23 de abr. de 2024

Seminário: Sementes Florestais e Áreas de Muvuca

Pesquisa, Monitoramento e Resultados Preliminares no Vale do Paraíba

foto créditos: Marcielle Monize

O Vale do Paraíba, região rica em biodiversidade e história, será palco de um encontro significativo para os profissionais e entusiastas da área ambiental: o Seminário sobre Sementes Florestais e Áreas de Muvuca.

 

Organizado por especialistas e instituições renomadas, o seminário tem como foco a apresentação de dados de pesquisas sobre qualidade de sementes florestais e de áreas de restauração com muvuca de sementes. Visa, também, a capacitação de agricultores/as coletores/as de sementes florestais e técnicos/as que atuam em programas de restauração florestal


Temas em destaque incluem:

      O Projeto de pesquisa sobre a Qualidade de Sementes e das Áreas de Muvuca no Vale do Paraíba, Antonio Devide Pesquisador da APTA;

      O que é a Muvuca de sementes? Giovanna de Oliveira Bernardes dos Santos

– Assessora técnica de Restauração Florestal do ISA/Redário/ Caminhos da Semente

      O Redário e resultados da Expedição Restauração e Redes de Sementes – 2023, Edézio Miranda – Restaurador Ecológico da Agroícone/Caminhos da Semente/Redário

      Resultados preliminares do Monitoramento de áreas de muvuca, Klécia Gili Massi - Professora do Instituto de Ciência e Tecnologia. Departamento de Engenharia Ambiental. Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho e Beatriz Rivaldo bolsista da Unesp-ICT SJC/Fundag

      Resultados preliminares das pesquisas sobre Qualidade de Sementes coletadas no Vale do Paraíba, Professor Júlio César Raposo de Almeida – Departamento de Ciências Agrárias da Unitau, Elisandra Riva – responsável técnica do Laboratório de Sementes da Unitau e Déborah Aguiar – bolsista Unitau/Fundag

      Visita ao Laboratório de Análise de Sementes da Unitau com Elisandra Riva responsável técnica do Laboratório de Sementes e Déborah Aguiar bolsista Unitau/Fundag.

Próximos passos: Contribuições na construção participativa da agenda da restauração 2024

Avaliação e fechamento


Além das apresentações técnicas, o seminário contará com visita ao laboratório e espaços para networking, proporcionando uma rica troca de experiências e conhecimentos entre os participantes.

 

Detalhes do Evento:

       Data: 30/04/24

      Local: Unitau - Taubaté - SP

      As inscrições devem ser feitas através do link inscrição.

      Público-alvo: Técnicos de restauração, pesquisadores, professores, estudantes, agricultores/as e coletores/as de sementes, gestores públicos e interessados no tema.

      Endereço: Departamento de Ciências Agrárias, Auditório, Estr. Mun. Prof. Dr. José Luís Cembraneli, 5000 Jardim Sandra Maria

 Não perca a oportunidade de participar deste importante seminário e contribuir para o avanço das pesquisas e práticas de restauração florestal no Vale do Paraíba. Junte-se a essa jornada de aprendizado, colaboração e conscientização ambiental!

 Para mais informações entre em contato pelo e-mail: tamborilproducao@gmail.com


Sobre o Vale do Paraíba:

Localizado entre os estados de São Paulo e Rio de Janeiro, o Vale do Paraíba é uma região estratégica para a conservação da Mata Atlântica e outras formações vegetais. Com uma diversidade de ecossistemas e desafios ambientais, a região serve como um laboratório vivo para estudos e projetos de restauração e conservação ambiental. A região tem vocação para empreendimentos florestais sustentáveis. Porém, é carente de pesquisas que deem sustentação ao avanço desse setor, ligando o conhecimento popular e acadêmico para modificar a paisagem.

