24 de jan. de 2022

ASPECTOS da PRODUÇÃO, CONSUMO e COMÉRCIO de PANC - PLANTAS ALIMENTÍCIAS NÃO CONVENCIONAIS e SAN - SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL

Este relato é uma sistematização de respostas sobre algumas questões direcionadas aos integrantes da Rede Agroflorestal sobre aspectos da produção, consumo e comércio de PANC e SAN (Figura 1).

Figura 1. PANC compõe a sociobiodiversidade, fortalece a saúde nutricional e a soberania alimentar. Fonte: Daniela Ferreira (assentamento Egídio Brunetto, Lagoinha-SP)

O objetivo deste artigo é fornecer um panorama geral sobre o cultivo, usos e potencialidades de comércio de PANC e os benefícios para a SAN.

Questões apresentadas aos membros da Rede Agroflorestal:

  • Alguém do grupo da Rede Agroflorestal cultiva e/ou faz o uso sistemático de PANC? 
  • Informar quais são as espécies e como utiliza, se in natura ou processada? 
  • Se gera renda, como é a venda? direta ao consumidor ou outra forma? e o valor obtido com o(s) produto(s)? 

Análise descritiva dos relatos:

Janaína Anacleto - Sítio Anacleto, Tremembé - SP. @sitio_anacleto

Produz PANC em sistema diversificado, em associação de cultivos hortícola e espécies perenes. Maneja com base nos princípios agroflorestais e agroecológico (consórcio, adubação verde e capina seletiva). 

Consumo e comércio in natura:

  • Peixinho (Figura 2 e 4)
  • Almeirão roxo (Figura 2)
  • Capuchinha (Figuras 3 e 6)
  • Ora-pro-nóbis (Figura 5)
  • Carne de jaca (Figuras 7 e 8)
  • Flor azul (fada - cunhã) (Figura 9)
  • Pitaya (Figuras 10 e 11)

 

Figura 2. Almeirão e peixinho (centro)             Figura 3. Capuchinha. Fonte: Janaína Anacleto

No Instagram mostramos como fazer ou compartilhamos colheita e dados sobre a produção e colheita. Usamos PANC para agregar nutrientes. O Peixinho é o mais querido (Figura 4).

Figura 4. Peixinho: PANC frita é a preferida. Fonte: Janaína Anacleto

Pitaya: vendemos bem. Às vezes faço geleia de pitaya.

Flor azul (cunhã): começamos agora. Estamos desidratando e testando receitas.

Nos hambúrgueres de shimeji: vai ora-pro-nóbis e cenoura.

Opção: kit suco verde com PANC. Ainda não faço, pois preciso diversificar o plantio. Ainda não tenho: Bertalha e Azedinha

 

Figura 5. Ora-pro-nóbis                       Figura 6. Caruru, beldroega, capuchinha. Fonte: Janaína Anacleto

Vendemos porções congeladas de carne de jaca desfiada de 500 gramas. Em dezembro/2021 fizemos 70 kg da carne de jaca desfiada e vendemos quase tudo, só restam uns 5 kg (Figura 7).

Figura 7. Salpicão de carne de jaca. Fonte: Janaína Anacleto

Figura 8. Canja de carne de jaca com muito açafrão (cúrcuma) e colorau (urucum). Fonte: Janaína Anacleto

Figura 9. Bolo de cenoura com ora-pro-nóbis. Calda com fada azul. Fonte: Janaína Anacleto

Figura 10. Soda de pitaya e limão. Fonte: Janaína Anacleto

Figura 11. Cheescake (video) com tofu orgânico e pitaia na massa. Fonte: Janaína Anacleto


Juliano Hojah da Silva - Sítio São Sebastião, Natividade da Serra - SP. @sitiodoaltodaserra

Figura 12. Detalhe da área de produção e quintal agroflorestal no entorno da moradia. Fonte: Juliano Hojah da Silva

Vende-se in natura:

  • Peixinho R$3,00/maço
  • Catalonia R$4,00/maço
  • Almeirão roxo R$4,00/maço
  • Azedinha R$4,00/maço
  • Serralha R$4,00/maço
  • Orapronobis R$4,00/100g
  • Guaco R$4,00/100g
  • Capuchinha em flor R$5,00/caixinha
  • Boldo R$3,00/100g
  • Batata yacon R$8,00/kg
  • Banana vinagre R$4,00/kg

Saem pouco, mas como temos e manejamos, colocamos na lista semanal e ajuda a formatar boas cestas. O peixinho as vezes conseguimos mandar para a CSA, aí são 30 clientes x R$5,00 (preço da unidade na CSA - maço um pouco maior): R$150,00 de uma só vez.


Moatán Ribeiro Pinhal - Sítio Bico do Piu, Mogi das Cruzes - SP.

Basicamente vendo as seguintes PANC in natura no litoral de São Paulo: 

  • taioba
  • azedinha
  • ora-pro-nóbis
  • vinagreira
  • peixinho

Tenho preferência pela azedinha pela facilidade de colheita, plantio e quando o consumidor se permite experimentar misturado na sua salada fazendo a vez do limão é ótimo. Mas isso é como toda PANC que temos que ter a venda ativa.


Renato César Sbruzzi Portela - Chácara José Cândido, Caçapava - SP.

Eu não comercializo nada, mas gosto muito de cultivar PANC.

Ganhei uma que também é conhecida como major-gomes em alguns lugares, mas em Belém - PA onde é mais popular, me falaram que é conhecida como carirú (Figura 13).

Figura 13. Major-gomes, também conhecido como fura-tacho em Minas Gerais por causa de suas raízes de reserva. Fonte: Renato Portela.


Aline Lopes Lima - Sítio Santo Antônio, Pindamonhangaba - SP 

Ainda não comercializamos mas produzo para consumo próprio e amigos: 

  • broto de bambu Phyllostachys (muito invasor que precisa manejo!) (conservas)
  • coração de bananeira (conserva)
  • vinagreira que vai bem (tirando quando são atacadas pelas cortadeiras!) (in natura



















Figura 14. Touceira de bambu que maneja para coleta de brotos. Fonte: Aline. 

Ainda não fez análise para formar preço, mas acredita que custaria em torno de (400g bruto):

  • broto de bambu: R$10,00
  • coração de banana: R$18,00

Pretende produzir para a venda na época das culturas ou até acabar o estoque. 

 

Ana Lucia Martins - Sítio Toca do Tatu.  Endereço: Rua Braz Armando de Souza, 270, bairro Marafunda, Ubatuba - SP.

Aqui em Ubatuba, as PANC estão chegando lentamente há algum tempo. Já estão nas bancas da feira.

As preferidas do meu público são (Figura 15):

  • Almeirão
  • Taioba
  • Peixinho
  • Capuchinha
  • Coração da banana

Percebo também um aumento na procura por chá, picão, baleeira são bem queridos.

As PANC são de fácil cultivo e super nutricionais. Porém são mais fácil de cultivar e são perenes.

As vinagreiras aqui também são bem conhecidas.

Gosto muito de enfeitar os buquês:

Figura 15. Preparo de PANC para formar buquês. Capuchinha, alcaparra da capuchinha (centro) e flores e brotos de abóbora (cambuquira). Fonte: Ana Lúcia Martins.

Figura 16. Saladas com PANC. Fonte: Ana Lúcia Martins. 

  • Buquê PANC:

Embrulhar (PANC) na taioba deixa o que está dentro protegido e a pessoa pode lavar a taioba e comer. Eu faço esses buquês, porque identifiquei, fazendo feira, que algumas pessoas tinham dificuldade de consumir um maço inteiro de rúcula, por exemplo. Levavam pouca verdura por isso, e não tinham a diversidade. Os buquês coloco quatro porções, uma folha, um tempero, um chá e uma PANC. Para duas pessoas é bem servido (Figura 17)

 
Figura 17. Buquê PANC embrulhado na taioba para não gerar resíduo. Fonte: Ana Lucia Martins.

