É primavera, mais uma vez
tivemos a oportunidade, de assim como ocorre na natureza, nos renovar e
reunidos, nestes dias 24 e 25 de
setembro, acolhidos pelos companheiros do Assentamento Egídio Brunetto,
vivenciar o segundo módulo de formação em Sistemas Agroflorestais, e aprofundar
nesta ciência da vida, com o querido instrutor Namastê.
Num solo exposto sem vegetação nascem as espécies colonizadoras, tratadas como plantas de retomada. As plantas de retomada tem vida muito curta e têm a função de servir como uma espécie de placenta protetora, as árvores ainda são como bebês, necessitando estas plantas criadoras. Sob sua proteção, as plantas pioneiras crescem mais depressa que as secundárias e estas que as climácicas, por isto fazem parte de um mesmo “Sistema Ecológico”. A placenta vai criando as condições que as pioneiras precisam, as pioneiras para as secundárias e estas para as climácicas, que são as que crescem mais lentamente e tem vida mais longa. Em cada caminho da sucessão natural a floresta como um todo também cresce do estágio inicial para os estágios médios e depois para o estágio mais avançado chamado de clímax.
Na dinâmica das clareiras
das florestas, em geral existe uma grande quantidade de sementes no solo, pois
a estratégia das plantas é sempre produzir e espalhar uma imensa quantidade de
sementes, dos mais variados estágios sucessionais, que germinarão quando houver
oportunidade. Assim, quando uma clareira se forma, seu solo traz a herança da
diversidade de árvores que ali estavam antes. As plantas de retomada,
pioneiras, secundárias e clímax tendem a crescer juntas, embora em velocidades
diferentes, por isto fazem parte de um mesmo “Sistema Ecológico”.
Ocorre, porém, que acoplado a este processo um outro caminha. Trata-se da Sucessão dos Sistemas Ecológicos. Ao final de cada ciclo, toda a vegetação é sucedida por outra, mais especializada em atuar no degrau mais alto de fertilidade gerado pela vegetação do degrau anterior. Em cada novo degrau de fertilidade, ocorre novamente a sucessão da placenta de espécies de retomada (colonizadora) pelas árvores pioneiras, destas pelas secundárias e destas pelas climácicas, da maneira como foi descrito nos parágrafos anteriores. Por isto, podemos descrever a sucessão como um caminho em espiral que passa várias vezes pelos mesmos lugares, porém em diferentes níveis de fertilidade.¹
¹- O Referencial Teórico deste relato foi compilado do livro “Agroflorestando o mundo do facão ao trator”.
A estratificação é um processo que ocorre ao mesmo tempo que a sucessão, no qual os organismos florestais se estruturam em andares, em cada fase e em cada degrau da sucessão natural, para em conjunto captar a energia do sol com maior perfeição.
O estrato de uma planta é
o andar que sua copa ocupa no organismo florestal no qual se origina, quando o
organismo florestal atinge a fase da sucessão vegetal a que ela pertence. Por
exemplo, se uma árvore é do estrato alto e do estágio clímax, ela ocupará, no
organismo florestal da qual se origina, o andar alto, quando a sucessão da
floresta atingir o estágio clímax. Se a árvore for uma secundária do estrato médio,
ela ocupará o andar médio, quando o organismo florestal atingir o estágio
secundário da sucessão natural.
