A escolha deste local para o estudo se deu em função de três aspectos: a origem dos agricultores locais que provém de cidades em busca de um modelo de vida mais saudável reconectados com a natureza; o insucesso inicial na escolha de algumas áreas para produção agroecológica; o perfil desses atores no quesito 'trato da terra' em um modelo de agricultura agroecológica biodinâmica que utiliza de princípios do manejo das energia universal para fins de preparados biodinâmicos e calendário agrícola, conforme as fases da lua e terapia holística bioenergética.

Como subsídio ao planejamento do uso do solo utilizou-se um pêndulo constituído de uma chave de ferro suspensa por um cordão de algodão de 20 cm de comprimento. O manuseio do pêndulo foi realizado por um engenheiro agrônomo radiestesista que passou por um longo treinamento para aplicação do método.

Foi realizada uma caminhada percorrendo toda a área de 2,0 hectares, aplicando-se o princípio proposto por Silveira (2011), captando a energia telúrica emanada da terra e de acordo com o movimento do pêndulo, como característica intrínseca ao local percorrido, foi qualificado o uso do solo, as técnicas de produção e a escolha das culturas, bem como identificada áreas destinadas à conservação da natureza.

O radiestesista imprimiu questionamentos mentais e avaliou o movimento do pêndulo da seguinte forma: em sentido horário do relógio (resposta afirmativa), no sentido anti-horário (resposta negativa), no balanço no sentido horizontal ou vertical (sem resposta) e quando o pêndulo ficou imóvel significou que a pessoa estava não sensitiva ou cansada (SILVEIRA 2011) (FIGURA 2).


FIGURA 2. Modelos de movimentos do pêndulo. Fonte: Pintrest>Estabilishment

Os questionamentos mentais se restringiram a pergunta se o território era adequado para o cultivo de culturas e criações animais (pêndulo girando no sentido horário), se o território deveria ser reservado à natureza, qual seja, à recuperação de fragmento vegetal nativo (pêndulo girando no sentido anti-horário) ou se a área deveria sofrer intervenção conservacionista para fortalecer a recarga hídrica (pêndulo oscilando no sentido vertical linear em direção ao radiestesista) (FIGURA 3). Restava ainda o movimento horizontal linear do pêndulo que por convenção foi determinado como área divisa entre os territórios descritos anteriormente


FIGURA 3. Aplicação da radiestesia através do movimento do pêndulo em uma área de agricultura familiar em Americana (SP). Fonte: o Autor, 2020.

Com isso elaborou-se um croqui do planejamento agropecuário da unidade de produção agroecológica dos agricultores familiares e biólogos Marina Savaresi Bomfim e Victor Dimitrov.

Resultados e discussão

Este estudo foi realizado em uma importante área de produção agroecológica no município de Piracaia, na Serra da Mantiqueira, seja por seu relevo acidentado e pela cobertura remanescente de Mata Atlântica (FIGURA 4A) que precisa ser preservada para prover serviços ecossistêmicos, como recursos para a fauna e a recarga hídrica (FIGURA 4B) para abastecer nascentes e rios que são importantes para o suprimento das necessidades humanas.

FIGURA 4. No Sítio Aldeia Puri se observa a Mata Atlântica da Serra da Mantiqueira (A), nas áreas baixas de recarga hídrica aptas para conservação da vegetação de brejo (B) e o cultivo de hortaliças agroecológicas em canteiros elevados em áreas com maior aptidão (C), de cujas sementes são produzidas localmente (D). Fonte: @aldeiapuri

No extremo norte (FIGURA 5), a primeira área é dominada por espécie pioneira de regeneração natural conhecida popularmente como assa-peixe (Vernonia polysphaera) na divisa da propriedade. Esta área, localizada próximo da estrada vicinal, serve de caminho para águas pluviais que se acumulam e a percorre até desaguar na parte mais baixa do terreno. Anteriormente, tentou-se cultivar a área, contudo, sem sucesso, devido ao solo degradado por erosão. O movimento do pêndulo se deu em sentido anti-horário do relógio, indicando se tratar de área estratégica para a regeneração da natureza.


FIGURA 5. Zoneamento do uso do solo do Sítio Aldeia Puri na Serra da Mantiqueira em Piracaia – SP, Brasil (junho/2019). Fonte: Google Earth Pro (2020).

 Quando os índices de precipitação são elevados as águas pluviais percorrem um caminho natural, partindo de cotas elevadas de onde a iluviação remove sedimentos que se acumulam nas baixadas (ambiente de eluviação). Esses territórios devem ser manejados com muita cautela para evitar o depauperamento dos solos e a cobertura vegetal deve ser restaurada para reforçar a recarga hídrica e combater a erosão (QUEVEDO et al. 2019).

