20 de out. de 2022

RELATOS DO MUTIRÃO PARA O SOMBREAMENTO DE CAFEEIRO NO SÍTIO BEIJA FLORA E DA ASSEMBLEIA DA REDE AGROFLORESTAL

Data: 06/10/2022

Local: Sítio Beija Flora, Assentamento Olga Benário (MST), Tremembé/SP

Objetivos

Os objetivos do mutirão foram promover o sombreamento de um cafezal arábica novo, recuperar a fertilidade do solo dando ênfase na reciclagem de minerais por meio do manejo da matéria orgânica que promove a cobertura viva e a atividade biológica.

Atividade preliminar

Valdir Martins fez uma explicação sobre a estratificação das espécies no SAF, a posição que cada uma ocupa e a importância desse trabalho na conversão agroflorestal do cafeeiro, que na sua origem é uma planta de estrato médio e por isso pode ser cultivado a meia sombra.

Valdir Martins explica o uso de estacas de ginseng brasileiro para cobertura viva do cafeeiro.



 






Explicação de como realizar o coroamento do cafeeiro evitando o corte das raízes superficiais para em seguida receber a matéria orgânica da capina e poda de margaridão e cana.

Conversão agroflorestal

Linhas do cafeeiro

O cafeeiro arábica estava plantado no espaçamento 3,0m entre linhas e 1,0m entre plantas e deve ocupar o estrato médio do SAF. Nas linhas de café foram plantadas estacas de mandioca inclinadas a 45 graus com a base no sentido oposto das plantas de café. As estacas foram preparadas com serrote para ficarem com o corte reto, assim favorecendo o maior enraizamento em todo o perímetro da maniva e maior resistência ao despinicamento natural na colheita. A função da mandioca crescendo perto do café também ativa a micorrização, beneficiando o cafeeiro que é uma planta dependente por micorrizas.

Valdir Martins explica como preparar a estaca de mandioca (maniva) com serrote para fortalecer a produção de raízes e evitar o desprendimento das raízes por ocasião do arranquio.

As micorrizas são fungos nativos dos solos que se ligam às raízes ampliando a superfície que é explorada melhorando a absorção de nutrientes, tal como o fósforo que é essencial para as plantas e pouco móvel, muitas vezes estando indisponível para as absorção das raízes porque é adsorvido no complexo de troca por causa da acidez natural dos solos tropicais. 

Mogno - em linhas alternadas do cafeeiro, a cada 8m, havia uma árvore de mogno plantada. O mogno ocupará o estrato alto com o desenvolvimento do sistema.  

CROQUI



Entrelinhas

Nas entrelinhas foram plantadas frutas nativas de estrato médio e arbóreas de estrato alto e espécies emergentes, com múltiplas finalidades: poda futura (plantas de serviço) e madeira; espécies para adubação verde, tais como feijão de porco, tefrósia e guandu, além de muvuca de sementes.

Abertura de berços (covas) com cavadeira articulada para o plantio das mudas.

Entrelinhas alternadas (sim e não) foram preenchidas com estacas de cana na posição horizontal a cada 3m e estacas de ginseng e margaridão alternadas entre si a cada 1m. A cana tem dupla finalidade: produzir cana para garapa e melaço, ou juntamente com ginseng e margaridão, fornecer adubo verde.

 

Plantio de muda frutífera típica de estrato médio nas entrelinhas do cafeeiro.

As plantas de adubação verde (margaridão e tefrósia) e as mandiocas juvenis que já estavam plantas na área receberam poda apical (rebaixamento) para ‘forçar’ a rebrota e passar um sinal de renovação no sistema.

Poda de rebaixamento para suprimir a floração e forçar nova rebrota da tefrósia (adubo verde).

 

Avaliação da implantação

Ao final da atividade prática o grupo se reuniu para avaliação do sistema proposto, troca de experiências, tirar dúvidas e propor melhorias.

 

Muvuca de sementes

A muvuca de sementes é uma tecnologia que veio para ficar. Vem sendo utilizada para resolver diversos gargalos do manejo agroflorestal e restauração florestal. O trabalho dos Coletores de Sementes do Vale do Paraíba vem possibilitando, com o apoio de organizações do terceiro setor, com destaque para o Instituto Socioambiental, TNC, iniciativa Caminhos da Semente e Agroícone, a organização para a coleta, pesquisa e comercialização de sementes, gerando renda e inserindo os campesinos na restauração florestal. 