Sobre Muvuca de Sementes:

Dentre os métodos promissores de restauração se destacam a semeadura direta de florestas por meio de ‘muvuca’ de sementes e os sistemas agroflorestais sucessionais biodiversos. A muvuca é uma técnica de restauração ecológica que gerou um arranjo socioprodutivo na região mato-grossense da bacia do rio Xingu, conhecido por ‘Rede de Sementes do Xingu’ (RSX) e ganhou destaque no Vale do Paraíba no ano de 2017 como oportunidade de negócios para famílias coletoras de sementes florestais, gerando renda e inserindo o componente humano nas atividades de restauração florestal.

Muitos produtores rurais e agricultores familiares que iniciaram a coleta de sementes para abastecer suas áreas de sistemas agroflorestais, há mais de 10 anos, estão coletando sementes e reunindo uma quantidade maior de sementes que possibilita instalar áreas de restauração com muvuca em larga escala, inclusive, vindo a abastecer projetos de pesquisa e editais.


Origem das sementes dos SAFs e Muvucas 


Os mutirões entorno da Rede Agroflorestal do Vale do Paraíba despertaram o interesse pela prática de coleta de sementes visando abastecer os SAF e promover as trocas nos mutirões. As agroflorestas ganharam escala e promoveram a união das pessoas que atualmente são acessadas por diversas organizações interessadas em promover a restauração florestal na bacia do Paraíba do Sul, SP. 
O advento da severa escassez hídrica ocorrida entre os anos de 2013-2015 ajudou a despertar o movimento da restauração florestal, impulsionado por organizações como WRI Brasil (World Resources Institute), TNC Brasil (The Nature Conservancy), ISA – Instituto Socioambiental, FAPESP-Conexão Mata Atlântica, a iniciativa Caminhos das Sementes, que busca disseminar/adaptar as técnicas de semeadura direta (muvuca) de florestas, entre outros atores.
O processo produtivo de estruturação dos coletores também avança a cada dia, motivado pelo esforço e compromisso de atores locais ligados a terra e a reforma agrária, que mobilizam pessoas para estruturar o trabalho de coleta e produção de sementes < https://www.sementesdovaledoparaiba.org.br/sobre >. 
Em 2021, o espaço da APTA Regional em Pindamonhangaba se tornou parte desse processo para viabilizar o armazenamento de sementes e articular a união de pesquisadores que estão abordando o tema das sementes e da restauração com muvuca nas unidades de ensino e pesquisa do Vale do Paraíba. Como parte do processo, o grupo também teve o apoio da Coomatre para iniciar as atividades de comercialização, bem como outras organizações e apoiadores.
Atualmente, o grupo Coletores de Sementes do Vale do Paraíba é uma iniciativa socioambiental engajada na restauração ecológica e na reaproximação do Ser humano à natureza articulando formações, coletas, beneficiamento e comercialização das sementes do Vale do Paraíba.



Contato


Marcielle Monize
Telefone: 12 9 88015438








29 de jan. de 2024

MANIFESTO CONTRA TERMOELÉTRICA

 Termelétrica coloca em risco todo o trabalho desenvolvido pelos integrantes da 

REDE AGROFLORESTAL DO VALE DO PARAÍBA E LITORAL NORTE!


    A REDE AGROFLORESTAL DO VALE DO PARAÍBA E LITORAL NORTE é contra a instalação da Termoelétrica no Vale. A Rede Agroflorestal do Vale do Paraíba se constitui como um grupo de pessoas interessadas em implantar, manejar e estudar os sistemas agroflorestais (SAF) com a participação popular para restaurar a paisagem com princípios na agroecologia. Há 10 anos organiza mutirões que potencializam o apoio mútuo e chamam a atenção para novos valores sobre o ensino, assistência técnica (ATER) e pesquisa.

