23 de outubro de
2019.
Por José Miguel Garrido Quevedo
Equipe da Escola de Educação Especial 'Elvira Moreira' da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais de Pindamonhangaba com as mudas que serão plantadas na horta agroflorestal da escola. |
Mais
uma vez estivemos reunidos para um dia de festa na sede do Polo Regional do
Vale do Paraíba da Agência Paulista de Tecnologias para o Agronegócio. Um dia
especial para nós, aprovamos o estatuto do coletivo que agregará a Rede
Agroflorestal do Vale do Paraíba, constituímos, além disso, nossa 1ª Diretoria.
Nossas mãos estão entrelaçadas, no peito um mesmo ideal de evolução.
Como
de costume este servidor não pôde ir embora deste templo do Saber, Saber em
Agroecologia, esta ciência que une nossos corações. É o sol no inverno, nos põe
olhos de pássaro, nesta caminhada pela Vida.
Uma
atividade à tarde tinha sido também programada, o acolhimento de alunos
especiais da APAE: Uma vivência na Natureza é o que foi proposto. Chegaram em
dois grupos, o primeiro foi acolhido pela Horta de PANCs, as Plantas Alimentícias
Não Convencionais, horta coordenada pela pesquisadora Cristina Maria Castro e
pela servidora Silvia. É constituída de canteiros cultivados com estes vegetais
que são comestíveis e o segundo grupo foi acolhido pelo Sistema Agroflorestal
Macaúba, coordenado pelo pesquisador Antonio Devide e pelo servidor José Luiz.
Este espaço, sala de aula viva, contém um Sistema Agroflorestal com o carro
chefe a banana, de diversas variedades, frutíferas e nativas, entre elas a
macaúba, possuindo também a gliricídia e a mamona preta utilizados como plantas
de serviço, ou seja, plantas que são ceifadas e fornecedoras de matéria
orgânica para o Sistema.
O
primeiro grupo, teve o contato olfativo, gustativo e sensitivo com a Natureza,
grupo inquieto, talvez pela oportunidade única de estar ali, livre junto a
natureza. Sentiram o picante da capuchinha, os pelos da planta peixinho conhecida
entre eles como “lambari”, sentiram como a orai-por-nós é carnuda, como a
taioba é gigante. Estas crianças tiveram oportunidade de contato com vegetais,
um toque especial na natureza, que a alimentaram: o corpo e a alma. Chamou-nos
a atenção que como grupo, se auxiliam, os de maior mobilidade cuidam dos que
possuem mais necessidades. Do pesquisador Antonio Devide receberam um carinho e
atenção especial. São crianças em flor, constroem um mundo encantado de amor.
O
segundo grupo foi ter uma “aula” no SAF, onde iniciei meu aprendizado neste
universo da Agroecologia. Por que plantamos árvores junto às bananas? Para
estas fornecerem nutrientes às bananas. Foi
ensinado os princípios da Agroecologia, o diálogo com a Natureza, entendendo o
papel de cada planta, foi nos mostrado que a poda da mamona e das gliricídias
são realizadas em toletes, que são dispostos sobre o solo e em cima dos pedaços
de tronco as folhas, cobrindo o solo, fornecendo nutrientes e umidade para as
plantas. As diversas variedades de banana foram apresentadas: a prata IAC 2001,
a Conquista, a Figo, a Nanicão e a Nanica, salientando a diferença de tamanho das
plantas em altura entre elas. Aprenderam como fazer o berço que receberão as
mudas. Onde o composto será disposto? No fundo do berço, que depois de
plantado, a muda é forrada com capim ceifado, a cobertura morta, para manter a
umidade. Viram as plantas de mandioca crescendo. Da mesma forma que foi nos
apresentado anteriormente durante o curso de formação que participei. Só que
com uma diferença, a dinâmica apresentada me emocionou, cada criança segurou a
muda de banana, que correspondia ao seu tamanho em altura, o mais baixinho ficou
com a nanica, o mais alto com a figo, e assim por diante. E o interessante,
estavam familiarizados com o termo AGROFLORESTA. Estas mudas de bananas serão
plantadas e cultivadas por elas na APAE através de um Sistema Agroflorestal. Fomos
até o viveiro escolher as frutíferas que crescerão junto às bananas. Nêspera,
grumixama, jaboticaba, acerola, goiaba, uvaia, entre outras foram presenteadas
e uma nativa emergente também comporá o dossel daquele SAF, o jatobá. Cada
criança segurou seu bebezinho. Na foto de nosso encontro, mais um ensinamento,
quais as plantas poderiam ser plantadas junto as bananas? Quais as mudas têm
que ser plantadas separadas? Cada criança segurando sua muda foi disposta num
arranjo que comporão o SAF futuro.
Para relembrar deste dia fomos plantar uma
muda de araçá. O mais habilidoso com a cavadeira fez o trabalho do berço, o
saquinho foi retirado do torrão da muda e a muda plantada rente ao nível do
solo. O torrão teve o redor preenchido com a terra no berço, sendo apertado com
as mãos, para não acumular ar e ligar a raiz ao solo. A família das aves: gaviões carcará, tucanos e
as cigarras, que vivem na sede da APTA, nos brindaram com o som da natureza. Os
primeiros pingos de chuva da safra das águas deste ano nos abençoou. Em roda,
de mãos dadas agradecemos pelo dia, pelo Criador ter nos dado esta
oportunidade. Esta oportunidade de trabalhar a terra, ter contato com as
energias telúricas, ao trabalhar com os vegetais, acalmar a mente, estes
meninos e meninas ao cultivar a horta na APAE terão esta oportunidade que a
Natureza nos dá. Ao se alimentar de vegetais diferentes, experimentarão novos
sabores e texturas que o auxiliarão a entrar em contato com seu eu, o eu mais
profundo. Estas crianças nasceram de novo na Terra e foram tão bem recebidos,
ensinando sem querer, são a luz de esperança, sementes de um mundo melhor.
Gratidão por este dia. Me tornei um ser humano melhor. Quero acompanhar o
crescimento desta árvore de araçá e fazer parte desta Rede.
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