Caminhada Agroecológica – Projeto de Assentamento
Egídio Brunetto – Lagoinha - SP
José Miguel Garrido Quevedo, Engenheiro Agrônomo, Mestre em
Planejamento Agropecuário pela UNICAMP e Perito Federal Agrário (INCRA-SP).
Tiago
Ribeiro Coutinho, Biólogo, Representante da Coordenação do Assentamento e
Membro da Rede Agroflorestal do Vale do Paraíba.
Agronômica pela FCA – UNESP –
Botucatu.
A Oficina denominada “Caminhada
Agroecológica” ocorreu no Projeto de
Assentamento Egídio Brunetto em Lagoinha, realizada dia 04 de julho de 2019, foi conduzida pelo pesquisador
científico da APTA Antonio Carlos Pries Devide, José Miguel Garrido Quevedo, engenheiro
agrônomo do INCRA SP, membro do Serviço de Meio Ambiente e Recursos Naturais da
Divisão de Obtenção de Terra e Implantação de Projetos de Assentamento do
Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária em São Paulo, e pelo
biólogo Thiago Ribeiro Coutinho, representante da coordenação do assentamento e
membro da Rede Agroflorestal do Vale do Paraíba. Tal oficina teve por objetivo
realizar o diagnóstico rápido dos sistemas agroflorestais existentes no projeto
de assentamento e realizar um manejo de um SAF em uma área específica. O eixo
principal de diálogo com os participantes foi mostrar em que estágio se
encontra este modelo de agricultura no assentamento, mostrando que é possível
produzir alimento respeitando as forças que vem da natureza.
Cartaz do I Seminário Popular em Defesa das Águas organizado pelo coletivo popular de trabalhadores e trabalhadoras da reforma agrária do Assentamento Egídio Brunetto, Lagoinha - SP. |
METODOLOGIA
Foi utilizado como metodologia a
caminhada transversal na estrada principal do projeto de assentamento,
observando-se o uso e conservação das áreas de preservação permanente e relevo
da propriedade com uma breve visita a
área de horta agroecológica coletiva, onde ocorre os mutirões entre os
agricultores para estimular a participação dos mesmos no aprendizado em
trabalhar junto e experimentar uma área de aprendizado em Sistemas
Agroflorestais. Espaço importante onde é estabelecido os laços afetivos entre
os agricultores e apreendido as técnicas que fazem parte dos princípios da Agroecologia.
Uma horta diferente, onde há verdura, legume e plantas medicinais cultivados
com banana e frutíferas. Espécies vegetais únicas que são cultivadas ali e
servem de berço para serem distribuídas entre as famílias que participam
daquela comunidade, escola viva de aprendizado das normas que regem a natureza.
Mais adiante, fomos visitar o ponto
turístico do Projeto de Assentamento Egídio Brunetto: uma cachoeira com as
ruínas de uma residência da fazenda onde existe um moinho de pedra. Lá estava a
tarefa do dia: um mutirão para revitalizar um Sistema Agroflorestal que está
nascendo neste espaço. Uma moita de bananas, variedade antiga da fazenda, uma
pastagem com braquiária, uma casa em ruínas. O transformar da natureza bruta em
natureza bela.
PREÂMBULO
O
manejo deste SAF, talvez trouxe o meu maior aprendizado deste curso, nosso
instrutor, o pesquisador científico Antonio Devide, se acidentou com o manejo
do facão. Um acidente que nos trouxe aprendizado para o resto de nossas vidas
como agrofloresteiros. Seu equilíbrio, sua saída sem fazer alarde, minha
necessidade de acompanhar o amigo ao atendimento de emergência na unidade de
pronto socorro do município me mostraram que este Ser é mesmo especial. Caridoso,
manteve a calma o tempo todo, aguardou o atendimento pacientemente e procurou
me conduzir tendo a atenção que necessitava. Precisava continuar com a
atividade em tela com aqueles agricultores, de forma a não quebrar a boa
vibração que nos encontrávamos. Certo de
que meu amigo foi atendido e encaminhado ao hospital regional de Taubaté,
voltei à capacitação para encarar de frente o desafio de conduzir aquele
processo de aprendizado.