    Temos registrado, ao longo de 10 anos, 53 mutirões e 28 capacitações que envolveram mais de mil agricultores (as) e 250 não agricultores (as), abrangendo 41 municípios e 66 instituições públicas e privadas. Coutinho et al. (2021) estimam que esses registros representem apenas 30% das atividades efetivamente realizadas no período de 2011 a 2021. As atividades da termoelétrica podem comprometer estes trabalhos desenvolvidos com tanto empenho nestes anos.

    O licenciamento de uma termelétrica de grande porte em Caçapava-SP que segue avançando, colocando em risco o meio ambiente e principalmente a saúde da população do Vale do Paraíba, pois se construída, está termoelétrica utilizará gás natural, liberando substâncias poluentes e tóxicas como gás metano, monóxido de carbono e óxidos de nitrogênio. A magnitude dessa poluição é alarmante, equiparando-se à emissão anual de centenas de milhares de veículos. O impacto ambiental será significativo, afetando a flora e a fauna da região, com consequências que podem perdurar por décadas.

    O Estudo de Impacto Ambiental (EIA) apresentado aponta três fontes principais de poluentes atmosféricas:

    - Monóxido de Carbono (CO) - Emissão de 3.303 toneladas por ano

    - Óxidos de Nitrogênio (NOx) - Emissão de 2.541 toneladas por ano

    - Hidrocarbonetos Totais (HC) - Emissão de 579 toneladas por ano,

que “são substâncias precursoras (produtoras) do ozônio. Todo este conjunto de substâncias tóxicas provocam e agravam doenças respiratórias como bronquite, asma, alergias, enfisema e inflamações de regiões com mucosa no corpo e humano. Além de outros impactos ao meio ambiente como chuvas ácidas e danos à vegetação1 (até os alimentos como verduras que comemos vão sofrer danos)”, explica Gatti¹.

           Os óxidos de nitrogênio, no que diz respeito aos danos ao meio ambiente, tem
como exemplo a redução da permeabilidade das membranas celulares que impede
 as trocas gasosas das folhas e prejudica a realização da fotossíntese. 

    Além da poluição local, teremos a emissão de grande quantidade (5,8 milhões de toneladas) de dióxido de carbono (CO2) por ano, acelerando o aquecimento global, que já castiga o país com desastres e ondas de calor. Para se ter uma ideia da magnitude do empreendimento, esta usina sozinha causará um aumento de 13,8% nas emissões de CO2 do setor elétrico brasileiro.2

    É importante ressaltar que a geomorfologia do Vale do Paraíba, na qual Caçapava está situada, é uma planície entre as Serras do Mar e da Mantiqueira, e é servida pela predominância de ventos oceânicos circulares de baixa intensidade, fator que não proporciona dispersão atmosférica. Em outras palavras, venta muito pouco nos municípios da região Vale do Paraíba localizado entres as serras, assim todas as emissões permanecem concentradas na atmosfera da região, o que é agravado nos períodos de estiagens prolongadas, e no inverno quando ocorrem as inversões térmicas. Esses fatores que também proporcionam as chuvas ácidas, devido à alta concentração de gases e particulados suspensos na atmosfera, que leva a contaminação das águas e do solo.

    Segundo Dra. Luciana Gatti, “a modelagem matemática de dispersão de poluentes apresentada no EIA afirma que as concentrações destes poluentes permanecerão dentro dos limites de qualidade do ar definidos pelo estado de SP. Porém o estudo não apresenta qualquer validação do modelo para a região. Dentre as limitações identificadas estão: a utilização de uma única estação de superfície como referência para ventos e concentrações de poluentes; a falta de clareza quanto aos critérios de qualificação dos dados medidos; e a ausência de sondagens de perfis atmosféricos, negligenciando as inversões térmicas e nevoeiros recorrentes em boa parte do ano que prejudicam a dispersão dos poluentes em nossa região, sem considerar que estamos em um vale e o quanto isto dificulta a dispersão e afeta a todas as cidades do Vale do Paraíba. Ou seja, não há evidência que ateste que a ferramenta utilizada é capaz de estimar adequadamente a dispersão de poluentes em nossa região. Isso destoa das boas práticas científicas e coloca dúvidas quanto aos resultados apresentados.