Pudemos compreender mais o
exemplo de consórcios com base na sucessão e estratificação:
Estrato |
Ocupação |
Grupos
Sucessionais |
|||||
Até 45 dias |
Até 90 dias |
Até120 dias |
Até 6meses |
até12meses |
até18meses |
||
Emergente |
20 % |
Crotalária juncea |
Girassol |
Milho |
Quiabo |
Mamona |
|
MilhoVerde |
Gergelim |
Mucuna |
|||||
Alto |
40 % |
|
Couve-flor |
Tomate |
Berinjela |
Mandioca |
Guandu |
Brócolis |
Ervilhatorta |
Manjericão |
Guandu |
Fedegoso |
|||
Milheto |
Cebolinha |
Pimenta- |
Yacon |
Algodão |
|||
Sorgo |
Repolho |
Cambuci |
Manjericão |
|
|||
Feijão-de- corda |
Trigo |
Pimenta- Dedo-de- Moça |
Alfavaca |
||||
Vagem- trepadeira |
Pimentão |
||||||
Vinagreira |
|||||||
Jiló |
|||||||
Couve |
|||||||
Médio |
60 % |
Alface crespa |
Alface Americana |
Batata |
Cebola |
Inhame |
|
Alface roxa |
Arroz 3meses |
Almeirão roxo |
Pimenta- cambuci |
Pimenta- malagueta |
|||
Rabanete |
Almeirão |
Linhaça |
Mangarito |
Morango |
|||
Rúcula |
Nabo forrageiro |
Alhoporró |
Arroz |
Mandioquinha salça |
|||
Coentro |
Acelga |
Cenoura |
Fava |
Alho |
|||
Nabo |
Beterraba |
Helicônia |
|||||
Salsão |
Bardana |
||||||
Arroz |
Mangarito |
||||||
Abobrinha |
|||||||
Baixo |
80 % |
|
Feijão de porco |
Feijão de porco |
Amendoim |
Gengibre |
Abacaxi |
Agrião de água |
Melancia |
Salsinha |
Nirá |
Açafrão |
|||
Feijão carioca |
Batata-doce |
Hortelã |
Orégano |
||||
Pepino |
Melão |
Abóbora |
Poejo |
||||
Maxixe |
Espinafre |
Araruta |
|||||
Vagem- rasteira |
Soja |
Manjerona |
|||||
Feijão- Adzuki |
Lírio do brejo |
||||||
Taioba |
Na
Tabela acima, retirada da página 141 da mesma referência¹, acima utilizada, a
primeira coluna indica o estrato que a espécie pertence. Na segunda coluna a
taxa de ocupação no solo do grupo escolhido. E nas demais colunas indicam as
possibilidades de espécies em função de seu tempo de existência na horta.
Sendo as sementes ou mudas plantadas ao
mesmo tempo no canteiro. Assim por exemplo, Ocupando 20% do canteiro
escolheu-se como emergente a Crotalária juncea que será colhida aos 45 dias, o
milho verde que será colhido aos 90 dias e o gergelim que será colhido
aos 120 dias.
Do
estrato Alto escolheu-se couve-flor e brócolis que ocuparão 40 % do canteiro e
serão colhidos aos 90 dias e berinjela que serão colhidos aos 6 meses.
Do
estrato médio neste canteiro ocupando 60% de área escolheu-se a alface crespa,
alface roxa e rabanete que serão colhidos até os 45 dias de plantio.
Do
estrato baixo neste canteiro ocupando 80% de área escolheu-se a salsinha que
será colhida até os 6 meses de plantio.
A
escolha das espécies nos Grupos Sucessionais se dá com o “e”, uma espécie e
outra. O mesmo ocorrendo entre os estratos:.uma espécie do estrato emergente,
outra do estrato alto, outra do estrato médio e outra do estrato baixo. Já
dentro de cada período de colheita se dá com o “ou”. Uma espécie ou outra.
Em
relação a área da Horta Coletiva do Projeto de Assentamento Egídio Brunetto 1
os trabalhos iniciaram com a roçada da área com roçadeira costal,
posteriormente foi preparado os canteiros com tratorito.
No nosso dia de campo, iniciamos a renovação da Horta Coletiva pelo desbaste das bananeiras. Os pés de banana tiveram um manejo equivocado quando foram queimados depois de uma geada de junho. Os ponteiros foram queimados pela geada e a meia altura do pseudocaule foram desbastados. Como o meristema da planta se encontra na altura do rizoma não morreram, o que permitiu o lançamento de novo broto, o que ocasionou um enfraquecimento da moita como um todo. Era necessário uma renovação total da touceira, já que toda a família encontra-se raquítica.
