3 de mai. de 2024

Participe da pesquisa sobre a cultura do INHAME-CARÁ (Dioscorea)

 Por

Graziela Maria Orfão Coelho (Engª Agrônoma) e Pedro Mendes Barros (acadêmico de agronomia/Unitau) - bolsistas de pesquisa Fapesp

Antonio Carlos Pries Devide, Cristina Maria de Castro, Luis Carlos Bernacci e José Carlos Feltran – Pesquisadores 

INHAME-CARÁ e os alimentos negligenciados

Mais de 7 mil espécies de plantas já foram utilizadas como alimento e embora 30 mil sejam reconhecidas como potenciais alimentícias, apenas quatro (arroz, trigo, milho e batata) concentram 60% do suprimento energético da população mundial (Padulosi et al. 2013).

Cultivos negligenciados, tradicionais ou PANC (planta alimentícias não convencionais) são denominações dadas às espécies ou formas de consumo não comuns para a maioria da população e que não entram nas estatísticas oficiais (Kinupp & Lorenzi, 2014).

Os carás de chão e do ar, que oficialmente passaram a ser denominados de inhames (Dioscorea spp.) pela Associação Brasileira de Horticultura, e que aqui será tratado por INHAME-CARÁ, estão entre as plantas negligenciadas ou PANC (Kinupp & Lorenzi 2014). A espécie Dioscorea alata (inhame, cará ou inhame-cará) é a mais difundida no estado de São Paulo, enquanto na região Norte e Nordeste seja mais comum a Dioscorea cayennensis (inhame-de-pernambuco, cará-da-costa) (Peressin & Feltran 2014). Entretanto, pouco se sabe especificamente sobre o cultivo e consumo no Leste Paulista, que abrange municípios do Vale do Paraíba, a Serra da Mantiqueira e o Litoral Norte.

O objetivo dessa consulta é levantar dados sobre o cultivo e o consumo de INHAME-CARÁ do chão e do ar (Dioscorea) por pessoas que integram a Rede Agroflorestal e outras organizações coletivas. Os dados serão utilizados para enriquecer um artigo em elaboração sobre o tema e, também, visa despertar um olhar sobre o potencial alimentício dessas espécies.

A consulta está sendo feita por meio do preenchimento de formulário eletrônico (celular, tablet ou computador). Para participar, basta aprovar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para autorizar o uso dos dados, conforme Resolução 466/2012. No link abaixo você terá acesso ao formulário:

https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSe2SB5KjDHk3B3Qr-JKuq_SukbZ5KCdpuQ6pjQ9jWRjwvOUwg/viewform?usp=pp_url

Assim como ocorre com outras culturas alimentícias tradicionais, tais como mandioca, batata-doce, feijões, arroz e diversas PANC, as pesquisas desenvolvidas na Apta Regional de Pindamonhangaba visam levantar dados regionais das culturas e avaliar no campo de pesquisa o desempenho produtivo e a adaptação de acessos dessas plantas em sistema agroflorestal de produção.


Pesquisas em SAF agroecológico com o apoio da Fapesp

Esse levantamento integra o projeto ‘Inhames e barbascos em processo de avaliação e seleção para aumento da diversidade em cultivo e dos modos de produção’ - Processo: 21/00999-4, coordenado pelo pesquisador Dr. Luís Carlos Bernacci (Apta Regional de Pindorama), que tem, dentre outros objetivos, avaliar a adaptação de diferentes tipos de INHAMES-CARÁ a pleno sol e SAF na Apta Regional nos municípios de Pindamonhangaba, Pindorama e Monte Alegre, além da Fazenda Santa Elisa no Instituto Agronômico de Campinas  - IAC.