    Além disso, a água subterrânea e superficial abastece a população e outras atividades econômicas da região e o Rio Paraíba do Sul, que já se apresenta numa situação crítica de conflitos no uso da água, também é responsável pelo abastecimento do sistema Cantareira, que sofre com as recorrentes crises hídricas, tendo assim, uma contribuição importante no abastecimento público também da cidade de São Paulo. E aí temos os Sistemas Agroflorestais (SAFs) que contribuem com a formação de corredor ecológico que liga as várzeas do Rio Paraíba do Sul ao fragmento de Mata Atlântica na transição com a Serra da Mantiqueira.

    O Vale do Paraíba é considerado um hotspot pois a região é uma das cinco mais ricas em biodiversidade e a implantação dos SAFs são considerados uma das formas mais sustentáveis de se restaurar a Floresta Atlântica, convertendo o ecossistema degradado em outro, com destino e uso distintos, tornando-o produtivo com baixo uso de recursos externos e capital. Os SAFs podem recuperar a capacidade produtiva dos solos reduzindo processos erosivos, aumentando a recarga hídrica para os aquíferos subterrâneos, melhorando a paisagem, agregando valor a terra e conservando habitats naturais. Também, podem se tornar um dos vetores de ligação entre fragmentos florestais remanescentes, ligando a Serra do Mar à Mantiqueira, melhorando o fluxo de animais silvestres, beneficiando, também, a diversidade biológica.

    Em todas as regiões geográficas brasileiras acontecem episódios extremos do clima, desde mudanças no regime de chuvas e secas intensas nas regiões Norte, Nordeste e Centro-oeste e chuvas e ventos extremos na região Sudeste e Sul. Como consequência, há sérios problemas como a falta de abastecimento de água, perda da biodiversidade, inundações, movimentos de massa, causando sérios prejuízos econômicos e principalmente, impactos à qualidade de vida e gerando vítimas fatais, principalmente em comunidades periféricas e mais vulneráveis.

    Este momento é um marco de resistência para chamar atenção global a este projeto de termelétrica movida a metano que está se desenvolvendo com pouco diálogo e transparência para a população por parte da requerente e da prefeitura municipal.

    Não podemos permitir a instalação de um empreendimento tão prejudicial à nossa saúde, à nossa população e à Mata Atlântica em nossa região!

    Divulgue! Manifeste-se! Termelétrica aqui NÃO!!!






1 Profª Dra. Luciana Gatti – Coordenadora do Laboratório de Gases de Efeito Estufa do , INPE – Instituto Nacional de Pesquisas.
2 Fonte: EIA e Balanço Energético Nacional 2023 (EPE)


OBS: Documento elaborado por membros do Conselho Deliberativo e integrantes da Rede Agroflorestal do Vale do Paraíba.


20 de jan. de 2024

Relato sobre o Mutirão do Plantio de Juçara, ocorrido na Igreja Céu do Vale-Ribeirão Grande-Pindamonhangaba-SP.

Por André Luís de Souza - Assentamento Luís  Carlos Prestes - Taubaté


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Iniciar o ano com o Mutirão  do Plantio da Palmeira Juçara, foi como plantar afetos e imprimir na alma a sensibilidade depositada por todos dentro de um ambiente acolhedor e rico de significados. 

Na ida para a Comunidade da Igreja Céu do Vale, no bairro Ribeirão  Grande em Pindamonhangaba, vários sentimentos e sensações despertaram em mim. Primeiro foi a incerteza por não  saber de como iria rolar o mutirão. 

Depois, quem seriam as pessoas que iriam compor os nossos momentos de diálogo, de trocas de afetos e do despertar de sentimentos  e por último, de como seria a distribuição  dos trabalhos, tais como: separar as mudas, fazer os berçários, plantio só da juçara em áreas  alagadas ou da mistura com a muvucas das sementes, etc. 

