16 de nov. de 2022

Mutirão Sítio Canto do Caetê, Catuçaba, São Luiz do Paraitinga

Milho, feijão abóbora, arroz, amendoim e mandioca

15/11/2022


Por: Denise Lotito - Educadora em metodologias de ensino, em formação para se tornar agricultora agroecológica



Estou no sítio há 6 meses apenas, e vim com a intenção de me tornar agricultora agroecológica, realizando também plantio em sistema agroflorestal e de acordo com os princípios da agricultura biodinâmica. Para esse primeiro plantio, resolvi iniciar com o tradicional consórcio milpa (milho, feijão e abóbora)


Somos totalmente inexperientes na agricultura, e por isso decidimos começar com consórcios simples para, aos poucos, conforme ganhamos experiência e conhecimento, avançar para um sistema agroflorestal.


Quando souberam que eu finalmente iria iniciar o plantio, alguns amigos agricultores experientes, envolvidos com agrofloresta, se ofereceram para me ajudar a viabilizar essa primeira plantação do sítio. Foi muita gentileza deles. Sem eles, eu teria tido muitas dúvidas, talvez teria feito várias bobagens, além de que iria demorar uns três dias para fazer o que fizemos em um único dia. 


Vieram me ajudar Lorivane e Haydé, do Sítio Minha Estância, Assentamento Manoel Neto, de Taubaté; Luciano, Assentamento Nova Esperança; Lucas; Cleide e meu marido Alexandre.


Como ganhei sementes crioulas de arroz de sequeiro, de amendoim colorido e também ramas de mandioca de uma família da região, resolvemos incluir esses itens no consórcio. E para gerar matéria orgânica no futuro e para dar mais alimento para as numerosas formigas que temos aqui no sítio, a ideia foi plantar feijão guandu, feijão de porco, girassol e crotalária ao redor da área, sementes que eu tinha na geladeira e que o Lorivane achou no carro dele (que sorte!). As ideias foram aparecendo e se multiplicando, e meu tradicional milho, feijão e abóbora ficou  incrementado com elementos sugeridos pelas particularidades do sítio, da área de plantio e da disponibilidade de sementes. 


Para preparar a terra, foi feita no final de maio uma adubação verde de ervilhaca, aveia preta e nabo forrageiro. Esse plantio não foi muito bem sucedido. As plantas ficaram baixas, e não geraram muita matéria orgânica. Acreditamos que foi a falta de chuva. Mesmo assim, roçamos esse plantio e incorporamos na terra com tratorito.


Orientados pela análise do solo, decidimos corrigir a terra com 100 gr de termofostato e 100 gr de calcário por m2. Além disso, distribuir 3 kg de esterco por m2 e fazer cama morta em toda a área, que tem um total de 700 m2.


Tudo isso foi feito da seguinte forma: roçamos a adubação verde e aplicamos o preparado biodinâmico fladen, que favorece a decomposição da matéria orgânica. Aplicamos temofosfato e incorporamos na terra com tratorito e deixamos descansar 15 dias. Em seguida, fizemos o mesmo com o calcário e mais 15 dias de descanso. Quanto ao esterco e à cama morta, tivemos que mudar de planos: a quantidade de esterco para cobrir toda a área ficaria muito caro, e a palha para cobrir tudo também seria inviável pela quantidade de trabalho. Então a decisão foi fazer uma mistura de esterco (5 partes), torta de mamona (1 parte) e cinza (½ parte) e lançar diretamente nas leiras e berços, em vez de lançar na área toda, como era a ideia inicial. O ideal teria sido adubar com o composto biodinâmico, mas ele ainda está em preparo e por isso não pudemos utilizá-lo. Para cobertura do solo, decidimos cobrir apenas as linhas onde foram plantadas as mudas de milho, com braquiária que roçamos no dia da plantação, em área vizinha à área da plantação. Abrimos todas as leiras de milho primeiro, jogamos o preparado de adubo, cobrimos com a palha, e abrimos os berços por entre a palha. Depois fizemos os berços para as linhas de feijão, arroz, abóbora e amendoim, e adubamos cada berço, sem cobrir com palha.


