Data:10/04/2021 - 9h
Local: on-line, Fazenda Nova Gokula, Pindamonhangaba.
Entrevistado: Goura Lila Devidassi - produtora agroflorestal
Entrevistador: Patrícia Lopes - Pesquisadora
Esta entrevista com Goura Lila Devidassi (Figura 1) traz informações sobre a produção agroecológica de Nova Gokula, em Pindamonhangaba e as prioridades para a Rede Agroflorestal trabalhar. Boa leitura.
Bom, bom dia, meu nome é Patrícia. Estou aqui conversando com a Goura. Peço agora para você, por favor, me dizer seu nome completo.
Gilcelia Aparecida
Gonçalves, o nome civil. E o meu nome espiritual é Goura Lila Devidassi.
Você está sediada em qual
município?
GOURA: Pindamonhangaba. No
bairro do Ribeirão Grande, na fazenda Nova Gokula.
Como que você chegou até a vida
no campo, de produção rural, se você sempre viveu aí e qual foi o caminho para
chegar até aí, nesse formato de vida? O que te motivou a fazer essa escolha?
GOURA: Eu vim para Nova Gokula em 2009, para fazer um trabalho de
adequação ambiental para a fazenda Nova Gokula e comecei essa caminhada não
como agricultora mas fazendo esse trabalho de articulação perante os órgãos
ambientais, para regularizar algumas pendências ambientais que a Nova Gokula
tinha na época. E em 2013 eu conheci o pessoal da Rede Agroflorestal, com o
Antonio Devide e a Cristina (Castro - pesquisadora), e o pessoal do assentamento. Também vi a nossa
carência de sustentabilidade e de apoio na área, para as famílias de baixa
renda de Nova Gokula, e comecei a me engajar nesse movimento com parceria com o
sindicato rural, na época era a Lucila Rangel. Fiz uma parceria com eles e trouxe um
curso de capacitação, de olericultura orgânica para a Nova Gokula. Porque o
devotos não tinham muita aptidão para a terra, achavam que era muito difícil
plantar, mas através desse primeiro curso que eu consegui, eles viram que era
mais fácil. E em 2014 o Antônio Devide trouxe um mutirão agroecológico,
agroflorestal, aqui para a Nova Gokula (Figura 2). Aí comecei e não parei mais. Peguei
gosto!
Como é que funciona a organização
aí de vocês, né? Como é que existe uma organização mínima, de construção
coletiva de esforços para mudanças que são necessárias, tanto na propriedade
que você está inserida, quanto no entorno, com as outras propriedades do
Ribeirão Grande? Existe uma articulação, tem uma liderança, tem um movimento
que funciona ou que não funciona? Como é essa organização?
GOURA: Aqui a gente tem
uma coordenadoria de agricultura e de proteção aos bovinos. Ela é
institucionalizada e eu faço parte, sou a coordenadora. A gente trabalha com
agricultura familiar, e com agricultura nas áreas que são da instituição.
Nessas áreas institucionais, geralmente a gente planta em maior escala e a
gente fomenta a agricultura familiar para fortalecer as famílias que tem essa
aptidão, porque nem todos tem essa aptidão. A gente faz esse trabalho. Em relação
ao entorno, eu conheço algumas pessoas, mas ainda não existe uma liderança, com
alguns encontros pontuais. Isso é uma carência, apesar de existirem alguns
agrofloresteiros por aqui. Tem o sr Fernando, a Marilda, a Angela, a Daniela
Querido que é aqui do lado, e um outro pessoal. Tem o Vivaldo, o seu Antônio, o
Claudio Macedo, que a gente também tem essa parceria com o entorno. Fazemos
algumas trocas, mas a gente não tem nada formalizado e constituído, de uma
forma que tenha encontros pontuais, ou alguma organização melhor. A gente tem
também o apoio do pessoal que é do bairro, que a presidente e a vice que tem
essa vontade de trazer algum projeto sustentável para os jovens do Ribeirão,
algo agroecológico e agroflorestal. A gente até chegou a conversar sobre isso,
mas entrou a pandemia justo quando apareceu o Instituto Auá, que começou esse
movimento do entorno mais forte. Mas logo em seguida começou a pandemia e a
gente sessou todos os trabalhos. Nesse momento, estou trabalhando com
voluntários em Nova Gokula, nas áreas, e a gente está na caminhada.
E o que que você vê de importante
na agrofloresta, nesse formato de produção agroflorestal?
GOURA: O que me interessou
foi a diversidade, por que eu acho ser muito rico, a questão de inibir doenças
e pragas, por ser um sistema que é mais saudável, é uma harmonia para todas as
espécies inseridas, e acho a facilidade do manejo. Porque você já faz um consórcio
com a sua necessidade do seu plantio, e isso minimiza bem o tempo de ter que
trazer insumos de fora, ou comprar insumos. No começo é um pouco trabalhoso mas
o que estou vendo com a minha experiência é que a longo prazo, ele é
sustentável. E você sempre está colhendo alguma coisa, tem sempre produtos pra
você colher. Isso é uma riqueza que me inspira muito na agroflorestal, na
agroecologia.