Logo ao lado encontra-se a segunda área de cultivo agroecológico do sítio (FIGURA 4), onde o solo é manejado com adubação verde, rotação de culturas, adição de composto e irrigação para o cultivo de hortaliças orgânicas. O movimento do pêndulo nesta área se deu em sentido horário do relógio, sinalizando adequação para produção agrícola.

Na terceira área, em direção à moradia, há uma pequena depressão no relevo onde o caminho das águas subterrâneas modula o tipo de vegetação adaptada ao solo inundável (FIGURA 4B). O pêndulo, primeiramente, traçou o limite das áreas através do movimento horizontal e quando adentrou no território do deflúvio das águas passou a se movimentar de forma linear vertical, direcionando-se ao observador. Este movimento sinalizou o território das águas ou de reforço da recarga hídrica.

Na lateral desses territórios observa-se o acúmulo de água em um brejo. Os territórios super úmidos devem ser destinados à conservação da natureza, dominado por lírio-do-brejo (Hedychium coronarium) e taboa (Typha domingensis) que são espécies difundidas localmente como PANC – plantas alimentícias não convencionais; além de capim-angola (Panicum numidianum) e arbóreas da regeneração natural tolerantes à inundação tais como maricá (Mimosa bimucronata) e ingá (Inga sp.) (FIGURA 4B). Caso haja o interesse no uso agrícola, a drenagem encarece o empreendimento além de configurar uma intervenção inadequada. Os mananciais hídricos devem ser destinados à preservação como áreas de refúgio para a fauna silvestre. Nesse território o pêndulo movimentou-se no sentido anti-horário em que se convencionou chamar por “destinado à natureza”.

Restou um último território em área de baixada com drenagem deficiente. O movimento do pêndulo surpreendeu ao apresentar a conformidade da escolha intuitiva do jovem casal como área de expansão dos cultivos orgânicos. Mesmo necessitando de drenagem e o plantio de hortaliças em canteiros elevados (FIGURA 4C), ao contrário da área de brejo anterior, o movimento do pêndulo no sentido horário caracteriza adequação do uso do solo destinando a área como “território de culturas”.

O Sítio Aldeia Puri é uma importante unidade de produção e disseminação da Agroecologia que prioriza a produção de sementes próprias (FIGAURA 4D), novas formas de comércio direto com projeto Barraca Livre (Pegue e pague), valorizam as PANC e o utilizam princípios biodinâmicos na produção. A radiestesia é uma técnica complementar aos interesses do casal que buscam interligar a agricultura integrada com a paisagem em sintonia às energias do Universo.

 

Conclusões

Este estudo preliminar sobre o uso da radiestesia no planejamento agropecuário evidencia a coerência da aptidão do uso do solo com base nas características edafo-ecológicas de cada porção do território avaliado.

A radiestesia revelou com precisão o destino ideal de cada área e apesar da viabilidade dessa técnica é necessário se manter o estudo de monitoramento por mais tempo a fim de verificar se as mudanças propostas e a evolução do sistema produtivo irão alterar o movimento pendular ao longo do tempo.

São necessários mais estudos e repetições para comprovar cientificamente o método do uso do pêndulo no planejamento ambiental do uso do solo que apesar de utilizado por agricultores tradicionais, principalmente para encontrar água no solo, ainda é pouco compreendido e aceito pela academia de ciências.

Agradecimentos

Ao casal Marina Savaresi Bomfim e Victor Dimitrovi pela disponibilidade para o trabalho e às sugestões das amigas Maria Thereza Quevedo e Verônica Andressa de Castro.

Referências bibliográficas

ALDEIA PURI - Piracaia. (2020, Agosto 19).

BORBA, M. (2014). "Cure a si mesmo" - IV - Radiestesia (Pêndulos) -Radiônica.  https://aalquimiadacura.blogspot.com/2014/07/cure-se-si-mesmo-iv-radiestesia-pendulo.html

CHOW, J. (2005). Pendular Diagnosis: from dowsing to diagnostic methodology? Seminars in Integrative Medicine, 38-43.

DEVIDE, A.C.P. (2019). Sistemas Agroflorestais. In Barbosa, L.M. (Coord.). Anais, VIII Simpósio de Restauração Ecológica (p. 43-50). São Paulo, Brasil: Instituto de Botânica.