Escolhemos traçar as leiras na direção leste/oeste e foi feito o seguinte esquema:

  • na beirada, uma linha de feijão guandu, feijão de porco, girassol e crotalária, bem adensada;

  • uma linha de milho + 2 de feijão +1 de abóbora (repetindo 3 vezes);

  • uma linha alternando milho e mandioca (que foi plantada deitada), sendo uma mandioca a cada 2 milhos, duas linhas de feijão e uma de abóbora (repetindo 2 vezes);

  • uma linha de milho + 4 de arroz de sequeiro;

  • uma linha de milho + uma linha de amendoim colorido;

  • fechando com uma linha de crotalária e uma linha de feijão guandu, feijão de porco e girassol.



As distâncias entre linhas foi de aproximadamente 45 cm, o que somou 1,80 m entre cada linha de milho. A distância entre plantas na linha foi de 20 a 25 cm.


Os milhos foram plantados de muda preparadas no próprio sítio 15 dias antes. A semeadura do milho foi feita em dia de fruto do calendário biodinâmico, seguida de aplicação do preparado chifre esterco, que favorece o enraizamento. O substrato foi preparado no sítio, com húmus, casca de arroz, termofostato e calda de microorganismos da mata.

Foram 2 sementes de feijão por berço

Várias sementes de arroz por berço

Amendoim plantado em leira com espaçamento de 10 a 15 cm por semente

Abóbora a cada três metros na linha 


Por uma questão de agenda do grupo, acabamos plantando em dia de folha, algumas horas antes do início do dia de fruto, segundo o calendário biodinamico, o que não é adequado para uma plantação de grãos. 


No dia seguinte ao plantio aplicamos o preparado biodinâmico chifre esterco em toda a área, para enraizar melhor. Como era de de fruto, ele vai compensar o fato de termos plantado em dia de folha.


O próximo passo será plantar bananeiras ao longo das linhas laterais, para gerar biomassa para os próximos plantios na área.


Agora é esperar o resultado. Que, depois de tanto amor e dedicação, só pode ser positivo.


Imagens: Denise Lotito, Haidê Ludmila dos Santos, Lucas Lobo e Luciano Correia dos Reis  

Edição para o blog: Antonio Devide - pesquisador


7 de nov. de 2022

SOLIDARIEDADE no 'Mutirão Agroflorestal de Plantio de Arroz Orgânico' no Assentamento Manoel Neto, Taubaté/SP

Por: Denise Lotito - Educadora em metodologias de ensino, em formação para se tornar agricultora agroecológica


Escolhi fazer este relato em primeira pessoa porque o que vi no mutirão tocou muito mais a minha subjetividade do que minha objetividade. 

Dia 19 de outubro de 2022. Amanheceu chovendo. Será que vai ter mutirão mesmo assim? Daqui de casa seria pouco mais de uma hora de carro. Peguei minha capa de chuva, meu chapéu e saí atrasada. 


Quando cheguei as pessoas já estavam terminando o café. Uma mesa linda cheia de bolos, pães, geleias, pastinhas, que os participantes haviam trazido. Me esforcei para parecer que estava à vontade, mas estava um pouco encabulada porque não conhecia quase ninguém além dos donos da casa, e vi que as pessoas ali já se conheciam bem, faziam parte de um grupo. Eu havia conhecido a Ana e o Mineiro duas semanas antes, num curso de três dias no sítio do Valdir @sítioecológico.


Como eu estava interessada em aprender a plantar arroz, e o mutirão seria de SAF consorciado com arroz orgânico, eu aceitei na hora o convite para o mutirão. Apesar de nos conhecermos tão pouco, a Ana e o Mineiro me receberam com muita alegria, como se fôssemos velhos amigos. Vai ver que velhos amigos são assim mesmo, não tem nada a ver com o tempo que a gente se conhece, mas com o carinho que estamos dispostos a trocar. E pra mim aquele era um momento de carinhosa generosidade. Eu queria aprender. E sabia que aquele conhecimento que eu iria usufruir ali, fruto da experiência do trabalho daqueles agricultores, era um bem muito valioso, que eu estaria recebendo. Um bem que valia muito mais do que toda a colaboração que eu poderia dar no mutirão. Por isso, mais que minha força de trabalho, eu levava a vontade de encontrar modos de retribuir essa generosidade.