Thiago Coutinho explica o histórico do local destinado como ponto turístico e sua proposta de manejo da vegetação para instalação de SAF ao lado de ruína de imóvel |
O
manejo do facão na Agrofloresta é a ferramenta que mais nos empodera como
arquitetos da Natureza, compreender o manejo da Luz é o segredo, nos liberta,
vamos ceifando, escolhendo quem serve ao sistema como alimento de vida e quem é
promovido a renascer. A planta ceifada que é retirada do sistema serve de
fornecedora de seiva nutritiva para as que permaneceram, a banana é principal
planta a fornecer a seiva nutritiva, a umidade necessária e o controle de ervas
espontâneas ao redor da mudinha que está sendo criada por nós e por Deus. A
planta que é promovida a renascer modifica nosso paradigma: o ser vegetal
aceita como ninguém o corte de sua “carne”. Ser evoluído, sempre pronto a se
doar, quando tem um galho cortado, estimula as gemas da vida, solta brotos,
solta frutos e dá o recado às outras plantas: É tempo de renascer, de estimular
o crescimento. Retira o velho, o que está doente e em senescência para fazer
ressurgir o novo, o belo.
O
manejo do facão necessita atenção plena, silêncio absoluto, é nossa alma comandando
nossa mente a executar o movimento preciso, com o cuidado necessário. O
movimento cirúrgico. Neste momento nos ligamos a algo maior, conectado as
Forças da Natureza, manejando-o com sabedoria e presteza. Se nos liberta por um
lado, nos esclarece que seu manejo necessita equilíbrio, atenção e a mente
quieta para o fluir necessário ocorrer sem contra tempo.
Rodrigo Dametto fala e sua experiência com o cultivo de mamona preta (Paraguaçú) oriunda de pesquisas na APTA - Polo Regional Vale do Paraíba, em Pindamonhangaba-SP |
Ficou
a lição pela dor, para o resto de nossas vidas.
Visita a horta comunitária - cultivo de hortaliças, grande diversidade de PANC no sub-bosque de bananeiras biodiversas. |
DESENHO DO SAF PROPOSTO PARA A HORTA
Uma
horta modelo, é de lá que se multiplica as matrizes que comporão as hortas dos
agricultores no assentamento e local de aprendizado, sala de aula nos mutirões,
é ali que o conhecimento é massificado e serve de “liga” entre as famílias,
pois no diálogo proporcionado pela convivência que se acerta arestas, que se
firma laços de amizade mais profunda. É a família que estes agricultores
resolveram ter.
Uma
linha de diversidade, em sistema de aléia, com mudas nativas e mudas
frutíferas, entre elas a bananeira, espaçadas de 3 a 6 metros, uma muda da
outra, variedade originada ali mesmo, as mudas foram retiradas em moitas
existentes na fazenda. É o banco genético local. As bananas tem papel
fundamental no SAF, servem tanto para produção de cachos generosos, como ao
ceifados e cortado em formato de telha, servem de manto sagrado para o solo,
protegendo e criando as mudas de árvores nativas, demais árvores frutíferas e o
que se quer cultivar nesta linha de diversidade, as culturas de preenchimento
desta linha, vai bem por exemplo, tomate cereja, salsinha, alho poró, erva
doce, e os tubérculos açafrão da terra ou conhecida como cúrcuma. O
espaçamento adequado para cada vegetal desenvolver: a alface necessita de 30
centímetros entre plantas seus pares, a rúcula 15 centímetros, o alho porró 15
centímetros, a couve chinesa “shingensai” 20 centímetros, a mandioca 1 metro e
o tomate 1 metro, e assim por diante, cada espécie tem respeito o espaçamento de seu par. Deve-se compreender
a função do tempo no amadurecimento de seu SAF, as olerícolas podem ser cultivadas
todas juntas, sendo colhidas uma a uma, no tempo. Na entre linhas, os canteiros
das verduras, comestíveis e medicinais, tudo plantado junto, crescendo juntas,
umas vão dando condições ambientais para as outras virem juntas, crescendo a
sombra da outra, é uma criando outra. Cada uma é colhida no seu tempo, primeiro
as que crescem primeiro, como por exemplo os rabanetes e a rúcula, depois as
medianas, como por exemplo os alfaces e beterrabas e finalmente as couves,
repolhos e couve-flor. A ainda a opção
das aléias, que tem o espaçamento sugerido de 6 metros, entre estas linhas de
diversidade, formam no meio delas, o espaço para as culturas brancas, as de safra
de verão, como o milho e o girassol e as de inverno, com o centeio e a aveia
branca, e ainda as semi perenes como a mandioca e a cúrcuma. Pode-se finalmente
optar em especializar-se em módulos, levantando canteiros para a produção das verduras
neste espaço entre as aléias, formando 3
linhas de canteiros, que podem ser cultivadas todas juntas, como descrito anteriormente,
ou em plantio convencional, em módulos homogêneos, com canteiros de brócolis, de
alface, de couve-flor, de couve, de beterraba, de rúcula e de rabanete, por
exemplo, cultivados isoladamente, mas formando um mosaico de produção.
