RELATO TÉCNICO DA IMPLANTAÇÃO DE SISTEMA AGROFLORESTAL
Por: Antonio Devide - pesquisador da APTA
Data: 30/11/2019
Local: Assentamento de Reforma Agrária Nova Esperança, São José dos Campos
Beneficiários: famílias dos agricultores Sr. Gessi e seu filho Luciano Correia dos Reis
Facilitadores na instrução - Antonio Devide - Pesquisador, Valdir Martins e Luciano Corrêa - agricultores do Assentamento Nova Esperança, Valdir Nascimento e Carmem Faria - agricultores do Assentamento Olga Benário.
Por: Antonio Devide - pesquisador da APTA
Data: 30/11/2019
Local: Assentamento de Reforma Agrária Nova Esperança, São José dos Campos
Beneficiários: famílias dos agricultores Sr. Gessi e seu filho Luciano Correia dos Reis
Facilitadores na instrução - Antonio Devide - Pesquisador, Valdir Martins e Luciano Corrêa - agricultores do Assentamento Nova Esperança, Valdir Nascimento e Carmem Faria - agricultores do Assentamento Olga Benário.
Participantes do mutirão agroflorestal no sítio Nossa Senhora Aparecida |
Objetivos: implantar um SAF na divisa do lote, acolher e
instruir os frequentadores da Feira Agroecológica do Parque Vicentina Aranha de
São José dos Campos sobre SAF.
Perfil dos participantes: agricultores da reforma agrária e técnicos associados da Rede Agroflorestal do Vale do Paraíba. Co-agricultores que participam do
trabalho coletivo da CSA Guajuvira (comunidade que sustenta a agricultura) que
envolve os consumidores para o planejamento, implantação e manejo de sistemas
de produção de base agroecológica. Em troca, recebem cestas com alimentos
saudáveis a preço justo. Outro público, novo para os SAF, participa de uma
biblioteca Lúcio Reis de SJ Campos que promove ações de formação popular em São José dos Campos.
A reflexão, estar presente, a respiração... nos traz prá perto de nós mesmos, nos traz prás coisas do Criador, nos traz prá Terra e prá perto Dele. |
Programação:
8:00h Recepção com café da manhã farto.
9:00h Apresentações, respiração e
conexão com o Poder Superior
9:30h Estudo da paisagem
10:00h Planejamento participativo
10:30h Mutirão agroflorestal
13:00h Avaliação coletiva
Almoço farto com produtos
exclusivos da roça agroflorestal
Estudo da paisagem:
Do alto de uma colina de divisa com lote de reforma agrária
vislumbramos um cenário com vista à 360graus. No costado a imponência da Serra Mantiqueira
e a Mata Atlântica. Vista à frente, de um e de outro lado os ‘pastos sujos’ dos
lotes de reforma agrária. À frente, no primeiro plano, os diversos modelos de
SAF do Sítio Nossa Senhora Aparecida cota abaixo, com frutas nativas e
exóticas, café e muita horta em meio à produção de bananas.
Adiante, na colina
oposta, duas situações: ao lado esquerdo um lote convencional com produção de
mandioca em monocultura e ao lado direito o lote agroecológico de Aninha
Mendes, onde vai acontecer o próximo mutirão agroflorestal do dia 14/12/2019, em
que será instalada uma faixa agroflorestal para divisa das propriedades visando
adequação da propriedade para atender à conformidade da certificação de produto
orgânico. Mais ao fundo observa-se a cidade de São José dos Campos.
Estudou-se as plantas indicadoras: onde tinha sapê o solo era mais ácido e onde tinha só braquiária a terra já estava melhor. Soubemos que a acidez não é de todo nociva, pois muitos fungos (micorrizas) e bactérias (Rhizóbios p.ex.) que sobrevivem em solos ácidos promovem o crescimento e são benéficos às plantas. Então, o bom manejo não deve visar apenas a eliminação total da acidez - que de maneira moderada pode ser até boa, pois, evita que as chuvas lavem os nutrientes do solo -, mas devemos utilizar espécies de plantas que cresçam e que produzam massa vegetal que pode ser adicionada ao solo por meio de podas para assim elevar os teores de matéria orgânica e consequentemente de nutrientes.
Planejamento participativo e Mutirão Agroflorestal:
O estudo da paisagem análise sistêmica dos impactos da
história de uso das terras pelos ciclos econômicos: de monoculturas (cana,
café, pastagem e eucalipto) que suprimiram a Mata Atlântica e as culturas pré-colombianas
associadas a floresta; que trouxeram o plantio ‘morro abaixo’ do café cuja dinâmica
no relevo de mares de morros gerou forte escoamento superficial da água da
chuva e processo erosivo, empobrecendo os solos de nutrientes e minerais que passaram
a entulhar as nascentes e cursos d’água; da invasão de capins exóticos que têm
elevado poder calorífero e que no advento do fogo impede a regeneração natural
da floresta.
O pesquisador Antonio Devide da APTA falou das plantas
adubadeiras (a maioria que foi utilizada eram de leguminosas – feijão de porco,
crotalária, guandu, tefrósia e gliricídia), mas também tinha mamona preta
Paraguaçu e o sorgo vassoura.