QUEVEDO, J.M.G., CASTRO, V.A.C., COUTINHO, T.R., GONÇALVES, E.F. & DEVIDE, A.C.P. (2019, outubro). Oficina de Planejamento Conservacionista para Ocupação do Assentamento de Lagoinha – SP. Trabalho apresentado no 7° Seminário Paulista de Extensão Rural: Associação Paulista de Extensão Rural, Campinas, São Paulo.

SILVEIRA, J. C. (2011). Caderno de Radiestesia - Instruções Práticas Tradicionais sobre Investigação dos Efeitos das Ondas de Baixa Frequência na Saúde dos Seres Vivos e do Ambiente Rural (1 ed.), Viçosa, MG: Universidade Federal de Viçosa/Departamento de Fitotecnia.  

21 de jul. de 2020

CONTRIBUIÇÕES DOS QUINTAIS AGROFLORESTAIS NO COMBATE AO COVID-19



Quintal agroflorestal às margens da estrada de ferro no bairro Vila Rica em Pindamonhangaba (SP), Brasil.

Autor: Antonio Carlos Pries Devide
Eng. Agrônomo, Dr., PqC do Polo Regional Vale do Paraíba APTA
antoniodevide@apta.sp.gov.br

O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) alerta que a destruição de habitats naturais fez emergir pandemias de doenças transmitidas de animais para humanos, como o Ebola, a gripe aviária H5N1, o Zika Vírus e o COVID-19. Essas doenças refletem os desequilíbrios ambientais gerados por sociedades contemporâneas com o cultivo de monoculturas, criações extensivas ou o confinamento de animais em larga escala, mineração e expansão de cidades com áreas urbanizadas impermeabilizadas e sem conexão com a matriz florestal que as cercava.
O ressurgimento da febre amarela no Sudeste do Brasil ocorreu após extensas áreas de matas ciliares serem degradadas com o rompimento da barragem de Mariana. Os surtos de malária dispararam na região Norte com o desmatamento da Floresta Amazônica e os casos prováveis de dengue, que atingiram mais de 1.69 mi de pessoas no Brasil no ano de 2015, com 44% das ocorrências no estado de São Paulo, se deram em decorrência da degradação do meio ambiente e extinção dos agentes de controle natural do mosquito transmissor Aedes aegypti.
Os principais fatores que favorecem a pandemia de COVID-19 no Brasil são: a pobreza decorrente da concentração de riquezas e o baixo nível de instrução; a falta ou a má alimentação baseada em produtos industrializados, ricos de ingredientes sintéticos que realçam o sabor, a cor, que garantem a estabilidade por longos períodos, mas que prejudicam a saúde por baixar a imunidade e predispor doenças em pandemias, tais como a diabetes tipo 2, a obesidade e problemas cardiovasculares. A fragilidade no controle da qualidade dos produtos vegetais e animais quanto aos níveis de resíduos de agrotóxicos, antibióticos e de contaminantes virais também ampliam os riscos para a população. Os óbitos pelo COVID-19 são favorecidos por doenças pré-existentes e por condições precárias de nutrição e saúde. 
Nesse cenário emerge a agricultura urbana baseada na agroecologia, uma ciência sistêmica que une às técnicas sustentáveis de produção de alimentos aos aspectos da biodiversidade, da organização social nas relações de geração e partilha dos conhecimentos, do fortalecimento da agricultura familiar com sistemas locais de produção e de consumo que possibilitam reduzir a dependência por insumos externos e promover a soberania e a segurança alimentar e nutricional, melhorando a qualidade de vida e do ambiente, especialmente em comunidades marginais.
A agricultura urbana é uma prática cada vez mais comum na vida de pessoas que buscam na relação com as plantas estabelecer um novo sentido para a vida, seja por uma alimentação saudável, seja como terapia o ato de ‘mexer com a terra’. Em um planeta cada vez mais urbanizado e globalizado a produção de alimentos frescos como frutas, vegetais, fungos e produtos de origem animal, como o mel de abelhas nativas sem ferrão, dobrou globalmente em pouco mais de 15 anos e essa tendência seguirá crescendo à medida que as pessoas perceberem que é estratégica a produção e o consumo de alimentos produzidos localmente de maneira limpa em época de crise.
Os quintais agroflorestais (SAF) são modelos de produção que incluem arbustos e árvores manejados com múltiplos propósitos: para aumentar a biodiversidade e trazer equilíbrio biológico para o sistema, para sombra e bem estar ao trabalhador, como quebra-vento, para produção de adubo verde através da queda das folhas e da poda e como tutor de plantas trepadeiras, p.ex.
Nesse trabalho foram identificados os sistemas de agricultura urbana no município de Pindamonhangaba-SP, na região Metropolitana do Vale do Paraíba (Rio-São Paulo), com a descrição qualitativa de um quintal agroflorestal. Foram relacionadas espécies cultivadas, o hábito de crescimento, a idade, o arranjo de plantio, o manejo, usos e o valor dos alimentos.
Ao percorrer um trajeto entre os bairros Lessa, Vila Rica e Mombaça (Figura 1) foram quantificadas as áreas de agricultura urbana.
Figura 1. Imagem aérea da fronteira agrícola e dos bairros analisados no polígono amarelo, Pindamonhangaba-SP (Abr-2020). Fonte Google Earth.
Nos bairros populosos em que os terrenos são menores há pelo menos duas dezenas de áreas cultivadas em faixas de terras às margens da Estrada de Ferro Central do Brasil e de áreas ciliares dos Córregos do Vila Rica e Campos Maia, que contornam os bairros do Lessa, Vila Rica e Mombaça. Além disso, nas calçadas e jardins internos em reduzidos espaços ou mediante o cultivo em latas, vasos e jardineiras são cultivadas plantas alimentícias, medicinais e condimentares. Os moradores relatam que essas atividades são realizadas por lazer; para obter alimentos frescos; manter a limpeza das áreas que muitas vezes foram restauradas pelos próprios moradores por servirem ilegalmente como locais de depósitos de lixo; promoção do embelezamento do entorno das moradias com benefícios à saúde com o consumo de alimentos frescos e saudáveis e o bem estar coletivo com o asseio, a sombra de árvores; e o favorecimento do controle biológico de pragas como o Aedes aegypti. Em três situações havia pescadores em córregos e ribeirões dessas áreas.
Na análise do quintal agroflorestal em unidade familiar, com área total de 720 m² e área cultivada de cerca de 350 m², verificou-se o cultivo de 44 espécies vegetais com elevada biodiversidade funcional, com ênfase em plantas alimentícias não convencionais (PANCs) que produzem alimentos o ano todo enquanto as frutíferas sazonais intercalam produções.
O cultivo em consórcios é realizado em pequenas ilhas onde as espécies se distribuem em diferentes estratos (alturas) de maneira similar ao que ocorre em uma floresta (Tabela 1).
Tabela 1. Relação de espécies de acordo com o estrato que ocupam nas ilhas de vegetação de um quintal agroflorestal em área urbana em Pindamonhangaba – SP (abril – 2020)

