Por José Miguel Quevedo Garrido - Perito Ambiental do INCRA
Revisão: Verônica Castro - acadêmica de Engenharia Agronômica da UNESP
Um curso de longa duração com três meses de aprendizado constante,
um início na prática desta agricultura que respeita a Vida e respeita a Deus.
Sua forma de agir, de criar Vida. Aprendemos que uma planta cria a outra, tudo
junto, tudo misturado. Intrigado observei um Sistema Agroflorestal, no sistema
“muvuca”, onde a semeadura se dá por sementes de árvores nativas, frutíferas e
os adubos verdes sendo semeados ao mesmo tempo, sendo criados pelo capim
gordura, por exemplo, estruturar o solo. Sim, não apenas o aspecto biológico e
nutricional das plantas, identificado pelo fervilhar da água oxigenada, mas a
formação de grumos vistos a olho nú, mostrando que ali, reina a vida,
estruturados pela matéria orgânica e interação de microrganismos e raízes. E
pelas Forças de Deus. Um sistema de plantio ao lado do sistema agroflorestal “convencional”
de plantio em mudas, apresenta-se com solo desestruturado, fértil, mas
desestruturado e imediatamente ao lado dele, um solo estruturado, tipo as
terras roxas de café do Paraná. Mistério e admiração pelas Forças que regem a
Natureza.
No
primeiro módulo, conduzido pelo pesquisador Antonio Devide, nos sentimos agrofloresteiros,
semeamos sementes de adubos verdes, de gramíneas de inverno, sementes do sol
como o girassol:
Foto 1. Semeadura de culturas de inverno – aveia e girassol. Área de aleia com cordão de isolamento de
margaridão e boldo do chile ao lado do reflorestamento regenerativo (sistema
agroflorestal com o carro chefe banana ao lado da APP e a outra aleia formada por capim Guatemala.
Descobrimos o sabor do
palmito da banana:
Figura 2. Elaboração de
palmito de banana, o pseudo caule tem no seu interior um palmito. Este é
imediatamente colocado em água com vinagre ou limão. Deixado repousar na
geladeira por uma noite e fervido com esta água com vinagre por umas duas
vezes, por 20 minutos. Depois fervida novamente com água pura. Depois é só
temperar e fazer os pasteizinhos.
Descobrimos que somos
transmissores do Poder Divino na Terra:
Foto 3. Imposição de mãos e
emissão de vibração positiva sobre o fertilizante Super Magro. Como
constantemente é pulverizado diluído nas culturas e no solo, segue o princípio
da Agricultura Biodinâmica e Agricultura Bioenergética.
Sim, que somos
agrofloresteiros:
Foto 4. Implantação de um SAF
regenerativo ao lado de APP, com banana e palmito juçara como carros chefes.
Além das mudas de nativas e frutíferas há a semeadura de gramíneas de inverno e
adubos verdes.
No segundo módulo, conduzido
pela pesquisadora Cristina Castro, podemos aprender que os alimentos chamados matos ou PANC - plantas alimentícias não convencionais podem alimentar
o corpo e a alma:
Foto 5. A Moringa oleífera,
espécie de valor sentimental para o autor.
Foto 6. O Portal da
pesquisadora Cristina Maria de Castro que descreve as propriedades das plantas
medicinais.
No terceiro módulo, conduzido
pela pesquisadora Sandra Pereira, entendemos o sagrado poder de cura das plantas:
Foto 7. A cúrcuma, açafrão
brasileiro, com propriedades anti-inflamatórias
Do Homem e das plantas:
Foto 8. A seiva da Coroa de
Cristo, espécie ornamental, bastando algumas gotas diluídas em água para
controle de lesmas e caracóis como o Caramujo africano, importante praga da
olericultura.
No quarto módulo, conduzido
pelo perito ambiental do INCRA José Miguel Garrido, conhecemos a realidade de um assentamento:
Foto 9. Sr. Antonio “saci”,
agricultor habilidoso, plantador de banana e mandioca e plantador de “gente” em
seu lote. 5 famílias residem junto do avô.
