Por: José Miguel Quevedo Garrido - Perito Federal do INCRA/SP
Figura 1. Sistema agroflorestal SAF MACAÚBA, Polo Regional Vale do Paraíba - APTA/SP. Fonte: Antonio Devide
Juntou mais de um, um que sabe. Um que quer aprender. Boa vontade, colaboração, histórias ditas a toa, risadas, trocas profundas, lições de uma Vida. Está montado o circo. Ele se chama mutirão.
Hoje fizemos o manejo de SAF com macaúba (Figura 1), nas entrelinhas de bananeiras Prata anã, BRS Conquista e Nanicão.
Nas linhas das bananas, gliricídias são podadas para adubar o solo (adubação verde) e as estacas são dirigidas para implantação de novas áreas de SAF no Vale do Paraíba (Figura 2).
Figura 2. Estacas de gliricídia para o plantio de novos SAF. Fonte: Antonio Devide.
Nas entrelinhas tem a macaúba, diversidade de frutíferas e madeiras nativas, além de cúrcuma.
Ainda na linha da banana, tem o palmito juçara (Euterpe edulis), que já é grandinho, foi plantado de mudas, e pimenta dedo-de-moça em produção (Figura 2).
Figura 3. Palmeira juçara e açafrão (cúrcuma). Fonte: Antonio Devide.
O manejo de desbaste da bananeira objetiva deixar uma planta mãe, uma planta filha descendente direta, e uma neta, que se origina do rizoma de uma planta filha.
Mas vá lá. O manejo tem seus mistérios.
O instrumento? Uma foice, daquelas curvadas, utilizadas para ceifar capim; um facão, daqueles utilizados no corte da cana (peixeira). Pelo menos duas pessoas. Uma que vai desbastando e outra que vai picotando as partes da bananeira de desbaste que alimentam a Vida do sistema.
O primeiro golpe, certeiro, mira a copa da bananeira (terço superior do pseudocaule, se tiver em produção, vem o engaço e as folhas pro chão). O cuidado é não amassar o açafrão da terra que cresce bonito ao lado, entre a linha de macaúba e a linha da banana.
Os golpes seguintes são dados picotando o pseudocaule, como que a tirar bolachas que serã utilizadas na pesquisa de controle biológico. Encontram-se fibrosos, desprovidos de seiva por causa da longa seca do outono-inverno. Devem ser apenas picotados.
Abaixo, rumo à base da planta, sai dali alguns pedaços de dois palmos de pseudocaule. Vão formar as telhas. Peças que lembram telhas, já que são cortadas longitudinalmente. Ricos em seiva nutritiva, são dispostas de maneira caprichada ao lado das mudas que crescem no SAF (como frutíferas e madeiras nativas) e que se quer nutrir, fertirrigar.
As partes internas são dispostas em cima da terra, do solo que está recoberto de folhas caídas da gliricídia no inverno e que estão em decomposição.
Resta o 'filé', terço inferior do pseudocaule. No nosso caso, utilizamos na montagem de um experimento de controle biológico do moleque da bananeira (Cosmopolites sordidus) ou da broca da palmácea (Rincophorus palmarum), dentre outras brocas que atacam as bananeiras (Figura 4). Serão nossas iscas: bolachas e telhas inoculadas com fungos benéficos.
Figura 4. Danos causados por broca no pseudocaule da bananeira. Fonte: Antonio Devide.
Mas qual muda ou planta adulta de bananeira eu retiro do sistema?
1) As mais tortas. As que saem inclinadas e tendem a tombar com o peso do cacho da banana.
2) São preservadas as que estão ou emitirão os cachos das bananas da safra atual.
3) São preservadas as que fornecerão mudas para os outros produtores.
4) São preservadas as mudas irmãs que estando situadas no centro da linha, estão bem dispostas, sem estar inclinadas, para manter o alinhamento das bananeiras no SAF.
Vídeo 1. Manejo de condução da touceira da bananeira com o corte de pseudocaule, com José Luis de Oliveira. Fonte: José Miguel Quevedo Garrido.
O resto é suprimido sem dó. Enriquecem o sistema com a rica seiva fornecedora de potássio. Fornecem Vida ao Sistema Agroflorestal!!!
As mudas que saem do Sistema para formar outros pomares são divididas pelo tamanho: as grandes, são levadas grandes ao novo pomar, dão trabalho para retirar, pois tem que ir com boa fração do rizoma da moita original. São podadas no novo campo de cultivo e plantadas de cabeça prá baixo, a fim de forçarem um brotamento adequado posterior ao enraizamento tornando as touceiras mais resistentes ao tombamento. São plantados em berços 50 x 50 centímetros.
As mudas chifrão e chifrinho são plantadas no fundo de berços caprichados , na mesma dimensão mencionada. Resta as chifrinhos, o 'filé'.
Causos ouvidos... a vacina contra o Covid-19 ricamente discutida... o coração transbordando de amor, as roupas sujas, impregnadas com a seiva das plantas... 'Sangue vegetal' que não deixará minha calça hering que acabei de perder. Ela foi batizada com o suor do conhecimento, impregnada com o saber de Sr. Zé Luiz, nosso Mestre deste aprendizado. Levo minhas mãos sujas com a borra que insistirei deixar lá, a marcar este maravilhoso dia.
Local da atividade: Sistema Agroflorestal 'SAF Macaúba', no setor de Fitotecnia do Polo Regional Vale do Paraíba - APTA/SAA.
Participaram deste manejo: José Miguel Quevedo Garrido (Perito Agrário - INCRA/SP), Rudson Haber Canuto (discente do Curso EAD de Agroecologia - Universidade de Taubaté), José Luiz de Oliveira e Luiz Ramos (apoio à pesquisa - APTA).
Editoração: Antonio Carlos Pries Devide (Pesquisador APTA/SAA-SP)