7 de dez. de 2019

ACONTECEU Mutirão Agroflorestal no Sítio Nossa Senhora Aparecida


RELATO TÉCNICO DA IMPLANTAÇÃO DE SISTEMA AGROFLORESTAL
Por: Antonio Devide - pesquisador da APTA
Data: 30/11/2019
Local: Assentamento de Reforma Agrária Nova Esperança, São José dos Campos
Beneficiários: famílias dos agricultores Sr. Gessi e seu filho Luciano Correia dos Reis

Facilitadores na instrução - Antonio Devide - Pesquisador, Valdir Martins e Luciano Corrêa - agricultores do Assentamento Nova Esperança, Valdir Nascimento e Carmem Faria - agricultores do Assentamento Olga Benário.

Participantes do mutirão agroflorestal no sítio Nossa Senhora Aparecida
Objetivos: implantar um SAF na divisa do lote, acolher e instruir os frequentadores da Feira Agroecológica do Parque Vicentina Aranha de São José dos Campos sobre SAF.


Perfil dos participantes: agricultores da reforma agrária e técnicos associados da Rede Agroflorestal do Vale do Paraíba. Co-agricultores que participam do trabalho coletivo da CSA Guajuvira (comunidade que sustenta a agricultura) que envolve os consumidores para o planejamento, implantação e manejo de sistemas de produção de base agroecológica. Em troca, recebem cestas com alimentos saudáveis a preço justo. Outro público, novo para os SAF, participa de uma biblioteca Lúcio Reis de SJ Campos que promove ações de formação popular em São José dos Campos.
A reflexão, estar presente, a respiração... nos traz prá perto de nós mesmos, nos traz prás coisas do Criador, nos traz prá Terra e prá perto Dele.
Programação:
8:00h   Recepção com café da manhã farto.
9:00h   Apresentações, respiração e conexão com o Poder Superior
9:30h   Estudo da paisagem
10:00h Planejamento participativo
10:30h Mutirão agroflorestal
13:00h Avaliação coletiva
Almoço farto com produtos exclusivos da roça agroflorestal

Estudo da paisagem:
Do alto de uma colina de divisa com lote de reforma agrária vislumbramos um cenário com vista à 360graus. No costado a imponência da Serra Mantiqueira e a Mata Atlântica. Vista à frente, de um e de outro lado os ‘pastos sujos’ dos lotes de reforma agrária. À frente, no primeiro plano, os diversos modelos de SAF do Sítio Nossa Senhora Aparecida cota abaixo, com frutas nativas e exóticas, café e muita horta em meio à produção de bananas. 
Adiante, na colina oposta, duas situações: ao lado esquerdo um lote convencional com produção de mandioca em monocultura e ao lado direito o lote agroecológico de Aninha Mendes, onde vai acontecer o próximo mutirão agroflorestal do dia 14/12/2019, em que será instalada uma faixa agroflorestal para divisa das propriedades visando adequação da propriedade para atender à conformidade da certificação de produto orgânico. Mais ao fundo observa-se a cidade de São José dos Campos.
Estudou-se as plantas indicadoras: onde tinha sapê o solo era mais ácido e onde tinha só braquiária a terra já estava melhor. Soubemos que a acidez não é de todo nociva, pois muitos fungos (micorrizas) e bactérias (Rhizóbios p.ex.) que sobrevivem em solos ácidos promovem o crescimento e são benéficos às plantas. Então, o bom manejo não deve visar apenas a eliminação total da acidez - que de maneira moderada pode ser até boa, pois, evita que as chuvas lavem os nutrientes do solo -, mas devemos utilizar espécies de plantas que cresçam e que produzam massa vegetal que pode ser adicionada ao solo por meio de podas para assim elevar os teores de matéria orgânica e consequentemente de nutrientes.



Planejamento participativo e Mutirão Agroflorestal:
O estudo da paisagem análise sistêmica dos impactos da história de uso das terras pelos ciclos econômicos: de monoculturas (cana, café, pastagem e eucalipto) que suprimiram a Mata Atlântica e as culturas pré-colombianas associadas a floresta; que trouxeram o plantio ‘morro abaixo’ do café cuja dinâmica no relevo de mares de morros gerou forte escoamento superficial da água da chuva e processo erosivo, empobrecendo os solos de nutrientes e minerais que passaram a entulhar as nascentes e cursos d’água; da invasão de capins exóticos que têm elevado poder calorífero e que no advento do fogo impede a regeneração natural da floresta. 

O pesquisador Antonio Devide da APTA falou das plantas adubadeiras (a maioria que foi utilizada eram de leguminosas – feijão de porco, crotalária, guandu, tefrósia e gliricídia), mas também tinha mamona preta Paraguaçu e o sorgo vassoura.