Na Apta Regional de Pindamonhangaba os inhames-carás estão sendo avaliados em sistema a pleno sol em aleias de flemíngia (Flemingia macrophylla), podada para adubação verde; e Sistema Agroflorestal, consorciado com capim-guatemala, manejado com poda para cobertura do solo (mulching), banana maçã BRS Princesa e uvaia (frutas), além das arbóreas eritrina (Erythrina verna) e gliricídia (Gliricidia sepium), também, avaliadas para adubação verde.

A colheita realizada no ano de 2023 contou com a participação de agricultores da reforma agrária. Na colheita de avaliação do experimento no ano de 2024, que está prevista para ocorrer entre maio e junho, será possível receber pessoas interessadas em participar das avaliações dos INHAMES-CARÁS. 

Para saber mais: antonio.devide@sp.gov.br


Bibliografia citada

KINUPP, V.F. & LORENZI, H. 2014. Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC) no Brasil: Guia de identificação, aspectos nutricionais e receitas ilustradas. Plantarum, Nova Odessa – SP, 768pp.

PADULOSI, S.; HEYWOOD, V.; HUNTER, D. & JARVIS, A. 2011.Underutilized species and climate change: current status and outlook. In S.S. Yadav; R.J. Redden; J.L. Hatfield; H. LotzeCampen; A.E. Hall (Eds.) Crop Adaptation to Climate Change: 507-521. John Wiley & Sons, Inc. New Jersey

PERESSIN, V.A. & FELTRAN, J.C. 2014. Inhame: Dioscorea alata L. In Aguiar, A.T.E.; Gonçalves, C.; Paterniani, M.E.A.G.Z.; Tucci, M.L.S. & Castro, C.E.F. Boletim 200: Instruções agrícolas para as principais culturas econômicas, 7: 215-217.

 

26 de abr. de 2024

Curso de Formação de Viveiristas e Produção de Espécies Nativas da Mata Atlântica

~  Texto e fotos por Lucas Coelho  ~


Chegar até o assentamento Luis Carlos Prestes não é das tarefas mais simples. Localizado nas entranhas do Vale do Paraíba, entre as cidades de Taubaté e Lagoinha, é um local onde o asfalto está chegando agora, a luz e a água são improvisadas e a internet só deu as caras em pontos isolados. Talvez esse tenha sido um dos motivos que levou à imersão completa no Curso de Viveiristas promovido pela Rede Agroflorestal do Vale do Paraíba, que aconteceu nos dias 5 e 6 de abril.  

Longe das redes, a socialização torna-se mais fácil e o contato humano, mais honesto. Sem as distrações dos celulares, foi possível conhecer a história de cada um dos quase cinquenta participantes que se apertaram em roda no velho rancho do que um dia foi uma fazenda. Sob o firme comando de Deise, uma mulher que há anos luta junto aos companheiros do Vale, falamos, ouvimos, nos conhecemos e nos conectamos.  


Trabalhadores do campo, da cidade, do poder público e militantes de diversos cantos se revezaram para trazer suas dúvidas a Felipe e Ricardo, que comandaram com muita tranquilidade e profissionalismo o curso. Explicaram as melhores técnicas para preparo da área, as melhores proporções para a construção de um substrato eficiente, os macetes e as dicas que só quem tem intimidade com a natureza pode oferecer.  


Na fila para o almoço, o ronco dos estômagos se misturava com as risadas. Estávamos felizes por estar ali, trocando experiências e construindo laços. Entre uma mordida no frango e um gole de suco de maracujá, o grupo recuperou as energias que o sol do meio dia havia tirado. Sentaram-se pelas sombras dos beirais e das árvores e diminuiram o ritmo. Uma brisa suave soprou o desejo de um cochilo militante, que lembrava que o ócio e o descanso coletivo são privilégios de quem rompe com a lógica capitalista de produtividade e microgerenciamento das solidões dos trabalhadores.  

A tarde chegou e com ela, a terra preparada e as mudas que foram plantadas. Falou-se sobre os prazeres e as dificuldades de se tirar da terra o sustento e, quando menos se esperava, o sol já baixava atrás dos montes verdes que circundam a região. Os que por lá ficariam, começaram a se organizar para montar acampamento. Os que partiriam, buscavam espaço nos carros para chegar até a cidade mais próxima. 



