24 de out. de 2023

Semeando a Rede da Cadeia Produtiva Agroflorestal da Juçara - O Açaí da Mata Atlântica

O Grupo Rede de Coletores de Sementes do Vale do Paraíba e a Rede Agroflorestal do Vale do Paraíba, foram contemplados em Setembro de 2023 na chamada de projetos da Organização Fundo Casa Socioambiental (associação sem fins lucrativos que busca promover a conservação e a sustentabilidade ambiental, a democracia, o respeito aos direitos socioambientais), com o projeto:

Semeando a Rede da Cadeia Produtiva Agroflorestal da Juçara. O “açaí” da Mata Atlântica –

(Promovendo a restauração, fomentando a produção, agregando valor, disseminando o consumo e expandindo o mercado)

O projeto conta com duas frentes:

O Projeto será desenvolvido a partir do bairro rural do Ribeirão Grande, em Pindamonhangaba-SP, cuja renda local recai na agropecuária, exploração florestal de eucalipto e turismo. Boa parte das terras localizadas na franja da Serra da Mantiqueira também estão inseridas na APA da Mantiqueira, cujo zoneamento permite o uso sustentável agropecuário e prevê a recuperação dos mananciais.

Veja abaixo como o projeto irá funcionar:

Esse projeto é a necessária etapa inicial (por isso, Semeando) de uma visão e caminhada de mobilização e expansão da cadeia produtiva agroflorestal da Juçara e demais Frutas Nativas da Mata Atlântica, tendo como carro chefe, a Palmeira Juçara, do ponto que se encontra, até atingir o nível de um APL (Arranjo Produtivo Local), com potencial de gerar centenas ou até milhares de possibilidades de emprego e renda para a região e entorno. A massiva divulgação e marketing buscará o aumento exponencial da demanda por produtos oriundos da Palmeira Juçara, extraídos sustentavelmente ou através da agricultura regenerativa e agroflorestal, inserindo gradualmente, mais agentes coletores e produtores (jovens e famílias agricultoras) ampliando a cadeia de produção dessa importante espécie nativa que já esteve ameaçada de extinção, promovendo, assim, a preservação e o cultivo da espécie, colaborando também, com a restauração da paisagem do Vale do Paraíba. 

A Cadeia Produtiva da Juçara, consorciada com a produção de outras Frutas Nativas, vai trabalhar por uma dinâmica organizativa entre diversos empreendimentos, famílias agricultoras, cooperativas, associações do campo agroecológico e da economia solidária, e organizações de assessoria, comunicação e marketing, as quais partilham de um conjunto de princípios e constroem de maneira coletiva acordos operacionais.

A etapa da produção está assentada em dois tipos de manejo: sistemas agroflorestais e extrativismo tanto em áreas de roça como também de matas nativas e quintais. A etapa do processamento é realizada por famílias, associações e cooperativas de agricultores, que transformam a fruta em polpa e produtos mais elaborados, como pães, bolos, sucos, sorvetes, geleias e picolés. Num formato de produção, processamento e distribuição de alimentos, dentro de uma lógica de estímulo à conservação da biodiversidade local onde os trabalhadores sejam os protagonistas numa rede colaborativa. 

Este presente projeto, sendo a base da construção dessa Rede, terá como produtos:



Objetivos realizados:

Planejamento de Atividades, Planejamento de Planos de Marketing, elaboração de criativos (anúncios e panfletos), Concepção de site e e-commerce, Identificação de Campo (mapeamento de matrizes), Interlocução com Câmara de Vereadores de Pindamonhangaba e Secretarias Municipais de agricultura, meio-ambiente e educação de Pindamonhangaba, além de outras entidades que serão divulgadas após estabelecimento efetivo de parcerias. 

Em andamento:

  1. Divulgação, chamamento e inscrição de interessados(as) em compor a Rede em um dos elos da cadeia (restauração, preservação, plantio comercial, coleta, produção e beneficiamento dos derivados, lojística, divulgação e marketing, comércio).
  2. Reunião de apresentação do Projeto da Rede, com comunidade, beneficiários(as) e interessados(as) no Centro Comunitário do Ribeirão Grande.
  3. Lançamento do site da Rede Juçara e Cia 
  4. Reunião com a comunidade do Ribeirão Grande, no centro comunitário do bairro: 9 de Novembro de 2023
  5. Mutirão de repovoamento de 1 hectare na Fazenda Nova Gokula (área da Hospedaria Lótus) com Oficina sobre o potencial econômico da Juçara: 02 de Dezembro de 2023
  6. Oficina de produção de mudas de Juçara no Assentamento Conquista: 10 de Novembro de 2023
  7. Mutirão de repovoamento de 1 hectare no Sitio Céu do Vale, com Oficina sobre Manejo da Palmeira Juçara: 24 de Novembro de 2023 (vide agenda a seguir)
  8. Lançamento de Cartilha e Boletim da Rede Juçara e Frutas Nativas: Dezembro de 2023 

Demais atividades, reuniões e mutirões serão divulgados em breve. As datas das atividades serão sempre confirmadas com antecedência e devidamente divulgadas!