Posso afirmar que já  na ida para o local nos deparamos com muitas paisagens que nos remete a paz, a estética e a integração. Com a chegada fomos todos bem recepcionados. Tivemos um tempinho para tomar o café  e depois todos encaminhados para uma roda de conversa com o intuito de nos apresentar, falar das nossas motivações e  da vontade de estar aberto a aprendizagens novas. Ali na apresentação senti que a conexão e a rede de afetos e significados se expandiram nos tornando uma coisa só pertencentes a esse planeta maravilhoso de tantas possibilidades e de situações.  

O fato de ter deixado os meus compromissos para somar a outros no plantio da Juçara, não só  me despertou um olhar cuidadoso,  mas como aquele que adota uma semente para ver germinar, crescer e dar seus frutos. 

Acho que para quem foi nessa vivência do mutirão fica difícil de mensurar o quanto foi saudável participar de um momento único, de encontrar com nós mesmos integrados a Mãe Terra. 

Agradeço aqui, especialmente  a Deise da Rede Agroflorestal que me convidou para fazer parte desse mutirão. Por isso digo, que este mutirão foi único e irrepetivel e estará  marcado em nossas memórias,  pois cada gesto, cada olhar, cada lançamento de sementes, cada cântico perpetuou a nossa vida. Que os astros possam acolher o que nós  plantamos naquele dia e para aqueles que não  puderam participar, tentem viabilizar vivências de mutirão, principalmente quando for para plantar porque o planeta precisa dessas atitudes para regenerar a nossa Mãe Terra que grita por socorro.



Rede Agroflorestal: https://www.instagram.com/p/C2KeF2rr8Lu/

29 de dez. de 2023

Aspectos Econômicos dos Sistemas Agroflorestais Biodiversos e seus desafios - por Renata Egydio

O tema “Aspectos Econômicos dos Sistemas Agroflorestais e seus desafios” foi apresentado no XIII Encontro de Desenvolvimento Territorial e Meio Ambiente, que aconteceu no dia 15 de dezembro, na Universidade de Araraquara (UNIARA). O objetivo desse trabalho é avaliar os aspectos econômicos e os desafios para tornar os SAFs Biodiversos rentáveis, contemplando a agrobiodiversidade dentro no conjunto da biodiversidade do bioma Mata Atlântica. O trabalho foi apresentado pela pesquisadora Renata Egydio de Carvalho, sob a orientação do Prof. Dr. José Maria G. Ferraz (UNIARA) e Dra. Maria Teresa N. V. Abdo (Apta Regional de Pindorama).

Existem inúmeras lacunas de conhecimento sobre os agrossistemas biodiversos, com muitos projetos pilotos em andamento, para resultados que satisfaçam as dimensões ecológicas e econômicas. Agregar questões financeiras às abordagens relacionadas aos SAFs traz benefícios e as potencializa, pois, a luta efetiva contra a pobreza no campo exige desenvolvimento de sistemas produtivos e que gerem aportes financeiros em todo o período de existência do sistema. 

No Vale do Paraíba, as áreas de SAF já implantadas assumem papel relevante para as pesquisas, que podem indicar as tipologias e as espécies mais adaptadas às diferentes formações florestais nos diferentes compartimentos da bacia hidrográfica do rio Paraíba do Sul (SP), contribuindo no aumento da capacidade de conservação da biodiversidade e mudança na vida dos agricultores.

Para fazer essa análise foi utilizada dados do Questionário da Rede Agroflorestal do Vale do Paraíba e WRI -World Resources Institute, aplicado em 2021, para o Plano de Ação da REDE. São apresentadas propostas de soluções para tentar absorver os desafios para criar uma cultura florestal, num país que tem 58,5 %  do seu território coberto por florestas, com perguntas que precisam ser respondidas, através de pesquisas, fomentando projetos para identificar as melhores opções, cujo maior desafio são as mudanças climáticas.