No dia seguinte, o curso continuou, dessa vez, no assentamento Conquista, com um café da manhã reforçado entre os pés de Lichia que Deise cultiva com esmero. Os participantes chegavam, não mais como colegas de curso, mas como amigos de longa data. Entre abraços, conversas foram retomadas e a expectativa para o dia se amplificavam. Ricardo encaminhou o grupo para uma área de sombra, próxima a um viveiro recém construído, onde todos puderam entrar em contato com uma quantidade enorme dos mais variados tipos de sementes, desde as mais comuns até as mais exóticas, que o agricultor apresentava com intimidade, explicando detalhes sobre as melhores maneiras que cultivá-las.  

Mãos à obra, os participantes se revezaram ao redor do longo canteiro para cobri-lo com as sementes que já poderiam ir à terra. Outras, foram despejadas em uma panela de água fervente e posteriormente em um balde de gelo. Algumas mais, passaram por uma raspagem em esmeril. “É o processo de quebra de dormência”, explicou Ricardo. “Assim, você tem a garantia de que todas irão germinar ao mesmo tempo”.  

Ao fim do dia, um passeio pelo lote guiado pela voz de Deise, nos colocou em contato direto com áreas de cultivo avançadas, técnicas de irrigações das mais diversas e plantas de altíssima qualidade e beleza. Histórias de vida irrigaram os canteiros. 

Pouco a pouco os participantes se despediram e se foram, com seus cadernos repletos de informações valiosas, a cabeça cheia de ideias e o coração repleto de esperança.  


Eu também tive que ir. Mas levei comigo algo inesperado. Uma semente que havia sido plantada lá atrás, de repente germinou. Uma fé, diferente daquelas que conheci na cidade – e talvez amais difíceis de todas - começou a crescer dentro de mim. 

A fé de que a humanidade ainda pode virar o jogo. E que poderemos finalmente compartilhar o pão, o vinho, a dança, a risada e o amor por tudo que a natureza nos dá.


Sobre o autor: Lucas Coelho é designer, produtor audiovisual e comunicador social e popular.

23 de abr. de 2024

Seminário: Sementes Florestais e Áreas de Muvuca

Pesquisa, Monitoramento e Resultados Preliminares no Vale do Paraíba

foto créditos: Marcielle Monize

O Vale do Paraíba, região rica em biodiversidade e história, será palco de um encontro significativo para os profissionais e entusiastas da área ambiental: o Seminário sobre Sementes Florestais e Áreas de Muvuca.

 

Organizado por especialistas e instituições renomadas, o seminário tem como foco a apresentação de dados de pesquisas sobre qualidade de sementes florestais e de áreas de restauração com muvuca de sementes. Visa, também, a capacitação de agricultores/as coletores/as de sementes florestais e técnicos/as que atuam em programas de restauração florestal


Temas em destaque incluem:

      O Projeto de pesquisa sobre a Qualidade de Sementes e das Áreas de Muvuca no Vale do Paraíba, Antonio Devide Pesquisador da APTA;

      O que é a Muvuca de sementes? Giovanna de Oliveira Bernardes dos Santos

– Assessora técnica de Restauração Florestal do ISA/Redário/ Caminhos da Semente

      O Redário e resultados da Expedição Restauração e Redes de Sementes – 2023, Edézio Miranda – Restaurador Ecológico da Agroícone/Caminhos da Semente/Redário

      Resultados preliminares do Monitoramento de áreas de muvuca, Klécia Gili Massi - Professora do Instituto de Ciência e Tecnologia. Departamento de Engenharia Ambiental. Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho e Beatriz Rivaldo bolsista da Unesp-ICT SJC/Fundag

      Resultados preliminares das pesquisas sobre Qualidade de Sementes coletadas no Vale do Paraíba, Professor Júlio César Raposo de Almeida – Departamento de Ciências Agrárias da Unitau, Elisandra Riva – responsável técnica do Laboratório de Sementes da Unitau e Déborah Aguiar – bolsista Unitau/Fundag

      Visita ao Laboratório de Análise de Sementes da Unitau com Elisandra Riva responsável técnica do Laboratório de Sementes e Déborah Aguiar bolsista Unitau/Fundag.