Falando em jaca, estou com jaca dura na hora de colher. Se alguém interessar me chama no privado por favor.

Que bom que gostaram, agroecologia é Cuidado.


Kênia Bahr - CDRS - Coordenadoria de Desenvolvimento Rural Sustentável, Ubatuba - SP 

Não vendo, mas produzo, coleto (e realiza estudos aplicados com culinária gourmet abrangendo diversas PANC) para consumo próprio e para distribuição aos amigos e vizinhos. 

Dentre as espécies, destacam-se: 

  • espinafre africano
  • peperomia
  • malvavisco (flor e folha)
  • chaya
  • urtiga
  • quirquinha
  • jambu roxinho
  • caapeba
  • bananinha ornamental
  • urucum
  • gardênia
  • frutas nativas (diversas)
  • rama de batata-doce 
Partes não convencionais de plantas cultivadas: 

  • cambuquira de chuchu
  • mamão verde
  • jaca verde
  • etc. 

Preparo geleia e tempero com algumas e também compotas de frutas com mel com outras.

Acompanho o trabalho das comunidades nas feiras de Ubatuba e do pessoal do MST e, em geral, tem bastante PANC nas bancas e nas cestas.

Algumas fotos de produtos processados de PANC que faço em casa:


Figura 18. Biscoito de arroz e erva-baleeira. Fonte: Kênia Bahr



Figura 19. Sorrentinos de massa de pitaia e bertalha-coração. Fonte: Kênia Bahr

Figura 20. Pudim coberto com compota de grumixama. Fonte: Kênia Bahr

Figura 21. Molho de araçá-boi e pimenta verde para salada. Fonte: Kênia Bahr

Figura 22. Pesto de PANC variadas. Fonte: Kênia Bahr

Figura 23. Tempero pronto com PANC. Fonte: Kênia Bahr

Figura 24. Cheesecake de juçara com calda de groselha-do-ceilão e flor de beijo. Fonte: Kênia Bahr

Uau !😋

Essa movimentação me lembrou de enviar uma informação aqui, para quem se interessar: 
no início do ano passado foi fundada a Comunidade pelo Fortalecimento da Sociobiodiversidade da Mata Atlântica - Vale do Paraíba e Costa Verde, ligada ao Movimento Slow Food. 

A comunidade (CSF) é aberta a qualquer pessoa que se identifique, estude, trabalhe ou se interesse pelo tema. Temos realizado pequenos eventos (virtuais e presenciais quando possível) como feiras agroecológicas, bate-papos, oficinas, etc, junto a diversos parceiros. 

Caso alguém se interesse em integrar esse movimento, pode me procurar que eu envio mais informações. 🌱

Fonte: Kênia Bahr


Vinicius Pontello - Sítio Sagrado Coração da Terra, Estrada da Cachoeira, km 7, Bairro Dona Luciana, Gonçalves - MG

Aqui na feira de Gonçalves comercializamos Taioba, peixinho e azedinha. Já ofereci tanchagem também e em outras épocas já ofertaram serralha por aqui.

A azedinha é a mais comercializada.


Natalia Martín - @sitioflordarainha, São Luiz do Paraitinga - SP

Figura 25. Cerca viva em formação com ora-pro-nóbis. Fonte: Natália Martín 💚🙌🏼


Goura Lila Devidassi - Fazenda Nova Gokula, Ribeirão Grande, Pindamonhangaba - SP 

Eu vendo:

  • almeirão roxo
  • ora-pro-nóbis
  • major-gomes
  • capuchinha

Alda Maria Amaral Santos - Sítio Betel, lote 14, Assentamento Egídio Brunetto, Lagoinha - SP

Comercializo e consumo PANC diariamente. Para mim as PANC são sinônimo de saúde. Só tenho uma CSA e ela consome bastante PANC:

  • almeirão
  • bambu (conserva)
  • bertalha 
  • cabaça (doce) 
  • cambuquira 
  • capuchinha 
  • caruru 
  • confrei 
  • for de abóbora (geleia ou refogado, farofa) 
  • major-gomes 
  • mostarda 
  • serralha 
  • umbigo de banana (conserva)

E outros que fazemos o uso, mas não tinha o nome de PANC para minha mãe e avó. Para elas eram apenas as plantas nativas espontâneas. O interessante era que quando chegamos no local para morar não tinha nada e aí começou a nascer estas plantas maravilhosas que podemos e devemos usar na alimentação.