Na porção frontal são cultivadas 5 ilhas. A ilha 1 em um canto do terreno dois arbustos de cabeludinha tem os ramos verticais suprimidos, produzindo cada um cerca de 2 kg de frutos. A pitangueira com a copa reduzida ocupa o estrato acima das cabeludinhas. A bananeira ornamental embeleza o jardim, mas é podada cedendo a matéria orgânica para as frutíferas.
A ilha 2 na lateral tem a palmeira juçara nativa da Mata Atlântica produzindo 3 cachos/ano com cerca de 1,0 quilo de frutos/cacho, obtendo-se ao todo após a despolpa manual cerca de 1,5 kg de polpa concentrada congelada para uso tal como o açaí da Amazônia, e mais 2,5 litros de suco. 
A ilha 3 e a ilha 4 contêm cada uma com um jerivá que produz seis cachos/ano com cerca de 25 kg cada um totalizando 300 kg de frutos, que são consumidos pela avifauna, principalmente maritacas, tucanos e registros de jacus no local. Há demanda por um sistema de despolpa para possibilitar o consumo em larga escala do jerivá.
A ilha 5 abrange um mix de arbóreas e arbustos que são podados (topiaria). Sobre essa vegetação são cultivados cipós: sacha-inchi e maracujá. As castanhas da sacha são descascadas, torradas em forno elétrico por 10 minutos e armazenadas para o consumo.
A ilha 6, assim com as demais se situam nos fundos do terreno. Uma mangueira frutifica no verão. Ao lado, uma jabuticabeira frutifica quase o ano todo sob a copa da mangueira. As palmeiras jerivá e juçara são emergentes e junto com o jerivá sobrepõem o dossel da mangueira. No sub-bosque são cultivadas espécies que toleram sombra (açafrão e taioba).
A ilha 7 contém o pati que é outra palmeira emergente do litoral; logo abaixo a condessa produz em média 30 kg de frutos com o consumo in natura e fácil despolpa que possibilita o congelamento da polpa. O limoeiro ao lado frutifica ao lado da bananeira e mais ao lado há um pau-viola manejado com poda como tutor de orquídeas.
Na ilha 8 a juçara produz 3 cachos/ano, a bananeira produz 2 cachos/ano de cerca de 15 kg. Ao lado 2 moringas são podadas a 1,50 m de altura gerando folhagem consumida em saladas, funcionando como tutor para o cará-moela, junto da mirra. Mais ao lado uma moita de ora-pro-nóbis é podada anualmente ofertando abundante quantidade de folhas proteicas.
A ilha 9 contém uma juçara tutor do pepino-crioulo. Abaixo um araçá amarelo recebe podas anuais e produz frutos consumidos in natura. Ao lado e abaixo há pariparoba, labasca, taioba, gengibre ornamental e helicônias. Uma parreira de guaco completa essa ilha.
A ilha 10 é formada por um jerivá, abaixo uma embaúba seguida de bananeira / cambucá e juçara em associação; de outro lado há bananeira figo, mexerica e goiabeira com melão-de-são-caetano. O cambucá iniciou a frutificação aos 9 anos. Abaixo dessas espécies há cana-do-brejo, taioba, araruta, helicônias e calatea, que embelezam o jardim.
As árvores presentes nos SAF ou na arborização urbana, em jardins e áreas públicas, melhoram a qualidade de vida da população ao reduzir a temperatura e a carga de poluentes na atmosfera, ao aumentar a umidade do ar e promover o equilíbrio biológico, ao interceptar as chuvas e reduzir o escorrimento superficial ao fortalecer a penetração da água no solo, o que é fundamental para evitar a sobrecarga nos sistemas de águas pluviais e prevenir enchentes em áreas tais como àquelas visitadas, contornadas por ribeirões.
A tabela 2 detalha a descrição, o manejo e os usos das espécies no quintal agroflorestal.
Tabela 2. Caracterização das espécies de um quintal agroflorestal com descrição do hábito de crescimento, manejo de poda, idade, produto obtido, usos e benefícios para a saúde (Pindamonhangaba – SP, abril - 2020)