O agricultor Valdir Nascimento do assentamento Olga Benário
levou as mudas de frutas nativas e exóticas e de árvores em geral que produz no
Sítio Beija flora em Tremembé e explicou a função de cada uma delas nos SAF. O
agricultor Luciano complementou explicando a necessidade de arranjá-las para
que cada uma ocupe o estrato certo no SAF. Explicou ainda que cada andar (extrato
em altura) deve ser preenchido com espécies plenamente adaptadas a quantidade
de luz disponível (Estratos/luz disponível: emergente = 70-80%, alto 50-60%,
médio 30-45%, baixo 15-25% e rasteiro = menor que 15%).
Em seguida foi feito o planejamento do SAF com base no
desejo do agricultor Luciano. Que ficou com duas linhas de B- bananeiras
espaçadas 4m entre linhas e 3m na linha. Na linha foi associada com F- fruta,
de um lado G- gliricídia (estacas) e de outro A- árvore não frutífera (esquema).
Entre essas duas linhas abriram-se sulcos onde se plantou rizomas de açafrão e
coquetel de sementes de adubos verdes. O objetivo desse coquetel foi restaurar
os solos para no futuro poder plantar lavouras mais exigentes. Luciano deve
realizar o manejo seletivo das plantas menos vigorosas (corte como adubo verde),
deixando as mais vigorosas para o futuro (quiabo, guandu e mamona) a fim de
obter produção de frutos e sementes respectivamente.
Ou seja:
B G F A B G F A B G F A
Linha de coquetel de
sementes de adubação verde + quiabo + açafrão
Linha de coquetel de
sementes de adubação verde + quiabo + açafrão
Linha de coquetel de
sementes de adubação verde + quiabo + açafrão
Linha de coquetel de
sementes de adubação verde + quiabo + açafrão
F A B G F A B G F A B A
Enquanto um grupo de pessoas preparava o coquetel de sementes, outro grupo iniciava a abertura dos berços de plantio. Carmem Faria Nascimento (Sítio Beija Flora/Tremembé), que também produz mudas, e Thais Rodrigues da Silva (CSA Guajuvira/SJ Campos) se encarregaram de instruir a distribuição de maneira a formar os estratos adequados.
Implantação do SAF. |
Avaliação: a didática foi facilitadora para o aprendizado do
grupo. O método adotado pela Rede Agroflorestal chamado de ‘aprender fazendo’ possibilita o diálogo e um profundo aprendizado compartilhado entre agricultores e técnicos.
Exemplo do aprendizado: a questão da orientação do plantio
da bananeira vem sendo intensamente avaliada nos lotes de reforma agrária do
Assentamento Nova Esperança. Valdir Martins e Luciano frisaram que em terreno
declivoso, ressecado e suscetível aos ventos frontais, o processo de plantio é
o seguinte:
i. As mudas de rizomas de bananeira devem ser limpas para
retirada das raízes mortas e da terra aderida, que pode conter ovos de nematóides
e de brocas.
ii. Os berços devem ser profundos abertos a 40 x 40 x 40 cm;
iii. Orientar as mudas no fundo dos berços com o corte transversal do pseudocaule (tronco) a 45graus e com o corte que ligava o rizoma a bananeira mãe para cima. Ou seja, inclinadas de maneira que haja certa
demora para emissão das folhas, para que assim se enraízem primeiro e de
maneira profunda a fim de suprir a grande área foliar com a captação de água e
nutrientes do solo.
iv. O corte da muda de rizoma deve ser virado para cima,
porque é do lado oposto que sairão os rebentos, obrigando o aprofundamento no
solo, o que aumentará o ancoramento e a resistência ao tombamento.
Visita aos SAF: visitamos os SAF também chamados de agricultura sintrópica. Consiste de linhas de agrofloresta com ênfase em fruticultura de nativas em que a bananeira é o carro-chefe no ciclo curto. Entre essas linhas são cultivadas hortaliças (2 ou 3 canteiros) na mesma lógica dos SAF - consórcio de culturas, plantio simultâneo e escalonamento da colheita no tempo.
Luciano explica o sistema de policultivo de hortícolas em Agricultura sintrópica. |
Parcerias:
- Feira Agroecológica - Parque Vicentina Aranha
- Rede APOENA
- Espaço Terra de Monteiro Lobato
- Sítio Ecológico
- CSA Guajuvira
- REDE AGROFLORESTAL DO VALE DO PARAÍBA
- Biblioteca Lúcio Reis
- Biblioteca Lúcio Reis
- APTA - Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios através dos projetos: "Vitrine Agroecológica" e “Avaliação de crescimento e produção de espécies florestais nativas e culturas usando os modelos 3-PG e YieldSafe” - Apoio FAPESP.
Imagens: Luciano, Lucas Lacaz Ruiz e outrxs
PRÓXIMO MUTIRÃO
Sítio da Aninha Mendes é o mais arborizado à direita - local do próximo mutirão dia 14/12/2019. |
Próximo Mutirão:
Aninha Mendes à direita de bone vermelho é a beneficiária do próximo mutirão no dia 14/14/2019 em São José dos Campos. |
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