O SAFs Biodiversos podem competir, em lucros, com as monoculturas do Agronegócio? 

O Climatologista Carlos Nobre, integrante da equipe de pesquisadores do IPCC, que recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 2007, por alertar sobre os riscos do aquecimento global e lutar pela preservação ambiental, falando sobre os negócios sustentáveis que fazem frente ao desmatamento da Amazônia, declarou que “um hectare de sistema agroflorestal rende, em média, mil dólares por ano, o que é cinco vezes mais que o rendimento da soja e dez vezes mais o do gado (ECOA UOL). O Globo Rural de dois anos atrás (04/09/2020) já havia publicado que “Segundo modelo de viabilidade econômica desenvolvido pelo WWF-Brasil em parceria com Universidade Federal do Acre, Embrapa e Secretaria Estadual de Meio Ambiente, a recuperação da vegetação nativa em sistemas agroflorestais pode gerar um retorno médio anual de mais de R$ 4.500 por hectare.

“Os sistemas agroflorestais, além de serem uma importante alternativa para manter a cobertura vegetal, geram 20 vezes mais empregos e até 93 vezes mais renda que a bovinocultura extensiva” é o que conclui a dissertação de mestrado do pesquisador Robert Davnport, aprovada pelo Centro de Pós-Graduação em Agronomia Tropical, Pesquisa e Ensino (Catie), da Costa Rica ( AgroLink, 2013).

Se os SAFs são tão bons economicamente, onde estão os gargalos?

A questão colocada pelo pesquisador João Carlos Canuto, da Embrapa é: os Sistemas Agroflorestais (SAFs) têm capacidade de suprir as demandas globais por alimentos e ainda promover a conservação dos recursos naturais para as próximas gerações (Embrapa, 2018). Segundo Canuto, atualmente contamos com SAFs (agroecológicos e biodiversos) consolidados, que funcionam. “O aprofundamento do conhecimento sobre formas mais adequadas de projetar e desenvolver sistemas complexos é um dos pilares para suplantar a escala de experiências pilotos hoje existentes em direção à aplicação socialmente ampla dos SAFs” (Canuto et al. 2013). 

É muito importante uma análise das relações econômicas fundamentais relacionadas aos sistemas biodiversos, e especial a análise de viabilidade econômica e a formulação de índices de desempenho dos sistemas complexos, mas como afirma a pesquisadora Denise Bittencourt Amador, da ONG Mutirão Agroflorestal, para considerarmos a economia ecológica, os ganhos devem ser colocados numa planilha,  custos e receitas, gerando dados para estudos, pesquisas de longo prazo nas academias e sistematizar conhecimentos e experiências do campo. “Não temos esses dados aglutinados”.

É necessário redesenhar os agroecossistemas, modificando a forma de utilização da terra e do espaço, consorciando espécies para potencializar os benefícios prestados pela biodiversidade (controle do clima) e pela agrobiodiversidade (segurança alimentar).   A difusão de projetos assertivos, resilientes, produtivos, que possibilitem reforçar os vínculos dos agricultores com os mercados e que sejam adequados às pessoas e aos lugares onde serão implantados, são ferramentas cruciais para melhor uso da terra (Banco Mundial, 2016).

Existem desafios econômicos como falta de linhas de créditos e financiamentos adequados, o menor volume por espécies dificulta a comercialização, maior custo de produção, incerteza temporal do retorno financeiro e desafios operacionais, pois faltam conhecimentos para manejar plantios mistos com espécies em ritmos distintos de crescimento, desafios de mudar procedimentos já consolidados e aumentar a escala de plantios. E tudo isso tem que ser colocado “na ponta do lápis”!

O que temos no Vale do Paraíba? 