Nos sentimos técnicos
agrofloresteiros:
Foto 10, Análise das
condições físicas do solo. Verificação do pé de arado e da camada enegrecida
superficial do solo, resultado das estufas orgânicas cultivadas num tempo
pretérito, na era da agricultura natural
do Assentamento (década de 90)
No quinto módulo, conduzido
pelo biólogo agricultor Thales Guedes Ferreira: conhecemos uma vitrine da
recomposição ambiental ao vivo:
Foto 11. Sistema
Agroflorestal Regenerativo cultivado em “muvuca”. As sementes semeadas todas
juntas depois do solo ser corrigido tem as mudas criadas pelo capim gordura.
No sexto módulo, conduzido
pelo biólogo agricultor Thiago Ribeiro Coutinho, ousamos sonhar junto com o sonho desta agricultora chamada Janaína Anacleto:
Foto 12. Sonhar um sonho
possível. Vista da área onde foi instalada o primeiro módulo de Sistema
Agroflorestal com ênfase em produção de geleias do Vale do Paraíba. (módulo 1
do presente relatório).
No sétimo módulo, conduzido
pelo perito ambiental Engº Agrº José Miguel Garrido, deslumbramos uma nova possibilidade de um mundo
agroecológico, a “Terra Prometida” - Um território reformado:
Foto 13. Este projeto de
Assentamento, o Egídio Brunetto tem uma pegada diferente dos demais do Projeto
de Assentamento. Respira Agroecologia.
Foto 14. Produto da Oficina
de Planejamento Agropecuário: O Mapa de Recursos Hídricos da propriedade
elaborados pelos agricultores.
No oitavo módulo, conduzido
pelo agricultor agroecológico Valdirzinho - Valdir Martins, conhecemos um mestre da agroecologia:
Foto 15. Seu viveiro, mudas
são produzidas e armazenadas a espera de irem para os berços.
Vimos como uma horta pode ser
agroflorestal:
No nono módulo, conduzido
pelo pesquisador Antonio Devide, sentimos a presença de Deus, naquela montanha.
Foto 17. O Mistério do renque
de palmitos juçara na franja do fragmento florestal: Algumas árvores emergentes
são o puleiro dos jacús, que “plantam” através das fezes o precioso palmito.
Foto 18. O moleque da
bananeira, é um inseto chave na cultura da bananeira. Mesmo o controle com um
fungo, o boveria, merece atenção plena.
Foto
19. As filhas bonecas da Janaína, a agricultora geleira, na sua casa de
bonecas.
Nossos
sinceros agradecimentos a equipe da APTA que nos acolheu nestes meses de
formação: em especial, a Rosana, a Silvia, ao José Luiz, a Ana Alice e Andréia
e demais funcionários do Polo e aos mestres instrutores: Antonio, Cristina,
Sandra, Patrícia, Denise, Thales, Tiago, Mariana, Valdirzinho e ao Lucas que
nos transmitiram suas vivências e seus saberes.
Agradeço aos agricultores Sr. Antonio “Saci”,
Janaína, Dona Toninha, irmãs Baianas, aos acampados Daniela, Tainara e Ana que
mostraram ser o elo vivo da Rede Agroflorestal Vale do Paraíba.
Aprendizes
do Curso de Longa duração: Capacitação Pedagógico em Agroecologia:
Ana Cacau;
Deise Alves;
Rodrigo Dametto;
Edson Fontele;
Paulo Luiz Pinto;
Vinicius Reis;
José Miguel Garrido Quevedo;
Verônica Andressa Castro;
Alice Pereira Monteiro da
Silva;
Dalmir Ribeiro Lima;
Paulo Alex das Virgens;
Magali Gasan;
Benedito Gomes da Silva;
Graça, Gabriela e Jorge.