Resumo dos resultados

Total de participantes: 11 pessoas abrangendo quatro regiões e nove municípios (Figura 26)

Figura 26. Região e municípios representados na pesquisa sobre PANC. Fonte: Antonio Devide, 2022.

Figura 27. PANC relacionadas nos depoimentos dos membros da Rede Agroflorestal e agrupamento de partes utilizadas por frequênciasFonte: Antonio Devide, 2022.


Contribuíram com este relato:

  • Alda Maria Amaral Santos - Sítio Betel, lote 14, Assentamento Egídio Brunetto, Lagoinha-SP.
  • Ana Lúcia Martins - Sítio Toca do Tatu.  Endereço: Rua Braz Armando de Souza, 270, bairro Marafunda, Ubatuba-SP.
  • Aline Lopes Lima - Sítio Santo Antônio, Estrada Municipal  Luiza Fernandes de Miranda, 300, Ribeirão Grande, Pindamonhangaba - SP.
  • Antonio Carlos Pries Devide - Sítio Arco Íris. Endereço: Estrada das Borboletas, 4870, bairro Ribeirão Grande, Pindamonhangaba-SP.
  • Goura Lila Devidassi - Fazenda Nova Gokula, Ribeirão grande, Pindamonhangaba-SP.
  • Janaína Anacleto - Sítio Anacleto. Endereço: Assentamento de Reforma Agrária Conquista, Tremembé-SP.
  • Juliano Hojah da Silva - Sítio São Sebastião (@sitiodoaltodaserra), Bairro Alto, Natividade da Serra-SP.
  • Moatán Ribeiro Pinhal - Sítio Bico do Piu. Endereço: Estrada do Mombuca, caixa 10, distrito de Taiaçupeba, Mogi das Cruzes - SP.
  • Natália Martín - Sítio Flor da Rainha, São Luiz do Paraitinga - SP.
  • Renato César Sbruzzi Portela - Chácara José Cândido, AV José Cândido Sbruzzi 1003, Caçapava-SP.
  • Vinícius Ribeiro Pontello - Sítio Sagrado Coração da Terra, Estrada da Cachoeira, km 7, Bairro Dona Luciana, Gonçalves-MG.

Sistematização, redação e edição: Antonio Carlos Pries Devide - Pesquisador científico - APTA - Polo Vale do Paraíba, Pindamonhangaba - SP. 

Envie contribuições para o blog: antonio.devide@sp.gov.br


21 de jan. de 2022

VIVÊNCIA AGROECOLÓGICA SEM TERRA NO ASSENTAMENTO EGÍDIO BRUNETTO, LAGOINHA-SP

Por : José Miguel Garrido Quevedo - Engº Agrônomo do INCRA SP e da Rede Agroflorestal do Vale do Paraíba

Ana Ariel Terra - Acampada do Assentamento Egídio Brunetto, Lagoinha - SP


Figura 1. Imagem aérea da área de produção agroflorestal da família do Higor Leopoldo e Daniela Ferreira. Fonte: Rafael Bignotto (IPA/SIMA-SP).

Uma busca por um mundo melhor. É assim que pensaram os que aceitaram o chamado da vivência do casal Higor Leopoldo Costa e Daniela Ferreira no Assentamento Egídio Brunetto em Lagoinha-SP para vivenciar um final de semana Sem Terra regado pela Agroecologia. Montamos as barracas no acampamento, Tomamos banho frio. Utilizamos banheiro seco com serragem e saboreamos os quitutes vegetarianos servidos pela equipe de companheiras deste assentamento (Fig. 2 e 3).

