13 de mar. de 2025

 Relato técnico do Curso Manejo Biodinâmico de Sistema Agroflorestal avançado com foco em banana, frutas nativas e araruta

Por Julia Trommer de C. Vaz, gestora ambiental, Pindamonhangaba, SP, Brasil, relatoria técnica, e Antonio Carlos Pries Devide, pesquisador da Apta Regional de Pindamonhangaba,SP, Brasil, revisor.

Figura 1. Participantes do Curso de manejo de SAF avançado com foco em bananeira, frutas nativas e araruta, Apta Regional de Pindamonhangaba, SP.

Resumo

O Curso de Manejo Biodinâmico de Sistema Agroflorestal avançado com foco em banana, frutas nativas e araruta foi realizado nos dias 22 e 23 de fevereiro de 2025 na Apta Regional de Pindamonhangaba. O curso promoveu o desenvolvimento humano para o manejo de sistema agroflorestal avançado, apresentou as bases do cultivo da araruta em um SAF simples, introduziu o uso de preparados biodinâmicos e apresentou a área de pesquisas de restauração florestal com muvuca de sementes. A atividade contou com 30 participantes de 12 municípios do Vale do Paraíba e sul de Minas Gerais, incluindo produtores rurais, sitiantes, agricultores familiares da reforma agrária, estudantes, educadores, técnicos e pesquisadores, que participaram de um mutirão de manejo de uma área de 400m² de um SAF avançado.

 

Pesquisa participativa na Apta Regional de Pindamonhangaba

O Curso foi realizado no Setor Fitotecnia da APTA Regional de Pindamonhangaba, situado na Av. Dr. Antônio Pinheiro Júnior, nº 4009, Ponte Alta, Pindamonhangaba, SP. Essa unidade da Apta é a única no estado a possuir certificação orgânica e desde 2023 vem fazendo a transição biodinâmica com o apoio da ABD - Associação Brasileira de Agricultura Biodinâmica e dos SPG - Sistema Participativo de Garantia Biovitalidade da Terra e Mar de Morros.

No âmbito do Projeto Vitrine Agroecológica diversas pesquisas e cursos foram realizados na Apta de Pindamonhangaba empregando métodos participativos, que visam promover a integração social induzindo o aprendizado por meio de questionamentos aos participantes, que desenvolvem uma visão crítica no 'aprender fazendo’ em atividades que unem a prática e a teoria. Exemplo disso consta em registros no blog da Rede Agroflorestal do Vale do Paraíba de um curso de longa duração realizado no ano de 2019, com foco na formação de novos agricultores(as) familiares, cujas ações ajudaram a formar o SAF avançado manejado durante o curso em 2025 (Figura 2).

Figura 2. Preparo prévio da área do SAF avançado em curso de longa duração na Apta Regional de Pindamonhangaba (2019). 

O Curso de Manejo Biodinâmico de Sistema Agroflorestal avançado com foco em banana, frutas nativas e araruta foi realizado nos dias 22 e 23 de fevereiro de 2025 foi realizado no âmbito da iniciativa ‘APTA Portas Abertas’ da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Governo do Estado e contou com o apoio da ABD, Instituto Mahle, Sítio Ecológico, ISA - Instituto Socioambiental e FUNDAG - Fundação de Apoio à Pesquisa Agrícola  (Figura 3).

Figura 3. Programação do Curso de Manejo Biodinâmico de Sistema Agroflorestal avançado com foco em banana, frutas nativas e araruta.

Ao longo dos dois dias foram estudadas três áreas de pesquisa: um SAF simples com o cultivo experimental biodinâmico de araruta em faixas intercalares com linhas de diversidade de gliricidia, banana e ora-pro-nobis; um SAF biodiverso avançado com foco no cultivo experimental de diversidade de bananeiras consorciadas com gliricídia, frutas nativas, araribá, macaúba, juçara e cúrcuma; e área de muvuca de sementes para restauração florestal produtiva com frutas nativas, banana, adubos verdes e culturas tradicionais.

Pesquisas em Soberania e segurança alimentar e nutricional com ênfase na araruta sob manejo biodinâmico

A primeira área de pesquisa visitada foi um SAF simples, no âmbito do Projeto Agroecologia, Soberania Alimentar e Nutricional, com horto de PANC implantado em 2010, onde a pesquisadora Drª Cristina Castro apresentou o manejo da araruta (PANC) em sistema de produção agroecológico e biodinâmico. Cristina falou do histórico do uso do solo e sobre o manejo de poda da leguminosa arbórea gliricídia, principal adubo verde utilizado para fertilizar o sistema, o seu rendimento de adubo orgânico e de estacas para o plantio, propriedades e multifunções da gliricídia no sistema produtivo (Figura 4). 

Figura 4. SAF simples com araruta cultivada experimentalmente sob a copa da gliricídia, apresentado por Cristina Castro na Apta Regional de Pindamonhangaba  (22 e 23/02/2025).

Da araruta, falou do seu comportamento no sistema consorciado, suas exigências, adaptação à meia sombra e áreas mais úmidas, mecanismos de tolerância ao estresse hídrico e térmico por meio do movimento do pulvino e enrolamento das folhas, além da produtividade nesse sistema de cultivo. Dessa espécie, aprofundou sobre a importância do uso do polvilho de araruta na soberania e segurança alimentar e nutricional, suas propriedades alimentícias e medicinais. O cultivo da araruta faz parte da história brasileira desde o descobrimento e antes, pois era cultivada e beneficiada pelos povos originários na Mata Atlântica. Cristina propôs em suas pesquisas o resgate cultural com o cultivo e beneficiamento desse alimento benéfico para a saúde, podendo substituir o polvilho de mandioca em muitas receitas. Algumas das espécies rizomatosas cultivadas no local são: araruta-comum - Maranta arundinacea L., araruta-ovo-de-pata - Myrosma cannifolia L.f. e araruta-taquarinha (ainda não identificada) da família Marantaceae, e ararutão - Canna edulis Ker Gawl., que apesar do nome popular, pertence a família Cannaceae.