A equipe deste projeto é composta por:

  • Coordenadores, Planejamento, Compras, Oficinas e Monitoramento: Mariana Pereira e Kirttan Godoi.
  • Oficinas de SAF, coleta e processamento de Juçara e apoio no planejamento: Pedro Valadares.
  • Comunicação e Marketing: Arthur Fermiano.
  • Secretaria e documentação: Juliane Ferreira.

Para acessar o projeto na íntegra, clique no link: https://bit.ly/projetoredejuçara

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@rede.agroflorestal

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23 de out. de 2023

Formação prática em Horta Agroflorestal - por Renata Siegmann

Relato da Renata Siegmann em relação a sua participação no curso gratuito:  “Formação prática em Horta Agroflorestal: Compartilhando conhecimento agroflorestal com ações práticas” com os instrutores Altamir Bastos e Valdir Martins, que ocorreu nos dias 6, 7 e 8 de Outubro no Sítio Guajuvira - Assentamento Nova Esperança em São José dos Campos.  A Realização foi da Rede Agroflorestal do Vale do Paraíba e o apoio do Fundo Casa Socioambiental.

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Dediquei os últimos anos a aprofundar meu conhecimento e prática em Sistemas Agroflorestais. Isso me levou a trabalhar em diversas fazendas que utilizam essa forma de agricultura, me envolver em mutirões e cursos de diversos mentores. Acredito que essa jornada nunca acaba e esse é o grande sentido dela: Conectar, aprender, praticar e repetir.


Conforme o tempo foi passando, só foi ficando mais claro que a Agrofloresta é solução para muitos problemas que enfrentamos hoje: Perda de biodiversidade, solos deficientes de nutrientes e biologia, desertificações, dependência de insumos químicos, pragas, erosão, compactação do solo e a lista segue. O próprio Valdir chamou nossa atenção durante o curso: “Precisamos buscar uma agricultura que não seja de deserto”.


Chegando na formação, pude conectar com os outros participantes, dentre eles, alunas do curso de Agronomia da Esalq que pra minha surpresa compartilharam que nem mesmo adubação orgânica faz parte do currículo do curso, muito menos práticas regenerativas de agricultura. Desde o início já deu pra sentir que formações como essa, carregam um potencial enorme de difundir e preparar produtores, profissionais e pesquisadores para se juntar nesse movimento de reflorestar terras e corações. 


Durante os 3 dias do curso, passamos por todas as etapas de elaboração de uma Horta Agroflorestal: Preparação da terra, modelamento dos canteiros, adição de matéria orgânica (muita matéria orgânica) tanto nos caminhos como claro, no canteiro, adubação, irrigação, consórcios de hortaliças e espécies arbóreas, manejo e plantio. Nos momentos que a chuva caiu forte, aproveitamos para repassar a parte teórica e ouvir sobre o trabalho interessantíssimo dos coletores de semente que também fazem parte da Rede Agroflorestal. As partes que não entram na programação oficial completam a experiência, como comer amora e Uvaia do pé e ouvir do Altamir sobre como o CSA (Comunidade que sustenta a Agricultura) é um modelo de responsabilidade compartilhada onde consumidores se transformam em co-agricultores. 


E como a gente assume essa responsabilidade? De produzir alimento sem degradar o solo e o ecossistema que estamos inseridos? Justamente, aprendendo a linguagem desse ecossistema. Sabendo como ele opera, podemos participar para contribuir com seu funcionamento. Naquela área do Sítio Guajuvira, onde trabalhamos naqueles dias, falamos todos a mesma língua de forma prática. A cobertura de solo vira alimento e protege os microorganismos, além de minimizar a necessidade de irrigação. Os troncos de madeira colocados nos caminhos minimizam a compactação e vão se transformando em solo graças aos decompositores. As árvores de poda que ficavam em uma linha a cada três de hortaliças, receberam poda drástica. Espécies como o Ingá, Assa Peixe e Boldo são ótimas de rebrota e vão produzir bastante matéria orgânica e hormônios de crescimento pro resto do sistema. Sem falar dos consórcios de hortaliças que seguindo as combinações certas de sucessão e estratificação, funcionam como uma mini-floresta e trazem a vantagem da diversidade como controle biológico. 


No fim do curso reforcei meu compromisso do fazer, de estar em campo com agricultores experientes, de praticar e colocar a mão na massa. Saí de lá não só inspirada, mas muito mais capacitada para implementar um SAF horta. 


Queremos salvar o planeta com Agrofloresta, mas precisamos fazer isso salvando a nós mesmos e isso se faz produzindo alimento. A agrofloresta deve ser acima de tudo produtiva, só assim ela se torna sustentável do ponto de vista econômico, social e também ecológico. Como o Altamir compartilhou: “Nosso alimento deveria ser nossa prioridade nº 1” então que seja da melhor forma possível: Agroflorestal.


Obrigada a todos os envolvidos nesse trabalho lindo. Eu sigo nessa jornada de Conectar, aprender, praticar e repetir.


Desenho feito pela Renata no dia do curso