 
Figura 2 e 3. Recepção com exposição de sementes e muitos alimentos feitos com produtos da terra.

Na apresentação (Fig. 3) percebeu-se que estes professores, arquitetos, médico, servidores públicos e funcionários vindos dos coletivos como o Coletivo Caiçara, a Ecovila do Proletariado, a Teia dos Povos vieram ver o que o MST tem de diferente. Descontentes com a perspectiva política que o país atravessa o MST se apresenta como uma alternativa ao sistema vigente.


Figura 3. Reunião para apresentações e início dos trabalhos.

A Mística já mostrou que estes atores têm consciência política, “vamos comer dinheiro, Vamos comer dinheiro” era uma das estrofes que emanaram de seu canto. A Cacau nos mostrou como a agroecologia começou a fazer sentido como bandeira de luta dentro do MST a partir de 2014.

Nos emocionamos com o depoimento do Carijó que tratou da longa luta pela terra. Já são 10 anos para cada uma destas 55 famílias conquistarem seu pedaço de chão (aqui a chamada do relato de vida do Carijó para ficar no rodapé).

Depois desta primeira conversa fomos visitar os arranjos que o Higor implantou em seu lote (Fig. 4). São três tipos de Sistemas Agroflorestais. O primeiro é o sistema multidiverso com linhas de frutíferas e linhas de nativas, com destaque para a banana e o pêssego intercalados com canteiros de abóbora, milho, quiabo, etc. O segundo mais voltado para o cultivo das olerícolas e ainda um terceiro nos morros com linhas de banana intercalado com canteiros de mandioca.

Figura 4. Higor Leopoldo Costa apresentando suas experiências de SAF.

Para finalizar o dia fomos brindados com boa música e cachaça ao redor de uma calorosa fogueira.

A noite ao caminhar para a barraca um fato me chamou atenção, o tempo nublado tinha um pequeno vão de céu enluarado, o céu estrelado bem acima do Egídio Brunetto me disse que os Orixás da Dani nos protegiam.

Café da manhã reforçado com as tortas da Dani. Fomos entender o trabalho do dia. Íamos implantar uma nova área de Saf. Linhas de Nativas intercaladas por linhas de frutíferas com bananas, feijão de porco e feijão guandu, como adubadoras.

As linhas de nativas seriam implantadas tendo o conceito de estratificação em mente. O MST tem o costume de fornecer mudas de nativas pioneiras e secundárias iniciais para promover o recobrimento inicial das áreas de Saf, com plantio posterior de mudas de espécies de futuro, associado a semeadura de sementes destas espécies, como o jatobá (Fig. 5 e 6).

 
Figura 5 e 6. Apresentação esquemática do projeto de SAF Neuza Vive. Entrelinhas com arroz de sequeiro.
 

As pioneiras e secundárias iniciais foram plantadas seguindo a seguinte regra (Fig.5 e 6):

  • 1º) pioneira emergente, percebida no tubete por tender a se estiolar.
  • 2º) pioneira de crescimento rápido, percebida no tubete por ter a canela grossa.
  • 3º) secundária inicial, percebida no tubete por ter caule fininho, indicando crescimento mais lento.
  • Ao redor de cada muda duas sementinhas de feijão de porco.

E no intervalo das mudas nativas os berços de sementinhas de feijão guandu e os berços dos rizomas de banana.

Nas linhas de frutíferas o mesmo conceito de estratificação foi aplicado, qual seja: Primeiro uma muda que ocupa o extrato superior quando adulta intercalado com uma espécie de extrato mais baixo, quando adulta. Da mesma forma intercalado de sementes de feijão de porco, feijão guandu e rizomas de banana. E assim se desenvolveu o mutirão com o método 'aprender fazendo', onde quem sabe mais ajuda a ensinar quem está chagando (Fig.7, 8 e 9).

Figura 7. Thiago Coutinho apresenta as mudas e o esquema de plantio.

