20 de out. de 2022

RELATOS DO MUTIRÃO PARA O SOMBREAMENTO DE CAFEEIRO NO SÍTIO BEIJA FLORA E DA ASSEMBLEIA DA REDE AGROFLORESTAL

Data: 06/10/2022

Local: Sítio Beija Flora, Assentamento Olga Benário (MST), Tremembé/SP

Objetivos

Os objetivos do mutirão foram promover o sombreamento de um cafezal arábica novo, recuperar a fertilidade do solo dando ênfase na reciclagem de minerais por meio do manejo da matéria orgânica que promove a cobertura viva e a atividade biológica.

Atividade preliminar

Valdir Martins fez uma explicação sobre a estratificação das espécies no SAF, a posição que cada uma ocupa e a importância desse trabalho na conversão agroflorestal do cafeeiro, que na sua origem é uma planta de estrato médio e por isso pode ser cultivado a meia sombra.

Valdir Martins explica o uso de estacas de ginseng brasileiro para cobertura viva do cafeeiro.



 






Explicação de como realizar o coroamento do cafeeiro evitando o corte das raízes superficiais para em seguida receber a matéria orgânica da capina e poda de margaridão e cana.

Conversão agroflorestal

Linhas do cafeeiro

O cafeeiro arábica estava plantado no espaçamento 3,0m entre linhas e 1,0m entre plantas e deve ocupar o estrato médio do SAF. Nas linhas de café foram plantadas estacas de mandioca inclinadas a 45 graus com a base no sentido oposto das plantas de café. As estacas foram preparadas com serrote para ficarem com o corte reto, assim favorecendo o maior enraizamento em todo o perímetro da maniva e maior resistência ao despinicamento natural na colheita. A função da mandioca crescendo perto do café também ativa a micorrização, beneficiando o cafeeiro que é uma planta dependente por micorrizas.

Valdir Martins explica como preparar a estaca de mandioca (maniva) com serrote para fortalecer a produção de raízes e evitar o desprendimento das raízes por ocasião do arranquio.

As micorrizas são fungos nativos dos solos que se ligam às raízes ampliando a superfície que é explorada melhorando a absorção de nutrientes, tal como o fósforo que é essencial para as plantas e pouco móvel, muitas vezes estando indisponível para as absorção das raízes porque é adsorvido no complexo de troca por causa da acidez natural dos solos tropicais. 

Mogno - em linhas alternadas do cafeeiro, a cada 8m, havia uma árvore de mogno plantada. O mogno ocupará o estrato alto com o desenvolvimento do sistema.  

CROQUI



Entrelinhas

Nas entrelinhas foram plantadas frutas nativas de estrato médio e arbóreas de estrato alto e espécies emergentes, com múltiplas finalidades: poda futura (plantas de serviço) e madeira; espécies para adubação verde, tais como feijão de porco, tefrósia e guandu, além de muvuca de sementes.

Abertura de berços (covas) com cavadeira articulada para o plantio das mudas.

Entrelinhas alternadas (sim e não) foram preenchidas com estacas de cana na posição horizontal a cada 3m e estacas de ginseng e margaridão alternadas entre si a cada 1m. A cana tem dupla finalidade: produzir cana para garapa e melaço, ou juntamente com ginseng e margaridão, fornecer adubo verde.

 

Plantio de muda frutífera típica de estrato médio nas entrelinhas do cafeeiro.

As plantas de adubação verde (margaridão e tefrósia) e as mandiocas juvenis que já estavam plantas na área receberam poda apical (rebaixamento) para ‘forçar’ a rebrota e passar um sinal de renovação no sistema.

Poda de rebaixamento para suprimir a floração e forçar nova rebrota da tefrósia (adubo verde).

 

Avaliação da implantação

Ao final da atividade prática o grupo se reuniu para avaliação do sistema proposto, troca de experiências, tirar dúvidas e propor melhorias.

 

Muvuca de sementes

A muvuca de sementes é uma tecnologia que veio para ficar. Vem sendo utilizada para resolver diversos gargalos do manejo agroflorestal e restauração florestal. O trabalho dos Coletores de Sementes do Vale do Paraíba vem possibilitando, com o apoio de organizações do terceiro setor, com destaque para o Instituto Socioambiental, TNC, iniciativa Caminhos da Semente e Agroícone, a organização para a coleta, pesquisa e comercialização de sementes, gerando renda e inserindo os campesinos na restauração florestal. 

Muvuca de sementes do lado direito as arbóreas e à direita os adubos verdes.

O uso visa reduzir os custos, uma vez que a produção e o preço de mudas aptas ao plantio são relativamente mais elevados, é mais fácil transportar a muvuca para locais de difícil acesso, permite combinações funcionais e seleção de plantas mais vigorosas.

Preparo de muvuca para a semeadura direta de sementes de adubos verdes, arbóreas e palmáceas.

Dentre as espécies utilizadas na muvuca destacam-se os adubos verdes: feijão de porco, crotalária, guandu, tefrósia, flemíngia, mamona, assa-peixe.

Palmáceas: juçara e jerivá.

Arbóreas: eritrina mulungu, amendoim do campo, condessa, noz moscada, aldrago, jatobá, araribá e outras.

Amostragem de sementes e método de avaliação de corte da semente graúda dura de araribá com serrote para verificar se o embrião ainda está vivo.

Semente de tingui com mofo branco em fase inicial de deterioração.

 

Orientação para o uso de ferramentas e equipamentos

O uso correto de ferramentas e o preparo de estacas de mandioca (manivas) foram temas abordados por Valdir Martins.

  • Facão -  o corte de estacas e o manejo do material orgânico na poda deve ter o facão direcionado no sentido de dentro para fora. Ou seja, contrário ao sentido do corpo do operador para reduzir o risco de acidentes com o operador
  • Serrote – o uso de serrote deve ser preferido nas operações de poda e condução das árvores e arbustos quando a resistência do material orgânico, de acordo com a idade e espécie, torna o serviço com facão penoso (alto impacto no operador). Um serrote de boa qualidade corta na ida e na volta e não causa lascas no material.
  • No preparo de rama de mandioca o corte reto (transversal ao comprimento) do serrote, serra circular ou motosserra garante um melhor enraizamento em todo o diâmetro da estaca, o que também reduz o desprendimento das raízes no arranquio das plantas do solo na colheita.
  • Tesoura de poda – o uso de tesoura de poda deve ser utilizado sempre que o material a ser podado apresente diâmetro pequeno e pouco lignificado.
  • Maquinário -  tratorito, motocoveador, motosserra, motoppoda e roçadeira são equipamentos que exigem um preparo físico do operador. Valdir ressaltou que o movimento repetitivo, de alto impacto, tem causado lesões em diversos novos agroflorestores, razão pela qual o trabalho deve descontínuo e alternado com outras atividades a fim de evitar lesões nos ligamentos e nervos do operador por esforço repetitivo.
  • Modelos de brocas para coveador – para covear o solo com máquinas existem diversos modelos de brocas. Foram avaliados dois modelos: o helicoidal ou fuso (nas mãos do Valdir) que retira a terra de dentro da cova e pode provocar o espelhamento do solo mais argiloso, dificultando o enraizamento; e o revolvedor ou mexedor (deitado no lado direito) que perfura revolvendo mas que não retira a terra de dentro da cova.

Essas brocas têm ponta de vídia resistente e as brocas de fuso mais modernas também têm uma pequena haste lateral de vídia para romper o espelhamento do solo.

  • Corte de raízes (mudas de sacolas) – as mudas produzidas em sacolas geralmente passam do ponto, provocando o enovelamento das raízes. Para forçar a formação de novas raízes é necessário o corte do fundo da sacolinha com cerca de 2cm acima da terra removendo as raízes enoveladas. O corte pode ser feito com facão e o toalete das raízes, com tesoura de poda.

Viveiro local

A produção de mudas é uma necessidade dos agroflorestores e agroflorestoras. O casal Valdir e Carmem Faria são coletores de sementes há mais de 10 anos. O viveiro possui estrutura de baixo custo, as mudas são produzidas em sacolinhas e as sementes coletadas das áreas de reserva legal dos assentamentos de Tremembé e na região do Vale do Paraíba e também provém da troca de sementes.

Uma característica do viveiro é a diversidade de espécies nativas e exóticas e o reforço da segurança alimentar e nutricional por meio da produção de frutíferas. O sítio Beija Flora já é considerado área de conservação de espécies matrizes raras, como a grumixama amarela. A produção de mudas também reforça a geração de renda, por meio da venda, e a rganização dos mutirões, com a doação a outros assentados.


Instrutor: Valdir Martins – agroflorestor do Sítio Ecológico de São José dos Campos.

Organização: Valdir Nascimento e Carmem Faria – agroflorestores do Sítio Beija Flora. 

Assembleia da Rede Agroflorestal do Vale do Paraíba

Objetivos:

A Assembleia Geral Extraordinária foi realizada para promover a adesão de novos associados e realizar ajustes no estatuto da Rede Agroflorestal

Resumo
A assembleia foi presencial e transmitida pela internet em tempo real. 
Inicialmente foi realizada apresentação do histórico da Rede Agroflorestal, sua formação a partir de diversas iniciativas de pessoas que desejaram se unir para praticar o manejo agroflorestal, com destaque para ações altruístas nos assentamentos de reforma agrária (MST) e em propriedades privadas do novo rural, a necessidade de melhorar a organização dos mutirões, consolidar vitrines agroflorestais e fortalecer a formação de núcleos organizados em diferentes compartimentos da bacia hidrográfica do rio Paraíba do Sul. 

Destacou-se o movimento de base realizado há mais de 10 anos que atualmente fornece o suporte necessário que possibilita o trabalho de outras organizações que queiram empreender no Vale do Paraíba com restauração florestal e SAF. 
Falou-se do Plano de Ação, elaborando com apoio do WRI Brasil e TCN que resultou no levantamento das demandas com a participação popular; a necessidade dos associados se organizarem para elaborarem o Regimento Interno; a necessidade de formação de corpo técnico para escrever projetos e buscar recursos via financiamento para executar ações; a necessidade de integração com outras organizações do terceiro setor que atuam na região, como Rede Apoena e Coomatre. 
A assembleia e o mutirão contou com a participação de cerca de 20 pessoas. Ao final as pessoas que quiseram se associar forneceram cópia dos documentos comprobatórios e assinaram a lista de presença.

A advogada Daniella Wagna Rabello realiza a transmissão on-line e recolhe a documentação comprobatória.

Mariana Pimentel e sua filha Copaíba, símbolo do engajamento presente e futuro.

Relator: Antonio Devide, Valdir Nascimento e Valdir Martins

Imagens – Marcielle Monize, Thales Guedes Ferreira, Carmem Faria

Um comentário:

  1. Para nossa família @sitio_minha_Estância foi um dia de aprendizado depois de tantas tristezas tantas coisas ruins acontecendo no mundo ainda vemos que pessoas do bem estão unindo forças disposto a melhorar o planeta reflorestando e plantado alimentos viva Agrofloresta parabéns sítio Beija flora parabéns todos os envolvidos.

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