Os quintais agroflorestais são estratégicos para o equilíbrio ambiental na área urbana, mas demandam políticas públicas que favoreçam essa prática, pois, são sistemas que produzem mais alimentos por unidade de área e benefícios muito superiores do que monoculturas, além de despertar a cidadania e introduzir os habitantes na restauração ecológica.
Nesse trabalho foram registradas as contribuições da agricultura urbana e dos quintais agroflorestais na promoção da saúde e prevenção de COVID-19, por quatro motivos:
- Fortalecem a segurança alimentar e nutricional por meio do consumo de alimentos frescos que melhoram o sistema imunológico para combater os efeitos das doenças.
- Promovem o equilíbrio psicoativo por meio do trabalho diário no manejo e embelezamento dos jardins, na elaboração de arranjos florais, banhos de ervas e consumo de chás, que são atividades integrativas e complementares que melhoram a percepção dos caminhos a percorrer para superar os desafios da pandemia.
- Geram renda com o comércio de excedentes da produção.
- Promovem o reequilíbrio do meio ambiente urbano.
Referências bibliográfica
Altieri M. A., Nicholls C. I. A agroecologia em tempos de Covid-19. 2020.
Amador D. B. 2008. Restauração de ecossistemas com sistemas agroflorestais. In: Restauração Ecológica de Ecossistemas Naturais. Kageyama et al. (orgs.). Botucatu – SP: Fundação de Estudos e Pesquisas Agrícolas e Florestais – FEPAF, pp. 333-339.
Brasil. Ministério da Saúde. Situação epidemiológica / Dados. Disponível em: <https://www.saude.gov.br/saude-de-a-z/dengue/situacao-epidemiologica-dados> Acesso em: 01 mai. 2020.
Kinupp V. F., Lorenzi H. Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC) no Brasil: guia de identificação, aspectos nutricionais e receitas ilustradas. São Paulo: Instituto Plantarum de Estudos da Flora, Acesso em: 24 jan. 768 p. 2011.
Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). Coronavirus outbreak highlights need to address threats to ecosystems and wildlife. 03 Mar 2020. Disponível em: <https://www.unenvironment.org/news-and-storis/story/coronavirus-outbreak-highlights-need-address-threats-ecosystems-and-wildlife> Acesso em: 01 mai. 2020.
Rosenzweig C., Solecki W., Romero-Lankao P., Mehrotra S., Dhakal S., Bowman T. & Ali Ibrahim S. ARC3.2 Summary for City Leaders. Urban Climate Change Research Network. Columbia University. New York. 2015.