E como que você define a Rede? O
que que é a Rede Agroflorestal para você?
GOURA: Para mim a Rede
Agroflorestal representa o apoio, que a gente tanto precisa e ela representa a
sabedoria que eu adquiri, através da Rede. Quando eu comecei eu não sabia nada
e através dos mutirões, muitas das vezes em consultorias com o Antonio Devide
na APTA (Polo Regional Vale do Paraíba, setor de fitotecnia, 2GJW+9P Pindamonhangaba, São Paulo), eu fui adquirindo conhecimento. A Rede, pra mim, é muito importante na
questão do aprendizado e na questão de fornecimento de sementes e mudas. Os
mutirões também são muito ricos porque eles trazem essa ajuda que falta para o
agricultor que trabalha sozinho. Pra mim, a Rede é essencial. A existência dela
é muito significativa. E estou na Rede desde 2012, desde que começou eu estou
participando. Não tão intensamente mas... Eu vi que ela transformou muitos
lugares. Transformou muitas pessoas. Nos dias de hoje, onde a gente tem tantas áreas
degradadas, tanto alimento contaminado, a Rede Agroflorestal trouxe esse alívio
de produção de alimentos com qualidade, pessoas capacitadas. Pra mim, a Rede é
essencial que permaneça, que exista.
A outra pergunta é mais ou menos
o que você já respondeu, mas se você tiver mais alguma coisa para complementar,
da forma como você vê a atuação da Rede Agroflorestal, até o momento.
GOURA: A Rede é essencial.
O suporte que ela nos dá. Pra gente que está na área rural, é grande. A Rede é
muito importante, apesar de eu achar que precise acrescentar alguns pontos, mas
todo o trabalho que a Rede fez é muito importante pra mim. Trouxe
sustentabilidade, trouxe esse aprendizado nas áreas de pesquisa da APTA, que a
gente pôde vivenciar. A Rede fez um trabalho muito bonito, com muito esforço,
com muita dedicação... então a Rede pra mim, sinceramente, é uma luz no fim do
túnel. Para mim e para o entorno. Tantas pessoas que eu vi crescer, que eu vi
transformar através da Rede, é muito importante.
O que que você vê como importante
para ser trabalhado para ser desenvolvido daqui para frente? Para os próximos
anos, o que a Rede precisa se preocupar, quais as demandas? O que que você vê
que falta e que precisa melhorar?
GOURA: Uma coisa que pode
melhorar são as visitas técnicas nas áreas que tem SAF implantados,
principalmente SAF que são iniciais, que a pessoa não tem muita experiência.
Uma outra coisa que tem muita carência é a questão do mercado de venda. A gente
geralmente tem a fragilidade financeira e precisa criar esse mercado de rede
agroecológica, que hoje não existe. E também que precisa trabalhar a questão do
traslado. Como esse pequeno produtor pode chegar com seus produtos até as
cidades... São Paulo, São José, Taubaté... isso é uma coisa que precisa. Não
adianta só plantar. Se você não consegue vender tudo que você planta, para
traze a sustentabilidade pra onde você está, acaba que fica um pouco amarrado.
Trabalhar a questão do mercado, criar uma rede de colheita. Para poder estar
trocando esses produtos, e a questão do traslado, que é muito importante. Fazer
chegar até os pontos de entrega o produto da agrofloresta.
Tem alguma outra coisa, no dia a
dia de vocês?
GOURA: Eu acho que no meu
dia a dia, a Rede precisaria de desenvolver maquinários para agrofloresta. Ex:
o tronco da babana é muito legal, mas vai você que é mulher cortar um tronco da
banana pra você ver... A Rede poderia ter esse olhar, entendeu. Desenvolver uma
ferramenta, como já existe no mercado mas a Rede poderia ter essa produção, que
a gente pudesse comprar ou algum produtor da Rede entrar nessa linha. Ex: ter
uma motosserra menor, ter esses maquinários. A gente sabe que tem no mercado
para vender, mas às vezes, na nossa região não tem. Igual a um ferro que corta
os troncos da banana, que é muito prático, mas nem toda a serralheria faz esse
tipo de equipamento. Seria legal. A fazenda da Toca (de Itirapina - SP), eles desenvolveram esse
maquinário para a agrofloresta. Acho que é muito bacana se a Rede tivesse esses
equipamentos, porque muitas das vezes a gente não trabalha com muitas pessoas e
isso facilita o manejo, ajuda muito. Essas são minhas sugestões.
Importante ter essa fluidez... de
produção de manejo, de venda...
GOURA: A gente precisa
fechar o ciclo, né... plantar, manter, aprender, colher, processar e vender. Tem
que fechar esse círculo. Não dá só para plantar. Atualmente é a minha
dificuldade. Às vezes você perde produto porque estou a 26km de Pinda e é
difícil o acesso, não tenho carro, enfim.. precisa de fechar esse círculo.
Trabalhar com esse olhar. Seria legal a Rede também ter o seu selo, uma
plataforma de venda, ter um estande que vai para essas feiras nacionais e
internacionais, desenvolver de fato um olhar de empreendedorismo.
Agradeço muitíssimo.
GOURA: Eu que agradeço!
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