Nestes
canteiros das verduras, além das comestíveis, são cultivados as de uso medicinal,
como por exemplo a erva doce. Percebe-se que com o tempo vão nascendo as ervas
espontâneas que vão ocupando o seu território ali, algumas com valor
alimentício, como o caruru e a serralha, outras com valor medicinal, como o
picão preto, outras ainda, como a trapoeraba, a mostarda e o cosmo funcionam
como a braquiária era no sistema original, com o avanço da idade dos canteiros,
vão formando a “pele” do solo, são aquelas espécies vegetais que na natureza tem
a função de não permitirem que o solo fique descoberto, que fique nu, elas na
verdade criam as demais, principalmente as mudas nativas e frutíferas do
futuro, permitem as condições micro climáticas que permitem que as mudas se
desenvolvam em um micro-clima favorável.
Percebe-se
que o “mato” que é ceifado, ou apenas podado, para ter seu sistema radicular
ainda preservado, mantendo sua função no sistema, é caprichosamente disposto sobre o solo,
deixando sempre o solo coberto, quando levantamos tal “manto sagrado”
observamos que a vida reina ali, insetos e fungos crescem debaixo da cobertura
morta, que de morta não tem nada, é sim berço de vida!
Chama
a atenção também a diversidade de cultivos, várias espécies crescem no local, a
monotonia de canteiros de alface, no sistema convencional, não se vê ali. Compreendeu-se
o conceito sucessional dos sistemas agroflorestais.
PANC - couve de árvore na horta comunitária. |
PANC - planta de melão andino na horta comunitária. |
Bucha - válida como hortaliça PANC (colheita imatura) e como bucha (colheita madura) |
PANC - melão andino |
Fomos visitar também a área de
expansão da horta, a várzea com capim braquiária, enorme cresce ali, tem ruas
ceifadas, retiras pela raiz e já
inicia-se o plantio de espécies pioneiras, no caso, como estávamos no inverno,
linhas de gramíneas de inverno, como aveia branca, foram cultivados para ir
amansando a terra e dominando a braquiária, que é retirada do sistema, quando
se alcança um sombreamento que a inibe, posteriormente a este “adubo verde” entrarão
as linhas de mudas de diversidade e as entre linhas de cultivo de hortaliças e
ervas medicinais.
Senti falta dos cordões de isolamento, as espécies “zíperes” que nos SAFs produtivos são dispostos nas bordas e tem a função de isolar os módulos produtivos, impedem a entrada de sementes de invasoras, aumentam a umidade do local e atraem polinizadores, como espécies exemplos tem-se o margaridão e o boldo do chile e ainda o capim Guatemala. E também a falta da mamona preta, espécie que tem diversos usos nos sistemas agroflorestais, serve de adubo, pelo fornecimento generoso da parte aérea, as folhas crescem em tamanho generoso, apresentam um óleo que tem importante papel no controle de formigas cortadeiras, seus caules são ricos em celulose e lignina, auxiliando após a sua decomposição na estruturação do solo e também como espécie emergente, auxiliam a criar todo o sistema.
Senti falta dos cordões de isolamento, as espécies “zíperes” que nos SAFs produtivos são dispostos nas bordas e tem a função de isolar os módulos produtivos, impedem a entrada de sementes de invasoras, aumentam a umidade do local e atraem polinizadores, como espécies exemplos tem-se o margaridão e o boldo do chile e ainda o capim Guatemala. E também a falta da mamona preta, espécie que tem diversos usos nos sistemas agroflorestais, serve de adubo, pelo fornecimento generoso da parte aérea, as folhas crescem em tamanho generoso, apresentam um óleo que tem importante papel no controle de formigas cortadeiras, seus caules são ricos em celulose e lignina, auxiliando após a sua decomposição na estruturação do solo e também como espécie emergente, auxiliam a criar todo o sistema.
DESENHO PROPOSTO PARA O SAF DE
BANANAS NO ESPAÇO “IANSÔ
As bananas tem papel
fundamental no SAF, servem tanto para produção de cachos generosos, como ao
ceifados e cortado em formato de telha, servem de manto sagrado para o solo,
fornecendo nutrientes e umidade, protegendo e criando as mudas de árvores
nativas, demais árvores frutíferas e o que se quer cultivar nesta linha de diversidade,
as culturas de preenchimento desta linha.