Próximos passos: Contribuições na construção participativa da agenda da restauração 2024

Avaliação e fechamento


Além das apresentações técnicas, o seminário contará com visita ao laboratório e espaços para networking, proporcionando uma rica troca de experiências e conhecimentos entre os participantes.

 

Detalhes do Evento:

       Data: 30/04/24

      Local: Unitau - Taubaté - SP

      As inscrições devem ser feitas através do link inscrição.

      Público-alvo: Técnicos de restauração, pesquisadores, professores, estudantes, agricultores/as e coletores/as de sementes, gestores públicos e interessados no tema.

      Endereço: Departamento de Ciências Agrárias, Auditório, Estr. Mun. Prof. Dr. José Luís Cembraneli, 5000 Jardim Sandra Maria

 Não perca a oportunidade de participar deste importante seminário e contribuir para o avanço das pesquisas e práticas de restauração florestal no Vale do Paraíba. Junte-se a essa jornada de aprendizado, colaboração e conscientização ambiental!

 Para mais informações entre em contato pelo e-mail: tamborilproducao@gmail.com


Sobre o Vale do Paraíba

Localizado entre os estados de São Paulo e Rio de Janeiro, o Vale do Paraíba é uma região estratégica para a conservação da Mata Atlântica e outras formações vegetais. Com uma diversidade de ecossistemas e desafios ambientais, a região serve como um laboratório vivo para estudos e projetos de restauração e conservação ambiental. A região tem vocação para empreendimentos florestais sustentáveis. Porém, é carente de pesquisas que deem sustentação ao avanço desse setor, ligando o conhecimento popular e acadêmico para modificar a paisagem.

Sobre Muvuca de Sementes

Dentre os métodos promissores de restauração se destacam a semeadura direta de florestas por meio de ‘muvuca’ de sementes e os sistemas agroflorestais sucessionais biodiversos. A muvuca é uma técnica de restauração ecológica que gerou um arranjo socioprodutivo na região mato-grossense da bacia do rio Xingu, conhecido por ‘Rede de Sementes do Xingu’ (RSX) e ganhou destaque no Vale do Paraíba no ano de 2017 como oportunidade de negócios para famílias coletoras de sementes florestais, gerando renda e inserindo o componente humano nas atividades de restauração florestal.

Muitos produtores rurais e agricultores familiares que iniciaram a coleta de sementes para abastecer suas áreas de sistemas agroflorestais, há mais de 10 anos, estão coletando sementes e reunindo uma quantidade maior de sementes que possibilita instalar áreas de restauração com muvuca em larga escala, inclusive, vindo a abastecer projetos de pesquisa e editais.