Compreendemos o que quis dizer Capacitar alguém, melhor
dizendo, formar professores. Pedagógico,
pois traz no Sistema em Mutirão, uma forma de aprendizagem que desarma, que nos
liberta, faz-nos sentir agricultores a manejar a Mãe Natureza. E em
Agroecologia, esta ciência que respeita a vida e respeita a Deus.
Como conclusão do Curso, conquistamos o Conquista,
implantamos 3 modelos de SAFs, em área de alunos deste Projeto de Assentamento,
situado em Tremembé, a poucos quilômetros do Polo, só agora, está preparado
para receber este processo de formação. Agricultores de Referência em Sistemas
Agroflorestais e em Agroecologia. Mais um elo da Rede Agroflorestal do Vale do
Paraíba foi formado. Mai uma esperança de um novo mundo foi semeado. Mais um
elo de relações humanas foi firmado, mais que amigos, podemos conhecer
companheiros de um Ideal.
1)
Módulo 1: Agricultora Janaína Cristina
Santos, por José Miguel Garrido Quevedo.
Apresentamos a seguir, as possibilidades do guarda-chuva que
a agroecologia nos apresenta, existente neste sítio:
1)
Viveiro de mudas agroecológicas pulverizadas com
Microrganismos Eficientes (EM): mudas de tomate, mudas de hortaliças, mudas de Moringa
oleífera, mudas de árvores nativas;
2)
Produção de tomate orgânico para produção de
molho artesanal com insumos orgânicos e EM;
3)
Quintal agroflorestal com utilização de
fruteiras e árvores nativas emergentes;
4)
Produção de mandioca para mesa, sob viés
agroecológico, com preparo de solo motomecanizado em canteiros e adubação com
cinzas de olaria, calcário e consórcio com o milho variedade;
5)
Cultivo de pitaia em sistemas agroflorestais com
planta estaqueada em mourões de concreto e linha de preenchimento de abacaxi e
“pele’ do solo formada com telhas de pseudo-caule de banana; nas entre linhas
pode vir a ser cultivado com culturas brancas como o feijão.
6)
Criação de porcos crioulos com alimentação de
restos de alimentos da cidade, complementados com mandioca, restos de
hortaliças e farelos;
7)
Implantação de módulo de Sistema Agroflorestal
da Rede Agroflorestal do Vale do Paraíba, com ênfase em plantas, como a
vinagreira ou hibisco para a produção de geleias artesanais.
Um SAF multidiverso, onde irá florescer:
1)
Linha de adubadeira cultivada em muvuca,
sementes de adubo verde misturadas juntas e semeadas em linha. (duas linhas
formam este sistema)
2)
Linhas de mudas nativas alternada com mudas
frutíferas e tendo como preenchimento semeadura de vinagreira ou hibisco e
trefósia, ainda com gliricídia e banana nanica ou prata regularmente espaçadas,
estas últimas a serem instaladas futuramente, orientado pelo pesquisador da APTA Antonio
Devide, que visitou a área no dia seguinte ao mutirão de instalação daquele
SAF. Estas linhas representam as linhas de diversidade deste SAF. (três linhas
compõem este sistema).
3)
Linhas de semeadura em muvuca de vinagreira e como
a adubadeira, o adubo verde trefósia. (duas linhas compõem este sistema).
4)
Espaço
para cultivo de hortaliças com brócolis, couve-flor, salsinha e cebolinha, em
canteiros solteiros nas entre linhas destes dois sistemas, de tamanho generoso,
para o cultivo futuro do gengibre e cubio, ambas para produção de geleias. O cultivo das hortaliças garantirá o
atendimento imediato do compromisso com a merenda da escola e foi sugerido pelo
companheiro da Janaína, também em visita posterior a concepção do referido SAF
realizado em mutirão.