Depois do café fizemos uma roda e as pessoas se apresentaram. Foi aí que Ana contou que estava muito emocionada com a presença de todos ali, vindos para ajudar a família a reconstruir a plantação que o fogo havia destruído um ano  exatamente no dia 7 de setembro de 2021. E essa mesma oportunidade foi dada a diversas pessoas ali presentes, cada um com um agradecimento diferente, mas todos emocionados. Aí percebi que não era só eu que estava agradecida. O que estava acontecendo ali era um encontro de pessoas que tinham algo para dar umas para as outras. Um encontro de trocas, baseado em companheirismo.


Havia 21 pessoas adultas e 4 crianças participando, fosse no plantio ou organizando as refeições. Estavam presentes representantes do Sítio Monte Coruscante, de Conquista, da Cati, Sítio Guajuviva , Sitio Beija Flora , Sítio das Orquídeas, Assentamento Olga Benário, Assentamento Nova Esperança, Sítio Ecológico, Mineto, Instituto Auá, Rede Agroflorestal, Assentamento Egídio Brunetto, Cooperativa Coomatre. Assentamento Conquista, Coletivo de Coletores de Sementes do Vale do Paraíba, amigos e familiares. 


Após as apresentações, o Valdir Martins explicou o conceito do SAF que iríamos implantar: uma linha de frutíferas com árvores de serviço, uma linha de milho com feijão semeados no mesmo berço, duas linhas de arroz. Explicou que tínhamos árvores maiores, as mangueiras, que seriam plantadas a cada dez metros. Entre elas, as estacas de gliricídias (árvore para poda) plantadas inclinadas a 45º para evitar danos pelo sol, e as outras árvores do estrato médio (na maioria eram frutíferas nativas e exóticas) e do estrato alto (árvores nativas como jatobá, cedro, araribá e outras), além de algumas emergentes.


Então subimos para a área de plantio. Começamos para passar a linha por orientar os berços. Depois de esticada a linha, as pessoas se dividiram nas tarefas: com motocoveadores e cavadeiras começaram a cavar os berços para as mudas; com a enxada, cavar os berços para as sementes; jogar composto nos berços, lançar as sementes de milho, feijão e arroz. 



A chuva, que no começo do dia ameaçava atrapalhar o trabalho, acabou não caindo. O dia permaneceu nublado, o que foi de grande ajuda, pois o terreno era íngreme, tornando o trabalho mais penoso, mesmo sem sol.



Naturalmente as pessoas foram se distribuindo nas tarefas, de acordo com suas habilidades e desejos, e logo todo o trabalho estava fluindo de forma muito organizada, como num formigueiro, como se cada um soubesse com muita clareza qual tarefa lhe cabia, sem atropelamentos, sem confusão, um completando o trabalho do outro, ajudando quando necessário, com muita harmonia e alegria, num coro de risadas e conversas animadas.

Todo mundo interessado em conhecer sobre as plantas, sobre as formas de semear, trocando informações sobre suas experiências de plantio. O mutirão foi assim: as pessoas trabalhando com satisfação, pelo prazer de construir juntos. 


Ao final, descemos o morro, olhamos pra cima e contemplamos orgulhosos o trabalho realizado. Nossa, olha só tudo o que fizemos! Nem parece verdade que plantamos tudo isso!  Estávamos felizes, orgulhosos, e nos sentindo como se fôssemos todos velhos amigos!



Inicialmente foi feito o croqui abaixo: 



No entanto, como é normal acontecer, devido às circunstâncias, que quase nunca são correspondem exatamente ao planejado, o croqui foi adaptado para o seguinte formato:



A área cultivada / implantada foi de aproximadamente 5.000 m², com os seguintes índices aproximados de plantio:


  • Quantidade de berços cavados: 14.793 berços plantados e semeados
  • Quantidade de mudas plantadas: 1.042 mudas arbóreas e frutíferas
  • Quantidade de estacas: 417 estacas de gliricídia
  • Quantidade de milho e feijão semeado: 4.1667 berços de feijão de 60 dias consorciado com milho
  • Quantidade de arroz semeado: 8.333 berços de arroz
  • Quantidade de berços de muvuca de sementes: 834 berços

Agricultura de montanha

A agricultura de montanha é um termo genérico que engloba diversos procedimentos para tornar compatível o uso do solo com medidas conservacionistas que aumentem a quantidade de vida consolidada. Em terrenos muito declivosos é natural o uso do solo com culturas perenes, e nas áreas com topografia suave ondulada a plana a escolha de uso com lavouras de ciclo curto, que demandam  uma maior necessidade de movimentação do solo. 