Muvuca de sementes do lado direito as arbóreas e à direita os adubos verdes.

O uso visa reduzir os custos, uma vez que a produção e o preço de mudas aptas ao plantio são relativamente mais elevados, é mais fácil transportar a muvuca para locais de difícil acesso, permite combinações funcionais e seleção de plantas mais vigorosas.

Preparo de muvuca para a semeadura direta de sementes de adubos verdes, arbóreas e palmáceas.

Dentre as espécies utilizadas na muvuca destacam-se os adubos verdes: feijão de porco, crotalária, guandu, tefrósia, flemíngia, mamona, assa-peixe.

Palmáceas: juçara e jerivá.

Arbóreas: eritrina mulungu, amendoim do campo, condessa, noz moscada, aldrago, jatobá, araribá e outras.

Amostragem de sementes e método de avaliação de corte da semente graúda dura de araribá com serrote para verificar se o embrião ainda está vivo.

Semente de tingui com mofo branco em fase inicial de deterioração.

 

Orientação para o uso de ferramentas e equipamentos

O uso correto de ferramentas e o preparo de estacas de mandioca (manivas) foram temas abordados por Valdir Martins.

  • Facão -  o corte de estacas e o manejo do material orgânico na poda deve ter o facão direcionado no sentido de dentro para fora. Ou seja, contrário ao sentido do corpo do operador para reduzir o risco de acidentes com o operador
  • Serrote – o uso de serrote deve ser preferido nas operações de poda e condução das árvores e arbustos quando a resistência do material orgânico, de acordo com a idade e espécie, torna o serviço com facão penoso (alto impacto no operador). Um serrote de boa qualidade corta na ida e na volta e não causa lascas no material.
  • No preparo de rama de mandioca o corte reto (transversal ao comprimento) do serrote, serra circular ou motosserra garante um melhor enraizamento em todo o diâmetro da estaca, o que também reduz o desprendimento das raízes no arranquio das plantas do solo na colheita.
  • Tesoura de poda – o uso de tesoura de poda deve ser utilizado sempre que o material a ser podado apresente diâmetro pequeno e pouco lignificado.
  • Maquinário -  tratorito, motocoveador, motosserra, motoppoda e roçadeira são equipamentos que exigem um preparo físico do operador. Valdir ressaltou que o movimento repetitivo, de alto impacto, tem causado lesões em diversos novos agroflorestores, razão pela qual o trabalho deve descontínuo e alternado com outras atividades a fim de evitar lesões nos ligamentos e nervos do operador por esforço repetitivo.
  • Modelos de brocas para coveador – para covear o solo com máquinas existem diversos modelos de brocas. Foram avaliados dois modelos: o helicoidal ou fuso (nas mãos do Valdir) que retira a terra de dentro da cova e pode provocar o espelhamento do solo mais argiloso, dificultando o enraizamento; e o revolvedor ou mexedor (deitado no lado direito) que perfura revolvendo mas que não retira a terra de dentro da cova.

Essas brocas têm ponta de vídia resistente e as brocas de fuso mais modernas também têm uma pequena haste lateral de vídia para romper o espelhamento do solo.

  • Corte de raízes (mudas de sacolas) – as mudas produzidas em sacolas geralmente passam do ponto, provocando o enovelamento das raízes. Para forçar a formação de novas raízes é necessário o corte do fundo da sacolinha com cerca de 2cm acima da terra removendo as raízes enoveladas. O corte pode ser feito com facão e o toalete das raízes, com tesoura de poda.

Viveiro local

A produção de mudas é uma necessidade dos agroflorestores e agroflorestoras. O casal Valdir e Carmem Faria são coletores de sementes há mais de 10 anos. O viveiro possui estrutura de baixo custo, as mudas são produzidas em sacolinhas e as sementes coletadas das áreas de reserva legal dos assentamentos de Tremembé e na região do Vale do Paraíba e também provém da troca de sementes.