Introdução ao uso dos preparados biodinâmicos

Em seguida, a Engª Agrônoma Ana Rezende apresentou aos participantes as bases da Agricultura Biodinâmica e sua definição, segundo Rudolf Steiner;, o histórico e a introdução no Brasil, até a fundação da Associação Brasileira de Agricultura Biodinâmica - ABD. Ressaltou a importância da ABD na manutenção e divulgação das metodologias, estudos e oferta de insumos, sementes, preparados biodinâmicos e a atuação como SPG - Sistema Participativo de Garantia da qualidade orgânica e Demeter. Ainda apresentou a agenda biodinâmica e o calendário biodinâmico, criado a partir das pesquisas da agricultora alemã Maria Thun, que há mais de 50 anos estudou a influência da lua e dos astros nas plantas. A agenda traz um calendário que contempla as atividades de plantio, cultivos, manejo e colheita conforme as fases da lua para auxiliar os agricultores a se manterem conectados com as forças universais, reforçando o conhecimento ancestral indígena, sendo um instrumento de reconexão entre o universo e a terra.

Ana Rezende explicou sobre os preparados biodinâmicos e suas aplicações: chifre esterco, chifre sílica e o fladen, estes foram aplicados anteriormente na área de SAF simples no âmbito das pesquisas da Dra. Cristina Castro, com objetivo em auxiliar a araruta e o desenvolvimento do sistema como um todo.

No segundo momento do dia, Ana Rezende conduziu o feitio do preparado biodinâmico fladen, explicando a importância da dinamização e da presença consciente no alinhamento do feitor com as intenções desejadas naquele preparado e no cultivo (Figura 5). Os participantes puderam auxiliar na dinamização e pulverização, realizada com ramos de folhas, semelhante ao ato de benzimento, aplicando o preparado em toda a extensão dos SAF após a poda da gliricídia e do araribá, conduzidas durante as atividades de manejo no Curso. A utilização deste preparado tem o princípio fundamental de auxiliar o processo de decomposição da matéria por meio da reorganização bioenergética do sistema.


Figura 5. Introdução ao uso do preparado fladen na agricultura biodinâmica nos sistemas agroflorestais da Apta Regional de Pindamonhangaba (22 e 23/02/2025).

Pesquisas em transição biodinâmica de Sistemas agroflorestais com foco na bananeira e frutas nativas

Ainda na parte da manhã o Dr. Antonio Devide apresentou as pesquisas realizadas em um SAF biodiverso com foco em bananas (tradicionais e novos cultivares), frutíferas nativas diversas (ênfase em Myrtaceae) e arbóreas araribá (madeira) e gliricídia (poda), palmeiras macaúba (óleo comestível) e juçara (polpa), dentre outras espécies menos frequentes.

Foi explicada a construção desse SAF em etapas, iniciada a partir de um experimento de plantio direto de estacas de diferentes diâmetros de gliricídia em grama batatais. Conforme verificado pela pesquisadora Johanna Dobereiner, no ano de 1963, essa grama nativa também realiza a fixação biológica do nitrogênio de maneira parecida ao que ocorre em plantas leguminosas, como a gliricídia, razão pela qual a área não foi arada e optou-se pelo sistema de plantio direto do SAF. A Dra. Cristina descreveu a crescente demanda por estacas de gliricídias no campo das pesquisas, iniciando este banco de matrizes em 2016 (Figura 6).


Figura 6. Plantio direto de estacas de gliricídia na grama batatais (2016), entrelinhas com adubação verde e cultivo de quiabeiro (2017), situação do SAF após trituração do guandu (2018) e SAF biodiverso com três anos de idade (2019). Fonte: Devide et al., 2018.

O amplo espaçamento das estacas possibilitou o plantio experimental de variedades antigas e novos cultivares de bananeiras de maneira alternada com a gliricídia, na linha, para serem avaliadas dentro de um sistema agroecológico de produção com baixo uso de insumos externos.

No terceiro ano de manejo desse sistema as entrelinhas foram roçadas e após passar um riscador de quatro linhas espaçadas ca. 1,0 m entre si sob a grama batatais semeou-se adubos verdes (guandu e crotalária) nas linhas laterais com as duas linhas centrais recebendo as sementes de quiabeiro. Após o corte da crotalária, sendo a colheita do quiabo finalizada e realizada uma poda do guandu, este foi roçado rente ao solo com um trator compacto, dando início ao plantio de enriquecimento agroflorestal com frutas nativas intercaladas entre a palmeira macaúba e araribá alternados a cada 5 m em linha central na faixa entre as linhas de gliricídia/banana.

A construção desse SAF se deu no âmbito de trabalhos desenvolvidos na região com coleta de sementes e produção de mudas de espécies frutíferas nativas. Esse SAF recebeu diversos mutirões para o enriquecimento e aumento da diversidade. As pesquisas de doutorado com guanandi na fazendo Coruputuba serviram de base para a introdução e manejo de espécies nativas com interesse econômico em madeira, como o araribá, e óleo, como a macaúba, plantadas com a técnica de quincôncio, alternando o plantio dessas espécies, garantindo um espaçamento de ca. de 10 metros entre indivíduos da mesma espécie na linha.

