15 de out. de 2019

RELATO SÍNTESE DO CURSO DE LONGA DURAÇÃO EM AGROECOLOGIA


Por José Miguel Quevedo Garrido - Perito Ambiental do INCRA
Revisão: Verônica Castro - acadêmica de Engenharia Agronômica da UNESP


       Um curso de longa duração com três meses de aprendizado constante, um início na prática desta agricultura que respeita a Vida e respeita a Deus. Sua forma de agir, de criar Vida. Aprendemos que uma planta cria a outra, tudo junto, tudo misturado. Intrigado observei um Sistema Agroflorestal, no sistema “muvuca”, onde a semeadura se dá por sementes de árvores nativas, frutíferas e os adubos verdes sendo semeados ao mesmo tempo, sendo criados pelo capim gordura, por exemplo, estruturar o solo. Sim, não apenas o aspecto biológico e nutricional das plantas, identificado pelo fervilhar da água oxigenada, mas a formação de grumos vistos a olho nú, mostrando que ali, reina a vida, estruturados pela matéria orgânica e interação de microrganismos e raízes. E pelas Forças de Deus. Um sistema de plantio ao lado do sistema agroflorestal “convencional” de plantio em mudas, apresenta-se com solo desestruturado, fértil, mas desestruturado e imediatamente ao lado dele, um solo estruturado, tipo as terras roxas de café do Paraná. Mistério e admiração pelas Forças que regem a Natureza.

No primeiro módulo, conduzido pelo pesquisador Antonio Devide, nos sentimos agrofloresteiros, semeamos sementes de adubos verdes, de gramíneas de inverno, sementes do sol como o girassol:


Foto 1. Semeadura de culturas de inverno – aveia e girassol. Área de aleia com cordão de isolamento de margaridão e boldo do chile ao lado do reflorestamento regenerativo (sistema agroflorestal com o carro chefe banana ao lado da APP  e a outra aleia formada por capim Guatemala.



Descobrimos o sabor do palmito da banana:





Figura 2. Elaboração de palmito de banana, o pseudo caule tem no seu interior um palmito. Este é imediatamente colocado em água com vinagre ou limão. Deixado repousar na geladeira por uma noite e fervido com esta água com vinagre por umas duas vezes, por 20 minutos. Depois fervida novamente com água pura. Depois é só temperar e fazer os pasteizinhos.


  
Descobrimos que somos transmissores do Poder Divino na Terra:




Foto 3. Imposição de mãos e emissão de vibração positiva sobre o fertilizante Super Magro. Como constantemente é pulverizado diluído nas culturas e no solo, segue o princípio da Agricultura Biodinâmica e Agricultura Bioenergética.


Sim, que somos agrofloresteiros:



Foto 4. Implantação de um SAF regenerativo ao lado de APP, com banana e palmito juçara como carros chefes. Além das mudas de nativas e frutíferas há a semeadura de gramíneas de inverno e adubos verdes.


No segundo módulo, conduzido pela pesquisadora Cristina Castro, podemos aprender que os alimentos chamados matos ou PANC - plantas alimentícias não convencionais podem alimentar o corpo e a alma:



Foto 5. A Moringa oleífera, espécie de valor sentimental para o autor.


Foto 6. O Portal da pesquisadora Cristina Maria de Castro que descreve as propriedades das plantas medicinais.


No terceiro módulo, conduzido pela pesquisadora Sandra Pereira, entendemos o sagrado poder de cura das plantas:
  

Foto 7. A cúrcuma, açafrão brasileiro, com propriedades anti-inflamatórias

Do Homem e das plantas:


Foto 8. A seiva da Coroa de Cristo, espécie ornamental, bastando algumas gotas diluídas em água para controle de lesmas e caracóis como o Caramujo africano, importante praga da olericultura.