Uma característica do viveiro é a diversidade de espécies nativas e exóticas e o reforço da segurança alimentar e nutricional por meio da produção de frutíferas. O sítio Beija Flora já é considerado área de conservação de espécies matrizes raras, como a grumixama amarela. A produção de mudas também reforça a geração de renda, por meio da venda, e a rganização dos mutirões, com a doação a outros assentados.


Instrutor: Valdir Martins – agroflorestor do Sítio Ecológico de São José dos Campos.

Organização: Valdir Nascimento e Carmem Faria – agroflorestores do Sítio Beija Flora. 

Assembleia da Rede Agroflorestal do Vale do Paraíba

Objetivos:

A Assembleia Geral Extraordinária foi realizada para promover a adesão de novos associados e realizar ajustes no estatuto da Rede Agroflorestal

Resumo
A assembleia foi presencial e transmitida pela internet em tempo real. 
Inicialmente foi realizada apresentação do histórico da Rede Agroflorestal, sua formação a partir de diversas iniciativas de pessoas que desejaram se unir para praticar o manejo agroflorestal, com destaque para ações altruístas nos assentamentos de reforma agrária (MST) e em propriedades privadas do novo rural, a necessidade de melhorar a organização dos mutirões, consolidar vitrines agroflorestais e fortalecer a formação de núcleos organizados em diferentes compartimentos da bacia hidrográfica do rio Paraíba do Sul. 

Destacou-se o movimento de base realizado há mais de 10 anos que atualmente fornece o suporte necessário que possibilita o trabalho de outras organizações que queiram empreender no Vale do Paraíba com restauração florestal e SAF. 
Falou-se do Plano de Ação, elaborando com apoio do WRI Brasil e TCN que resultou no levantamento das demandas com a participação popular; a necessidade dos associados se organizarem para elaborarem o Regimento Interno; a necessidade de formação de corpo técnico para escrever projetos e buscar recursos via financiamento para executar ações; a necessidade de integração com outras organizações do terceiro setor que atuam na região, como Rede Apoena e Coomatre. 
A assembleia e o mutirão contou com a participação de cerca de 20 pessoas. Ao final as pessoas que quiseram se associar forneceram cópia dos documentos comprobatórios e assinaram a lista de presença.

A advogada Daniella Wagna Rabello realiza a transmissão on-line e recolhe a documentação comprobatória.

Mariana Pimentel e sua filha Copaíba, símbolo do engajamento presente e futuro.

Relator: Antonio Devide, Valdir Nascimento e Valdir Martins

Imagens – Marcielle Monize, Thales Guedes Ferreira, Carmem Faria

17 de out. de 2022

Mutirão de Plantio de SAF consorciado com arroz no Sítio Minha Estância, Assentamento Manoel Neto, Taubaté/SP


19/10/2022 - Quarta-feira 
Facilitador: Valdir Martins


Local: Sítio Minha Estância, Assentamento Comuna Manoel Neto, Estrada Municipal dos Remédios, n.10.800 - lote 4


Relação de espécies para o plantio

Croqui do esquema de plantio: 


Relato de vida por Ana do Sítio Minha Estância:

Cheguei no acampamento em 2002 , a ocupação era em Tremembé no amarelinho, depois de várias mudanças e desocupação, vinhemos para Taubaté nesta fazenda aonde nasceu o assentamento Comuna Manoel Neto, no ano de 2005, todas 36 famílias que resistiram a despejos e a  luta foram homologadas, ainda morávamos na área social do assentamento, neste ano a coordenação do assentamento fizeram a divisão do lote por núcleo de produção (suínos, fruticultura, pecuária, tubérculos e aves) acho que foi isso rsrs, eu fiquei no núcleo de fruticultura achei mais fácil pois era mulher militante e mãe solo, mais com passar do tempo fiz uma Horta e  comecei a pegar amor por isso, mais fizemos de tudo aqui no lote, pecuária, suínos, aves, rsrs, depois de várias tentativas voltamos novamente com a nossa Horta orgânica só que maior e mais linda, no ano de 2016 conheci meu companheiro Lorivane (mineiro) ele foi o empurrão que nós precisávamos para crescer, aumentamos a roça, participamos de projetos como PAA, PNAE, Feira de rua, Mercatau.

