13 de out. de 2022

Relato: II Oficina de Planejamento Participativo em Sistemas Agroflorestais Agroecológicos, com Namastê Messerschmidt, no Assentamento Egídio Brunetto, Lagoinha – SP

Por: 
José  Miguel  Garrido Quevedo, Perito Federal Agrário,  INCRA-SP; Thiago Monaco,  Engenheiro Agrônomo, Agroflorestador, Instituto Auá; Thiago Ribeiro Coutinho, Biólogo,  Agroflorestor,  Coletores de Sementes do Vale do Paraíba, Projeto de Assentamento Egídio Brunetto

É primavera, mais uma vez tivemos a oportunidade, de assim como ocorre na natureza, nos renovar e reunidos, nestes dias  24 e 25 de setembro, acolhidos pelos companheiros do Assentamento Egídio Brunetto, vivenciar o segundo módulo de formação em Sistemas Agroflorestais, e aprofundar nesta ciência da vida, com o querido instrutor Namastê.

Este módulo teve como objetivo implantar um Sistema Agroflorestal, renovando a Horta Coletiva do Projeto de Assentamento Egídio Brunetto e se propôs ter mais atividades práticas junto da discussão teórica dos SAFs. Usando a metodologia de discussão ao pé da planta e tempo de execução de tarefas práticas para implantação e renovação daquele SAF. Iniciamos com o aprofundamento de dois conceitos dos Sistemas Agroflorestais, o conceito de Sucessão e o conceito da Estratificação.

Num solo exposto sem vegetação nascem as espécies colonizadoras, tratadas como plantas de retomada. As plantas de retomada tem vida muito curta e têm a função de servir como uma espécie de placenta protetora, as árvores ainda são como bebês, necessitando estas plantas criadoras. Sob sua proteção, as plantas pioneiras crescem mais depressa que as secundárias e estas que as climácicas, por isto fazem parte de um mesmo “Sistema Ecológico”. A placenta vai criando as condições que as pioneiras precisam, as pioneiras para as secundárias e estas para as climácicas, que são as que crescem mais lentamente e tem vida mais longa. Em cada caminho da sucessão natural a floresta como um todo também cresce do estágio inicial para os estágios médios e depois para o estágio mais avançado chamado de clímax.

Na dinâmica das clareiras das florestas, em geral existe uma grande quantidade de sementes no solo, pois a estratégia das plantas é sempre produzir e espalhar uma imensa quantidade de sementes, dos mais variados estágios sucessionais, que germinarão quando houver oportunidade. Assim, quando uma clareira se forma, seu solo traz a herança da diversidade de árvores que ali estavam antes. As plantas de retomada, pioneiras, secundárias e clímax tendem a crescer juntas, embora em velocidades diferentes, por isto fazem parte de um mesmo “Sistema Ecológico”.

Ocorre, porém, que acoplado a este processo um outro caminha. Trata-se da Sucessão dos Sistemas Ecológicos. Ao final de cada ciclo, toda a vegetação é sucedida por outra, mais especializada em atuar no degrau mais alto de fertilidade gerado pela vegetação do degrau anterior. Em cada novo degrau de fertilidade, ocorre novamente a sucessão da placenta de espécies de retomada (colonizadora) pelas árvores pioneiras, destas pelas secundárias e destas pelas climácicas, da maneira como foi descrito nos parágrafos anteriores. Por isto, podemos descrever a sucessão como um caminho em espiral que passa várias vezes pelos mesmos lugares, porém em diferentes níveis de fertilidade.¹

¹- O Referencial Teórico deste relato foi compilado do livro “Agroflorestando o mundo do facão ao trator”.

A estratificação é um processo que ocorre ao mesmo tempo que a sucessão, no qual os organismos florestais se estruturam em andares, em cada fase e em cada degrau da sucessão natural, para em conjunto captar a energia do sol com maior perfeição.

O estrato de uma planta é o andar que sua copa ocupa no organismo florestal no qual se origina, quando o organismo florestal atinge a fase da sucessão vegetal a que ela pertence. Por exemplo, se uma árvore é do estrato alto e do estágio clímax, ela ocupará, no organismo florestal da qual se origina, o andar alto, quando a sucessão da floresta atingir o estágio clímax. Se a árvore for uma secundária do estrato médio, ela ocupará o andar médio, quando o organismo florestal atingir o estágio secundário da sucessão natural.