Ao longo dos anos foi feita a análise do crescimento dos componentes e o manejo de poda da gliricídia para elevar a copa visando evitar os danos por geada e ventos, além do aporte de matéria orgânica rica em nitrogênio para a bananeira. Por outro lado, os resíduos da desbrota e colheita das bananeiras foram canalizados para a linha de frutas nativas, araribá/macaúba, abrindo-se o pseudocaule ao meio, colocando-o sobre o solo no entorno das mudas a fim de transferir a seiva rica em potássio, recebendo as folhas secas picadas por cima, evitando-se, dessa forma, atrair insetos praga como as brocas para a base das touceiras. Concentrar os resíduos no entorno das culturas também visa possibilitar a mecanização da área com tratorito para o plantio de cúrcuma nas entrelinhas do sistema.


Figura 7. Apresentação do SAF avançado e as práticas de manejo empregadas na Apta Regional de Pindamonhangaba (22 e 23/2/2025).

O desenvolvimento do SAF, com as espécies arbóreas ocupando o estrato alto, resultou em queda na produção de bananas pelo sombreamento. O histórico e resultados parciais dessa pesquisa até o ano de 2019 foram reunidos no Documento 118 “Sistemas Agroflorestais: experiências no âmbito da APTA” (BERNACCI et. al, 2021).

 

Manejo do SAF avançado durante o Curso

O agroflorestor Valdir Martins explanou sobre a estratificação e a importância de realizar o planejamento do espaçamento para criar os “andares” produtivos e garantir a entrada de luz no sistema para garantir o desenvolvimento e produção das espécies. Valdir falou sobre a necessidade do manejo das gliricídias com as podas constantes que além de favorecer a entrada de luz, rejuvenesce o sistema, pois repassa os hormônios de crescimento, devido à renovação radicular, para a araruta no caso do SAF simples e para as outras espécies nos outros SAF apresentados.

Na segunda parte do Curso, foi introduzida aos participantes as bases tecnológicas para o manejo do SAF biodiverso avançado, sob orientação do agroflorestor Valdir Martins e o Engº Carlos Silvestre, que apresentaram os equipamentos e ferramentas (escada, facão, serrote, motosserra, tesoura de poda e lima), explicando os cuidados para o uso e preparação destes. Em seguida, com a ajuda de participantes experientes no tema, foi explicado o uso dos equipamentos de segurança (EPI) para o manejo de poda em altura, tais como: cinturão, talabarte, óculos, capacete, bota e luvas (Figura 8).

Figura 8. Exposição com explicações sobre o uso de ferramentas, equipamentos e materiais de segurança na Apta Regional de Pindamonhangaba (22 e 23/2/2025).

Após as instruções, Valdir e Carlos conduziram, no modo de pesquisa participativa, a capina manual com a retirada de toda a trapoeraba de algumas faixas que haviam sido cortadas por funcionário da APTA para servir como cobertura morta sobre a fitomassa seca da poda de gliricídia depositada na linha da banana. Dr. Antonio ressaltou que a trapoeraba deixa de ser uma espécie invasora-problema com a estiagem prolongada que ocorre no outono-inverno.

Em seguida, explicaram a condução da poda no araribá e posteriormente da gliricídia, iniciando-se o manejo com os participantes do curso. O manejo de poda do araribá foi realizado retirando-se os ramos laterais e elevando a copa para ocupar o estrato alto. Na gliricídia, realizou-se a redução do número de pernadas e elevação da copa para uma pernada alta sobre as bananeiras, ou rebaixando duas ou três pernadas na linha onde a bananeira maçã foi replantada (Figura 9).


Figura 9. Manejo de SAF biodiverso em transição biodinâmica na Apta Regional de Pindamonhangaba, SP.

No segundo dia de curso, Valdir explicou como deve se realizar a condução das touceiras de banana e a escolha das plantas que devem ser eliminadas, identificando a planta-mãe, filha e neta. Nesse sistema, eliminou-se o excesso de perfilhos e as touceiras foram conduzidas no sentido de uma “mãe” fornecer uma brotação “filha” que por sua vez irá fornecer uma brotação “neta”. O pseudocaule cortado perpendicular na forma de telhas de 1,20 cm de comprimento foi disposto como cobertura do solo no entorno das frutas nativas.

Valdir apresentou a técnica do “copinho” após o corte do pseudocaule, que deve ser rente a base com a ponta do facão inclinada no sentido do centro do caule para eliminar o meristema (Figura 10). Assim, a deposição dos ovos se torna inviável para o “moleque da bananeira”, nome genérico dos curculionídeos que têm como característica o rostro proeminente e atacam, além da bananeira, diversas palmeiras, causando grandes danos ao rizoma e ao estipe, respectivamente.


Figura 10. Demonstração da técnica do “copinho” na eliminação das bananeiras para controle do “moleque da bananeira”.

Resumo do manejo: Durante o curso foi manejada uma área de pesquisa em SAF avançado com 400 m² (10 x 40 m), consistindo de poda dos seguintes componentes: araribá e outras espécies do estrato alto, como pau ferro e jatobá, retirando-se as ramificações laterais para formação de fuste reto; poda da gliricídia para se manter como quebra vento e reduzir o efeito da geada sem sombrear excessivamente as bananeiras; e condução das touceiras de banana, fortalecendo as plantas que irão frutificar, aumentando a luminosidade e fornecendo matéria orgânica para o sistema, cobrindo o solo por completo de forma a não prejudicar a cúrcuma (Figura 11).

 

Figura 11. Imagem das atividades de manejo do Curso nas áreas de SAF avançado.

Pesquisas de semeadura direta de muvuca de sementes com ênfase em frutas nativas

Dr. Antonio Devide realizou uma apresentação na área de muvuca de sementes com foco em frutas nativas regionais, uso da bananeira na restauração e outros componentes da sociobiodiversidade, como milho variedade, com o objetivo de apresentar esta técnica inovadora de restauração como alternativa aos proprietários rurais e projetos no ramo da restauração ecológica produtiva em reserva legal e APP (Figura 12).