Origem das sementes dos SAFs e Muvucas 


Os mutirões entorno da Rede Agroflorestal do Vale do Paraíba despertaram o interesse pela prática de coleta de sementes visando abastecer os SAF e promover as trocas nos mutirões. As agroflorestas ganharam escala e promoveram a união das pessoas que atualmente são acessadas por diversas organizações interessadas em promover a restauração florestal na bacia do Paraíba do Sul, SP. 
O advento da severa escassez hídrica ocorrida entre os anos de 2013-2015 ajudou a despertar o movimento da restauração florestal, impulsionado por organizações como WRI Brasil (World Resources Institute), TNC Brasil (The Nature Conservancy), ISA – Instituto Socioambiental, FAPESP-Conexão Mata Atlântica, a iniciativa Caminhos das Sementes, que busca disseminar/adaptar as técnicas de semeadura direta (muvuca) de florestas, entre outros atores.
O processo produtivo de estruturação dos coletores também avança a cada dia, motivado pelo esforço e compromisso de atores locais ligados a terra e a reforma agrária, que mobilizam pessoas para estruturar o trabalho de coleta e produção de sementes < https://www.sementesdovaledoparaiba.org.br/sobre >. 
Em 2021, o espaço da APTA Regional em Pindamonhangaba se tornou parte desse processo para viabilizar o armazenamento de sementes e articular a união de pesquisadores que estão abordando o tema das sementes e da restauração com muvuca nas unidades de ensino e pesquisa do Vale do Paraíba. Como parte do processo, o grupo também teve o apoio da Coomatre para iniciar as atividades de comercialização, bem como outras organizações e apoiadores.
Atualmente, o grupo Coletores de Sementes do Vale do Paraíba é uma iniciativa socioambiental engajada na restauração ecológica e na reaproximação do Ser humano à natureza articulando formações, coletas, beneficiamento e comercialização das sementes do Vale do Paraíba.


Contato

Marcielle Monize









29 de jan. de 2024

MANIFESTO CONTRA TERMOELÉTRICA

 Termelétrica coloca em risco todo o trabalho desenvolvido pelos integrantes da 

REDE AGROFLORESTAL DO VALE DO PARAÍBA E LITORAL NORTE!


    A REDE AGROFLORESTAL DO VALE DO PARAÍBA E LITORAL NORTE é contra a instalação da Termoelétrica no Vale. A Rede Agroflorestal do Vale do Paraíba se constitui como um grupo de pessoas interessadas em implantar, manejar e estudar os sistemas agroflorestais (SAF) com a participação popular para restaurar a paisagem com princípios na agroecologia. Há 10 anos organiza mutirões que potencializam o apoio mútuo e chamam a atenção para novos valores sobre o ensino, assistência técnica (ATER) e pesquisa.

    Temos registrado, ao longo de 10 anos, 53 mutirões e 28 capacitações que envolveram mais de mil agricultores (as) e 250 não agricultores (as), abrangendo 41 municípios e 66 instituições públicas e privadas. Coutinho et al. (2021) estimam que esses registros representem apenas 30% das atividades efetivamente realizadas no período de 2011 a 2021. As atividades da termoelétrica podem comprometer estes trabalhos desenvolvidos com tanto empenho nestes anos.

    O licenciamento de uma termelétrica de grande porte em Caçapava-SP que segue avançando, colocando em risco o meio ambiente e principalmente a saúde da população do Vale do Paraíba, pois se construída, está termoelétrica utilizará gás natural, liberando substâncias poluentes e tóxicas como gás metano, monóxido de carbono e óxidos de nitrogênio. A magnitude dessa poluição é alarmante, equiparando-se à emissão anual de centenas de milhares de veículos. O impacto ambiental será significativo, afetando a flora e a fauna da região, com consequências que podem perdurar por décadas.

    O Estudo de Impacto Ambiental (EIA) apresentado aponta três fontes principais de poluentes atmosféricas:

    - Monóxido de Carbono (CO) - Emissão de 3.303 toneladas por ano

    - Óxidos de Nitrogênio (NOx) - Emissão de 2.541 toneladas por ano

    - Hidrocarbonetos Totais (HC) - Emissão de 579 toneladas por ano,

que “são substâncias precursoras (produtoras) do ozônio. Todo este conjunto de substâncias tóxicas provocam e agravam doenças respiratórias como bronquite, asma, alergias, enfisema e inflamações de regiões com mucosa no corpo e humano. Além de outros impactos ao meio ambiente como chuvas ácidas e danos à vegetação1 (até os alimentos como verduras que comemos vão sofrer danos)”, explica Gatti¹.

