Data: 06/10/2022
Local: Sítio Beija Flora, Assentamento Olga Benário (MST), Tremembé/SPObjetivos
Os objetivos do mutirão foram promover o sombreamento de um cafezal arábica novo, recuperar a fertilidade do solo dando ênfase na reciclagem de minerais por meio do manejo da matéria orgânica que promove a cobertura viva e a atividade biológica.
Atividade preliminar
Valdir Martins fez uma explicação sobre a estratificação das espécies no SAF, a posição que cada uma ocupa e a importância desse trabalho na conversão agroflorestal do cafeeiro, que na sua origem é uma planta de estrato médio e por isso pode ser cultivado a meia sombra.
Explicação de como realizar o coroamento do cafeeiro evitando o corte das raízes superficiais para em seguida receber a matéria orgânica da capina e poda de margaridão e cana.
Conversão agroflorestal
Linhas do cafeeiro
O cafeeiro arábica estava plantado no espaçamento 3,0m entre linhas e 1,0m entre plantas e deve ocupar o estrato médio do SAF. Nas linhas de café foram plantadas estacas de mandioca inclinadas a 45 graus com a base no sentido oposto das plantas de café. As estacas foram preparadas com serrote para ficarem com o corte reto, assim favorecendo o maior enraizamento em todo o perímetro da maniva e maior resistência ao despinicamento natural na colheita. A função da mandioca crescendo perto do café também ativa a micorrização, beneficiando o cafeeiro que é uma planta dependente por micorrizas.
Entrelinhas
Nas entrelinhas foram plantadas frutas nativas de estrato médio
e arbóreas de estrato alto e espécies emergentes, com múltiplas finalidades: poda futura (plantas de serviço) e madeira; espécies para adubação verde, tais como feijão de porco, tefrósia e guandu, além de muvuca de sementes.
Entrelinhas alternadas (sim e não) foram preenchidas com estacas de cana na posição horizontal a cada 3m e estacas de ginseng e margaridão alternadas entre si a cada 1m. A cana tem dupla finalidade: produzir cana para garapa e melaço, ou juntamente com ginseng e margaridão, fornecer adubo verde.
Plantio de muda frutífera típica de estrato médio nas entrelinhas do cafeeiro.
As plantas de adubação verde (margaridão e tefrósia) e as
mandiocas juvenis que já estavam plantas na área receberam poda apical (rebaixamento)
para ‘forçar’ a rebrota e passar um sinal de renovação no sistema.
Avaliação da implantação
Muvuca de sementes
A muvuca de sementes é uma tecnologia que veio para ficar.
Vem sendo utilizada para resolver diversos gargalos do manejo agroflorestal e
restauração florestal. O trabalho dos Coletores de Sementes do Vale do Paraíba vem possibilitando, com o apoio de organizações do terceiro setor, com destaque para o Instituto Socioambiental, TNC, iniciativa Caminhos da Semente e Agroícone, a organização para a coleta, pesquisa e comercialização de sementes, gerando renda e inserindo os campesinos na restauração florestal.
O uso visa reduzir os custos, uma vez que a produção e o
preço de mudas aptas ao plantio são relativamente mais elevados, é mais fácil transportar
a muvuca para locais de difícil acesso, permite combinações funcionais e
seleção de plantas mais vigorosas.
Dentre as espécies utilizadas na muvuca destacam-se os
adubos verdes: feijão de porco, crotalária, guandu, tefrósia, flemíngia,
mamona, assa-peixe.
Palmáceas: juçara e jerivá.
Arbóreas: eritrina mulungu, amendoim do campo, condessa, noz
moscada, aldrago, jatobá, araribá e outras.
Orientação para o uso de ferramentas e equipamentos
O uso correto de ferramentas e o preparo de estacas de
mandioca (manivas) foram temas abordados por Valdir Martins.
- Facão - o corte de estacas e o manejo do material orgânico na poda deve ter o facão direcionado no sentido de dentro para fora. Ou seja, contrário ao sentido do corpo do operador para reduzir o risco de acidentes com o operador
- Serrote – o uso de serrote deve ser preferido nas operações de poda e condução das árvores e arbustos quando a resistência do material orgânico, de acordo com a idade e espécie, torna o serviço com facão penoso (alto impacto no operador). Um serrote de boa qualidade corta na ida e na volta e não causa lascas no material.
- No preparo de rama de mandioca o corte reto (transversal ao comprimento) do serrote, serra circular ou motosserra garante um melhor enraizamento em todo o diâmetro da estaca, o que também reduz o desprendimento das raízes no arranquio das plantas do solo na colheita.
- Tesoura de poda – o uso de tesoura de poda deve ser utilizado sempre que o material a ser podado apresente diâmetro pequeno e pouco lignificado.
- Maquinário - tratorito, motocoveador, motosserra, motoppoda e roçadeira são equipamentos que exigem um preparo físico do operador. Valdir ressaltou que o movimento repetitivo, de alto impacto, tem causado lesões em diversos novos agroflorestores, razão pela qual o trabalho deve descontínuo e alternado com outras atividades a fim de evitar lesões nos ligamentos e nervos do operador por esforço repetitivo.
- Modelos de brocas para coveador – para covear o solo com máquinas existem diversos modelos de brocas. Foram avaliados dois modelos: o helicoidal ou fuso (nas mãos do Valdir) que retira a terra de dentro da cova e pode provocar o espelhamento do solo mais argiloso, dificultando o enraizamento; e o revolvedor ou mexedor (deitado no lado direito) que perfura revolvendo mas que não retira a terra de dentro da cova.
- Corte de raízes (mudas de sacolas) – as mudas produzidas em sacolas geralmente passam do ponto, provocando o enovelamento das raízes. Para forçar a formação de novas raízes é necessário o corte do fundo da sacolinha com cerca de 2cm acima da terra removendo as raízes enoveladas. O corte pode ser feito com facão e o toalete das raízes, com tesoura de poda.
Viveiro local
A produção de mudas é uma necessidade dos agroflorestores e agroflorestoras. O casal Valdir e Carmem Faria são coletores de sementes há mais de 10 anos. O viveiro possui estrutura de baixo custo, as mudas são produzidas em sacolinhas e as sementes coletadas das áreas de reserva legal dos assentamentos de Tremembé e na região do Vale do Paraíba e também provém da troca de sementes.
Instrutor: Valdir Martins – agroflorestor do Sítio Ecológico
de São José dos Campos.
Assembleia da Rede Agroflorestal do Vale do Paraíba
Objetivos:
Mariana Pimentel e sua filha Copaíba, símbolo do engajamento presente e futuro.
Relator: Antonio Devide, Valdir Nascimento e Valdir Martins
Imagens – Marcielle Monize, Thales Guedes Ferreira, Carmem Faria