Estudo da paisagem

O estudo da paisagem é uma ferramenta fundamental e metodológica para empoderar os agricultores e agricultoras na tomada de decisão para escolha de estratégias mais adequadas de preparo do solo, de escolha do sistema de plantio, sobre a capacidade do solo de sustentar uma produção comercial, se é necessário tomar medidas prévias para aumentar a capacidade de sustentação do solo para produção agropecuária e agroflorestal, quer seja pela análise das plantas indicadoras, da resistência do solo à penetração pelo sistema radicular dessas plantas, pela necessidade do plantio de adubos verdes e culturas de cobertura previamente ao plantio de culturas de valor econômico, ou mesmo para reduzir a necessidade de adubos provenientes de fontes de nutrientes externas ou até mesmo de medidas que atuem para reduzir a resistência físicas do solo à infiltração da água como a subsolagem.

No Sítio Minha Estância a área da propriedade trabalhada no mutirão possui declividade acentuada, sendo notável na parte alta da pendente uma região de produção de sedimentos (eluviação) e na parte baixa a região de deposição (iluviação). Esse processo de perda de solo na parte alta e de deposição na parte baixa faz com que a camada interna do solo (subsuperficial) inicie cada vez mais o processo de amostra (afloramento) na parte alta. Isto foi notado com a maior resistência à penetração do motocoveador, devido à maior quantidade de argila existente no horizonte sub-superficial.

Medidas conservacionistas na agricultura de montanha
O plantio em curva de nível ou em terraços são estratégias que visam reduzir o escoamento superficial; mas tem que ter um planejamento prévio, pois a distância entre os terraços e a largura dos terraços devem ser planejados de acordo com a declividade e a classe de solo. Os cordões de vegetação perene, como sebes e cerca viva de cana, capim vetiver, capim guatemala ou mesmo leguminosas, como a espécie multicaule flemíngia, ou cerca viva de pitangueira, plantada de maneira adensada a partir de sementes, apesar de ser demorada para fechar, ainda assim forma uma cerca viva densa que reforça a infiltração da água no solo e reduz o escorrimento superficial. 

Plantio direto, cultivo mínimo e plantio em faixas também são tecnologias que estão em desenvolvimento na região e podem fortalecer a conservação dos solos. Em todos esses casos a rotação de cultivos é atividade obrigatória. Porém, no Vale do Paraíba, a estiagem prolongada no outono-inverno é o principal entrave à formação de uma camada de matéria orgânica densa para possibilitar o plantio direto subsequente com qualidade para beneficiar a lavoura comercial sem degradar o solo. As leguminosas espontâneas, regionalmente adaptadas, tais como o kudzu tropical e o labe labe, teoricamente são tolerantes à geada e a seca, podendo formar densa camada para servir de cobertura morta para o plantio direto no início da época chuvosa. No caso dos pomares perenes, o uso de cobertura viva, como o amendoim forrageiro, é outra alternativa viável que ajuda a proteger o solo da erosão. Na agrofloresta, o que mais tem sido feito é o cultivo de faixas de capim mombaça para ser roçado e a biomassa ser rastelada para ser depositada nas linhas de diversidade de cultivos a fim de formar um manto de matéria orgânica que fixa o carbono, entra em decomposição, aumenta a atividade biológica e recicla os nutrientes de camdas profundas do solo.

Extremos climáticos

Após o mutirão de plantio, um evento extremo ocorreu em Taubaté e a forte chuva de granizo degradou toda a produção de alimentos do Sítio Minha Estância. Este relato também serve para prestar solidariedade à família e pedir que as pessoas participem do processo de reconstrução da capacidade produtiva em bases cada vez mais sustentáveis. 