           Os óxidos de nitrogênio, no que diz respeito aos danos ao meio ambiente, tem
como exemplo a redução da permeabilidade das membranas celulares que impede
 as trocas gasosas das folhas e prejudica a realização da fotossíntese. 

    Além da poluição local, teremos a emissão de grande quantidade (5,8 milhões de toneladas) de dióxido de carbono (CO2) por ano, acelerando o aquecimento global, que já castiga o país com desastres e ondas de calor. Para se ter uma ideia da magnitude do empreendimento, esta usina sozinha causará um aumento de 13,8% nas emissões de CO2 do setor elétrico brasileiro.2

    É importante ressaltar que a geomorfologia do Vale do Paraíba, na qual Caçapava está situada, é uma planície entre as Serras do Mar e da Mantiqueira, e é servida pela predominância de ventos oceânicos circulares de baixa intensidade, fator que não proporciona dispersão atmosférica. Em outras palavras, venta muito pouco nos municípios da região Vale do Paraíba localizado entres as serras, assim todas as emissões permanecem concentradas na atmosfera da região, o que é agravado nos períodos de estiagens prolongadas, e no inverno quando ocorrem as inversões térmicas. Esses fatores que também proporcionam as chuvas ácidas, devido à alta concentração de gases e particulados suspensos na atmosfera, que leva a contaminação das águas e do solo.

    Segundo Dra. Luciana Gatti, “a modelagem matemática de dispersão de poluentes apresentada no EIA afirma que as concentrações destes poluentes permanecerão dentro dos limites de qualidade do ar definidos pelo estado de SP. Porém o estudo não apresenta qualquer validação do modelo para a região. Dentre as limitações identificadas estão: a utilização de uma única estação de superfície como referência para ventos e concentrações de poluentes; a falta de clareza quanto aos critérios de qualificação dos dados medidos; e a ausência de sondagens de perfis atmosféricos, negligenciando as inversões térmicas e nevoeiros recorrentes em boa parte do ano que prejudicam a dispersão dos poluentes em nossa região, sem considerar que estamos em um vale e o quanto isto dificulta a dispersão e afeta a todas as cidades do Vale do Paraíba. Ou seja, não há evidência que ateste que a ferramenta utilizada é capaz de estimar adequadamente a dispersão de poluentes em nossa região. Isso destoa das boas práticas científicas e coloca dúvidas quanto aos resultados apresentados.

    Além disso, a água subterrânea e superficial abastece a população e outras atividades econômicas da região e o Rio Paraíba do Sul, que já se apresenta numa situação crítica de conflitos no uso da água, também é responsável pelo abastecimento do sistema Cantareira, que sofre com as recorrentes crises hídricas, tendo assim, uma contribuição importante no abastecimento público também da cidade de São Paulo. E aí temos os Sistemas Agroflorestais (SAFs) que contribuem com a formação de corredor ecológico que liga as várzeas do Rio Paraíba do Sul ao fragmento de Mata Atlântica na transição com a Serra da Mantiqueira.

    O Vale do Paraíba é considerado um hotspot pois a região é uma das cinco mais ricas em biodiversidade e a implantação dos SAFs são considerados uma das formas mais sustentáveis de se restaurar a Floresta Atlântica, convertendo o ecossistema degradado em outro, com destino e uso distintos, tornando-o produtivo com baixo uso de recursos externos e capital. Os SAFs podem recuperar a capacidade produtiva dos solos reduzindo processos erosivos, aumentando a recarga hídrica para os aquíferos subterrâneos, melhorando a paisagem, agregando valor a terra e conservando habitats naturais. Também, podem se tornar um dos vetores de ligação entre fragmentos florestais remanescentes, ligando a Serra do Mar à Mantiqueira, melhorando o fluxo de animais silvestres, beneficiando, também, a diversidade biológica.