O agricultor Valdir Nascimento do assentamento Olga Benário levou as mudas de frutas nativas e exóticas e de árvores em geral que produz no Sítio Beija flora em Tremembé e explicou a função de cada uma delas nos SAF. O agricultor Luciano complementou explicando a necessidade de arranjá-las para que cada uma ocupe o estrato certo no SAF. Explicou ainda que cada andar (extrato em altura) deve ser preenchido com espécies plenamente adaptadas a quantidade de luz disponível (Estratos/luz disponível: emergente = 70-80%, alto 50-60%, médio 30-45%, baixo 15-25% e rasteiro = menor que 15%).

Em seguida foi feito o planejamento do SAF com base no desejo do agricultor Luciano. Que ficou com duas linhas de B- bananeiras espaçadas 4m entre linhas e 3m na linha. Na linha foi associada com F- fruta, de um lado G- gliricídia (estacas) e de outro A- árvore não frutífera (esquema). Entre essas duas linhas abriram-se sulcos onde se plantou rizomas de açafrão e coquetel de sementes de adubos verdes. O objetivo desse coquetel foi restaurar os solos para no futuro poder plantar lavouras mais exigentes. Luciano deve realizar o manejo seletivo das plantas menos vigorosas (corte como adubo verde), deixando as mais vigorosas para o futuro (quiabo, guandu e mamona) a fim de obter produção de frutos e sementes respectivamente.

Ou seja:
B             G            F             A             B             G            F             A             B             G            F             A            

Linha de coquetel de sementes de adubação verde + quiabo + açafrão

Linha de coquetel de sementes de adubação verde + quiabo + açafrão

Linha de coquetel de sementes de adubação verde + quiabo + açafrão

Linha de coquetel de sementes de adubação verde + quiabo + açafrão

F             A             B             G            F             A             B             G            F             A             B             A            


Enquanto um grupo de pessoas preparava o coquetel de sementes, outro grupo iniciava a abertura dos berços de plantio. Carmem Faria Nascimento (Sítio Beija Flora/Tremembé), que também produz mudas, e Thais Rodrigues da Silva (CSA Guajuvira/SJ Campos) se encarregaram de instruir a distribuição de maneira a formar os estratos adequados.
Implantação do SAF.
Avaliação: a didática foi facilitadora para o aprendizado do grupo. O método adotado pela Rede Agroflorestal  chamado de ‘aprender fazendo’ possibilita o diálogo e um profundo aprendizado compartilhado entre agricultores e técnicos.

Exemplo do aprendizado: a questão da orientação do plantio da bananeira vem sendo intensamente avaliada nos lotes de reforma agrária do Assentamento Nova Esperança. Valdir Martins e Luciano frisaram que em terreno declivoso, ressecado e suscetível aos ventos frontais, o processo de plantio é o seguinte:
i. As mudas de rizomas de bananeira devem ser limpas para retirada das raízes mortas e da terra aderida, que pode conter ovos de nematóides e de brocas.
ii. Os berços devem ser profundos abertos a 40 x 40 x 40 cm;
iii. Orientar as mudas no fundo dos berços com o corte transversal do pseudocaule (tronco) a 45graus e com o corte que ligava o rizoma a bananeira mãe para cima. Ou seja, inclinadas de maneira que haja certa demora para emissão das folhas, para que assim se enraízem primeiro e de maneira profunda a fim de suprir a grande área foliar com a captação de água e nutrientes do solo.
iv. O corte da muda de rizoma deve ser virado para cima, porque é do lado oposto que sairão os rebentos, obrigando o aprofundamento no solo, o que aumentará o ancoramento e a resistência ao tombamento.

Visita aos SAF: visitamos os SAF também chamados de agricultura sintrópica. Consiste de linhas de agrofloresta com ênfase em fruticultura de nativas em que a bananeira é o carro-chefe no ciclo curto. Entre essas linhas são cultivadas hortaliças (2 ou 3 canteiros) na mesma lógica dos SAF - consórcio de culturas, plantio simultâneo e escalonamento da colheita no tempo.

Luciano explica o sistema de policultivo de hortícolas em Agricultura sintrópica.
Parcerias
- Feira Agroecológica - Parque Vicentina Aranha
- Rede APOENA
- Espaço Terra de Monteiro Lobato
- Sítio Ecológico
- CSA Guajuvira
- REDE AGROFLORESTAL DO VALE DO PARAÍBA
- Biblioteca Lúcio Reis
- APTA - Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios através dos projetos: "Vitrine Agroecológica" e “Avaliação de crescimento e produção de espécies florestais nativas e culturas usando os modelos 3-PG e YieldSafe” - Apoio FAPESP.


Imagens: Luciano, Lucas Lacaz Ruiz e outrxs

PRÓXIMO MUTIRÃO

Sítio da Aninha Mendes é o mais arborizado à direita - local do próximo mutirão dia 14/12/2019.
Próximo Mutirão:
Aninha Mendes à direita de bone vermelho é a beneficiária do próximo mutirão no dia 14/14/2019 em São José dos Campos.

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