No quarto módulo, conduzido pelo perito ambiental do INCRA José Miguel Garrido, conhecemos a realidade de um assentamento:


Foto 9. Sr. Antonio “saci”, agricultor habilidoso, plantador de banana e mandioca e plantador de “gente” em seu lote. 5 famílias residem junto do avô.

Nos sentimos técnicos agrofloresteiros:


Foto 10, Análise das condições físicas do solo. Verificação do pé de arado e da camada enegrecida superficial do solo, resultado das estufas orgânicas cultivadas num tempo pretérito, na era da agricultura  natural do Assentamento (década de 90)



No quinto módulo, conduzido pelo biólogo agricultor Thales Guedes Ferreira: conhecemos uma vitrine da recomposição ambiental ao vivo:





Foto 11. Sistema Agroflorestal Regenerativo cultivado em “muvuca”. As sementes semeadas todas juntas depois do solo ser corrigido tem as mudas  criadas pelo capim gordura.


No sexto módulo, conduzido pelo biólogo agricultor Thiago Ribeiro Coutinho, ousamos sonhar junto com o sonho desta agricultora chamada Janaína Anacleto:



Foto 12. Sonhar um sonho possível. Vista da área onde foi instalada o primeiro módulo de Sistema Agroflorestal com ênfase em produção de geleias do Vale do Paraíba. (módulo 1 do presente relatório).
  

No sétimo módulo, conduzido pelo perito ambiental Engº Agrº José Miguel Garrido, deslumbramos uma nova possibilidade de um mundo agroecológico, a “Terra Prometida” - Um território reformado:




Foto 13. Este projeto de Assentamento, o Egídio Brunetto tem uma pegada diferente dos demais do Projeto de Assentamento. Respira Agroecologia.



Foto 14. Produto da Oficina de Planejamento Agropecuário: O Mapa de Recursos Hídricos da propriedade elaborados pelos agricultores.

No oitavo módulo, conduzido pelo agricultor agroecológico Valdirzinho - Valdir Martins, conhecemos um mestre da agroecologia:


Foto 15. Seu viveiro, mudas são produzidas e armazenadas a espera de irem para os berços.

Vimos como uma horta pode ser agroflorestal:
  

 Foto 16. Módulo produtivo de um horta agroflorestal. Três canteiros. Cultivados tudo junto, colhidos a seu tempo.

No nono módulo, conduzido pelo pesquisador Antonio Devide, sentimos a presença de Deus, naquela montanha.
  

Foto 17. O Mistério do renque de palmitos juçara na franja do fragmento florestal: Algumas árvores emergentes são o puleiro dos jacús, que “plantam” através das fezes o precioso palmito.

 No décimo módulo, conduzido pelo Marcos, aprendemos que um desafio é necessário para nos fazer crescer:


Foto 18. O moleque da bananeira, é um inseto chave na cultura da bananeira. Mesmo o controle com um fungo, o boveria, merece atenção plena.



Foto 19. As filhas bonecas da Janaína, a agricultora geleira, na sua casa de bonecas.

