22 de abr. de 2021

Agricultoras da Reforma Agrária de Tremembé-SP apostam na Pitaia em Sistemas Agroflorestais

 

Por 

José Miguel Garrido Quevedo, Perito Federal Agrário do INCRA SP 

Antonio Carlos Pries Devide, Pesquisador da APTA - Polo Vale do Paraíba

Revisado por Verônica Andressa de Castro, discente de Agronomia da UNESP

 

 Experiência do Sítio Anacleto - Assentamento Conquista


Figura 1. Sistema irrigado em canteiros de hortaliças com cobertura morta de braquiária entre as plantas de pitaia em moirão de ferro-cimento (imagem Janaína Anacleto).

No Projeto de Assentamento de Reforma Agrária Conquista em Tremembé-SP, a agricultora  Janaina Anacleto do Sítio Anacleto trabalha em conjunto com sua família em uma produção diversificada e agroecológica, com a produção de frutas, cogumelos shimeji, olerícolas e suinicultura.

Para Janaina, a Agroecologia é um conjunto de práticas agrícolas e arranjos de espécies que excluem a necessidade do uso de agrotóxicos e adubos químicos.  Tal sistema de produção agrícola resulta em maior proximidade do produtor com os consumidores, além de possibilitar a venda de produtos agroecológicos a um preço justo.

O planejamento do plantio no Sítio Anacleto busca realizar o plantio de árvores associadas a uma cultura principal, no presente caso, a pitaia, através de Sistemas Agroflorestais - SAFs. Há também o plantio de hortaliças associadas a plantas de serviço (ex.  mamona preta e a braquiária), dos quais são manejadas com o objetivo de fornecer cobertura no solo dos canteiros, e consórcio de cultivos e uso de plantas companheiras (ex. coentro cultivado em  conjunto ao tomate e ao cravo de defunto além do manjericão) (Figura 1). Tais práticas auxiliam na arrecadação de renda em curto prazo.

Figura 2. Vista lateral do papel da mamona preta Paraguaçú na formação de pomar de pitaia (imagem Janaína Anacleto).

O SAF presente no Sítio é desenhado utilizando um espaçamento de 4 m X 4 m entre plantas de pitaia, dos quais são escoradas em mourões de concreto e apresentam o cultivo de hortaliças, e nas entrelinhas das mesmas são plantadas linhas de mamonas espaçadas 2 metros. Forma-se assim o extrato de cultivos: o extrato emergente, que proporciona a meia sombra para o cultivo da pitaia e é realizado pela mamona preta (Figura 2), do qual é manejada com podas para abertura de luz; o extrato médio, que é cultivado com as parreiras das pitaias; e o extrato baixo, que é cultivado com as hortaliças, que são cultivados em consórcios (ex. alface e rúcula, alface e couve flor, couve, coentro e alho poró).  Com a sombra dos extratos superiores, os cultivos crescem vistosos em ambiente propício e aproveitam toda a água do sistema de irrigação por gotejamento instalado na linha de pitaia. A captação é realizada por meio de poço artesiano. Os cogumelos shimeji, o qual é comprado inoculado em sacos e cultivado por três meses, são vendidos para restaurantes e chefes de cozinha.

Na propriedade também há o processamento dos produtos que são oferecidos aos consumidores, como o caso das geleias de hibisco e pimenta, a carne de jaca, a mandioca congelada, que agregam valor aos produtos agroecológicos e tem excelente aceitação.

A venda direta dos produtos agroecológicos, através do circuito de proximidades entre produtor e consumidor, é responsável por viabilizar o sistema em conjunto com ferramentas digitais, como Facebook (https://www.facebook.com/janaina.anacleto.35), Instagram (https://www.instagram.com/sitio_anacleto_agroecologico) e WhatsAPP (whats.link/sitioanacleto), que facilitam o planejamento de venda semanal e a entrega delivery ao grupo de consumidores que pertecem a aquela rede de consumidores. Em tais redes sociais é postado o dia a dia no sítio com as filhas ensinando o cultivo agroecológico e na cozinha ensinando pratos vegetarianos e veganos que faz com amor e dedicação.