Pudemos compreender mais o exemplo de consórcios com base na sucessão e estratificação:

Estrato

Ocupação

Grupos Sucessionais

Até 45 dias

Até 90 dias

Até120 dias

Até 6meses

até12meses

até18meses

Emergente

20 %

Crotalária juncea

Girassol

Milho

Quiabo

Mamona

 

MilhoVerde

Gergelim

Mucuna

Alto

40 %

 

Couve-flor

Tomate

Berinjela

Mandioca

Guandu

Brócolis

Ervilhatorta

Manjericão

Guandu

Fedegoso

Milheto

Cebolinha

Pimenta-

Yacon

Algodão

Sorgo

Repolho

Cambuci

Manjericão

 

Feijão-de-

corda

Trigo

Pimenta- Dedo-de- Moça

Alfavaca

Vagem-

trepadeira

Pimentão

Vinagreira

Jiló

Couve

Médio

60 %

Alface crespa

Alface Americana

Batata

Cebola

Inhame

 

Alface roxa

Arroz 3meses

Almeirão roxo

Pimenta- cambuci

Pimenta- malagueta

Rabanete

Almeirão

Linhaça

Mangarito

Morango

Rúcula

Nabo forrageiro

Alhoporró

Arroz

Mandioquinha salça

Coentro

Acelga

Cenoura

Fava

Alho

Nabo

Beterraba

Helicônia

Salsão

Bardana

Arroz

Mangarito

Abobrinha

Baixo

80 %

 

Feijão de porco

Feijão de porco

Amendoim

Gengibre

Abacaxi

Agrião de água

Melancia

Salsinha

Nirá

Açafrão

Feijão carioca

Batata-doce

Hortelã

Orégano

Pepino

Melão

Abóbora

Poejo

Maxixe

Espinafre

Araruta

Vagem- rasteira

Soja

Manjerona

Feijão- Adzuki

Lírio do brejo

Taioba

Na Tabela acima, retirada da página 141 da mesma referência¹, acima utilizada, a primeira coluna indica o estrato que a espécie pertence. Na segunda coluna a taxa de ocupação no solo do grupo escolhido. E nas demais colunas indicam as possibilidades de espécies em função de seu tempo de existência na horta. Sendo  as sementes ou mudas plantadas ao mesmo tempo no canteiro. Assim por exemplo, Ocupando 20% do canteiro escolheu-se como emergente a Crotalária juncea que será colhida aos 45 dias, o milho verde que será colhido aos 90 dias e o gergelim que será colhido aos 120 dias.

Do estrato Alto escolheu-se couve-flor e brócolis que ocuparão 40 % do canteiro e serão colhidos aos 90 dias e berinjela que serão colhidos aos 6 meses.

Do estrato médio neste canteiro ocupando 60% de área escolheu-se a alface crespa, alface roxa e rabanete que serão colhidos até os 45 dias de plantio.

Do estrato baixo neste canteiro ocupando 80% de área escolheu-se a salsinha que será colhida até os 6 meses de plantio.

A escolha das espécies nos Grupos Sucessionais se dá com o “e”, uma espécie e outra. O mesmo ocorrendo entre os estratos:.uma espécie do estrato emergente, outra do estrato alto, outra do estrato médio e outra do estrato baixo. Já dentro de cada período de colheita se dá com o “ou”. Uma espécie ou outra.

Em relação a área da Horta Coletiva do Projeto de Assentamento Egídio Brunetto 1 os trabalhos iniciaram com a roçada da área com roçadeira costal, posteriormente foi preparado os canteiros com tratorito.

No nosso dia de campo, iniciamos a renovação da Horta Coletiva pelo desbaste das bananeiras. Os pés de banana tiveram um manejo equivocado quando foram queimados depois de uma geada de junho. Os ponteiros foram queimados pela geada e a meia altura do pseudocaule foram desbastados. Como o meristema da planta se encontra na altura do rizoma não morreram, o que permitiu o lançamento de novo broto, o que ocasionou um enfraquecimento da moita como um todo. Era necessário uma renovação total da touceira, já que  toda a família encontra-se raquítica. 