Figura 12. Visita técnica na área de restauração com muvuca de sementes florestais na Apta Regional de Pindamonhangaba (22 e 23/2/2025).

Essa área de pesquisa foi semeada com a muvuca em 2023 e vem sendo enriquecida a cada manejo anual. Antonio, Valdir e Carlos utilizaram essa área como laboratório para explicar o comportamento de algumas espécies utilizadas como placenta e criadoras das espécies que virão a ser as principais espécies no sistema, no caso de frutíferas e árvores nativas, aprofundando o tema das diferentes fases de sucessão e estratificação, que são conceitos relevantes para o entendimento do manejo dos sistemas agroflorestais.

Caracterização dos participantes

O Curso recebeu ao todo 30 participantes de diferentes localidades do Vale do Paraíba, principalmente de Pindamonhangaba, Taubaté e São José dos Campos, além de dois participantes do Sul de Minas Gerais.

Figura 14. Origem dos participantes do Curso de manejo de SAF avançado ministrado na Apta Regional de Pindamonhangaba (22 e 23/2/2025).

O Curso reuniu público diversificado composto principalmente por pessoas ligadas à terra, entre agricultores, proprietários rurais e assentados da reforma agrária, além de técnicos de diversas áreas (Figura 15), predominando homens na faixa de 40 e 50 anos e 30 a 40 anos e mulheres entre 40 e 50 anos (Figura 16).

Figura 15. Perfil dos participantes do Curso de manejo de SAF avançado ministrado na Apta Regional de Pindamonhangaba (22 e 23/2/2025).

Figura 16. Gênero e faixa etária dos participantes do Curso de manejo de SAF avançado ministrado na Apta Regional de Pindamonhangaba (22 e 23/2/2025).

 

Troca de experiências

Durante as rodas de apresentação e de trocas de experiências foi possível conhecer melhor o perfil dos participantes e as produções agroecológicas e orgânicas em desenvolvimento. Alguns destes, o produtor de café agroflorestal sombreado, da Fazenda Campo Místico em Bueno Brandão - MG descreveu seis talhões de produção agroflorestal iniciados em 2017. Na Serra da Mantiqueira, o produtor Milton Roberto compartilhou suas experiências na produção de banana orgânica, explicou como realiza o manejo das bananeiras e compartilhou barrinhas de bananinhas ‘Nana Banana’ com os participantes. O engº agrônomo e professor da Universidade de Taubaté Julio Cesar Raposo descreveu suas pesquisas com palmeiras contribuindo para o entendimento sobre a fenologia reprodutiva e aproveitamento do jerivá e juçara. A pesquisadora Tatiana Cabral de Vasconcelos citou os projetos que coordenou com a Rede Agroflorestal na implantação de SAF em assentamentos de reforma agrária no Vale do Paraíba, destacando a importância dos mutirões e do diálogo com as instituições de pesquisa, como a Apta, para o fortalecimento dos projetos na região. A veterinária e pesquisadora da USP Flávia Malacco relatou sua experiência na elaboração de rações alternativas para bovinos e da necessidade de abertura de pecuaristas para uma nova perspectiva de produção em sistemas silvipastoril devido à constante reclamação de queda da produtividade e ausência de pastagens de qualidade diante dos extremos climáticos. Outros participantes auxiliaram nas explicações sobre segurança no trabalho, uso adequado de EPI e equipamentos de escalada na coleta de sementes (Robson Correa). A Dra. Cristina Eustáquia e seu companheiro o arquiteto Irineu Pinto relataram os projetos de restauração de uma nascente com muvuca de sementes com ênfase na juçara em sua propriedade rural em Pindamonhangaba, que conta com o apoio do Corredor Ecológico do Vale do Paraíba e tem como instrutores Valdir Martins e Carlos Silvestre. Muitas experiências foram comentadas sobre os SAF em assentamentos de reforma agrária no Vale do Paraíba: Nova Esperança em São José dos Campos com as famílias camponesas, entre elas o Sítio Ecológico de Valdir Martins. Também participaram agricultores dos assentamentos Egídio Brunetto e Macuco, de Lagoinha e Conquista, de Tremembé.

Demandas apontadas

- Necessidade de mais pesquisas aplicadas sobre SAF;

- Novos cursos de manejo de SAF avançado;

- Cursos para uso de equipamentos (motosserra e motopoda);

- Fortalecer e reconhecer os produtos agroflorestais;

- Organizar a comercialização e a cadeia produtiva dos produtos agroflorestais;

- Mais viveiros de mudas nativas para SAF.


Referências bibliográficas

https://revistapesquisa.fapesp.br/o-legado-de-johanna-dobereiner/

https://www.gvaa.com.br/revista/index.php/RVADS/article/view/8713

https://www.iac.sp.gov.br/media/publicacoes/iacdoc118.pdf

https://redeagroflorestalvaledoparaiba.blogspot.com/2019/06/relato-de-atividade-do-curso-de-longa.html

https://redeagroflorestalvaledoparaiba.blogspot.com/2021/12/rede-em-ciencia-e-tecnologia-para-o.html

https://www.researchgate.net/publication/357355408_AVALIACAO_DO_MANEJO_DA_BROCA_DA_BANANEIRA_COM_CONTROLE_BIOLOGICO_EM_SISTEMA_AGROFLORESTAL

TEXTO ADAPTADO PARA O BLOG POR: ARTHUR LUIS FERMIANO DA SILVA

12 de jan. de 2025

Manifesto contra violência sofrida pelo Assentamento Olga Benário Vale do Paraíba

 

Vale do Paraíba - SP - 12 de janeiro de 2025.