Os sistemas de produção praticados nos SAFs do Vale do Paraíba (Fig. 1)  o sistema de consorcio de espécies vegetais é predominante, com  88,7%, mas a tipologia silvipastoril também está presente em 25,4% dos SAFS, com a integração da produção vegetal e animal na mesma área.

Fig. 1 - Sistemas de produção de SAFs 

Fonte: Questionário da Rede Agroflorestal e WRI (2021)

Na Fig. 2a, o cultivo de plantas nativas temos a goiaba (80,9%), pitanga (73,5%), Araçá (58,8%) e jabuticaba (55,9%) são as frutas mais cultivadas nas propriedades agrícolas do Vale e a maior parte da produção dos SAFs é para o autoconsumo (64,8%), mas o excesso é vendido diretamente ao consumidor (63,4%), em feiras-livres (25,4%), vendas de cestas vivas (36,6%) e outras menos expressivas (Fig. 2b).

Fig 2a - Cultivo de plantas nativas e 2b – Destinação da produção
Fonte: Questionário da Rede Agroflorestal e WRI (2021)

Observamos na Fig. 3 que em 65,2% das respostas, informaram que os SAFs ajudaram a aumentar a oferta de alimentos nas mesas das famílias.

Fig. 3 - Se a produção agroflorestal aumentou oferta de alimentos na mesa da família
Fonte: Questionário da Rede Agroflorestal e WRI (2021)

Os principais fatores identificados que limitam a produção agroflorestal são: a escassez de recursos financeiros (23%), mão de obra (14%), equipamentos adequados (13%) e irrigação (11%). São prioridades: melhoria da organização dos mutirões agroflorestais (23%), ATER especializada em SAF (14%), produção de mudas e sementes (14%) e comercialização de produtos dos SAFs, como mostrado no gráfico 1.

Gráfico 1 – Fatores que limitam a produção agroecológica
Fonte: Questionário da Rede Agroflorestal e WRI (2021)

Quais são os caminhos a seguir?

Para concluir esse trabalho foram apresentadas propostas de soluções, discutidas com a banca na apresentação do trabalho,  foi formuladas perguntas que precisam ser respondidas, através de pesquisas, fomentando projetos para identificar as melhores opções para:

- Criar Políticas Públicas e incentivos fiscais e também,  políticas de comercialização, além do PAA e PNAE, e facilitar o acesso a creditos;

- Os SAFs devem ocupar maiores espaços públicos e ampliar a dinâmica da educação ambiental;

- Especializar a ATER e extensão rural para que dialoguem com as questões agrflorestais;

-  Abrir frentes de mercados alternativos para o escoamento da produção, que é pequena em quantidade  e com grande diversidade. Temos que trabalhar o associativismo para que os produtores se unam e ganhem em escala na hora de comercializar;

- Os agricultores tem que ganhar na diversidade e não na quantidade, senão não mudam o pensamento exploratório da monocultura capitalista. O maior legado de um SAF é a sua diversidade, que garante a estabilidade do sistema;

- Ter como foco a agregação de valor ao produto para ter um rendimento que compense a pequena produção cujo ganho acaba ficando com quem faz esta agregação de valor na cadeia produtiva. 

-  E muito importante a quebra de paradigma  na cabeça  das pessoas. Elas esperam que todas as maçãs, laranjas etc...sejam identicas, como clones e produzidas o ano todo . Valorizam as plantas pela sua aparência e não pelo valor nutricional.

- Trabalhar numa monocultura é fácil, você precisa dominar uma planta/ cultura com receitas previamente determinadas pelas corporaçõaes.  No SAF você tem que conhecer várias plantas/ culturas, os ciclos/ colheitas se sobrepõem . É um trabalho  que exige conhecimento da natureza; 

- Deve ser incentivado o beneficiamento, assim conservam os produtos por mais tempo,  além de agregar valor a produção.  Fazer sucos, polpas das frutas, fazer farinha, sabonete, geléias, conservas, chocolate, pó de café, etc.