Para tanto, desponta-se o ponteiro com um corte certeiro do facão a meia altura do pé e depois corta-se o pseudocaule restante na base da planta com o auxílio do facão. Com uma das mãos enfia-se o facão na base e com a outra mão faz-se uma alavanca, derrubando todo o pé. Nesta base do rizoma com o auxílio do facão realiza-se uma cunha no rizoma, formando um copinho que acumula a seiva da planta. Esta operação é importante para acumular seiva impedindo a penetração do besouro causador do Moleque da Bananeira, principal praga que acomete a bananeira.Com o pseudocaule no chão, mede-se a largura do canteiro e com o facão no sentido base para ponteiro, corta-se o pseudocaule ao meio, no formato de telha. Estes pseudocaules cortados são colocados lado a lado no canteiro, sendo levemente enterrados, a fim de que quando ressequem não se desprendam e atrapalhem o crescimento das hortaliças, deixando-se apenas a linha que vai ser plantada as mudinhas. Sendo rico em um gel, funciona como fertirrigação das mudas plantadas. Por fim os canteiros foram cobertos com capim napier triturado.Iniciamos
com o consórcio das mudas de hortaliças. Tínhamos disponíveis couve brócolis e
alface. A espécie de brócolis pertence ao estrato alto, sendo colhidos até 90
dias após o plantio, devendo ocupar 40 % do canteiro. Já a espécie de alface
pertence ao estrato médio, devendo ser colhido até os 45 dias depois de
plantado, devendo ocupar 60 % do canteiro. Sendo plantados dois canteiros da
seguinte forma:
P A P B P A P B P – Pseudocaule da banana depositado longitudinalmente;
P A P A P A P A A – mudas de Alface
P A P B P A P B B – mudas de Brócolis.
Nos demais canteiros, foi feito o seguinte consórcio de espécies: No primeiro canteiro foi plantado araruta, milho e feijão preto. Nos canteiros do meio: açafrão, quiabo e feijão preto e nos canteiros laterais: araruta, milho e feijão preto. Nestas linhas utilizou-se uma espécie emergente, milho ou quiabo, e espécies do estrato baixo, o feijão preto, a araruta ou o açafrão. Milho é da variedade Avaré da CATI. Ainda os canteiros foram complementados na extremidade lateral com feijão preto no espaçamento 5 centímetros da extremidade do canteiro com 20 centímetros de largura por 20 centímetros entre as plantas.
Nas linhas das bananeiras que foram desbastadas, deixando algumas mudas chifre para renovar a touceira. Foram introduzidas mudas frutíferas e nativas da seguinte forma:
Linhas
de árvores-
L1 – Citrus a cada 3m, com jequitibá 1m ao lado de cada citrus, intercalando um espécie do estrato médio, o citrus, com uma espécie do estrato emergente, o jatobá.
L2 – Feijoa e aroeira pimenteira – mesma estratégia – feijoa a cada 3m e aroeira a 1m de cada feijoa. Nesta linha intercalamos a feijoa do estrato baixo com a aroeira pimenteira do estrato alto.
L3 – Cambuci a cada 3m, com jequitibá 1m ao lado de cada Cambuci. Aqui novamente intercalamos uma espécie do estrato médio, o cambuci com uma espécie de estrato emergente, o jequitibá.
L4 – Novamente, feijoa com aroeira, no mesmo espaçamento da L2, repetindo estrato baixo com estrato alto.
Um aprendizado importante foi o procedimento de retirada do solo do berço, a parte de cima é reservada e esta parte mais rica em húmus é que utilizada ao redor da muda, no plantio de mudas por saquinho: tem-se o cuidado da base do caule ter que ficar no nível do terreno e o fundo do saquinho ser retirado com o facão a fim de retirar as raízes tortas e enoveladas e a fim de não desmoronar o torrão foi puxado com cuidado o saquinho plástico por cima da muda. Por fim, com os dedos é apertado o solo ao redor da muda para expulsar possíveis bolsões de ar ao redor das raízes.
Crédito
das fotos: Liza Yázigi, Pedro Samora e Paola Samora.
Edição apra o blog: Antonio Devide
Muito bom,lindo projwto
ResponderExcluirMuito legal ter participado desse dia e desse curso, parabéns a galera que organizou.
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