A Rede de Agroecologia do Vale do Paraíba manifesta, com profundo pesar e indignação, sua consternação diante do assassinato brutal de dois companheiros - Valdir do Nascimento, dirigente do MST e Gleison Barbosa de Carvalho, além das lesões físicas e traumas psicológicos sofridos por outros moradores do assentamento Olga Benário em Tremembé - SP. Este ataque evidencia a persistente violência e a grave ameaça enfrentada por agricultores familiares e militantes comprometidos com a luta pela terra e pela justiça social no Brasil.

A disputa por terras públicas nos assentamentos é uma realidade que afeta o Vale do Paraíba. Este cenário de insegurança agrária, alimentado pela falta de regularização fundiária e pela ausência de políticas públicas eficazes, torna-se ainda mais preocupante diante da escalada de conflitos e da impunidade que perpetua a violência no campo.

Diante desse crime bárbaro, reforçamos nosso apelo ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) para que cumpra integralmente sua responsabilidade em organizar e assegurar os assentamentos de reforma agrária. Isso inclui:

Implementação de processos justos e transparentes de distribuição de lotes;
Regularização fundiária dos assentamentos e segurança jurídica dos assentados;
Oferta de assistência técnica integral que garanta a existência digna das famílias assentadas.

Além disso, solicitamos ao Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, ao Ministério do Desenvolvimento Humano e Cidadania, ao Ministério da Justiça e à Polícia Federal que conduzam uma investigação rigorosa e célere para identificar e punir, com todo o peso da lei, os mandantes e executores desta chacina. É imperativo que as instituições  públicas  demonstrem  compromisso  com  a  justiça  e  proteção  dos  direitos humanos, assegurando que atrocidades como esta não se repitam.

Estamos consternados pelo ocorrido, mas ainda mais determinados a seguir adiante em nossas reivindicações. Este ato de violência não silenciará nosso movimento; pelo contrário, alimenta ainda mais nossa luta pela reforma agrária popular, pela agroecologia e por uma sociedade verdadeiramente justa, igualitária e pacífica.

Às famílias das vítimas e aos moradores do assentamento, expressamos nossa solidariedade, força e compromisso em manter viva a memória de seus entes queridos e de seus ideais.

Assinam esta carta:

Rede Agroflorestal do Vale do Paraíba
CNPJ 46.438.169/0001-29
Pindamonhangaba-SP https://redeagroflorestalvaledoparaiba.blogspot.com/p/editorial.html   administrativo@redeagroflorestal.org.br
Neste ato representada por: Deise Alves - Presidenta do Conselho Diretor

AAMAVAP - Associação Mista dos Agricultores e Agricultoras Agroecologicos do Vale do Paraiba
CNPJ 34.010.296/0001-43
Taubaté - SP
Neste ato representada por: Ana Lúcia dos Santos

Akarui
CNPJ 05.846.294/0001-90
São Luiz do Paraitinga - SP www.akarui.org.br administrativo@akarui.org.br
Neste ato representada por: Marta W.M. Borriello de Andrade - Diretora Geral

APOENA - Rede Apoena Vale do Paraíba
CNPJ 33.237.551/0001-22
São José dos Campos- SP organicoapoena@gmail.com
Neste ato representada por: Thaís Rodrigues da Silva- Presidente.

APAC - Associação dos Produtores Agroecológicos de Cunha
CNPJ 28.538.415/0001-32
Cunha - SP apac.cunha@gmail.com
Neste ato representada por: Lucimeire Alves de Toledo - Presidente

Associação Brasileira de Agricultura Biodinâmica
CNPJ 00.835.771/0001-07
Botucatu - SP www.biodinamica.org.br luciana@biodinamica.org.br
Nesta ato representada pela presidente: Rachel Vaz Soraggi
 

Associação Minhoca - Parceiros Agroecológicos
CNPJ: 31.150.232/0001-50
São Luiz do Paraitinga-SP minhocaparceiros@gmail.com Neste ato representada por:
Vlademir Otaviano dos Santos - Vice Presidente Cláudio S. Chaves - Tesoureiro
Denise P. lolito - Secretaria

Articulação Paulista de Agroecologia - Regional Vale do Paraíba
Neste ato representada por: Sítio Jardim Vivo - Hamilton Trajano CNPJ: 34.547.375/0001-98

Ciranda Ecológica Consultoria em Agroecologia LTDA
CNPJ 36.288.944/0001-53
São José dos Campos - SP www.cirandaeco.com.br
vinicius@cirandaeco.com.br; barbara@cirandaeco.com.br
Neste ato, representada por: Vinícius Lopes Favato, sócio-fundador e diretor.

Cooperativa Mista de Agricultores de Tremembé e Região - COOMATRE
CNPJ 15.131.453/0001-24
Tremembé - SP coomatre@outlook.com
Neste ato representado por: Felipe Gemelli Silva Araújo, Presidente

Direção Regional do MST Vale do Paraíba
mstvaleparaiba@gmail.com
Neste ato representado por: Altamir Bastos, direção regional dos assentamentos

Instituto AUA de empreendedorismo Socioambiental
CNPJ: 02.371.608/0001-58
Osasco-SP https://institutoaua.org.br/ pomaresma@aua.org.br
Neste ato representado por: Pedro Kawamura Gonçalves, Coordenador Programa Pomares Mata Atlântica

Suinã Instituto Socioambiental
CNPJ 21.766.841/0001-84
Guararema-SP https://www.institutosuina.org/ contato@institutosuina.org Neste ato representada por:
Maria de Fátima de Oliveira - Diretora Técnica

ICT-UNESP
CNPJ 48.031.918/0014-49
São José dos Campos - SP https://www.ict.unesp.br klecia.massi@unesp.br
Neste ato representada por: Klécia Massi, Professora Assistente Doutora