 

Figura 8 e 9. Mutirão de plantio 'aprender fazendo' onde cada um que sabe mais ajuda a ensinar quem está chegando.

Para finalizar as chamadas do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra e a homenagem a companheira Neuza que nos deixou recentemente e batizou nosso Saf (Fig. 10). 

Figura 10. SAF em homenagem a companheira Neuza.

Neusa Paviatto Botelho Lima, dirigente do MST da região de Ribeirão Preto.

Neusa, uma trabalhadora costureira, mãe de quatro filhos, ingressou no MST nos anos 1990, a partir da ocupação do horto Boa Sorte, em Restinga-SP. De lá prá cá, foram anos de dedicação incansável na luta pela reforma agrária e pela construção do socialismo.

Atuou em todas as frentes do MST, com destaque para o setor de produção, onde ajudou a formar inúmeras associações e cooperativas.

Defendeu que "não há movimento sem movimento, a ocupação é o ar de uma organização”.

Neusa Paviatto Botellho Lima.

Presente!

13/03/1961-06/01/2022

Agora era hora de se refrescar na cachoeira do Assentamento e repor as energias com os vegetais colhidos na horta e o arroz com feijão e macarrão feitos com carinho e se despedir deste dia de “Sem Terra”.

Nota técnica para o relato do assentado de reforma agrária 'Carijó' sobre a história do assentamento Egídio Brunetto, de Lagoinha-SP:

"Rede Agroflorestal do Vale do Paraíba: AÇÕES COM SISTEMAS AGROFLORESTAIS NO ASSENTAMENTO EGÍDIO BRUNETTO EM LAGOINHA - SP" http://redeagroflorestalvaledoparaiba.blogspot.com/2019/10/acoes-com-sistemas-agroflorestais-no.html?m=1


Revisão: 

Verônica Andressa de Castro - Aluna de agronomia da Faculdade da Unesp de Botucatu

Edição para o blog: 

Antonio Carlos Pries Devide - Pesquisador da APTA - Polo Vale do Paraíba

18 de jan. de 2022

PRODUÇÃO AGROECOLÓGICA DE ALIMENTOS REGENERA A PAISAGEM DO SÍTIO SÃO SEBASTIÃO EM NATIVIDADE DA SERRA - SP

RELATO DE EXPERIÊNCIA DO SÍTIO SÃO SEBASTIÃO, NATIVIDADE DA SERRA - SP

Por: Juliano Hojah da Silva


  
 Figura 1. Produção do Sítio São Sebastião em Natividade da Serra - SP, Juliano Hojah Silva e filha.  Fonte: Juliano Hojah


Nome do sítio: Sítio São Sebastião (Figura 2), em atividade a mais de 30 anos, acessível nas redes sociais  como: @sitiodoaltodaserra

Localização: 23º26'56.1"S 45º20'41,5"O

https://goo.gl/maps/yjb8DkT6cnQNBBAN9

Figura 2. Localização do Sítio São Sebastião, em Natividade da Serra-SP. Fonte: Google Maps


Localização: Bairro Alto, Natividade da Serra, SP

Nomes dos produtores: Violeta Martínez Zepeda e Juliano Hojah da Silva

Ano da conversão/início da produção: compramos o sítio em 2019, mas já havia pomar formado.

Uso anterior: pasto, eucalipto e pomar

Uso atual: pasto, eucalipto, pomar, sistema agroflorestal (SAF) e horta biodiversa

Figura 3. Quintal agroflorestal entorno da moradia no Sítio São Sebastião, em Natividade da Serra-SP. Fonte: Juliano Hojah


Iniciativas com SAF: frutas nativas (cambuci, uvaia, grumixama, cabeludinha, juçara e goiaba) com exóticas (citrus, banana, abacate, uva e figo).

Atividades previstas para o ano de 2022: plantio de 2.500 árvores em SAF, dessas 1.000 serão de frutas nativas.