Relato da família:
No dia 24/10/2022 uma forte chuva de granizo destruiu quase que 100% da produção orgânica de legumes, verduras, hortaliças entre muitos canteiros que estavam sendo preparados para novos plantios, também foram danificados com a forte enxurrada.
Estima-se que os danos podem chegar a mais de R$ 20 mil reais!!!
Os produtores precisam da nossa ajuda, pois essa é a única fonte de renda da família, e para que eles possam continuar entregando produtos orgânicos, de qualidade, sem venenos e agrotóxicos, estamos promovendo essa colaboração.
Qualquer quantia será bem-vinda, R10,00...R$50,00...R$100,00...o que couber no seu bolso, irá ajudar muito nessa nova etapa de recuperação dos canteiros, compras de insumos, mudas, adubos, sementes etc...
Para quem quiser contribuir, segue abaixo o número PIX.
12991923891 - Ana Lucia dos Santos
Banco Satander
A Família Sítio Minha Estância agradece desde já 🙂
Instagram: @sitio_minha_estancia

https://www.facebook.com/100003694636350/videos/3457680444463602/

Colaboração e edição para o blog: Antonio Devide - pesquisador
Imagens: família Minha Estância, Antonio Devide, Denise Lotito e outrxs colaboradorxs

20 de out. de 2022

RELATOS DO MUTIRÃO PARA O SOMBREAMENTO DE CAFEEIRO NO SÍTIO BEIJA FLORA E DA ASSEMBLEIA DA REDE AGROFLORESTAL

Data: 06/10/2022

Local: Sítio Beija Flora, Assentamento Olga Benário (MST), Tremembé/SP

Objetivos

Os objetivos do mutirão foram promover o sombreamento de um cafezal arábica novo, recuperar a fertilidade do solo dando ênfase na reciclagem de minerais por meio do manejo da matéria orgânica que promove a cobertura viva e a atividade biológica.

Atividade preliminar

Valdir Martins fez uma explicação sobre a estratificação das espécies no SAF, a posição que cada uma ocupa e a importância desse trabalho na conversão agroflorestal do cafeeiro, que na sua origem é uma planta de estrato médio e por isso pode ser cultivado a meia sombra.

Valdir Martins explica o uso de estacas de ginseng brasileiro para cobertura viva do cafeeiro.



 






Explicação de como realizar o coroamento do cafeeiro evitando o corte das raízes superficiais para em seguida receber a matéria orgânica da capina e poda de margaridão e cana.

Conversão agroflorestal

Linhas do cafeeiro

O cafeeiro arábica estava plantado no espaçamento 3,0m entre linhas e 1,0m entre plantas e deve ocupar o estrato médio do SAF. Nas linhas de café foram plantadas estacas de mandioca inclinadas a 45 graus com a base no sentido oposto das plantas de café. As estacas foram preparadas com serrote para ficarem com o corte reto, assim favorecendo o maior enraizamento em todo o perímetro da maniva e maior resistência ao despinicamento natural na colheita. A função da mandioca crescendo perto do café também ativa a micorrização, beneficiando o cafeeiro que é uma planta dependente por micorrizas.

Valdir Martins explica como preparar a estaca de mandioca (maniva) com serrote para fortalecer a produção de raízes e evitar o desprendimento das raízes por ocasião do arranquio.

As micorrizas são fungos nativos dos solos que se ligam às raízes ampliando a superfície que é explorada melhorando a absorção de nutrientes, tal como o fósforo que é essencial para as plantas e pouco móvel, muitas vezes estando indisponível para as absorção das raízes porque é adsorvido no complexo de troca por causa da acidez natural dos solos tropicais. 

Mogno - em linhas alternadas do cafeeiro, a cada 8m, havia uma árvore de mogno plantada. O mogno ocupará o estrato alto com o desenvolvimento do sistema.  

CROQUI



Entrelinhas

Nas entrelinhas foram plantadas frutas nativas de estrato médio e arbóreas de estrato alto e espécies emergentes, com múltiplas finalidades: poda futura (plantas de serviço) e madeira; espécies para adubação verde, tais como feijão de porco, tefrósia e guandu, além de muvuca de sementes.

Abertura de berços (covas) com cavadeira articulada para o plantio das mudas.

Entrelinhas alternadas (sim e não) foram preenchidas com estacas de cana na posição horizontal a cada 3m e estacas de ginseng e margaridão alternadas entre si a cada 1m. A cana tem dupla finalidade: produzir cana para garapa e melaço, ou juntamente com ginseng e margaridão, fornecer adubo verde.

 

Plantio de muda frutífera típica de estrato médio nas entrelinhas do cafeeiro.

As plantas de adubação verde (margaridão e tefrósia) e as mandiocas juvenis que já estavam plantas na área receberam poda apical (rebaixamento) para ‘forçar’ a rebrota e passar um sinal de renovação no sistema.

Poda de rebaixamento para suprimir a floração e forçar nova rebrota da tefrósia (adubo verde).