- Agregar valor ao produto florestal através da certificação, processamento, maquinização própria – desenvolvimento de máquinas apropriadas e acessíveis para todas as escalas;

- Estruturar os desenhos dos SAFs, de acordo com o produto principal elencados pelo agricultor, consorciados a outras espécies sinérgicas, como dimensionar a mão de obra e facilitar a mecanização; Faltam dados sobre a interação das espécies;

 - Como ampliar as escalas de produção,  mantendo toda a complexização? Qual é o limite da simplificação que não pode ser ultrapassado para que os SAFs  não deixem de ser sustentáveis?

- Ampliar os PSAs – Pagamentos por Serviços Ambientais 

- Melhorar a estrutura rural – estradas, internet, serviços essenciais de água e esgoto, etc.

- Criar alternativas (internet; turismo rural, esportes, arte, etc.) para manter o jovem no campo. Agrofloresta requer trabalho de jovens.

- Ampliar as escalas de produção,  mantendo toda a complexização, e saber qual é o limite da simplificação que não pode ser ultrapassado para que os SAFs  não deixem de ser sustentáveis;

Enfrentar, as Mudanças Climáticas é o maior desafio apesar dos SAFs proporcionarem resiliência.


SAF no lote da Deise, em Tremembé

SAFs no Sítio Bela Vista, em São Luiz do Paraitinga

APTA Pindamonhangaba

Referências bibliográficas

AMADOR, D. B. Sistemas Agroflorestais: Como funcionam e aspectos econômicos. EPBIO 2023 . SEMIL- Secretaria Estadual de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística do Estado de São Paulo.

AGROLINK - Sistemas Agroflorestais geram mais renda e emprego que pecuária, aponta estudo feito em MT. Portal do Ministério do Desenvolvimento Agrário. Publicado em 19/09/2013. Disponível em: https://www.agrolink.com.br/noticias/sistemas-agroflorestais-geram-mais-renda-e-emprego-que-pecuaria--aponta-estudo-feito-em-mt_183685.ht. Acessado em : 14/11/2023.

BANCO MUNDIAL. Relatório Anual de 2016 do Banco Mundial. Washington, DC, 2016.

CANUTO, J.C.; QUEIROGA, J. L.; CAMARGO, R. C. R. de; BRAGA, K. S. M. URCHEI, M. A.; WATANAB, M. A. Sistemas Biodiversos em assentamentos rurais: monitoramento, papel do conhecimento e especulações sobre políticas públicas. In: JORNADA E ESTUDOS ESM ASSENTAMENTOS RURAIS, 6. 2013, Campina. Caderno de resumos. Campinas: Unicamp, 2013. 14 p.

EOA UOL. Sistema Agroflorestal rende  dez vezes mais que gado. Disponível em: https://www.uol.com.br/ecoa/reportagens-especiais/carlos-nobre-sistema-agroflorestal-rende-dez-vezes-mais-que-gado/#cover. Acessado em 14/11/2023.

EMBRAPA .  Sistemas Agroflorestais: experiências e reflexões. Organização de João Carlos Canuto. Brasília (DF), 2018.

FAO. Dimensions of Need - Staple Foods: What do People Eat? Food and Agriculture Organization of the United Nations, 2015. Disponível em: https://www.fao.org/forestry/agroforestry/80339/en/. Acessado em 14/11/2023. 

FAO. Agroforestry provides practical solutions to global problems. Food and Agriculture Organization of the United Nations, 2016. Disponível em: https://www.fao.org/forestry/agroforestry/80339/en/. Acessado em 14/11/2023.

REDE AGROFLORESTAL DO VALE DO PARAÍBA. Plano de Ação da Rede Agroflorestal do Vale do Paraíba. Orgs.: DEVIDE A.C.P., LOPES P., CAMILO L.B., FERREIRA T..G, OLIVEIRA M.F. São Paulo, Brasil: Relatório técnico.57 pp. 2021