Universidade de Taubaté - Departamento de Ciências Agrárias
CNPJ: 45.176.153/0001-22
Taubaté-SP https://unitau.br/
Neste ato representado por: Paulo Fortes Neto, Professor Titular Doutor

Rede de Coletores de Sementes do Vale do Paraíba Assentamento Egídio Brunetto - Lagoinha - SP https://www.instagram.com/sementesdovaledoparaiba
Neste ato representada por: Thiago Ribeiro Coutinho

Serra Acima - Associação de Cultura e Educação Ambiental
CNPJ 03.494.540/0001-67
Cunha - SP www.serrracima.org.br coordenacao@serracima.org.br
Neste ato representada por: Jéssica Nogueira Marques, Diretora-Presidente

3 de mai. de 2024

Participe da pesquisa sobre a cultura do INHAME-CARÁ (Dioscorea)

 Por

Graziela Maria Orfão Coelho (Engª Agrônoma) e Pedro Mendes Barros (acadêmico de agronomia/Unitau) - bolsistas de pesquisa Fapesp

Antonio Carlos Pries Devide, Cristina Maria de Castro, Luis Carlos Bernacci e José Carlos Feltran – Pesquisadores 

INHAME-CARÁ e os alimentos negligenciados

Mais de 7 mil espécies de plantas já foram utilizadas como alimento e embora 30 mil sejam reconhecidas como potenciais alimentícias, apenas quatro (arroz, trigo, milho e batata) concentram 60% do suprimento energético da população mundial (Padulosi et al. 2013).

Cultivos negligenciados, tradicionais ou PANC (planta alimentícias não convencionais) são denominações dadas às espécies ou formas de consumo não comuns para a maioria da população e que não entram nas estatísticas oficiais (Kinupp & Lorenzi, 2014).

Os carás de chão e do ar, que oficialmente passaram a ser denominados de inhames (Dioscorea spp.) pela Associação Brasileira de Horticultura, e que aqui será tratado por INHAME-CARÁ, estão entre as plantas negligenciadas ou PANC (Kinupp & Lorenzi 2014). A espécie Dioscorea alata (inhame, cará ou inhame-cará) é a mais difundida no estado de São Paulo, enquanto na região Norte e Nordeste seja mais comum a Dioscorea cayennensis (inhame-de-pernambuco, cará-da-costa) (Peressin & Feltran 2014). Entretanto, pouco se sabe especificamente sobre o cultivo e consumo no Leste Paulista, que abrange municípios do Vale do Paraíba, a Serra da Mantiqueira e o Litoral Norte.

O objetivo dessa consulta é levantar dados sobre o cultivo e o consumo de INHAME-CARÁ do chão e do ar (Dioscorea) por pessoas que integram a Rede Agroflorestal e outras organizações coletivas. Os dados serão utilizados para enriquecer um artigo em elaboração sobre o tema e, também, visa despertar um olhar sobre o potencial alimentício dessas espécies.

A consulta está sendo feita por meio do preenchimento de formulário eletrônico (celular, tablet ou computador). Para participar, basta aprovar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para autorizar o uso dos dados, conforme Resolução 466/2012. No link abaixo você terá acesso ao formulário:

https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSe2SB5KjDHk3B3Qr-JKuq_SukbZ5KCdpuQ6pjQ9jWRjwvOUwg/viewform?usp=pp_url

Assim como ocorre com outras culturas alimentícias tradicionais, tais como mandioca, batata-doce, feijões, arroz e diversas PANC, as pesquisas desenvolvidas na Apta Regional de Pindamonhangaba visam levantar dados regionais das culturas e avaliar no campo de pesquisa o desempenho produtivo e a adaptação de acessos dessas plantas em sistema agroflorestal de produção.


Pesquisas em SAF agroecológico com o apoio da Fapesp

Esse levantamento integra o projeto ‘Inhames e barbascos em processo de avaliação e seleção para aumento da diversidade em cultivo e dos modos de produção’ - Processo: 21/00999-4, coordenado pelo pesquisador Dr. Luís Carlos Bernacci (Apta Regional de Pindorama), que tem, dentre outros objetivos, avaliar a adaptação de diferentes tipos de INHAMES-CARÁ a pleno sol e SAF na Apta Regional nos municípios de Pindamonhangaba, Pindorama e Monte Alegre, além da Fazenda Santa Elisa no Instituto Agronômico de Campinas  - IAC.

Na Apta Regional de Pindamonhangaba os inhames-carás estão sendo avaliados em sistema a pleno sol em aleias de flemíngia (Flemingia macrophylla), podada para adubação verde; e Sistema Agroflorestal, consorciado com capim-guatemala, manejado com poda para cobertura do solo (mulching), banana maçã BRS Princesa e uvaia (frutas), além das arbóreas eritrina (Erythrina verna) e gliricídia (Gliricidia sepium), também, avaliadas para adubação verde.

A colheita realizada no ano de 2023 contou com a participação de agricultores da reforma agrária. Na colheita de avaliação do experimento no ano de 2024, que está prevista para ocorrer entre maio e junho, será possível receber pessoas interessadas em participar das avaliações dos INHAMES-CARÁS. 

Para saber mais: antonio.devide@sp.gov.br


Bibliografia citada

KINUPP, V.F. & LORENZI, H. 2014. Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC) no Brasil: Guia de identificação, aspectos nutricionais e receitas ilustradas. Plantarum, Nova Odessa – SP, 768pp.

PADULOSI, S.; HEYWOOD, V.; HUNTER, D. & JARVIS, A. 2011.Underutilized species and climate change: current status and outlook. In S.S. Yadav; R.J. Redden; J.L. Hatfield; H. LotzeCampen; A.E. Hall (Eds.) Crop Adaptation to Climate Change: 507-521. John Wiley & Sons, Inc. New Jersey

PERESSIN, V.A. & FELTRAN, J.C. 2014. Inhame: Dioscorea alata L. In Aguiar, A.T.E.; Gonçalves, C.; Paterniani, M.E.A.G.Z.; Tucci, M.L.S. & Castro, C.E.F. Boletim 200: Instruções agrícolas para as principais culturas econômicas, 7: 215-217.

