30 de out. de 2019

AÇÕES COM SISTEMAS AGROFLORESTAIS NO ASSENTAMENTO EGÍDIO BRUNETTO EM LAGOINHA - SP


Caminhada Agroecológica – Projeto de Assentamento Egídio Brunetto – Lagoinha - SP

Horta comunitária do Assentamento Egídio Brunetto, Lagoinha - SP.

José Miguel Garrido Quevedo, Engenheiro Agrônomo, Mestre em Planejamento Agropecuário pela UNICAMP e Perito Federal Agrário (INCRA-SP).
Tiago Ribeiro Coutinho, Biólogo, Representante da Coordenação do Assentamento e Membro da Rede Agroflorestal do Vale do Paraíba.
Verônica Andressa de Castro, Discente de graduação em Engenharia     
Agronômica pela FCA – UNESP – Botucatu.
 APRESENTAÇÃO

A Oficina denominada “Caminhada Agroecológica” ocorreu  no Projeto de Assentamento Egídio Brunetto em Lagoinha, realizada dia 04 de julho  de 2019, foi conduzida pelo pesquisador científico da APTA Antonio Carlos Pries Devide, José Miguel Garrido Quevedo, engenheiro agrônomo do INCRA SP, membro do Serviço de Meio Ambiente e Recursos Naturais da Divisão de Obtenção de Terra e Implantação de Projetos de Assentamento do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária em São Paulo, e pelo biólogo Thiago Ribeiro Coutinho, representante da coordenação do assentamento e membro da Rede Agroflorestal do Vale do Paraíba. Tal oficina teve por objetivo realizar o diagnóstico rápido dos sistemas agroflorestais existentes no projeto de assentamento e realizar um manejo de um SAF em uma área específica. O eixo principal de diálogo com os participantes foi mostrar em que estágio se encontra este modelo de agricultura no assentamento, mostrando que é possível produzir alimento respeitando as forças que vem da natureza.
Cartaz do I Seminário Popular em Defesa das Águas organizado pelo coletivo popular de trabalhadores e trabalhadoras da reforma agrária do Assentamento Egídio Brunetto, Lagoinha - SP.

METODOLOGIA

Foi utilizado como metodologia a caminhada transversal na estrada principal do projeto de assentamento, observando-se o uso e conservação das áreas de preservação permanente e relevo da propriedade com  uma breve visita a área de horta agroecológica coletiva, onde ocorre os mutirões entre os agricultores para estimular a participação dos mesmos no aprendizado em trabalhar junto e experimentar uma área de aprendizado em Sistemas Agroflorestais. Espaço importante onde é estabelecido os laços afetivos entre os agricultores e apreendido as técnicas que fazem parte dos princípios da Agroecologia. Uma horta diferente, onde há verdura, legume e plantas medicinais cultivados com banana e frutíferas. Espécies vegetais únicas que são cultivadas ali e servem de berço para serem distribuídas entre as famílias que participam daquela comunidade, escola viva de aprendizado das normas que regem a natureza.

Mais adiante, fomos visitar o ponto turístico do Projeto de Assentamento Egídio Brunetto: uma cachoeira com as ruínas de uma residência da fazenda onde existe um moinho de pedra. Lá estava a tarefa do dia: um mutirão para revitalizar um Sistema Agroflorestal que está nascendo neste espaço. Uma moita de bananas, variedade antiga da fazenda, uma pastagem com braquiária, uma casa em ruínas. O transformar da natureza bruta em natureza bela.

PREÂMBULO

            O manejo deste SAF, talvez trouxe o meu maior aprendizado deste curso, nosso instrutor, o pesquisador científico Antonio Devide, se acidentou com o manejo do facão. Um acidente que nos trouxe aprendizado para o resto de nossas vidas como agrofloresteiros. Seu equilíbrio, sua saída sem fazer alarde, minha necessidade de acompanhar o amigo ao atendimento de emergência na unidade de pronto socorro do município me mostraram que este Ser é mesmo especial. Caridoso, manteve a calma o tempo todo, aguardou o atendimento pacientemente e procurou me conduzir tendo a atenção que necessitava. Precisava continuar com a atividade em tela com aqueles agricultores, de forma a não quebrar a boa vibração que nos encontrávamos.  Certo de que meu amigo foi atendido e encaminhado ao hospital regional de Taubaté, voltei à capacitação para encarar de frente o desafio de conduzir aquele processo de aprendizado.