Nossos sinceros agradecimentos a equipe da APTA que nos acolheu nestes meses de formação: em especial, a Rosana, a Silvia, ao José Luiz, a Ana Alice e Andréia e demais funcionários do Polo e aos mestres instrutores: Antonio, Cristina, Sandra, Patrícia, Denise, Thales, Tiago, Mariana, Valdirzinho e ao Lucas que nos transmitiram suas vivências e seus saberes.
 Agradeço aos agricultores Sr. Antonio “Saci”, Janaína, Dona Toninha, irmãs Baianas, aos acampados Daniela, Tainara e Ana que mostraram ser o elo vivo da Rede Agroflorestal Vale do Paraíba.
Aprendizes do Curso de Longa duração: Capacitação Pedagógico em Agroecologia:
Ana Cacau;
Deise Alves;
Rodrigo Dametto;
Edson Fontele;
Paulo Luiz Pinto;
Vinicius Reis;
José Miguel Garrido Quevedo;
Verônica Andressa Castro;
Alice Pereira Monteiro da Silva;
Dalmir Ribeiro Lima;
Paulo Alex das Virgens;
Magali Gasan;
Benedito Gomes da Silva;
Graça, Gabriela e Jorge.
            Compreendemos o que quis dizer Capacitar alguém, melhor dizendo,  formar professores. Pedagógico, pois traz no Sistema em Mutirão, uma forma de aprendizagem que desarma, que nos liberta, faz-nos sentir agricultores a manejar a Mãe Natureza. E em Agroecologia, esta ciência que respeita a vida e respeita a Deus.
            Como conclusão do Curso, conquistamos o Conquista, implantamos 3 modelos de SAFs, em área de alunos deste Projeto de Assentamento, situado em Tremembé, a poucos quilômetros do Polo, só agora, está preparado para receber este processo de formação. Agricultores de Referência em Sistemas Agroflorestais e em Agroecologia. Mais um elo da Rede Agroflorestal do Vale do Paraíba foi formado. Mai uma esperança de um novo mundo foi semeado. Mais um elo de relações humanas foi firmado, mais que amigos, podemos conhecer companheiros de um Ideal.

    1)      Módulo 1: Agricultora Janaína Cristina Santos, por José Miguel Garrido Quevedo.

Apresentamos a seguir, as possibilidades do guarda-chuva que a agroecologia nos apresenta, existente neste sítio:

     1)      Viveiro de mudas agroecológicas pulverizadas com Microrganismos Eficientes (EM): mudas de tomate, mudas de hortaliças, mudas de Moringa oleífera, mudas de árvores nativas;
      2)      Produção de tomate orgânico para produção de molho artesanal com insumos orgânicos e EM;
      3)      Quintal agroflorestal com utilização de fruteiras e árvores nativas emergentes;
     4)      Produção de mandioca para mesa, sob viés agroecológico, com preparo de solo motomecanizado em canteiros e adubação com cinzas de olaria, calcário e consórcio com o milho variedade;
    5)      Cultivo de pitaia em sistemas agroflorestais com planta estaqueada em mourões de concreto e linha de preenchimento de abacaxi e “pele’ do solo formada com telhas de pseudo-caule de banana; nas entre linhas pode vir a ser cultivado com culturas brancas como o feijão.
     6)      Criação de porcos crioulos com alimentação de restos de alimentos da cidade, complementados com mandioca, restos de hortaliças e farelos;
     7)      Implantação de módulo de Sistema Agroflorestal da Rede Agroflorestal do Vale do Paraíba, com ênfase em plantas, como a vinagreira ou hibisco para a produção de geleias artesanais.

 Um SAF multidiverso, onde irá florescer:

     1)      Linha de adubadeira cultivada em muvuca, sementes de adubo verde misturadas juntas e semeadas em linha. (duas linhas formam este sistema)
      2)      Linhas de mudas nativas alternada com mudas frutíferas e tendo como preenchimento semeadura de vinagreira ou hibisco e trefósia, ainda com gliricídia e banana nanica ou prata regularmente espaçadas, estas últimas a serem instaladas futuramente,  orientado pelo pesquisador da APTA Antonio Devide, que visitou a área no dia seguinte ao mutirão de instalação daquele SAF. Estas linhas representam as linhas de diversidade deste SAF. (três linhas compõem este sistema).
     3)      Linhas de semeadura em muvuca de vinagreira e como a adubadeira, o adubo verde trefósia. (duas linhas compõem este sistema).
     4)       Espaço para cultivo de hortaliças com brócolis, couve-flor, salsinha e cebolinha, em canteiros solteiros nas entre linhas destes dois sistemas, de tamanho generoso, para o cultivo futuro do gengibre e cubio, ambas para produção de geleias.  O cultivo das hortaliças garantirá o atendimento imediato do compromisso com a merenda da escola e foi sugerido pelo companheiro da Janaína, também em visita posterior a concepção do referido SAF realizado em mutirão.
    5)       Instalação de linhas de isolamento, uma de cada lado do território de mando da mulher,  possuindo uma linha contínua de cana de açúcar e trefósia, quiabo de árvore e mamona preta semeadas em sulcos espaçados regularmente, ao lado da linha de cana de açúcar, no limite da propriedade e Phisales, já instalado do SAF anterior, com Moringa oleífera a ser plantada, quando as mudinhas já nascidas em viveiro do sítio, se tornarem mais fortinhas, no limite com o território do marido, a cultura de pitaia.
     6)      A “pele” do solo está sendo cultivada inicialmente com batata doce roxa e outra variedade laranja, algumas leiras para produção de mudas foi instalado.