As vendas semanais das hortaliças e legumes variam de 20 a 40 consumidores por semana e gera um recurso de R$ 30,00 a R$ 100,00 por consumidor. Já os cogumelos, cada  lote tem um custo de R$ 2.000,00 e geram um retorno de R$ 4.000,00. O resultado econômico dos cogumelos é a cada três meses de cultivo.

Outra ferramenta utilizada pela agricultora é a formação de associação de produtores parceiros, que, na visão da Janaina, tais produtores devem estar o mais próximo possível do próprio assentamento, a fim de viabilizar economicamente a forma de comercialização e a confiança entre os parceiros.

 

Experiência de Michelle Anita no assentamento Olga Benário:

As atividades com SAF no sítio da Michelle e Vitor (seu filho) se desenvolvem desde o ano de 2013. Uma diferença entre as duas situações é que no  assentamento Olga Benário não há irrigação e o relevo é declivoso enquanto no assentamento Conquista a irrigação é possibilitada por poço artesiano em terreno plano.


Em 2021, Michelle Anita plantou uma quadra de pitaia tutorada com gliricídia. A gliricídia foi plantada no espaçamanto 2m x 4m, a partir de estacas obtidas na APTA – Polo Regional do Vale do Paraíba, em Pindamonhangaba, no âmbito de uma parceria entre os projetos Vitrine Agroecológica e Conexão Mata Atlântica/FAPESP.

Além de pitaia e gliricídia, por vezes, semeou o feijão de porco para ativar a simbiose (relação benéfica) entre bactéria e planta leguminosa para a fixação biológica do nitrogênio (FBN) na gliricídia. 

   
Figuras 3. Pitaia já crescida, porém, ainda amarrada na estaca de gliricídia que inicia a brotação; Figura 4. Gliricídia com boa produção de folhagem e pitaia nova no moirão vivo; Figura 5. Detalhe da pitaia realizando o abraço amigo no moirão vivo de gliricídia (imagens Michelle Anita).

No manejo em sistema de mutirão as/os agricultoras/es locais dos assentamentos Olga Benário e Conquista de Tremembé: Roseli (Binha), Paulinho, Vitor, Júlia e Michelle Anita, se uniram para realizarem o coroamento das pitaias, a manutenção nas entrelinhas com a capina da braquiária, onde foram semeados milho, guandu e quiabo e também para acompanhar a experiência.

Ao plantar a pitaia na gliricídia, a arbórea pode servir de tutor vivo (moirão vivo) e na poda da parte aérea fornece o adubo orgânico rico em nitrogênio para a pitaia. Outro fator importante é que a pitaia precisa de um leve sombreamento porque seu caule (filocládio) fica lesionado com queimaduras se receber insolação muito intensa, tal como ocorre no Vale do Paraíba em determinadas épocas do ano.


Diferenças entre os sistema de plantio:

A braquiária é o desafio a ser vencido por causa da competição com as espécies cultivadas e porque aumenta os danos quando ocorrem os incêndios. A braquiária pode ser roçada para cobrir canteiros, ser incorporada com motocultivador para o plantio da pitaia, conforme realizado por Janaína Anacleto, ou roçada no manejo reduzido apenas nos locais de plantio da gliricídia com a pitaia em berços abertos com motocoveador. 

  

Figura 6. A braquiária como planta de cobertura nas duas situações (imagem Janaína Anacleto); Figura 7. Preparo total para o plantio de pitaia quando a braquiária é incorporada com motocultivador (imagem Janaína Anacleto); Figura 8. Preparo localizado com roçada e abertura de berços com motocoveador para o plantio de estacas de gliricídia com pitaia (imagem de Michelle Anita).