 

Avaliação da implantação

Ao final da atividade prática o grupo se reuniu para avaliação do sistema proposto, troca de experiências, tirar dúvidas e propor melhorias.

 

Muvuca de sementes

A muvuca de sementes é uma tecnologia que veio para ficar. Vem sendo utilizada para resolver diversos gargalos do manejo agroflorestal e restauração florestal. O trabalho dos Coletores de Sementes do Vale do Paraíba vem possibilitando, com o apoio de organizações do terceiro setor, com destaque para o Instituto Socioambiental, TNC, iniciativa Caminhos da Semente e Agroícone, a organização para a coleta, pesquisa e comercialização de sementes, gerando renda e inserindo os campesinos na restauração florestal. 

Muvuca de sementes do lado direito as arbóreas e à direita os adubos verdes.

O uso visa reduzir os custos, uma vez que a produção e o preço de mudas aptas ao plantio são relativamente mais elevados, é mais fácil transportar a muvuca para locais de difícil acesso, permite combinações funcionais e seleção de plantas mais vigorosas.

Preparo de muvuca para a semeadura direta de sementes de adubos verdes, arbóreas e palmáceas.

Dentre as espécies utilizadas na muvuca destacam-se os adubos verdes: feijão de porco, crotalária, guandu, tefrósia, flemíngia, mamona, assa-peixe.

Palmáceas: juçara e jerivá.

Arbóreas: eritrina mulungu, amendoim do campo, condessa, noz moscada, aldrago, jatobá, araribá e outras.

Amostragem de sementes e método de avaliação de corte da semente graúda dura de araribá com serrote para verificar se o embrião ainda está vivo.

Semente de tingui com mofo branco em fase inicial de deterioração.

 

Orientação para o uso de ferramentas e equipamentos

O uso correto de ferramentas e o preparo de estacas de mandioca (manivas) foram temas abordados por Valdir Martins.

  • Facão -  o corte de estacas e o manejo do material orgânico na poda deve ter o facão direcionado no sentido de dentro para fora. Ou seja, contrário ao sentido do corpo do operador para reduzir o risco de acidentes com o operador
  • Serrote – o uso de serrote deve ser preferido nas operações de poda e condução das árvores e arbustos quando a resistência do material orgânico, de acordo com a idade e espécie, torna o serviço com facão penoso (alto impacto no operador). Um serrote de boa qualidade corta na ida e na volta e não causa lascas no material.
  • No preparo de rama de mandioca o corte reto (transversal ao comprimento) do serrote, serra circular ou motosserra garante um melhor enraizamento em todo o diâmetro da estaca, o que também reduz o desprendimento das raízes no arranquio das plantas do solo na colheita.
  • Tesoura de poda – o uso de tesoura de poda deve ser utilizado sempre que o material a ser podado apresente diâmetro pequeno e pouco lignificado.
  • Maquinário -  tratorito, motocoveador, motosserra, motoppoda e roçadeira são equipamentos que exigem um preparo físico do operador. Valdir ressaltou que o movimento repetitivo, de alto impacto, tem causado lesões em diversos novos agroflorestores, razão pela qual o trabalho deve descontínuo e alternado com outras atividades a fim de evitar lesões nos ligamentos e nervos do operador por esforço repetitivo.
  • Modelos de brocas para coveador – para covear o solo com máquinas existem diversos modelos de brocas. Foram avaliados dois modelos: o helicoidal ou fuso (nas mãos do Valdir) que retira a terra de dentro da cova e pode provocar o espelhamento do solo mais argiloso, dificultando o enraizamento; e o revolvedor ou mexedor (deitado no lado direito) que perfura revolvendo mas que não retira a terra de dentro da cova.

Essas brocas têm ponta de vídia resistente e as brocas de fuso mais modernas também têm uma pequena haste lateral de vídia para romper o espelhamento do solo.

  • Corte de raízes (mudas de sacolas) – as mudas produzidas em sacolas geralmente passam do ponto, provocando o enovelamento das raízes. Para forçar a formação de novas raízes é necessário o corte do fundo da sacolinha com cerca de 2cm acima da terra removendo as raízes enoveladas. O corte pode ser feito com facão e o toalete das raízes, com tesoura de poda.