Thiago Coutinho explica o histórico do local destinado como ponto turístico e sua proposta de manejo da vegetação para instalação de SAF ao lado de ruína de imóvel 

            O manejo do facão na Agrofloresta é a ferramenta que mais nos empodera como arquitetos da Natureza, compreender o manejo da Luz é o segredo, nos liberta, vamos ceifando, escolhendo quem serve ao sistema como alimento de vida e quem é promovido a renascer. A planta ceifada que é retirada do sistema serve de fornecedora de seiva nutritiva para as que permaneceram, a banana é principal planta a fornecer a seiva nutritiva, a umidade necessária e o controle de ervas espontâneas ao redor da mudinha que está sendo criada por nós e por Deus. A planta que é promovida a renascer modifica nosso paradigma: o ser vegetal aceita como ninguém o corte de sua “carne”. Ser evoluído, sempre pronto a se doar, quando tem um galho cortado, estimula as gemas da vida, solta brotos, solta frutos e dá o recado às outras plantas: É tempo de renascer, de estimular o crescimento. Retira o velho, o que está doente e em senescência para fazer ressurgir o novo, o belo.
Rodrigo Dametto fala e sua experiência com o cultivo de mamona preta (Paraguaçú) oriunda de pesquisas na APTA - Polo Regional Vale do Paraíba, em Pindamonhangaba-SP 

            O manejo do facão necessita atenção plena, silêncio absoluto, é nossa alma comandando nossa mente a executar o movimento preciso, com o cuidado necessário. O movimento cirúrgico. Neste momento nos ligamos a algo maior, conectado as Forças da Natureza, manejando-o com sabedoria e presteza. Se nos liberta por um lado, nos esclarece que seu manejo necessita equilíbrio, atenção e a mente quieta para o fluir necessário ocorrer sem contra tempo.
            Ficou a lição pela dor, para o resto de nossas vidas.




Visita a horta comunitária - cultivo de hortaliças, grande diversidade de PANC no sub-bosque de bananeiras biodiversas.

DESENHO DO SAF PROPOSTO PARA A HORTA
            Uma horta modelo, é de lá que se multiplica as matrizes que comporão as hortas dos agricultores no assentamento e local de aprendizado, sala de aula nos mutirões, é ali que o conhecimento é massificado e serve de “liga” entre as famílias, pois no diálogo proporcionado pela convivência que se acerta arestas, que se firma laços de amizade mais profunda. É a família que estes agricultores resolveram ter.
            Uma linha de diversidade, em sistema de aléia, com mudas nativas e mudas frutíferas, entre elas a bananeira, espaçadas de 3 a 6 metros, uma muda da outra, variedade originada ali mesmo, as mudas foram retiradas em moitas existentes na fazenda. É o banco genético local. As bananas tem papel fundamental no SAF, servem tanto para produção de cachos generosos, como ao ceifados e cortado em formato de telha, servem de manto sagrado para o solo, protegendo e criando as mudas de árvores nativas, demais árvores frutíferas e o que se quer cultivar nesta linha de diversidade, as culturas de preenchimento desta linha, vai bem por exemplo, tomate cereja, salsinha, alho poró, erva doce, e os tubérculos açafrão da terra ou conhecida como cúrcuma. O espaçamento adequado para cada vegetal desenvolver: a alface necessita de 30 centímetros entre plantas seus pares, a rúcula 15 centímetros, o alho porró 15 centímetros, a couve chinesa “shingensai” 20 centímetros, a mandioca 1 metro e o tomate 1 metro, e assim por diante, cada espécie tem respeito  o espaçamento de seu par. Deve-se compreender a função do tempo no amadurecimento de seu SAF, as olerícolas  podem ser cultivadas todas juntas, sendo colhidas uma a uma, no tempo. Na entre linhas, os canteiros das verduras, comestíveis e medicinais, tudo plantado junto, crescendo juntas, umas vão dando condições ambientais para as outras virem juntas, crescendo a sombra da outra, é uma criando outra. Cada uma é colhida no seu tempo, primeiro as que crescem primeiro, como por exemplo os rabanetes e a rúcula, depois as medianas, como por exemplo os alfaces e beterrabas e finalmente as couves, repolhos e couve-flor.  A ainda a opção das aléias, que tem o espaçamento sugerido de 6 metros, entre estas linhas de diversidade, formam no meio delas, o espaço para as culturas brancas, as de safra de verão, como o milho e o girassol e as de inverno, com o centeio e a aveia branca, e ainda as semi perenes como a mandioca e a cúrcuma. Pode-se finalmente optar em especializar-se em módulos,  levantando canteiros para a produção das verduras neste espaço  entre as aléias, formando 3 linhas de canteiros, que podem ser cultivadas todas juntas, como descrito anteriormente, ou em plantio convencional, em módulos homogêneos, com canteiros de brócolis, de alface, de couve-flor, de couve, de beterraba, de rúcula e de rabanete, por exemplo, cultivados isoladamente, mas formando um mosaico de produção.