    

O nossos produtos fizeram tanto sucesso que na pandemia fomos convidados a participar de feirinha dentro de condomínio, quando achamos que tudo ia bem eu fiquei doente tive um AVC, e para ajudar fiquei com depressão, neste tempo quem cuidava de tudo era mineiro e minha filha Haidê nosso braço direito com quase dois anos doente sem sair do lado de fora de casa aonde tudo começou.... já passamos por várias provações e não desistimos tipo (vento derrubou nossa casa 2009, gado do vizinho acabou com nossa roça em 2019, e o pior e o que me levou a desespero foi  ano passado 7 de setembro 2021 um vizinho ateou fogo no nosso lote acabando com tudo que tínhamos 90% de nossa produção) eu confesso que minha vontade era de morrer vendo tudo em chamas abelhas, galinhas e nossa produção no sítio minhas árvores que ali existia se acabou com fogo na verdade tudo nossa vida construída de 17 anos acabou em chamas.... neste momento mesmo com crise de pânico e ainda doente com depressão , fui obrigada a sair correndo e tentar ajudar pagar o fogo , mais não tinha mais jeito nem o corpo do bombeiros conseguiu apagar. Então com ajuda de clientes e alguns amigos, começamos a reconstruir tudo do zero, pois só restou a casa e um pastor cinza nada ali mais existia, recebemos várias doações de mudas, insumos, mourão para cerca, arames, e irrigação. 

https://tv.uol/19BzO

O trator veio preparo a terra para plantio teve que tira tudo que ali não mais servia e meu companheiro com minha filha, começaram a plantar novamente eu não tinha força para ajudá-los pois ainda estava doente , depois de 3 tentativas frustrada de plantio sem sorte alguma conseguimos tira nossa primeira produção , de legumes foi só comemoração , e desde então não pararam, eu tive um último AVC esse ano em janeiro , paralisação total do corpo achei que seria o fim, mais Deus é maravilhoso, vendo a luta da minha família vi que era necessário eu tomar uma atitude e sair daquela bolha aonde eu me enfiei.

  

Vamos falar de coisas boas, final de ano passado é começo desse ano foi um ano de vitória para nossa família , voltamos para o coletivo de coordenação do assentamento, conhecemos pessoas incríveis com a mesma expectativa de vida, começamos a sonhar novamente. No mês de setembro no mesmo dia 7 deste ano resolvi sair de dentro de casa e começa a plantar fazer aquilo que mais amo fazer, e deu super certo eu junto com meu companheiro e minha filha trabalhamos juntos no lote novamente, o medo vem, mais a vontade de vencer é maior.

    

 Nesse espaço de tempo só coisas boas acontecendo. Participamos do primeiro curso  CSA do vale no @sítio ecológico, participamos do primeiro encontro de coletores de sementes do Vale do Paraíba na APTA , no curso de consórcio Horta e agro ecologia com Namastê no assentamento Egídio Brunetto, vários tão importante quanto esses, por último mutirão de sombreamento em café no Sítio Beija flora , estamos fazendo parte da associação da Rede. (Nossa preciso enviar documentos rsrs) conversando com Valdizão e carme meus compadres padrinhos da minha filha, Thiago e Mariana, Valdizinho e outros companheiros que apoiam muito minha família, resolvemos fazer parte deste mundo que é o mais lindo de todos , consórcia agro floresta com SAF com Hortaliças, tipo vida amor e esperança.

 

No dia 21 de setembro 2022 conseguimos nossa certificação orgânica. 

Nosso sonho de ver novamente nosso sitio reflorestado vais se realizar no dia 19 com ajuda da Rede e do mutirão, e para o ano que vem assinar novos contratos, pois perdemos todos por conta do incêndio. 

Fazer parte dos coletores de sementes e os agrofloresteiros do Vale do Paraíba quem sabe do mundo. 

Família Sítio Minha Estância agradece o acolhimento espero poder contribuir com pouco que somos e temos muito que aprender juntos. 