Figura 4. Controle ao ataque de fauna (pássaros) em área hortícola com espantalho e linha de CD pendurado no Sítio São Sebastião, em Natividade da Serra-SP. Fonte: Juliano Hojah


Vendemos PANC - plantas alimentícias não convencionais:

  • Peixinho R$3,00/maço
  • Catalonia R$4,00/maço
  • Almeirão roxo R$4,00/maço
  • Azedinha R$4,00/maço
  • Serralha R$4,00/maço
  • Ora-pro-nobis R$4,00/100g
  • Guaco R$4,00/100g
  • Capuchinha em flor R$5,00/caixinha
  • Boldo R$3,00/100g
  • Batata yacon R$8,00/kg
  • Banana vinagre R$4,00/kg

Todas saem bem pouco, mas como temos e manejamos colocamos na nossa lista semanal quando tem. Mas ajuda a formatar boas cestas.

 
Figura 5. Detalhe da produção de açafrão e araruta associada com abacaxi no Sítio São Sebastião, em Natividade da Serra-SP. Fonte: Juliano Hojah

O peixinho as vezes conseguimos mandar para a CSA, aí são 30 clientes x $5 (preço da unidade na CSA maço um pouco maior) = $150 de uma só vez

Contatos (visitas): 

(12) 99644-9944 WhatsApp (pela alta na infecção de covid estamos sem marcar visitas)

Fonte das informações: Juliano Hojah da Silva

Sítio São Sebastião (@sitiodoaltodaserra), Bairro Alto, Natividade da Serra,SP.


13 de jan. de 2022

Mutirões no Sítio Nossa Senhora Aparecida no assentamento Nova Esperança em São José dos Campos - SP visam consolidar a fruticultura agroflorestal

Figura 1. Banner de convite para o mutirão agroflorestal. Fonte: Luciano Reis.

O Sítio Nossa Senhora Aparecida está fazendo 10 anos de transição agroecológica. Neste período diversas mudanças ocorreram, tais como a conversão de pomares antigos para o manejo orgânico, inserção da produção de hortaliças nos moldes da agricultura sintrópica e expansão das áreas de sistemas agroflorestais (SAF) (Figura 2) para adequar a propriedade rural e dos sistemas produtivos no que tange ao aumento da biodiversidade e resiliência às mudanças climáticas, proteção de nascentes, corredor ecológico e aumento na quantidade de componentes arbóreos para contribuir na proteção da Reserva Legal.

Figura 2. Local do mutirão agroflorestal no Sítio Nossa Senhora Aparecida, Assentamento Nova Esperança, em São José dos Campos - SP. Fonte: Lucas Lacaz Ruiz / A13.

Atualmente a geração de renda do Sítio tem origem em cerca de 25 famílias de co-agricultores que integram a CSA Pindorama (CSA - Comunidade que Sustenta a Agricultura) (Figura 3). Estão à frente desse projeto o agroflorestor Luciano Reis, filho do Sr Gessi e da dona Ana, que implantaram os primeiros pomares de manga, citrus, café e outras culturas perenes. 

Figura 3. Logomarca da CSA Sítio Nossa Senhora Aparecida - Produção Agroecológica, Assentamento Nova Esperança, em São José dos Campos - SP. Fonte: Luciano Reis.

A origem de Luciano não é agrícola, mas quando ingressou no assentamento, após participar dos mutirões agroflorestais organizados pelos membros da Rede Agroflorestal do Vale do Paraíba conheceu os SAF com a metodologia apreender fazendo e decidiu permanecer no assentamento para ajudar seus pais a estabelecerem metas e padrões para a transição agroflorestal, e de aprendiz passou a educador nos mutirões que coordena (Figura 4).

Figura 4. Mutirão agroflorestal no ano de 2019 no Sítio Nossa Senhora Aparecida, Assentamento Nova Esperança, em São José dos Campos - SP. Fonte: Lucas Lacaz Ruiz / A13.