Visita e planejamento de ações na Horta Comunitária
            Nestes canteiros das verduras, além das comestíveis, são cultivados as de uso medicinal, como por exemplo a erva doce. Percebe-se que com o tempo vão nascendo as ervas espontâneas que vão ocupando o seu território ali, algumas com valor alimentício, como o caruru e a serralha, outras com valor medicinal, como o picão preto, outras ainda, como a trapoeraba, a mostarda e o cosmo funcionam como a braquiária era no sistema original, com o avanço da idade dos canteiros, vão formando a “pele” do solo, são aquelas espécies vegetais que na natureza tem a função de não permitirem que o solo fique descoberto, que fique nu, elas na verdade criam as demais, principalmente as mudas nativas e frutíferas do futuro, permitem as condições micro climáticas que permitem que as mudas se desenvolvam em um micro-clima favorável.
            Percebe-se que o “mato” que é ceifado, ou apenas podado, para ter seu sistema radicular ainda preservado, mantendo sua função no sistema,  é caprichosamente disposto sobre o solo, deixando sempre o solo coberto, quando levantamos tal “manto sagrado” observamos que a vida reina ali, insetos e fungos crescem debaixo da cobertura morta, que de morta não tem nada, é sim berço de vida!
            Chama a atenção também a diversidade de cultivos, várias espécies crescem no local, a monotonia de canteiros de alface, no sistema convencional, não se vê ali. Compreendeu-se o conceito sucessional dos sistemas agroflorestais.


PANC - couve de árvore na horta comunitária.
PANC - planta de melão andino na horta comunitária.

Bucha - válida como hortaliça PANC (colheita imatura) e como bucha (colheita madura)

PANC - melão andino
Fomos visitar também a área de expansão da horta, a várzea com capim braquiária, enorme cresce ali, tem ruas ceifadas, retiras pela raiz  e já inicia-se o plantio de espécies pioneiras, no caso, como estávamos no inverno, linhas de gramíneas de inverno, como aveia branca, foram cultivados para ir amansando a terra e dominando a braquiária, que é retirada do sistema, quando se alcança um sombreamento que a inibe,  posteriormente a este “adubo verde” entrarão as linhas de mudas de diversidade e as entre linhas de cultivo de hortaliças e ervas medicinais.


Visita na área de pousio para expansão da produção de hortaliça com aveia de inverno (pré-cultivo) para formação de SAF na Horta comunitária. Sementes de aveia foram obtidas na área de pesquisas no Polo Regional Vale do Paraíba, em Pindamonhangaba - SP. 


Detalhe de tefrósia e seringueira formando junto com aveia branca de inverno na área de SAF em Horta coletiva. A tecnologia de plantio de SAF no inverno a partir da semeadura de aveia foi obtida de pesquisas no Polo Regional Vale do Paraíba, em Pindamonhangaba - SP.
Senti falta dos cordões de isolamento, as espécies “zíperes” que nos SAFs produtivos são dispostos nas bordas e  tem a função de isolar os módulos produtivos, impedem a entrada de sementes de invasoras, aumentam a umidade do local e atraem polinizadores, como espécies exemplos tem-se o margaridão e o boldo do chile e ainda o capim Guatemala. E também a falta da mamona preta, espécie que tem diversos usos nos sistemas agroflorestais, serve de adubo, pelo fornecimento generoso da parte aérea, as folhas crescem em tamanho generoso, apresentam um óleo que tem importante papel no controle de formigas cortadeiras, seus caules são ricos em celulose e lignina, auxiliando após a sua decomposição na estruturação do solo e também como espécie emergente, auxiliam a criar todo o sistema.