 

26 de abr. de 2024

Curso de Formação de Viveiristas e Produção de Espécies Nativas da Mata Atlântica

~  Texto e fotos por Lucas Coelho  ~


Chegar até o assentamento Luis Carlos Prestes não é das tarefas mais simples. Localizado nas entranhas do Vale do Paraíba, entre as cidades de Taubaté e Lagoinha, é um local onde o asfalto está chegando agora, a luz e a água são improvisadas e a internet só deu as caras em pontos isolados. Talvez esse tenha sido um dos motivos que levou à imersão completa no Curso de Viveiristas promovido pela Rede Agroflorestal do Vale do Paraíba, que aconteceu nos dias 5 e 6 de abril.  

Longe das redes, a socialização torna-se mais fácil e o contato humano, mais honesto. Sem as distrações dos celulares, foi possível conhecer a história de cada um dos quase cinquenta participantes que se apertaram em roda no velho rancho do que um dia foi uma fazenda. Sob o firme comando de Deise, uma mulher que há anos luta junto aos companheiros do Vale, falamos, ouvimos, nos conhecemos e nos conectamos.  


Trabalhadores do campo, da cidade, do poder público e militantes de diversos cantos se revezaram para trazer suas dúvidas a Felipe e Ricardo, que comandaram com muita tranquilidade e profissionalismo o curso. Explicaram as melhores técnicas para preparo da área, as melhores proporções para a construção de um substrato eficiente, os macetes e as dicas que só quem tem intimidade com a natureza pode oferecer.  


Na fila para o almoço, o ronco dos estômagos se misturava com as risadas. Estávamos felizes por estar ali, trocando experiências e construindo laços. Entre uma mordida no frango e um gole de suco de maracujá, o grupo recuperou as energias que o sol do meio dia havia tirado. Sentaram-se pelas sombras dos beirais e das árvores e diminuiram o ritmo. Uma brisa suave soprou o desejo de um cochilo militante, que lembrava que o ócio e o descanso coletivo são privilégios de quem rompe com a lógica capitalista de produtividade e microgerenciamento das solidões dos trabalhadores.  

A tarde chegou e com ela, a terra preparada e as mudas que foram plantadas. Falou-se sobre os prazeres e as dificuldades de se tirar da terra o sustento e, quando menos se esperava, o sol já baixava atrás dos montes verdes que circundam a região. Os que por lá ficariam, começaram a se organizar para montar acampamento. Os que partiriam, buscavam espaço nos carros para chegar até a cidade mais próxima. 



No dia seguinte, o curso continuou, dessa vez, no assentamento Conquista, com um café da manhã reforçado entre os pés de Lichia que Deise cultiva com esmero. Os participantes chegavam, não mais como colegas de curso, mas como amigos de longa data. Entre abraços, conversas foram retomadas e a expectativa para o dia se amplificavam. Ricardo encaminhou o grupo para uma área de sombra, próxima a um viveiro recém construído, onde todos puderam entrar em contato com uma quantidade enorme dos mais variados tipos de sementes, desde as mais comuns até as mais exóticas, que o agricultor apresentava com intimidade, explicando detalhes sobre as melhores maneiras que cultivá-las.  

Mãos à obra, os participantes se revezaram ao redor do longo canteiro para cobri-lo com as sementes que já poderiam ir à terra. Outras, foram despejadas em uma panela de água fervente e posteriormente em um balde de gelo. Algumas mais, passaram por uma raspagem em esmeril. “É o processo de quebra de dormência”, explicou Ricardo. “Assim, você tem a garantia de que todas irão germinar ao mesmo tempo”.  

Ao fim do dia, um passeio pelo lote guiado pela voz de Deise, nos colocou em contato direto com áreas de cultivo avançadas, técnicas de irrigações das mais diversas e plantas de altíssima qualidade e beleza. Histórias de vida irrigaram os canteiros. 

Pouco a pouco os participantes se despediram e se foram, com seus cadernos repletos de informações valiosas, a cabeça cheia de ideias e o coração repleto de esperança.  


Eu também tive que ir. Mas levei comigo algo inesperado. Uma semente que havia sido plantada lá atrás, de repente germinou. Uma fé, diferente daquelas que conheci na cidade – e talvez amais difíceis de todas - começou a crescer dentro de mim. 

A fé de que a humanidade ainda pode virar o jogo. E que poderemos finalmente compartilhar o pão, o vinho, a dança, a risada e o amor por tudo que a natureza nos dá.


Sobre o autor: Lucas Coelho é designer, produtor audiovisual e comunicador social e popular.

23 de abr. de 2024

Seminário: Sementes Florestais e Áreas de Muvuca

Pesquisa, Monitoramento e Resultados Preliminares no Vale do Paraíba

foto créditos: Marcielle Monize

O Vale do Paraíba, região rica em biodiversidade e história, será palco de um encontro significativo para os profissionais e entusiastas da área ambiental: o Seminário sobre Sementes Florestais e Áreas de Muvuca.