Artigo submetido em: 05/2020 ao periódico Pesquisa & Tecnologia da APTA Regional



13 de jul. de 2020

Nota técnica: A Estratificação na Implantação de um Sistema Agroflorestal


Estudo de caso


MUTIRÃO AGROFLORESTAL AGROECOLÓGICO NO SÍTIO ECOLÓGICO 
DO CAMPONÊS VALDIR MARTINS 
Dia 15 de fevereiro de 2020
Por: Eng. Agrônomo José Miguel Garrido Quevedo
Colaboração de Verônica Andressa de Castro 


Figura 1: Área de instalação do sistema agroflorestal - SAF no Sítio Ecológico em São José dos Campos (SP).
            O mutirão Agroflorestal teve por finalidade completar uma área de Sistema Agroflorestal com frutíferas iniciado durante o curso “Sistema Agroflorestal Agroecológico” ministrado pelo técnico e consultor em sistemas agroflorestais Namastê Messerschmidt ocorrido em 25/Janeiro/2020 no Sítio Ecológico no Assentamento de Reforma Agrária Nova Esperança, em São José dos Campos, no Vale do Paraíba, estado de São Paulo, Brasil.
A seguir será ilustrado o planejamento do SAF do presente mutirão:
          
Figura 2: Croqui de parcela agroflorestal com a distribuição das espécies (sem escala) no Sítio Ecológico em São José dos Campos (SP). Elaborada por Verônica Andressa de Castro.


            Vale destacar que nas áreas sujeitas à inundação, o cambucá substituiu o abacate e o cambuci entrou no lugar da laranja pera do rio.       
            O principal desafio é o entendimento do arranjo das espécies sugerido. Segundo Miccolis et al. (2016), trata-se de um princípio fundamental nos Sistemas Agroflorestais, do qual se baseia no arranjo das espécies ou culturas que devem formar uma camada ou estrato florestal. Tais camadas de vegetação formam a estrutura florestal que precisa ser planejada, por simplificação sugere-se: estrato emergente, estrato alto, estrato médio e estrato baixo e ainda o estrato rasteiro. A primeira rua desenhada neste SAF, a linha de frutíferas, foi composta por uma espécie de estrato alto, o abacate nas áreas secas e o cambucá nas áreas úmidas. Ao lado destas espécies, é introduzido o araça-boi, espécie de estrato médio/baixo. E no centro deste módulo, o ipê, espécie nativa do estrato alto/emergente.
            Na segunda linha de plantio, considerado como a linha de diversidade e espécies de serviço, foram introduzidas as linhas de banana, no caso, espécie que pertence ao estrato médio (nanicão) e variedade que pertence ao estrato alto (Prata BR Platina), junto de uma espécie de estrato emergente, o eucalipto, no mesmo berço. A cada metro é então introduzido as espécies nativas, 35 espécies no total, entre elas: aroeira, copaíba, pau formiga, pau viola, sangra d´água, manjolim, embaúba e pororoca.




Figuras 3 e 4: Linhas de espécies nativas e frutíferas em alta densidade já instalado no Sítio Ecológico em São José dos Campos (SP).
           
            Na terceira linha, foi introduzido a espécie de estrato médio laranja pera rio, nas partes secas, e o cambuci, nas partes sujeitas à inundação. Nesta linha, será cultivado a espécie leguminosa de serviço, a gliricídia, espécie do estrato alto e o guanandi, espécie madeireira, do estrato emergente.
            Cada espécie foi associada no espaço conforme o estrato em que cada indivíduo irá ocupar de acordo com a exigência a luminosidade, a fertilidade dos solos e a disponibilidade de água existente. (Miccolis et al. (2016).
            Importante destacar que a primeira operação realizada na área foi a introdução de uma espécie de cobertura, que tem o papel de cultura de serviço, ou seja, que cobre o solo e é roçada para o fornecimento de palha sobre as linhas cultivadas: o capim mombaça.
            A fim de auxiliar a compreensão deste conhecimento o técnico Frenando Spalding da Ecoagri (ecoagri.com.br) compilou algumas informações que nos auxiliam no planejamento do Sistema Agroflorestal com foco neste entendimento.
Acesse o link e conheça a proposta de estratificação da Ecoagri: 

           

Foto 5: Área do SAF a ser implantado, onde observa-se a cobertura de capim mombaça no Sítio Ecológico em São José dos Campos (SP).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
MICCOLIS, A., PENEIREIRO, F. M., MARQUES, H. R., VIEIRA, D. L. M., ARCO-VERDE, M. F., HOFFMANN, M. R., REHDER, T., PEREIRA, A. V. B. Guia técnico – Restauração Ecológica com Sistemas Agroflorestais: Como Conciliar Conservação com Produção. Opções para Cerrado e Caatinga. Brasília, Instituto Sociedade, População e Natureza / Centro Internacional de Pesquisa Agroflorestal. 266 p. 2016.
SPALDING, F. Planilha de estratificação e planejamento de consórcios de espécies para Sistemas Agroflorestais. Ecoagri. sem data. 