    Em todas as regiões geográficas brasileiras acontecem episódios extremos do clima, desde mudanças no regime de chuvas e secas intensas nas regiões Norte, Nordeste e Centro-oeste e chuvas e ventos extremos na região Sudeste e Sul. Como consequência, há sérios problemas como a falta de abastecimento de água, perda da biodiversidade, inundações, movimentos de massa, causando sérios prejuízos econômicos e principalmente, impactos à qualidade de vida e gerando vítimas fatais, principalmente em comunidades periféricas e mais vulneráveis.

    Este momento é um marco de resistência para chamar atenção global a este projeto de termelétrica movida a metano que está se desenvolvendo com pouco diálogo e transparência para a população por parte da requerente e da prefeitura municipal.

    Não podemos permitir a instalação de um empreendimento tão prejudicial à nossa saúde, à nossa população e à Mata Atlântica em nossa região!

    Divulgue! Manifeste-se! Termelétrica aqui NÃO!!!






1 Profª Dra. Luciana Gatti – Coordenadora do Laboratório de Gases de Efeito Estufa do , INPE – Instituto Nacional de Pesquisas.
2 Fonte: EIA e Balanço Energético Nacional 2023 (EPE)


OBS: Documento elaborado por membros do Conselho Deliberativo e integrantes da Rede Agroflorestal do Vale do Paraíba.


20 de jan. de 2024

Relato sobre o Mutirão do Plantio de Juçara, ocorrido na Igreja Céu do Vale-Ribeirão Grande-Pindamonhangaba-SP.

Por André Luís de Souza - Assentamento Luís  Carlos Prestes - Taubaté


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Iniciar o ano com o Mutirão  do Plantio da Palmeira Juçara, foi como plantar afetos e imprimir na alma a sensibilidade depositada por todos dentro de um ambiente acolhedor e rico de significados. 

Na ida para a Comunidade da Igreja Céu do Vale, no bairro Ribeirão  Grande em Pindamonhangaba, vários sentimentos e sensações despertaram em mim. Primeiro foi a incerteza por não  saber de como iria rolar o mutirão. 

Depois, quem seriam as pessoas que iriam compor os nossos momentos de diálogo, de trocas de afetos e do despertar de sentimentos  e por último, de como seria a distribuição  dos trabalhos, tais como: separar as mudas, fazer os berçários, plantio só da juçara em áreas  alagadas ou da mistura com a muvucas das sementes, etc. 

Posso afirmar que já  na ida para o local nos deparamos com muitas paisagens que nos remete a paz, a estética e a integração. Com a chegada fomos todos bem recepcionados. Tivemos um tempinho para tomar o café  e depois todos encaminhados para uma roda de conversa com o intuito de nos apresentar, falar das nossas motivações e  da vontade de estar aberto a aprendizagens novas. Ali na apresentação senti que a conexão e a rede de afetos e significados se expandiram nos tornando uma coisa só pertencentes a esse planeta maravilhoso de tantas possibilidades e de situações.  

O fato de ter deixado os meus compromissos para somar a outros no plantio da Juçara, não só  me despertou um olhar cuidadoso,  mas como aquele que adota uma semente para ver germinar, crescer e dar seus frutos. 

Acho que para quem foi nessa vivência do mutirão fica difícil de mensurar o quanto foi saudável participar de um momento único, de encontrar com nós mesmos integrados a Mãe Terra. 

Agradeço aqui, especialmente  a Deise da Rede Agroflorestal que me convidou para fazer parte desse mutirão. Por isso digo, que este mutirão foi único e irrepetivel e estará  marcado em nossas memórias,  pois cada gesto, cada olhar, cada lançamento de sementes, cada cântico perpetuou a nossa vida. Que os astros possam acolher o que nós  plantamos naquele dia e para aqueles que não  puderam participar, tentem viabilizar vivências de mutirão, principalmente quando for para plantar porque o planeta precisa dessas atitudes para regenerar a nossa Mãe Terra que grita por socorro.



Rede Agroflorestal: https://www.instagram.com/p/C2KeF2rr8Lu/