Para tanto, desponta-se o ponteiro com um corte certeiro do facão a meia altura do pé e depois corta-se o pseudocaule restante na base da planta com o auxílio do facão. Com uma das mãos enfia-se o facão na base e com a outra mão faz-se uma alavanca, derrubando todo o pé. Nesta base do rizoma com o auxílio do facão realiza-se uma cunha no rizoma, formando um copinho que acumula a seiva da planta. Esta operação é importante para acumular seiva impedindo a penetração do besouro causador do Moleque da Bananeira, principal praga que acomete a bananeira.

Com o pseudocaule no chão, mede-se a largura do canteiro e com o facão no sentido base para ponteiro, corta-se o pseudocaule ao meio, no formato de telha. Estes pseudocaules cortados são colocados lado a lado no canteiro, sendo levemente enterrados, a fim de que quando ressequem não se desprendam e atrapalhem o crescimento das hortaliças, deixando-se apenas a linha que vai ser plantada as mudinhas. Sendo rico em um gel, funciona como fertirrigação das mudas plantadas. Por fim os canteiros foram cobertos com capim napier triturado. 

Iniciamos com o consórcio das mudas de hortaliças. Tínhamos disponíveis couve brócolis e alface. A espécie de brócolis pertence ao estrato alto, sendo colhidos até 90 dias após o plantio, devendo ocupar 40 % do canteiro. Já a espécie de alface pertence ao estrato médio, devendo ser colhido até os 45 dias depois de plantado, devendo ocupar 60 % do canteiro. Sendo plantados dois canteiros da seguinte forma:

P  A   P B P A  P B             P – Pseudocaule da banana depositado longitudinalmente;

P  A   P A P A  P A              A – mudas de Alface

P  A   P B P A  P B             B – mudas de Brócolis.

Nos demais canteiros, foi feito o seguinte consórcio de espécies: No primeiro canteiro foi plantado araruta, milho e feijão preto. Nos canteiros do meio: açafrão, quiabo e feijão preto e nos canteiros laterais: araruta, milho e feijão preto.   Nestas linhas utilizou-se uma espécie emergente, milho ou quiabo,  e espécies do estrato baixo, o feijão preto, a araruta ou o açafrão. Milho é da variedade Avaré da CATI. Ainda os canteiros foram complementados na extremidade lateral com feijão preto no espaçamento 5 centímetros da extremidade do canteiro com 20 centímetros de largura por 20 centímetros entre as plantas.

Nas linhas das bananeiras que foram desbastadas, deixando algumas mudas chifre para renovar a touceira. Foram introduzidas mudas frutíferas e nativas da seguinte forma:

Linhas de árvores-

L1 – Citrus a cada 3m, com jequitibá 1m ao lado de cada citrus, intercalando um espécie do estrato médio, o citrus, com uma espécie do estrato emergente, o jatobá.

L2 – Feijoa e aroeira pimenteira – mesma estratégia – feijoa a cada 3m e aroeira a 1m de cada feijoa. Nesta linha intercalamos a feijoa do estrato baixo com a aroeira pimenteira do estrato alto.

L3 – Cambuci a cada 3m, com jequitibá 1m ao lado de cada Cambuci. Aqui novamente intercalamos uma espécie do estrato médio, o cambuci com uma espécie de estrato emergente, o jequitibá.

L4 – Novamente, feijoa com aroeira, no mesmo espaçamento da L2, repetindo estrato baixo com estrato alto.

Um aprendizado importante foi o procedimento de retirada do solo do berço, a parte de cima é reservada e esta parte mais rica em húmus é que utilizada ao redor da muda, no plantio de mudas por saquinho: tem-se o cuidado da base do caule ter que ficar no nível do terreno e o fundo do saquinho ser retirado com o facão a fim de retirar as raízes tortas e enoveladas e a fim de não desmoronar o torrão foi puxado com cuidado o saquinho plástico por cima da muda. Por fim, com os dedos é apertado o solo ao redor da muda para expulsar possíveis bolsões de ar ao redor das raízes.

 

Crédito das fotos: Liza Yázigi, Pedro Samora e Paola Samora.

Edição apra o blog: Antonio Devide

2 comentários:

  1. Muito legal ter participado desse dia e desse curso, parabéns a galera que organizou.

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