DESENHO PROPOSTO PARA O SAF DE BANANAS NO ESPAÇO “IANSÔ
As bananas tem papel fundamental no SAF, servem tanto para produção de cachos generosos, como ao ceifados e cortado em formato de telha, servem de manto sagrado para o solo, fornecendo nutrientes e umidade, protegendo e criando as mudas de árvores nativas, demais árvores frutíferas e o que se quer cultivar nesta linha de diversidade, as culturas de preenchimento desta linha.
Os pseudo caule das bananas fornecem a seiva que alimenta e protege do ressecamento através da conservação da umidade. Vão aos poucos, conforme os aportes de lignina e celulose que são acrescidos junto aos pseudo caules, formando solo de floresta. Um ponto que assusta um pouco, nestas linhas de diversidade é de costume colocar leiras de galhos picados e folhas de poda, que muitas vezes é resíduo nas cidades, ao contrário da serragem fina, que demora a se decompor, são o alimento de fungos e insetos, que vão formando o húmus.
Assim temos três, pelo menos, funções desempenhadas pelas mudas lenhosas, as mudas de diversidade, são as árvores do futuro, as mudas frutíferas, nativas, entre elas a madeireiras. As mudas de preenchimento, as mudas que preencherão o espaço de cada muda de diversidade, entre elas as não lenhosas: são as olerícolas e ervas medicinais, por exemplo, e ainda as culturas “pele” como o picão preto da agricultura orgânica e o cosmos da permacultura, como poros do solo, não permitem que o solo fique exposto e como nascem primeiramente no sistemas, devido a agressividade, criam as demais, dando-lhes condições micro-climáticas favoráveis as demais. Há ainda as chamadas plantas de serviço, os adubos verdes, a mamona e a gliricídia, entram neste conceito, são plantas que depois de ceifadas “alimentam” o sistema, seja de nitrogênio e celulose e lignina, formando a matéria orgânica do solo, o húmus, responsável pelo solo de floresta que estes sistemas são capazes de formar, regenerando os solos degradados pela cultura e pecuária convencional.
A tarefa do dia: as mudas de nativas, de um metro a um metro e meio de altura, diâmetros a altura do peito de 5 a 10 centímetros são podadas. Darão o estímulo de crescimento as demais quando iniciarem a brotação e limpam a área para a entrada de luz regenerante. O manejo do facão, se trás liberdade e sensação de domínio com a natureza, trouxe-nos o maior aprendizado que o curso pode nos dar. A necessidade da atenção plena.
Nas linhas de diversidade, as mudas de banana foram dispostas a cada 6 metros, umas das outras, entre elas são dispostas as mudas nativas e frutíferas. Já as mudas nativas e frutíferas, distam 2  metros entre berços. Este foi um padrão que pode modificar apertando ou alargando o sistema. De forma que a cada espaçamento das bananas, vai disposto nesta linha, duas mudas nativas/frutífera.  Iniciamos pelas espécies emergentes, aquelas que despontam no dossel da floresta, as que percebíamos ser de maior porte, em seguida foi disposto, no berço seguinte, uma de menor porte, podendo ser frutífera ou nativa, podendo ser uma madeira de lei. Esta disposição faz uma onda de crescimento entre as plantas desejável nos sistemas agroflorestais, as mudas são dispostas pela sua necessidade de luz, nativas e frutíferas cultivadas juntas, tendo em vista, sua necessidade de sombreamento, sua adaptação as condições de luz, uma após outra. É o conceito de estratificação nos sistemas agroflorestais, observa-se o crescimento vertical, como cada planta se adapta a este estrato na floresta, estas camadas de aptidão pela luz.
O mais difícil é o conhecimento do habitat de cada espécie, ao meu ver, este conhecimento virá com o tempo, quando algum fato nos ligar a planta. A moringa oleífera é sagrada para minha condição de diabetes, o pau ferro, outra planta do estrato emergente, juntamente com o guapuruvú, e as árvores intermediárias como o ipês, amarelos, brancos e lilás, já fazem parte de minha trajetória de vida. Assim cada planta vai entrando no nosso glossário de conhecimento da natureza. A elas são adicionadas as frutíferas como a pitanga, a nêspera, a goiaba e uvaia. E no mutirão, na troca de saberes, vai se partilhando este conhecimento, que pouco a pouco é sedimentado em nosso coração e em nosso olhar. Com a experiência dos mais vividos, vamos compartilhando o saber, vamos aos poucos nos tornando arquitetos da Natureza.