Os pseudo caule das
bananas fornecem a seiva que alimenta e protege do ressecamento através da
conservação da umidade. Vão aos poucos, conforme os aportes de lignina e
celulose que são acrescidos junto aos pseudo caules, formando solo de floresta.
Um ponto que assusta um pouco, nestas linhas de diversidade é de costume
colocar leiras de galhos picados e folhas de poda, que muitas vezes é resíduo
nas cidades, ao contrário da serragem fina, que demora a se decompor, são o
alimento de fungos e insetos, que vão formando o húmus.
Assim temos três, pelo
menos, funções desempenhadas pelas mudas lenhosas, as mudas de diversidade, são
as árvores do futuro, as mudas frutíferas, nativas, entre elas a madeireiras.
As mudas de preenchimento, as mudas que preencherão o espaço de cada muda de
diversidade, entre elas as não lenhosas: são as olerícolas e ervas medicinais,
por exemplo, e ainda as culturas “pele” como o picão preto da agricultura
orgânica e o cosmos da permacultura, como poros do solo, não permitem que o
solo fique exposto e como nascem primeiramente no sistemas, devido a
agressividade, criam as demais, dando-lhes condições micro-climáticas
favoráveis as demais. Há ainda as chamadas plantas de serviço, os adubos
verdes, a mamona e a gliricídia, entram neste conceito, são plantas que depois
de ceifadas “alimentam” o sistema, seja de nitrogênio e celulose e lignina,
formando a matéria orgânica do solo, o húmus, responsável pelo solo de floresta
que estes sistemas são capazes de formar, regenerando os solos degradados pela
cultura e pecuária convencional.
A tarefa do dia: as mudas
de nativas, de um metro a um metro e meio de altura, diâmetros a altura do
peito de 5 a 10 centímetros são podadas. Darão o estímulo de crescimento as
demais quando iniciarem a brotação e limpam a área para a entrada de luz
regenerante. O manejo do facão, se trás liberdade e sensação de domínio com a
natureza, trouxe-nos o maior aprendizado que o curso pode nos dar. A
necessidade da atenção plena.
Nas linhas de
diversidade, as mudas de banana foram dispostas a cada 6 metros, umas das
outras, entre elas são dispostas as mudas nativas e frutíferas. Já as mudas
nativas e frutíferas, distam 2 metros
entre berços. Este foi um padrão que pode modificar apertando ou alargando o
sistema. De forma que a cada espaçamento das bananas, vai disposto nesta linha,
duas mudas nativas/frutífera. Iniciamos
pelas espécies emergentes, aquelas que despontam no dossel da floresta, as que
percebíamos ser de maior porte, em seguida foi disposto, no berço seguinte, uma
de menor porte, podendo ser frutífera ou nativa, podendo ser uma madeira de
lei. Esta disposição faz uma onda de crescimento entre as plantas desejável nos
sistemas agroflorestais, as mudas são dispostas pela sua necessidade de luz,
nativas e frutíferas cultivadas juntas, tendo em vista, sua necessidade de
sombreamento, sua adaptação as condições de luz, uma após outra. É o conceito de
estratificação nos sistemas agroflorestais, observa-se o crescimento vertical,
como cada planta se adapta a este estrato na floresta, estas camadas de aptidão
pela luz.
O mais difícil é o
conhecimento do habitat de cada espécie, ao meu ver, este conhecimento virá com
o tempo, quando algum fato nos ligar a planta. A moringa oleífera é sagrada
para minha condição de diabetes, o pau ferro, outra planta do estrato
emergente, juntamente com o guapuruvú, e as árvores intermediárias como o ipês,
amarelos, brancos e lilás, já fazem parte de minha trajetória de vida. Assim
cada planta vai entrando no nosso glossário de conhecimento da natureza. A elas
são adicionadas as frutíferas como a pitanga, a nêspera, a goiaba e uvaia. E no
mutirão, na troca de saberes, vai se partilhando este conhecimento, que pouco a
pouco é sedimentado em nosso coração e em nosso olhar. Com a experiência dos
mais vividos, vamos compartilhando o saber, vamos aos poucos nos tornando
arquitetos da Natureza.