Os mutirões que serão realizados entre janeiro e fevereiro de 2022 devem abranger áreas sensíveis com solo declivoso que sofreu os problemas da erosão e da queimada no ano de 2021. Luciano foi um dos camponeses que se dedicou a combater o incêndio e realizar o trabalho de rescaldo dos resíduos de madeira ainda em processo de carbonização na área da Reserva Legal do assentamento, vizinha do lote (Figura 5).

Figura 5. Luciano Reis em trabalho de rescaldo da vegetação da Reserva Legal do Assentamento Nova Esperança, em São José dos Campos - SP. Fonte: Lucas Lacaz Ruiz / A13.

Em pesquisa recente verifica-se que o Sítio Nossa Senhora Aparecida se destaca com outras seis propriedades locais para um aumento de 82,4 hectares de área com vegetação arbórea, em comparação com outras sete propriedades sem SAF do assentamento Nova Esperança, em São José dos Campos - SP (Figura 6). Essa estimativa é baseada na imagem NDVI (Índice de Vegetação por Diferença Normalizada) de apenas 07 (sete) propriedades com SAF comparadas a outras sete sem SAF (Guerreiro; Devide 2021). 

Figura 6. Mapa do Assentamento Nova Esperança, em São José dos Campos - SP. A imagem NDVI da imagem Sentinel destaca propriedades com e sem SAF. O Sítio Nossa Senhora Aparecida é o primeiro indicado na parte superior esquerda da imagem. Fonte: Silva, Devide 2021.

Assim, a implantação dos SAF também visa aumentar a recarga hídrica, pois deve combater o escorrimento superficial da água da chuva. Ao todo serão implantados 2,0 (dois) hectares de SAF em solo roçado que deve receber um preparo mínimo com tratorito (adquirido em parte com recursos de obtidos de campanha de doação) nos berços de plantio das espécies perenes, com ênfase em frutas e árvores nativas para poda e madeira de lei, além da associação com espécies exóticas como a citrus, amora, ameixa, bananeira e a batata inglesa, esta cultura será introduzida apenas nas áreas com maior aptidão, nas entrelinhas.

Figura 7. Recursos genéticos (adubos verdes) normalmente empregados no mutirão agroflorestal. Fonte: Lucas Lacaz Ruiz / A13.

A adubação será realizada com adubo orgânico e adubação verde de nabo forrageiro, feijão de porco, tefrósia e feijão guandu.

O sítio Nossa Senhora Aparecida conta como parceiros os atores que integram a 'Biblioteca Lúcio Reis' (São José dos Campos) e 'Adubamente'. Essa atividade conta com apoio do Instituto Auá, com projeto Semeando Economia Verde na Mata Atlântica, que visa plantar 50 mil mudas nativas com potencial econômico com a metodologia 'Pomares da Mata Atlântica' em municípios da bacia do Alto Vale do Rio Paraíba do Sul. O projeto coordenado por Pedro Kawamura e implantado com supervisão do técnico Thiago Mônaco tem o apoio da Fundação Banco do Brasil.

Figura 8. Confraternização antes do mutirão agroflorestal no ano de 2019 no Sítio Nossa Senhora Aparecida, Assentamento Nova Esperança, em São José dos Campos - SP. Fonte: Lucas Lacaz Ruiz / A13.

Recomendações: 
  • Agendamento prévio com Luciano.
  • Número limitado de inscritos
  • Só poderão participar pessoas com a vacinação completa
  • Uso de máscara obrigatório
  • Alimentação colaborativa
Figura 9. Traga sua ferramenta. Fonte: Lucas Lacaz Ruiz / A13.

Responsável pela postagem: Antonio C. P. Devide - Pesquisador científico - APTA Polo Regional Vale do Paraíba, Pindamonhangaba

Referências bibliográficas:

Silva, D.G.O.; Devide, A. C. P. Contribuições dos sistemas agroflorestais no índice de vegetação NDVI do Assentamento Nova Esperança I em São José dos Campos - SP. Anais... XII Congresso Brasileiro de Sistemas Agroflorestais. ESALQ/USP: Piracicaba, 2021.