Transcrição e Revisão: Ecóloga Maria Thereza Quevedo


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RELATO PESSOAL – ASSENTADO CARIJÓ, DIRIGENTE REGIONAL DO VALE DO PARAÍBA DO MST-SP

Por:
Verônica Andressa de Castro, Discente de graduação em       
Engenharia  Agronômica pela FCA – UNESP – Botucatu.



A seguir está o relato pessoal do assentado Carijó - Assentamento Egídio Brunetto, Lagoinha - apresentado ao INCRA-SP, do qual tem como finalidade complementar o Diagnóstico Rural Rápido (DRR) aplicado ao planejamento agropecuário no Projeto de Assentamento Egídio Brunetto em Lagoinha-SP, fornecendo informações testemunhadas pelo membro do assentamento e dirigente regional do Vale do Paraíba e, assim, para que seja possível constituir a retrospectiva da comunidade.

“Sou Carijó, tenho 10 anos de luta no MST, vim aqui para essa terra em 2010, quando foi bastante conflitante nossa chegada até mesmo por conta de fazendeiro e alguns jagunços, capangas da fazenda, e logo em seguida teve o problema da enchente. Encheu o rio Paraitinga e que inclusive afetou bastante a região e nós tivemos que retirar o assentamento em 2010. Quando em seguida em 2012 a presidenta Dilma decreta essa terra para reforma agrária e então a gente voltou para o acampamento novamente e reinicia-se a luta para que essa terra fosse verdadeiramente desapropriada e fosse das famílias. Em 2013, perco minha vista dentro do acampamento num conflito interno com um fazendeiro, perdi o olho, o cara enfiou um bambu e perdi meu olho. Logo em seguida, 2014 fomos imitidos na posse dentro deste espaço, o INCRA foi imitido na posse. A gente veio para terra e permanecemos por 11 meses, quase um ano. Logo em seguida o INCRA também foi desimitido da posse novamente, onde as famílias estavam sem espaço, sem subsídio, alguns se espalharam, outros foram para outros acampamentos também. Em 2015, se retorna a luta por essa terra aqui, nesse espaço da Fazenda Bela Vista, onde eu volto novamente ao acampamento. Em 2016, perpetua-se a luta ainda na beira da estrada. Em 2017, perco meu filho também dentro do espaço, por acidente de moto, 14 anos, grande companheiro de luta, era pai de 5 filhos, mantinha o orgulho de ser pai de 5 filhos e criar eles sozinhos também por não ter esposa e de todas situações essa foi a mais conflitante na minha vida e na vida da minha família inclusive que hoje também continua comigo todos os filhos menos o falecido, claro. Passa-se esse grande momento turbulento, que foi essa grande perda, logo em seguida ocupamos a fazenda e fomos imitidos a posse em 2017 para 2018 pelo INCRA. Em 2019, perpetua-se totalmente, a gente começou a mexer com a nova fase do assentamento. Acho que seria mais ou menos assim em breves palavras. Contar tudo em si demandaria muito tempo. Bastante difícil e conflitante por ser sem-terra e sem nada e a cidade de começo nos recebe muito mal, muito mal mesmo, muito impasse a nível de pessoa e sociedade, ser sem-terra, pobre e jogado na cidade. A cidade nos recebe como criminoso e não como pessoas. Logo em seguida, a gente vai mostrando e trazendo elementos da agroecologia em nosso espaço, somos agora um pré-assentamento agroecológico e formamos isso através do coletivo, somos da organização do MST, porém temos a nossa necessidade interna de ter uma direção coletiva. A gente faz parte da direção coletiva tanto eu como a companheira Dani e somos dirigentes regionais do Vale do Paraíba e essa daqui foi uma das conquistas mais importantes da minha vida. Tem um pouco do meu sangue dentro dela e tem um pouco de sangue da minha família. E quem escutar esse depoimento fique sabendo que foi muito difícil minha conquista, ensinar que seus filhos lutem não é fazer que eles sofram, é fazer com que eles lutem também. Tirar o direito dos filhos de lutar porque os pais lutam por eles é ensinar seus netos a sofrer e aprender a lutar nunca. Demonstre amor às pessoas que você ama e que estão do seu lado como seus próximos instantes fossem os últimos, porque tenho certeza que você amaria eles assim intensamente. Meu filho que me ensinou isso. “


Equipe de trabalho reunida para o café da manhã no Assentamento Egídio Brunetto, Lagoinha - SP.

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