Não podemos permitir que uma árvore caia ao chão sem antes uma semente ser plantada. 🌳🌱

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13 de out. de 2022

Relato: II Oficina de Planejamento Participativo em Sistemas Agroflorestais Agroecológicos, com Namastê Messerschmidt, no Assentamento Egídio Brunetto, Lagoinha – SP

Por: 
José  Miguel  Garrido Quevedo, Perito Federal Agrário,  INCRA-SP; Thiago Monaco,  Engenheiro Agrônomo, Agroflorestador, Instituto Auá; Thiago Ribeiro Coutinho, Biólogo,  Agroflorestor,  Coletores de Sementes do Vale do Paraíba, Projeto de Assentamento Egídio Brunetto

É primavera, mais uma vez tivemos a oportunidade, de assim como ocorre na natureza, nos renovar e reunidos, nestes dias  24 e 25 de setembro, acolhidos pelos companheiros do Assentamento Egídio Brunetto, vivenciar o segundo módulo de formação em Sistemas Agroflorestais, e aprofundar nesta ciência da vida, com o querido instrutor Namastê.

Este módulo teve como objetivo implantar um Sistema Agroflorestal, renovando a Horta Coletiva do Projeto de Assentamento Egídio Brunetto e se propôs ter mais atividades práticas junto da discussão teórica dos SAFs. Usando a metodologia de discussão ao pé da planta e tempo de execução de tarefas práticas para implantação e renovação daquele SAF. Iniciamos com o aprofundamento de dois conceitos dos Sistemas Agroflorestais, o conceito de Sucessão e o conceito da Estratificação.

Num solo exposto sem vegetação nascem as espécies colonizadoras, tratadas como plantas de retomada. As plantas de retomada tem vida muito curta e têm a função de servir como uma espécie de placenta protetora, as árvores ainda são como bebês, necessitando estas plantas criadoras. Sob sua proteção, as plantas pioneiras crescem mais depressa que as secundárias e estas que as climácicas, por isto fazem parte de um mesmo “Sistema Ecológico”. A placenta vai criando as condições que as pioneiras precisam, as pioneiras para as secundárias e estas para as climácicas, que são as que crescem mais lentamente e tem vida mais longa. Em cada caminho da sucessão natural a floresta como um todo também cresce do estágio inicial para os estágios médios e depois para o estágio mais avançado chamado de clímax.

Na dinâmica das clareiras das florestas, em geral existe uma grande quantidade de sementes no solo, pois a estratégia das plantas é sempre produzir e espalhar uma imensa quantidade de sementes, dos mais variados estágios sucessionais, que germinarão quando houver oportunidade. Assim, quando uma clareira se forma, seu solo traz a herança da diversidade de árvores que ali estavam antes. As plantas de retomada, pioneiras, secundárias e clímax tendem a crescer juntas, embora em velocidades diferentes, por isto fazem parte de um mesmo “Sistema Ecológico”.

Ocorre, porém, que acoplado a este processo um outro caminha. Trata-se da Sucessão dos Sistemas Ecológicos. Ao final de cada ciclo, toda a vegetação é sucedida por outra, mais especializada em atuar no degrau mais alto de fertilidade gerado pela vegetação do degrau anterior. Em cada novo degrau de fertilidade, ocorre novamente a sucessão da placenta de espécies de retomada (colonizadora) pelas árvores pioneiras, destas pelas secundárias e destas pelas climácicas, da maneira como foi descrito nos parágrafos anteriores. Por isto, podemos descrever a sucessão como um caminho em espiral que passa várias vezes pelos mesmos lugares, porém em diferentes níveis de fertilidade.¹

¹- O Referencial Teórico deste relato foi compilado do livro “Agroflorestando o mundo do facão ao trator”.

A estratificação é um processo que ocorre ao mesmo tempo que a sucessão, no qual os organismos florestais se estruturam em andares, em cada fase e em cada degrau da sucessão natural, para em conjunto captar a energia do sol com maior perfeição.

O estrato de uma planta é o andar que sua copa ocupa no organismo florestal no qual se origina, quando o organismo florestal atinge a fase da sucessão vegetal a que ela pertence. Por exemplo, se uma árvore é do estrato alto e do estágio clímax, ela ocupará, no organismo florestal da qual se origina, o andar alto, quando a sucessão da floresta atingir o estágio clímax. Se a árvore for uma secundária do estrato médio, ela ocupará o andar médio, quando o organismo florestal atingir o estágio secundário da sucessão natural.

