15 de dez. de 2019

RELATO - CAPACITAÇÃO PEDAGÓGICO-PROFISSIONAL EM AGROECOLOGIA (APTA/INCRA-SP)


RELATÓRIO SOBRE A ATIVIDADE REALIZADA NA CAPACITAÇÃO PEDAGÓGICO-PROFISSIONAL EM AGROECOLOGIA (APTA/INCRA-SP) NO PROJETO DE ASSENTAMENTO CONQUISTA, TREMEMBÉ – SP, NO DIA 18 DE JUNHO DE 2019.

Por:
                           José Miguel Garrido Quevedo, Engenheiro Agrônomo, Perito Federal Agrário, Membro do Setor de Meio Ambiente e Recursos Naturais do INCRA - SP
                                 Verônica Andressa de Castro, Estudante de Graduação do curso de Engenharia Agronômica da FCA /UNESP - Botucatu

Imagem da feirinha do Pré-Assentamento Egídio Brunetto, Lagoinha - SP

MENINO DA ROÇA

A Reforma Agrária é apenas uma possibilidade, ou melhor, uma oportunidade que Deus nos dá para o progresso de pessoas simples e do bem.
O Brasil assistiu a migração nordestina para centros de trabalho. O auge dessa procura por emprego foi à colheita de cana-de-açúcar, legiões de pais de família vinham se escravizar voluntariamente e pingar o suor na labuta da colheita, do ouro, do agronegócio em São Paulo e da soberba do homem. A injustiça social chegara ao limite. A exploração humana fazendo a riqueza de alguns poucos.
A Reforma Agrária da década de 80 se contrapôs a essa lógica. A resistência camponesa fez despontar pequenas ilhas onde a possibilidade de viver na terra era diferente. Foi uma época onde os Projetos de Assentamento eram resistência ao modelo exploratório do agronegócio. Houve uma conjuntura política favorável, governos de centro-esquerda possibilitaram o sonho que depôs um presidente na década de 60. Teve na figura de Franco Montoro e Mário Covas uma abertura política que proporcionou o “pingar” dessas “ilhas de sonhos”. O módulo mínimo de fracionamento estabelecido pelo INCRA era generoso, lotes que giravam em torno de dois dígitos.
Fomos visitar uma família de migração nordestina, as baianas Rosangela e Alexandra do Projeto de Assentamento Conquista em Tremembé, que são um exemplo vivo da migração citada no parágrafo anterior. Apesar de um contexto distinto do que foi descrito nos parágrafos anteriores, no que se trata ao setor canavieiro do estado, essa família representa a trajetória de seus antepassados, ícones desse processo humano de deslocamento. Elas criam seus filhos no lote da mãe. Três famílias vivem daquele módulo estabelecido na década de 90. Teve o levantamento do meio físico para determinação da capacidade de uso das terras e consequente determinação do módulo rural de cada lote estabelecido por estudos do Engenheiro Agrônomo Dorival Bertolini, do Instituto Agronômico de Campinas, que prestou serviços ao Instituto de Terras do Estado de São Paulo. Ele deslumbrou o futuro para 30 anos, a terra conquistada como possibilidade de sustento a cada grupo familiar. Este território dominado pelas baianas é composto pela terra dela, da cunhada, da sogra e outro cunhado. Formam três ou quatro lotes agregados de uso contínuo. Um solo que nos remete a terra preta de índio, a várzea de inundação ou planície de inundação, que são áreas marginais a recursos d’água sujeitas a enchentes e inundações periódicas que sendo sistematizadas são de grande valor para produção de produtos agroecológicos. São de uma fertilidade e de um frescor que fazem brotar alimento como fruto do labor humano. Interessante notar que a principal técnica agroecológica utilizada por este grupo familiar é o pousio. “Terra que nasce mato é terra fértil, terra que não nasce mato não produz alimento”. As ervas espontâneas são ceifadas periodicamente e ficam em processo de decomposição por às vezes até seis meses, só depois, então, que são cultivados e devido ao frescor do solo possibilitam a umidade correta para o cultivo das olerícolas.  Relatou-nos que a produção de abóbora, repolho e brócolis-japonês eram extraordinárias.
O Projeto de Assentamento Conquista de Tremembé é o grande fornecedor do CEASA de Taubaté, sai dessas áreas sistematizadas grande parte do alimento hortifrutigranjeiro desta Região do Vale do Paraíba. Esta sábia agricultora sabe com a “palma da mão” descrever seu território. Caminha pelas trilhas descrevendo as possibilidades de produção: terra de abobrinha, de mandioca, de repolho, de batata-doce e ainda preserva sem saber, respeitando o Código Florestal Brasileiro, as áreas de preservação permanente dos mananciais de recursos hídricos. Apresenta um ponto fundamental, a honestidade do caráter desta família. O brilho do olhar do presidente da cooperativa dos produtores desse assentamento exala honestidade e, em sua generosidade, presenteou-nos com bananas agroecológicas de uma doçura imensurável. Caminhamos no território e presenciamos o “coração de mãe” daquele lote. Mais uma família foi recebida para ter como lugar de trabalho o sustento de sua família, chamou-nos a atenção a simplicidade da moradia em madeira, mas de um capricho e beleza rústica impressionante. Uma Reforma Agrária como oportunidade. Ao nos despedirmos reconheci aquele neto que nos impressionou na roda de abertura da Oficina no lote da Deise Alves, a F3[1] para 2030, este é o legado que deixaremos para 2030.



[1] Este termo foi um paralelo à Genética.

Nenhum comentário:

Postar um comentário