Adaptação para blog: Antonio Devide - Pesquisador da APTA Polo Vale do Paraíba antoniocarlosdevide@gmail.com

24 de jun. de 2020

A Rede Agroflorestal do Vale do Paraíba em Tempos Outros


Foto: Lucas Lacaz Ruiz, dez/2019. Implantação de SAFs no Assentamento Nova Esperança, em SJCampos.
Foto: Lucas Lacaz Ruiz, dez/2019. Implantação de SAFs no Assentamento Nova Esperança, em SJCampos.
Por Antonio Carlos Pries Devide*
No final do ano de 2013, ações da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios – Pólo Regional do Vale do Paraíba (APTA) e da Organização Não Governamental Pátio das Artes fomentaram a participação popular em prol da agroecologia gerando um grupo gestor para articulação da Rede Agroflorestal do Vale do Paraíba.
Formada pela conexão de diferentes matrizes do ensino, pesquisa e extensão comunitária, essa Rede tem como foco disseminar os Sistemas Agroflorestais (SAFs) na bacia hidrográfica do rio Paraíba do Sul para fortalecer a produção e promover a restauração ecológica fazendo circular informações referentes a esses temas.
Os mutirões agroflorestais da Rede uniram agricultores familiares da reforma agrária, produtores e empresários rurais, pesquisadores, educadores, estudantes, técnicos, gestores ambientais de unidades de conservação e representantes de organizações não-governamentais, entre outros atores.