Viveiro local

A produção de mudas é uma necessidade dos agroflorestores e agroflorestoras. O casal Valdir e Carmem Faria são coletores de sementes há mais de 10 anos. O viveiro possui estrutura de baixo custo, as mudas são produzidas em sacolinhas e as sementes coletadas das áreas de reserva legal dos assentamentos de Tremembé e na região do Vale do Paraíba e também provém da troca de sementes.

Uma característica do viveiro é a diversidade de espécies nativas e exóticas e o reforço da segurança alimentar e nutricional por meio da produção de frutíferas. O sítio Beija Flora já é considerado área de conservação de espécies matrizes raras, como a grumixama amarela. A produção de mudas também reforça a geração de renda, por meio da venda, e a rganização dos mutirões, com a doação a outros assentados.


Instrutor: Valdir Martins – agroflorestor do Sítio Ecológico de São José dos Campos.

Organização: Valdir Nascimento e Carmem Faria – agroflorestores do Sítio Beija Flora. 

Assembleia da Rede Agroflorestal do Vale do Paraíba

Objetivos:

A Assembleia Geral Extraordinária foi realizada para promover a adesão de novos associados e realizar ajustes no estatuto da Rede Agroflorestal

Resumo
A assembleia foi presencial e transmitida pela internet em tempo real. 
Inicialmente foi realizada apresentação do histórico da Rede Agroflorestal, sua formação a partir de diversas iniciativas de pessoas que desejaram se unir para praticar o manejo agroflorestal, com destaque para ações altruístas nos assentamentos de reforma agrária (MST) e em propriedades privadas do novo rural, a necessidade de melhorar a organização dos mutirões, consolidar vitrines agroflorestais e fortalecer a formação de núcleos organizados em diferentes compartimentos da bacia hidrográfica do rio Paraíba do Sul. 

Destacou-se o movimento de base realizado há mais de 10 anos que atualmente fornece o suporte necessário que possibilita o trabalho de outras organizações que queiram empreender no Vale do Paraíba com restauração florestal e SAF. 
Falou-se do Plano de Ação, elaborando com apoio do WRI Brasil e TCN que resultou no levantamento das demandas com a participação popular; a necessidade dos associados se organizarem para elaborarem o Regimento Interno; a necessidade de formação de corpo técnico para escrever projetos e buscar recursos via financiamento para executar ações; a necessidade de integração com outras organizações do terceiro setor que atuam na região, como Rede Apoena e Coomatre. 
A assembleia e o mutirão contou com a participação de cerca de 20 pessoas. Ao final as pessoas que quiseram se associar forneceram cópia dos documentos comprobatórios e assinaram a lista de presença.

A advogada Daniella Wagna Rabello realiza a transmissão on-line e recolhe a documentação comprobatória.

Mariana Pimentel e sua filha Copaíba, símbolo do engajamento presente e futuro.

Relator: Antonio Devide, Valdir Nascimento e Valdir Martins

Imagens – Marcielle Monize, Thales Guedes Ferreira, Carmem Faria

17 de out. de 2022

Mutirão de Plantio de SAF consorciado com arroz no Sítio Minha Estância, Assentamento Manoel Neto, Taubaté/SP


19/10/2022 - Quarta-feira 
Facilitador: Valdir Martins


Local: Sítio Minha Estância, Assentamento Comuna Manoel Neto, Estrada Municipal dos Remédios, n.10.800 - lote 4


Relação de espécies para o plantio

Croqui do esquema de plantio: 


Relato de vida por Ana do Sítio Minha Estância:

Cheguei no acampamento em 2002 , a ocupação era em Tremembé no amarelinho, depois de várias mudanças e desocupação, vinhemos para Taubaté nesta fazenda aonde nasceu o assentamento Comuna Manoel Neto, no ano de 2005, todas 36 famílias que resistiram a despejos e a  luta foram homologadas, ainda morávamos na área social do assentamento, neste ano a coordenação do assentamento fizeram a divisão do lote por núcleo de produção (suínos, fruticultura, pecuária, tubérculos e aves) acho que foi isso rsrs, eu fiquei no núcleo de fruticultura achei mais fácil pois era mulher militante e mãe solo, mais com passar do tempo fiz uma Horta e  comecei a pegar amor por isso, mais fizemos de tudo aqui no lote, pecuária, suínos, aves, rsrs, depois de várias tentativas voltamos novamente com a nossa Horta orgânica só que maior e mais linda, no ano de 2016 conheci meu companheiro Lorivane (mineiro) ele foi o empurrão que nós precisávamos para crescer, aumentamos a roça, participamos de projetos como PAA, PNAE, Feira de rua, Mercatau.