Transcrição e Revisão: Ecóloga Maria
Thereza Quevedo
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
RELATO PESSOAL – ASSENTADO CARIJÓ, DIRIGENTE REGIONAL DO VALE DO PARAÍBA DO MST-SP
Por:
Verônica Andressa de Castro, Discente de graduação em
Engenharia Agronômica pela FCA – UNESP – Botucatu.
A
seguir está o relato pessoal do assentado Carijó - Assentamento Egídio Brunetto, Lagoinha - apresentado ao INCRA-SP, do
qual tem como finalidade complementar o Diagnóstico Rural Rápido (DRR) aplicado
ao planejamento agropecuário no Projeto de Assentamento Egídio Brunetto em
Lagoinha-SP, fornecendo informações testemunhadas pelo membro do assentamento e
dirigente regional do Vale do Paraíba e, assim, para que seja possível
constituir a retrospectiva da comunidade.
“Sou Carijó, tenho 10 anos de luta
no MST, vim aqui para essa terra em 2010, quando foi bastante conflitante nossa
chegada até mesmo por conta de fazendeiro e alguns jagunços, capangas da
fazenda, e logo em seguida teve o problema da enchente. Encheu o rio Paraitinga
e que inclusive afetou bastante a região e nós tivemos que retirar o assentamento
em 2010. Quando em seguida em 2012 a presidenta Dilma decreta essa terra para
reforma agrária e então a gente voltou para o acampamento novamente e
reinicia-se a luta para que essa terra fosse verdadeiramente desapropriada e
fosse das famílias. Em 2013, perco minha vista dentro do acampamento num
conflito interno com um fazendeiro, perdi o olho, o cara enfiou um bambu e
perdi meu olho. Logo em seguida, 2014 fomos imitidos na posse dentro deste
espaço, o INCRA foi imitido na posse. A gente veio para terra e permanecemos
por 11 meses, quase um ano. Logo em seguida o INCRA também foi desimitido da
posse novamente, onde as famílias estavam sem espaço, sem subsídio, alguns se
espalharam, outros foram para outros acampamentos também. Em 2015, se retorna a
luta por essa terra aqui, nesse espaço da Fazenda Bela Vista, onde eu volto
novamente ao acampamento. Em 2016, perpetua-se a luta ainda na beira da
estrada. Em 2017, perco meu filho também dentro do espaço, por acidente de
moto, 14 anos, grande companheiro de luta, era pai de 5 filhos, mantinha o
orgulho de ser pai de 5 filhos e criar eles sozinhos também por não ter esposa e
de todas situações essa foi a mais conflitante na minha vida e na vida da minha
família inclusive que hoje também continua comigo todos os filhos menos o
falecido, claro. Passa-se esse grande momento turbulento, que foi essa grande
perda, logo em seguida ocupamos a fazenda e fomos imitidos a posse em 2017 para
2018 pelo INCRA. Em 2019, perpetua-se totalmente, a gente começou a mexer com a
nova fase do assentamento. Acho que seria mais ou menos assim em breves
palavras. Contar tudo em si demandaria muito tempo. Bastante difícil e
conflitante por ser sem-terra e sem nada e a cidade de começo nos recebe muito
mal, muito mal mesmo, muito impasse a nível de pessoa e sociedade, ser
sem-terra, pobre e jogado na cidade. A cidade nos recebe como criminoso e não
como pessoas. Logo em seguida, a gente vai mostrando e trazendo elementos da
agroecologia em nosso espaço, somos agora um pré-assentamento agroecológico e
formamos isso através do coletivo, somos da organização do MST, porém temos a
nossa necessidade interna de ter uma direção coletiva. A gente faz parte da
direção coletiva tanto eu como a companheira Dani e somos dirigentes regionais
do Vale do Paraíba e essa daqui foi uma das conquistas mais importantes da
minha vida. Tem um pouco do meu sangue dentro dela e tem um pouco de sangue da
minha família. E quem escutar esse depoimento fique sabendo que foi muito difícil
minha conquista, ensinar que seus filhos lutem não é fazer que eles sofram, é
fazer com que eles lutem também. Tirar o direito dos filhos de lutar porque os
pais lutam por eles é ensinar seus netos a sofrer e aprender a lutar nunca.
Demonstre amor às pessoas que você ama e que estão do seu lado como seus
próximos instantes fossem os últimos, porque tenho certeza que você amaria eles
assim intensamente. Meu filho que me ensinou isso. “
Equipe de trabalho reunida para o café da manhã no Assentamento Egídio Brunetto, Lagoinha - SP. |
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