Foto: Acervo da Rede Agroflorestal do Vale do Paraíba, dez 2019. Mutirão na Chácara Santana em Areias
Do ponto de vista da Rede, os SAFs são uma das formas mais sustentáveis de promover a restauração da Mata Atlântica ao converter o ecossistema degradado em um outro muito mais produtivo, com baixo uso de recursos externos e de capital, inserindo os agricultores nos processos de restauração ecológica.
Os SAFs ajudam a recuperar a capacidade produtiva dos solos ao consorciar culturas agrícolas com a vegetação arbustiva e arbórea e promove o recobrimento do solo que facilita o controle de gramíneas invasoras melhorando as condições de sobrevivência das espécies florestais. O manejo dessa vegetação com podas recicla nutrientes e adiciona matéria orgânica na superfície do solo, aumentando a luminosidade que estimula o crescimento de espécies cultivadas em associação.
A vegetação nos SAFs combate a erosão ao interceptar as gotas de chuva pela copa e camada de serrapilheira que se forma sobre o solo, o que reforça a infiltração da água que abastece os aquíferos subterrâneos fazendo ressurgir nascentes em áreas degradadas por séculos de exploração predatória.
Com isso, os SAFs estão melhorando a paisagem e agregando valor à terra ao promover a restauração e a conservação de habitats naturais, que se tornam corredores de ligação entre fragmentos florestais do vale, Serra do Mar e Serra da Mantiqueira. Isto, envolvendo inúmeras propriedades rurais. Ao melhorar o fluxo de animais silvestres dispersores de sementes, os SAFs fortalecem a diversidade biológica e inserem os agricultores nos trabalhos de restauração ecológica.
Em relação aos efeitos das mudanças do clima que assolaram a bacia do Paraíba do Sul em um dos quadros mais severos de seca que ocorreram nos anos de 2003 e de 2013, os SAFs, por apresentarem maior biodiversidade, se tornam mais resilientes em termos produtivos e também na oferta de serviços ecossistêmicos.
Diversas iniciativas que ocorriam isoladas no vale se somaram aos trabalhos da Rede nos últimos anos. Os mutirões agroflorestais em núcleos locais ou regionais organizados por agricultores e técnicos estão reunindo cada vez mais gente interessada em desenvolver ações em prol dos SAFs e da agroecologia, muitas vezes, como forma de ressignificar o sentido da vida de residentes em áreas urbanas e rurais.
Com isso muitos consumidores passaram a conhecer e ter acesso aos alimentos agroecológicos em feiras públicas e puderam vivenciar a prática dos SAFs por meio de vínculos estabelecidos com as famílias de agricultores a partir dos mutirões. Assim, surgiu a CSA Guajuvira (Comunidade que Sustenta a Agricultura) em São José dos Campos, organizada pelo casal Thais Rodrigues da Silva e Altamir Bastos, que são agricultores da reforma agrária no assentamento Nova Esperança. A feira agroecológica do parque Vicentina Aranha também foi muito importante por destacar em sua programação atividades que ligaram as interfaces campo-cidade, também, apoiadas pelo SESC de São José.
A comercialização individual e coletiva de produtos agroecológicos está em  expansão por todo o vale, nos municípios de Taubaté (Apoena Rede Agroecológica do Vale e Região), Tremembé (Assentamento Conquista), Pindamonhangaba (APEP - Associação de Produtores Ecológicos e Cesta Querida Produtos Orgânicos), Lagoinha (Assentamento Egídio Brunetto), São Luiz do Paraitinga (Associação Minhoca); na Serra da Bocaina em Cunha (campanha Divino Alimento); na Mantiqueira (Frescor da Mantiqueira de São Bento do Sapucaí); e também no Litoral Norte (Rede Agroecológica Caiçara em Ubatuba).
Foto: Acervo da Rede Agroflorestal do Vale do Paraíba, dez/2019. Feira do Pré-Assentamento Egídio Brunetto em Lagoinha
De maneira geral, para se adequarem nas condições da pandemia do COVID-19, as vendas estão sendo realizadas de maneira direta ou por meio de cestas. Um dos gargalos tem sido reunir os agricultores por meio de aplicativo (venda coletiva) que demanda um gestor, como é o caso em Ubatuba. Dentre àqueles que já formaram freguesia há relatos de que a procura por hortaliças e frutas frescas aumentou. ‘Parece que a pandemia só fez aumentar a procura por alimentos agroecológicos’ ressalta Silvia Moreira (pesquisadora da APTA – projeto Rede Caiçara). ‘As pessoas estão mais conscientes de que a melhor forma de proteção é fortalecer a imunidade com uma alimentação saudável e equilibrada’, conta Janaína Anacleto do Sítio Anacleto no Assentamento de Reforma Agrária Conquista de Tremembé, isto, porque as pessoas estão tendo mais tempo para preparar o próprio alimento.
Uma nova forma de certificação da produção por Sistemas Participativos de Garantia (SPG) que envolve todos os componentes da rede de produção orgânica (agricultores, comerciantes, consumidores, técnicos) também está sendo implantada pela pioneira APOENA através da formação de um Organismo Participativo de Avaliação da Conformidade Orgânica (OPAC), conta Thiago Prota articulador da Rede e organizador da venda de cestas orgânicas.
Dentre os projetos desenvolvidos com agricultores da Rede Agroflorestal se destacam: o auxílio à pesquisa em políticas públicas de avaliação do crescimento e produção de espécies florestais nativas e culturas em SAFs e restauração ecológica (APTA / Pólo Centro Norte), metodologias de pesquisas participativas (Vitrine Agroecológica – APTA / Pólo Vale do Paraíba), Rede de produtores de cambuci e nativas da Mata Atlântica com consultoria em comercialização e processamento de frutas nativas, implantação de cozinha comunitária e pesquisa de matrizes, coleta de sementes e produção de mudas de frutas nativas (Instituto Auá) e formação da rede de coletores de sementes florestais com a participação de agricultores e apoio técnico especializado.
Os trabalhos não param e agricultores e agricultoras da Rede Agroflorestal do Vale do Paraíba estão se fortalecendo e ajudando as pessoas a superar o isolamento causado pela pandemia!
Texto escrito por Antonio Carlos Pries Devide – agrônomo, pesquisador de SAFs com sede no Pólo Regional do Vale do Paraíba (APTA) em Pindamonhangaba, pós graduado em fitotecnia área de concentração em agroecologia pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ).
Para mais informações sobre a Rede Agroflorestal do Vale do Paraíba, clique aqui.
Acompanhe também o trecho do documentário “Corpos, Territórios e Saberes: Modos de Agir e pensar nos Ambientes”, que integrou a instalação de mesmo nome realizada no Sesc Sorocaba, em 2019
*Antonio Carlos Pries Devide é agrônomo, pesquisador de SAFs com sede no Pólo Regional do Vale do Paraíba (APTA) em Pindamonhangaba, pós graduado em fitotecnia área de concentração em agroecologia pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ)