29 de jan. de 2020

ACONTECEU: Manejo Agroflorestal em Horta Coletiva

Mutirão Manejo Agroflorestal com Antonio Carlos Pries Devide



A coluna ereta, a mente quieta e o coração tranquilo. Iniciamos o mutirão
agroflorestal na área da horta agroecológica coletiva do Pré-Assentamento Egídio
Brunetto na manhã do dia 13 de janeiro com a limpeza do terreno. Uma capina seletiva
deixando no espaço as mudas de mostarda do cultivo anterior e noutra parte daquele
território ceifando as ervas espontâneas, em sua maioria a tiririca, capins e o caruru, este
também preservado. Formamos leiras, onde o mato foi disposto com terra por cima,
formando canteiros. Posteriormente, depois do material decomposto, será cultivado as
culturas alimentares. Formará a parte ensolarada da Horta.


A outra parte da Horta é formada por linhas de touceiras de banana, tendo no
centro dois canteiros de duas espécies terapêuticas, conhecida entre os agricultores
como “terramicina” e “novalgina”. A primeira é usada como anti-inflamatório, muito
utilizado para a lavagem de ferimentos, a segunda, também conhecida como mil folhas
promete aliviar as dores do corpo, abaixando a febre.


O trabalho deste espaço sombreado foi revitalizar esta área introduzindo espécies
de sub-bosque: a araruta ovo de pata, a cúrcuma e a zedoaria. A primeira muito utilizada
pelos povos indígenas, fornece um fino polvilho muito utilizado para a cura dos ferimentos
de flechas. Usada para recuperação de mães paridas convalescentes, crianças
desnutridas e velhinhos desenganados.
A segunda, também conhecida como açafrão brasileiro, é um anti-inflamatório
potente, muito utilizado para tratar gengivites, por exemplo. E por último, a zedoaria,
popularmente conhecida como “vick”, a semelhança do remédio farmacêutico promete
descongestionar as vias respiratórias, é feito uma pasta das raízes de coloração azul e
cheiro característico. Foi sugerido também, a introdução de estacas de Chaia, uma
hortaliça usada semelhante a couve, só que necessariamente preparada refogada.
Esta área central da Horta Coletiva Agroecológica funciona como uma farmácia
popular deste Assentamento e é no mutirão que o saber é compartilhado.


Por sugestão de um dos participantes foi enfocado o manejo técnico das touceiras
das bananeiras. Primeiramente a diferença entre “plantas mães”, “plantas filhas” e
“plantas netas”. A “planta mãe” é a planta com o cacho de bananas da safra atual. Ao seu
redor, nascem brotos, estes rebentos são chamados “plantas filhas”, sendo então “plantas
irmãs”. O desbaste ou retirada das mudas filhas é feito, elegendo-se apenas uma muda,
mais desenvolvidas ou melhor disposta na touceira para ser a futura “planta mãe”, ou
seja, a que emitirá o cacho de bananas na próxima safra. Quando esta muda se
desenvolve, emitirá novos brotos, as denominadas “plantas netas”. Iniciando nova etapa
de crescimento da família. As mudas desprezadas são simplesmente podadas ou
retiradas com técnica para formar mudas para a formação de novos bananais. O processo
de retirada das mudas é feito realizando uma valeta ao redor da touceira e com o auxílio
de uma ferramenta conhecida como “cava” ou “chivanca”, trata-se de uma cavadeira com
uma folha apenas. Fazendo-se o movimento de alavanca, faz-se a força que destaca a
muda da touceira, fazendo o desprendimento do rizoma.


Uma operação importante no manejo da touceira é a retirada total do pseudocaule
da “planta mãe”, no momento da retirada ou colheita do cacho de banana. É realizada
rente ao solo, com o auxílio de um facão. Complementando esta operação, é feito um
buraco, formando uma cavidade no rizoma exposto e permitirá o acúmulo de água. Tem
por objetivo impedir a entrada de um inseto praga, o moleque ou broca da bananeira, no
ferimento do rizoma.
A ainda, o manejo agroecológico do pseudocaule retirado. É cortado ao meio, de
forma longitudinal, posteriormente é picado, formando pedaços tipo “Telha”. Estas telhas
são dispostas no solo, com a parte cortada para baixo. Esta operação fornece uma
adubação e irrigação as culturas cultivadas, fornecem potássio e água, principalmente.



Complementando-se a operação, estas “telhas” são cobertas com as folhas da planta
cortada cobrindo totalmente o material disposto sobre o solo.
Se possível, há ainda uma medida protetora, quando as “telhas” vão sendo
dispostas sobre o solo, algumas são escolhidas e pinceladas com uma pasta contendo o
fungo beauveria bassiana. O fungo é parasita do inseto praga. Colonizam o corpo do
besouro.
Partimos então para o manejo da área ensolada. Lá serão cultivadas as olerícolas
para preparo coletivo das refeições fornecidas na Escola Popular de Agroecologia “Ana
Primavesi”. Serão introduzidas as seguintes espécies de bananeiras: IAC Prata, IAC
2001, Roxa, Maça, Conquista, Nanicão e Prata Comum. Foi plantado ainda, estacas de
glirícidas, uma leguminosa que fornece nutrientes, entre eles o nitrogênio e sombra ao
sistema agroflorestal.
Concluído a tarefa do dia, conhecimento compartilhado, fomos repor as energias
com o alimento oferecido: arroz, feijão, alface, rabanetes com maxixe e um creme de
berinjela temperados com amor. Este espaço leva o nome de Ana Primavera que
ascendeu para o plano espiritual recentemente. Muito se escreveu sobre a importância
desta pesquisadora e agricultora para a Agroecologia deste Brasil. Muitos filhos
aprendizes ela formou em seu caminhar. Participando destes mutirões vemos que estes
agricultores e este território bebeu na fonte de seu saber e colocam em prática seus
ensinamentos e seu amor a Terra.






Relato:  José Miguel Garrido Quevedo - Perito Ambiental INCRA-SP
Revisão: Mariana Pimentel Pereira
Fotos: Marcielle Monize

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