Pudemos compreender mais o exemplo de consórcios com base na sucessão e estratificação:

Estrato

Ocupação

Grupos Sucessionais

Até 45 dias

Até 90 dias

Até120 dias

Até 6meses

até12meses

até18meses

Emergente

20 %

Crotalária juncea

Girassol

Milho

Quiabo

Mamona

 

MilhoVerde

Gergelim

Mucuna

Alto

40 %

 

Couve-flor

Tomate

Berinjela

Mandioca

Guandu

Brócolis

Ervilhatorta

Manjericão

Guandu

Fedegoso

Milheto

Cebolinha

Pimenta-

Yacon

Algodão

Sorgo

Repolho

Cambuci

Manjericão

 

Feijão-de-

corda

Trigo

Pimenta- Dedo-de- Moça

Alfavaca

Vagem-

trepadeira

Pimentão

Vinagreira

Jiló

Couve

Médio

60 %

Alface crespa

Alface Americana

Batata

Cebola

Inhame

 

Alface roxa

Arroz 3meses

Almeirão roxo

Pimenta- cambuci

Pimenta- malagueta

Rabanete

Almeirão

Linhaça

Mangarito

Morango

Rúcula

Nabo forrageiro

Alhoporró

Arroz

Mandioquinha salça

Coentro

Acelga

Cenoura

Fava

Alho

Nabo

Beterraba

Helicônia

Salsão

Bardana

Arroz

Mangarito

Abobrinha

Baixo

80 %

 

Feijão de porco

Feijão de porco

Amendoim

Gengibre

Abacaxi

Agrião de água

Melancia

Salsinha

Nirá

Açafrão

Feijão carioca

Batata-doce

Hortelã

Orégano

Pepino

Melão

Abóbora

Poejo

Maxixe

Espinafre

Araruta

Vagem- rasteira

Soja

Manjerona

Feijão- Adzuki

Lírio do brejo

Taioba

Na Tabela acima, retirada da página 141 da mesma referência¹, acima utilizada, a primeira coluna indica o estrato que a espécie pertence. Na segunda coluna a taxa de ocupação no solo do grupo escolhido. E nas demais colunas indicam as possibilidades de espécies em função de seu tempo de existência na horta. Sendo  as sementes ou mudas plantadas ao mesmo tempo no canteiro. Assim por exemplo, Ocupando 20% do canteiro escolheu-se como emergente a Crotalária juncea que será colhida aos 45 dias, o milho verde que será colhido aos 90 dias e o gergelim que será colhido aos 120 dias.

Do estrato Alto escolheu-se couve-flor e brócolis que ocuparão 40 % do canteiro e serão colhidos aos 90 dias e berinjela que serão colhidos aos 6 meses.

Do estrato médio neste canteiro ocupando 60% de área escolheu-se a alface crespa, alface roxa e rabanete que serão colhidos até os 45 dias de plantio.

Do estrato baixo neste canteiro ocupando 80% de área escolheu-se a salsinha que será colhida até os 6 meses de plantio.

A escolha das espécies nos Grupos Sucessionais se dá com o “e”, uma espécie e outra. O mesmo ocorrendo entre os estratos:.uma espécie do estrato emergente, outra do estrato alto, outra do estrato médio e outra do estrato baixo. Já dentro de cada período de colheita se dá com o “ou”. Uma espécie ou outra.

Em relação a área da Horta Coletiva do Projeto de Assentamento Egídio Brunetto 1 os trabalhos iniciaram com a roçada da área com roçadeira costal, posteriormente foi preparado os canteiros com tratorito.

No nosso dia de campo, iniciamos a renovação da Horta Coletiva pelo desbaste das bananeiras. Os pés de banana tiveram um manejo equivocado quando foram queimados depois de uma geada de junho. Os ponteiros foram queimados pela geada e a meia altura do pseudocaule foram desbastados. Como o meristema da planta se encontra na altura do rizoma não morreram, o que permitiu o lançamento de novo broto, o que ocasionou um enfraquecimento da moita como um todo. Era necessário uma renovação total da touceira, já que  toda a família encontra-se raquítica. 