5)
Instalação
de linhas de isolamento, uma de cada lado do território de mando da mulher, possuindo uma linha contínua de cana de açúcar
e trefósia, quiabo de árvore e mamona preta semeadas em sulcos espaçados
regularmente, ao lado da linha de cana de açúcar, no limite da propriedade e
Phisales, já instalado do SAF anterior, com Moringa oleífera a ser
plantada, quando as mudinhas já nascidas em viveiro do sítio, se tornarem mais
fortinhas, no limite com o território do marido, a cultura de pitaia.
6)
A “pele” do solo está sendo cultivada inicialmente
com batata doce roxa e outra variedade laranja, algumas leiras para produção de
mudas foi instalado.
Foi este o desenho proposto para este SAF, orientado
pelo biólogo Thiago Coutinho.
Este é o leque de possibilidades
produtivas deste sítio modelo.
Estamos diante de uma célula de
possibilidades da rede agroflorestal do Vale do Paraíba, desta guerreira
chamada Janaína.
Seu marido tornou-se meu amigo,
já é um agricultor agroecológico experimentador, que ouve atentamente como foi
desenhado o SAF experimental materializando o sonho de sua companheira.
Instalamos o primeiro módulo, de
nosso trabalho de conclusão do curso de formação Pedagógico-Profissional de
Agroecologia promovido pela APTA, Polo Regional do Vale do Paraíba e do Serviço
de Meio Ambiente e Recursos Naturais do Instituto Nacional de Colonização e
Reforma Agrária em São Paulo no dia 26 de agosto de 2019, com o auxílio de sua filha Ariele, herdeira
agroecológica da mãe guerreira, que já posta no “Istagram”, junto da irmã Ana,
ensinamentos como quebrar a dormência de uma muda nativa de guapuruvú.
Tivemos a condução do biólogo
Thiago Coutinho, que soube conduzir nosso dia de aprendizado, pés descalços, dispôs as mudas nativas,
florestais, e mudas frutíferas, respeitando seu gosto pela altura, a tal
adaptação ao extrato vegetal, o habitat de cada planta, as regras de tolerância
a luz de cada vegetal, quem aguenta sombreamento, quem aguenta um sombreamento médio,
e quem não aguenta sombreamento. Uma muda emergente, mais uma muda de extrato
médio e ainda outra muda de extrato mais baixo, são cuidadosamente dispostas em
linha, formando um “contínum”, uma onda de crescimento que se formará
com o desenvolvimento daquelas mudas. Foi o precioso ensinamento do dia. Foram
dispostas sobre o solo em três linhas, com espaçamento de 5 metros entrelinhas
e 3 metros entre plantas, deixando um grande canteiro para espaço de culturas
anuais, na entre linhas, para o cultivo, como por exemplo o cubio e o gengibre,
que será instalado posteriormente. Estas mudas foram “plantadas” pelas mãos do
Assentado Paulo Luiz Pinto e do agrônomo Rodrigo Dametto, participantes
assíduos do nosso curso de formação. Mais dois participantes externos se
juntaram a nós, neste caminhar pelo saber agroecológico, nos auxiliaram nesta
última etapa de nossa formação em Sistemas Agroflorestais, o agrônomo Ricardo Vasconcelos
Siqueira e o Benedito Suzigan, agricultor que presta serviços de
motomecanização para os assentados da região e também o Pai da Janaína, o
Senhor Acácio, que mais uma vez, auxilia na concretização do sonho da filha e
das netas.
Cada muda cultivada teve sementes semeadas ao seu lado,
serão adubos verdes, entre elas o girassol e o cosmos, criadoras de nossa
floresta geleeira.
A cobertura com braquiária ceifada é a proposta de cobertura
morta.
O sistema de irrigação por aspersão, a forma de irrigação a
ser adquirido com dinheiro do trabalho do marido, que faz bicos na cidade, para
entrada de recursos financeiros no território, onde cria sua família de
agricultores agroecológicos. Sonha em retirar renda apenas do sítio, que num
futuro próximo, diante de tantas frentes de possibilidades, se concretizará.