 

Organizado por especialistas e instituições renomadas, o seminário tem como foco a apresentação de dados de pesquisas sobre qualidade de sementes florestais e de áreas de restauração com muvuca de sementes. Visa, também, a capacitação de agricultores/as coletores/as de sementes florestais e técnicos/as que atuam em programas de restauração florestal


Temas em destaque incluem:

      O Projeto de pesquisa sobre a Qualidade de Sementes e das Áreas de Muvuca no Vale do Paraíba, Antonio Devide Pesquisador da APTA;

      O que é a Muvuca de sementes? Giovanna de Oliveira Bernardes dos Santos

– Assessora técnica de Restauração Florestal do ISA/Redário/ Caminhos da Semente

      O Redário e resultados da Expedição Restauração e Redes de Sementes – 2023, Edézio Miranda – Restaurador Ecológico da Agroícone/Caminhos da Semente/Redário

      Resultados preliminares do Monitoramento de áreas de muvuca, Klécia Gili Massi - Professora do Instituto de Ciência e Tecnologia. Departamento de Engenharia Ambiental. Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho e Beatriz Rivaldo bolsista da Unesp-ICT SJC/Fundag

      Resultados preliminares das pesquisas sobre Qualidade de Sementes coletadas no Vale do Paraíba, Professor Júlio César Raposo de Almeida – Departamento de Ciências Agrárias da Unitau, Elisandra Riva – responsável técnica do Laboratório de Sementes da Unitau e Déborah Aguiar – bolsista Unitau/Fundag

      Visita ao Laboratório de Análise de Sementes da Unitau com Elisandra Riva responsável técnica do Laboratório de Sementes e Déborah Aguiar bolsista Unitau/Fundag.

Próximos passos: Contribuições na construção participativa da agenda da restauração 2024

Avaliação e fechamento


Além das apresentações técnicas, o seminário contará com visita ao laboratório e espaços para networking, proporcionando uma rica troca de experiências e conhecimentos entre os participantes.

 

Detalhes do Evento:

       Data: 30/04/24

      Local: Unitau - Taubaté - SP

      As inscrições devem ser feitas através do link inscrição.

      Público-alvo: Técnicos de restauração, pesquisadores, professores, estudantes, agricultores/as e coletores/as de sementes, gestores públicos e interessados no tema.

      Endereço: Departamento de Ciências Agrárias, Auditório, Estr. Mun. Prof. Dr. José Luís Cembraneli, 5000 Jardim Sandra Maria

 Não perca a oportunidade de participar deste importante seminário e contribuir para o avanço das pesquisas e práticas de restauração florestal no Vale do Paraíba. Junte-se a essa jornada de aprendizado, colaboração e conscientização ambiental!

 Para mais informações entre em contato pelo e-mail: tamborilproducao@gmail.com


Sobre o Vale do Paraíba

Localizado entre os estados de São Paulo e Rio de Janeiro, o Vale do Paraíba é uma região estratégica para a conservação da Mata Atlântica e outras formações vegetais. Com uma diversidade de ecossistemas e desafios ambientais, a região serve como um laboratório vivo para estudos e projetos de restauração e conservação ambiental. A região tem vocação para empreendimentos florestais sustentáveis. Porém, é carente de pesquisas que deem sustentação ao avanço desse setor, ligando o conhecimento popular e acadêmico para modificar a paisagem.

Sobre Muvuca de Sementes

Dentre os métodos promissores de restauração se destacam a semeadura direta de florestas por meio de ‘muvuca’ de sementes e os sistemas agroflorestais sucessionais biodiversos. A muvuca é uma técnica de restauração ecológica que gerou um arranjo socioprodutivo na região mato-grossense da bacia do rio Xingu, conhecido por ‘Rede de Sementes do Xingu’ (RSX) e ganhou destaque no Vale do Paraíba no ano de 2017 como oportunidade de negócios para famílias coletoras de sementes florestais, gerando renda e inserindo o componente humano nas atividades de restauração florestal.

Muitos produtores rurais e agricultores familiares que iniciaram a coleta de sementes para abastecer suas áreas de sistemas agroflorestais, há mais de 10 anos, estão coletando sementes e reunindo uma quantidade maior de sementes que possibilita instalar áreas de restauração com muvuca em larga escala, inclusive, vindo a abastecer projetos de pesquisa e editais.


Origem das sementes dos SAFs e Muvucas 


Os mutirões entorno da Rede Agroflorestal do Vale do Paraíba despertaram o interesse pela prática de coleta de sementes visando abastecer os SAF e promover as trocas nos mutirões. As agroflorestas ganharam escala e promoveram a união das pessoas que atualmente são acessadas por diversas organizações interessadas em promover a restauração florestal na bacia do Paraíba do Sul, SP. 
O advento da severa escassez hídrica ocorrida entre os anos de 2013-2015 ajudou a despertar o movimento da restauração florestal, impulsionado por organizações como WRI Brasil (World Resources Institute), TNC Brasil (The Nature Conservancy), ISA – Instituto Socioambiental, FAPESP-Conexão Mata Atlântica, a iniciativa Caminhos das Sementes, que busca disseminar/adaptar as técnicas de semeadura direta (muvuca) de florestas, entre outros atores.
O processo produtivo de estruturação dos coletores também avança a cada dia, motivado pelo esforço e compromisso de atores locais ligados a terra e a reforma agrária, que mobilizam pessoas para estruturar o trabalho de coleta e produção de sementes < https://www.sementesdovaledoparaiba.org.br/sobre >. 
Em 2021, o espaço da APTA Regional em Pindamonhangaba se tornou parte desse processo para viabilizar o armazenamento de sementes e articular a união de pesquisadores que estão abordando o tema das sementes e da restauração com muvuca nas unidades de ensino e pesquisa do Vale do Paraíba. Como parte do processo, o grupo também teve o apoio da Coomatre para iniciar as atividades de comercialização, bem como outras organizações e apoiadores.
Atualmente, o grupo Coletores de Sementes do Vale do Paraíba é uma iniciativa socioambiental engajada na restauração ecológica e na reaproximação do Ser humano à natureza articulando formações, coletas, beneficiamento e comercialização das sementes do Vale do Paraíba.


Contato

Marcielle Monize









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