    

O nossos produtos fizeram tanto sucesso que na pandemia fomos convidados a participar de feirinha dentro de condomínio, quando achamos que tudo ia bem eu fiquei doente tive um AVC, e para ajudar fiquei com depressão, neste tempo quem cuidava de tudo era mineiro e minha filha Haidê nosso braço direito com quase dois anos doente sem sair do lado de fora de casa aonde tudo começou.... já passamos por várias provações e não desistimos tipo (vento derrubou nossa casa 2009, gado do vizinho acabou com nossa roça em 2019, e o pior e o que me levou a desespero foi  ano passado 7 de setembro 2021 um vizinho ateou fogo no nosso lote acabando com tudo que tínhamos 90% de nossa produção) eu confesso que minha vontade era de morrer vendo tudo em chamas abelhas, galinhas e nossa produção no sítio minhas árvores que ali existia se acabou com fogo na verdade tudo nossa vida construída de 17 anos acabou em chamas.... neste momento mesmo com crise de pânico e ainda doente com depressão , fui obrigada a sair correndo e tentar ajudar pagar o fogo , mais não tinha mais jeito nem o corpo do bombeiros conseguiu apagar. Então com ajuda de clientes e alguns amigos, começamos a reconstruir tudo do zero, pois só restou a casa e um pastor cinza nada ali mais existia, recebemos várias doações de mudas, insumos, mourão para cerca, arames, e irrigação. 

https://tv.uol/19BzO

O trator veio preparo a terra para plantio teve que tira tudo que ali não mais servia e meu companheiro com minha filha, começaram a plantar novamente eu não tinha força para ajudá-los pois ainda estava doente , depois de 3 tentativas frustrada de plantio sem sorte alguma conseguimos tira nossa primeira produção , de legumes foi só comemoração , e desde então não pararam, eu tive um último AVC esse ano em janeiro , paralisação total do corpo achei que seria o fim, mais Deus é maravilhoso, vendo a luta da minha família vi que era necessário eu tomar uma atitude e sair daquela bolha aonde eu me enfiei.

  

Vamos falar de coisas boas, final de ano passado é começo desse ano foi um ano de vitória para nossa família , voltamos para o coletivo de coordenação do assentamento, conhecemos pessoas incríveis com a mesma expectativa de vida, começamos a sonhar novamente. No mês de setembro no mesmo dia 7 deste ano resolvi sair de dentro de casa e começa a plantar fazer aquilo que mais amo fazer, e deu super certo eu junto com meu companheiro e minha filha trabalhamos juntos no lote novamente, o medo vem, mais a vontade de vencer é maior.

    

 Nesse espaço de tempo só coisas boas acontecendo. Participamos do primeiro curso  CSA do vale no @sítio ecológico, participamos do primeiro encontro de coletores de sementes do Vale do Paraíba na APTA , no curso de consórcio Horta e agro ecologia com Namastê no assentamento Egídio Brunetto, vários tão importante quanto esses, por último mutirão de sombreamento em café no Sítio Beija flora , estamos fazendo parte da associação da Rede. (Nossa preciso enviar documentos rsrs) conversando com Valdizão e carme meus compadres padrinhos da minha filha, Thiago e Mariana, Valdizinho e outros companheiros que apoiam muito minha família, resolvemos fazer parte deste mundo que é o mais lindo de todos , consórcia agro floresta com SAF com Hortaliças, tipo vida amor e esperança.

 

No dia 21 de setembro 2022 conseguimos nossa certificação orgânica. 

Nosso sonho de ver novamente nosso sitio reflorestado vais se realizar no dia 19 com ajuda da Rede e do mutirão, e para o ano que vem assinar novos contratos, pois perdemos todos por conta do incêndio. 

Fazer parte dos coletores de sementes e os agrofloresteiros do Vale do Paraíba quem sabe do mundo. 

Família Sítio Minha Estância agradece o acolhimento espero poder contribuir com pouco que somos e temos muito que aprender juntos. 

Não podemos permitir que uma árvore caia ao chão sem antes uma semente ser plantada. 🌳🌱

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