Que assim seja.
Esta é a apresentação de nosso primeiro módulo de agricultor
de referência para O ASSENTAMENTO CONQUISTA.
2)
Módulo 2: Agricultora Deise Alves, por
Antonio Devide.
3)
Módulo 3: Agricultor Paulo Luiz Pinto,
por José Miguel Garrido Quevedo e Thiago Coutinho.
“Em mi sitio you reino”, assim me
despedi do mestre José Luiz, neste último dia do curso de capacitação, abraço
apertado pelo agradecimento que o convívio com este funcionário público me
proporcionou nestes 3 meses de aprendizado, é no carro do filho que deixo as
chaves do alojamento que me acolheu neste Centro de Saber, na área de
agroecologia do Governo do Estado, quando retorno para minha Piracaia de
madrugada. Seu pequeno quintal onde mora, é o seu reino, lá me ensinou como
enxertou um pé de limão taiti, tinha feito a técnica da alporquia, tem ali seu
moinho de cana, para tomar uma garapa, me presenteou com uma vassoura de sorgo,
aquelas, de bruxo. Assim que saio daqui deste processo de formação, conhecendo
um pouco, os segredos da Natureza, com meus mestres instrutores, aprendi a
ouvir também meu coração, me recordei quando me tornei agrônomo do Estado,
quando auxiliei meu companheiro Benedito Gomes da Silva, na fiscalização do
imóvel rural.
Me tornei agrofloresteiro pelas
mãos do amigo Antonio Devide, que muito mais que o ensinamento técnico me
proporcionou o aprendizado espiritual. Pelas mãos do irmão Thiago Coutinho, me
reconheci como extensionista, ao compartilhar saberes com aquela comunidade em
formação. E ouvindo meu coração vi que sou poeta. Se você ao ler estes relatos,
poder sentir um pouco do que senti, alcançamos nosso objetivo, de repassar um
pouco do que vivemos nestes 3 meses de convívio e aprendizado.
Última etapa, como agradeci de
ter sido teimoso, e contradizer o amigo Antonio, sim, modifiquei o planejado o
quanto foi necessário, o quanto senti que valeria a pena. De um mutirão no Assentamento
Conquista, conseguimos instalar três. Este último por ”imposição” nossa. O
assentado Paulo Luiz estava preocupado com a alimentação, não sabia se daria as
condições de recebermos a altura que ele desejava, pois está iniciando o
caminhar agroflorestal. De origem urbana, trabalhador de fábrica, está vindo
para o rural empreender nas terras do pai. É livre, sem vícios, inocente, solta
aquele sorriso tímido, de quem afirma que não sabe, que está aprendendo.
Para
nós, que está apreendendo. Caprichoso, fez o melhor croqui que vimos em toda a
capacitação. Em escala, colocou no papel exatamente o número de mudas de lichia
que plantou, quantos pés de mamão existem ali, exatamente descreveu as Aléias
que quer formar, a Aléia agroflorestal, a Aléia de bananas, a Aléia de
mandioca. O que foi sugerido no encontro anterior quando discutíamos as
possibilidades daquela área.
A tarefa do dia foi
caprichosamente preparada, preparo dos berços com trator acoplados a uma
furadeira, fizeram um trabalho excelente, complementados com o trabalho manual,
por escavadeira. Tínhamos um xadrez para
escolher qual mudas colocaríamos em cada berço.
E nosso instrutor, o biólogo
Thiago Coutinho nos pregou uma peça. Como vem de longe, tardou a chegar. Nos
vimos obrigado a prestar o exame final do curso. Éramos os mestres a desenhar
aquele SAF multidiverso. O Agrônomo Rodrigo Dametto, o assentado Paulo Luiz
Pinto e este servidor fomos obrigados a ser arquitetos da Natureza.