Para tanto, desponta-se o ponteiro com um corte certeiro do facão a meia altura do pé e depois corta-se o pseudocaule restante na base da planta com o auxílio do facão. Com uma das mãos enfia-se o facão na base e com a outra mão faz-se uma alavanca, derrubando todo o pé. Nesta base do rizoma com o auxílio do facão realiza-se uma cunha no rizoma, formando um copinho que acumula a seiva da planta. Esta operação é importante para acumular seiva impedindo a penetração do besouro causador do Moleque da Bananeira, principal praga que acomete a bananeira.

Com o pseudocaule no chão, mede-se a largura do canteiro e com o facão no sentido base para ponteiro, corta-se o pseudocaule ao meio, no formato de telha. Estes pseudocaules cortados são colocados lado a lado no canteiro, sendo levemente enterrados, a fim de que quando ressequem não se desprendam e atrapalhem o crescimento das hortaliças, deixando-se apenas a linha que vai ser plantada as mudinhas. Sendo rico em um gel, funciona como fertirrigação das mudas plantadas. Por fim os canteiros foram cobertos com capim napier triturado. 

Iniciamos com o consórcio das mudas de hortaliças. Tínhamos disponíveis couve brócolis e alface. A espécie de brócolis pertence ao estrato alto, sendo colhidos até 90 dias após o plantio, devendo ocupar 40 % do canteiro. Já a espécie de alface pertence ao estrato médio, devendo ser colhido até os 45 dias depois de plantado, devendo ocupar 60 % do canteiro. Sendo plantados dois canteiros da seguinte forma:

P  A   P B P A  P B             P – Pseudocaule da banana depositado longitudinalmente;

P  A   P A P A  P A              A – mudas de Alface

P  A   P B P A  P B             B – mudas de Brócolis.

Nos demais canteiros, foi feito o seguinte consórcio de espécies: No primeiro canteiro foi plantado araruta, milho e feijão preto. Nos canteiros do meio: açafrão, quiabo e feijão preto e nos canteiros laterais: araruta, milho e feijão preto.   Nestas linhas utilizou-se uma espécie emergente, milho ou quiabo,  e espécies do estrato baixo, o feijão preto, a araruta ou o açafrão. Milho é da variedade Avaré da CATI. Ainda os canteiros foram complementados na extremidade lateral com feijão preto no espaçamento 5 centímetros da extremidade do canteiro com 20 centímetros de largura por 20 centímetros entre as plantas.

Nas linhas das bananeiras que foram desbastadas, deixando algumas mudas chifre para renovar a touceira. Foram introduzidas mudas frutíferas e nativas da seguinte forma:

Linhas de árvores-

L1 – Citrus a cada 3m, com jequitibá 1m ao lado de cada citrus, intercalando um espécie do estrato médio, o citrus, com uma espécie do estrato emergente, o jatobá.

L2 – Feijoa e aroeira pimenteira – mesma estratégia – feijoa a cada 3m e aroeira a 1m de cada feijoa. Nesta linha intercalamos a feijoa do estrato baixo com a aroeira pimenteira do estrato alto.

L3 – Cambuci a cada 3m, com jequitibá 1m ao lado de cada Cambuci. Aqui novamente intercalamos uma espécie do estrato médio, o cambuci com uma espécie de estrato emergente, o jequitibá.

L4 – Novamente, feijoa com aroeira, no mesmo espaçamento da L2, repetindo estrato baixo com estrato alto.

Um aprendizado importante foi o procedimento de retirada do solo do berço, a parte de cima é reservada e esta parte mais rica em húmus é que utilizada ao redor da muda, no plantio de mudas por saquinho: tem-se o cuidado da base do caule ter que ficar no nível do terreno e o fundo do saquinho ser retirado com o facão a fim de retirar as raízes tortas e enoveladas e a fim de não desmoronar o torrão foi puxado com cuidado o saquinho plástico por cima da muda. Por fim, com os dedos é apertado o solo ao redor da muda para expulsar possíveis bolsões de ar ao redor das raízes.

 

Crédito das fotos: Liza Yázigi, Pedro Samora e Paola Samora.

Edição apra o blog: Antonio Devide