As lichias estavam plantadas a
cada 10 metros tanto na linha como na entre linha, fazendo o papel de guia. 3
linhas de berços tinham sido formadas pelo trator, num espaçamento de 3 metros
na linha, entre cada berço. Entre estas entre linhas, berços menores tinham
sido cavados pelas mãos do agrofloresteiro aprendiz, Paulo Luiz.
Iniciamos pela linha do meio.
Tínhamos a disposição algumas dezenas de mudas, vindas da APTA, cultivadas por
ele mesmo em seu viveiro e fornecidos pela companheira Deise Alves. Não
sabíamos identificar todas elas, mas conseguimos classifica-las nos grandes
grupos, leguminosas e não leguminosas, emergentes e mais baixas, frutíferas e
não frutíferas, as bananas carro chefe daquela Aleia.
Iniciamos pelas emergentes,
depositamos na linha central muda a muda sobre o solo, ao lado do berço, a que
nos percebíamos ser de maior porte, ao lado de uma de menor porte e ao lado de
uma de menor porte ainda. Fazendo a onda de crescimento apreendido no módulo
anterior.
Nas linhas laterais, dispusemos
as mudas de banana, tendo o cuidado de deixar as diversas variedades fornecidas
pela APTA, umas próximas as outras, para melhor controle. Passamos então a
distribuir as mudas queridas do agricultor, mudas de nêspera, pitanga e uvaia,
formadas por ele em seu viveiro. Atento, sempre coleta sementes durante as
visitas no transcorrer do curso e nas suas viagens sentindo o chamado das
árvores para colher seus frutos e formar novas mudas.
Tudo isto observando e
imaginando como crescerá as vedetes do sistema, as lichias espaçadas a 10
metros. As nêsperas, pitangas e uvaias, como são plantas de porte menor ou de
crescimento meio esguio, foram dispostas em frente as lichias. Analisamos como
será o crescimento da cultura principal e imaginamos como crescerá a muda que
estamos dispondo naquele berço em específico. Como as duas crescerão juntas,
lado a lado.
Passamos então a distribuir as
mudas fornecidas pela companheira Deise, as castanhas do maranhão, por ter um
crescimento intermediário, dispomos as mudas próximo ao quadrante das lichias,
no centro das quatro mudas de lichias que formam um quadrado.
Por fim, dispusemos o restante
das mudas, encaixando nos berços disponíveis, sempre tendo em mente o habitat
da planta, seu gosto pela luz, como é afetada pelo sombreamento.
Nos berços realizados pela
cavadeira, seriam semeamos as plantas de serviço, as adubadeiras, mamona,
feijão guandú e trefósia, crescerão ali para alimentar o sistema em conjunto do
manejo da braquiária, cultura “pele” do sistema.
Hora do almoço, a companheira
Deise Alves, mostrou o que ela representa para este grupo de famílias, líder
carismática, que dedica sua vida ao movimento social, liderança do bem, nos
presenteou com um banquete: arroz, feijoada vegana feito com capricho pelas
irmãs baianas, em preocupação à estudante vegana Verônica Castro, que
acompanhou módulos anteriores, ovos caipiras, couve da guerreira Janaína e por
que não uma bisteca suína feito com cebolas refogadas.
Os mais urbanos, o
agrônomo Rodrigo e este servidor, já esgotados pela labuta da terra, foram até
seu sítio se alimentar, refazendo suas forças e levar as marmitas para os
colegas que ficaram no campo.
Na sua cozinha, aquela mesma da
troca e saberes e poltronas “retros”, sorri vendo aquela amiga de avental, toca
na cabeça, mostrando seus “dotes” de tia a alimentar suas crianças e a me
ralhar por misturar tudo na panelona de alumínio penteado que roubei e queimei
nos fogões a lenha que me acompanharam no transcorrer do curso.
Refeito, fomos alimentar nossos
companheiros.
Chegando lá, uma surpresa, o
trabalho tinha terminado, mostrou-nos por que éramos os técnicos e eles os
agricultores.
Muito bom parabéns
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