Foi este o desenho proposto para este SAF, orientado pelo biólogo Thiago Coutinho.
Este é o leque de possibilidades produtivas deste sítio modelo.
Estamos diante de uma célula de possibilidades da rede agroflorestal do Vale do Paraíba, desta guerreira chamada Janaína.
Seu marido tornou-se meu amigo, já é um agricultor agroecológico experimentador, que ouve atentamente como foi desenhado o SAF experimental materializando o sonho de sua companheira.
Instalamos o primeiro módulo, de nosso trabalho de conclusão do curso de formação Pedagógico-Profissional de Agroecologia promovido pela APTA, Polo Regional do Vale do Paraíba e do Serviço de Meio Ambiente e Recursos Naturais do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária em São Paulo no dia 26 de agosto de 2019,  com o auxílio de sua filha Ariele, herdeira agroecológica da mãe guerreira, que já posta no “Istagram”, junto da irmã Ana, ensinamentos como quebrar a dormência de uma muda nativa de guapuruvú.
Tivemos a condução do biólogo Thiago Coutinho, que soube conduzir nosso dia de aprendizado,  pés descalços, dispôs as mudas nativas, florestais, e mudas frutíferas, respeitando seu gosto pela altura, a tal adaptação ao extrato vegetal, o habitat de cada planta, as regras de tolerância a luz de cada vegetal, quem aguenta sombreamento, quem aguenta um sombreamento médio, e quem não aguenta sombreamento. Uma muda emergente, mais uma muda de extrato médio e ainda outra muda de extrato mais baixo, são cuidadosamente dispostas em linha, formando um “contínum”, uma onda de crescimento que se formará com o desenvolvimento daquelas mudas. Foi o precioso ensinamento do dia. Foram dispostas sobre o solo em três linhas, com espaçamento de 5 metros entrelinhas e 3 metros entre plantas, deixando um grande canteiro para espaço de culturas anuais, na entre linhas, para o cultivo, como por exemplo o cubio e o gengibre, que será instalado posteriormente. Estas mudas foram “plantadas” pelas mãos do Assentado Paulo Luiz Pinto e do agrônomo Rodrigo Dametto, participantes assíduos do nosso curso de formação. Mais dois participantes externos se juntaram a nós, neste caminhar pelo saber agroecológico, nos auxiliaram nesta última etapa de nossa formação em Sistemas Agroflorestais, o agrônomo Ricardo Vasconcelos Siqueira e o Benedito Suzigan, agricultor que presta serviços de motomecanização para os assentados da região e também o Pai da Janaína, o Senhor Acácio, que mais uma vez, auxilia na concretização do sonho da filha e das netas.
Cada muda cultivada teve sementes semeadas ao seu lado, serão adubos verdes, entre elas o girassol e o cosmos, criadoras de nossa floresta geleeira.
A cobertura com braquiária ceifada é a proposta de cobertura morta.
O sistema de irrigação por aspersão, a forma de irrigação a ser adquirido com dinheiro do trabalho do marido, que faz bicos na cidade, para entrada de recursos financeiros no território, onde cria sua família de agricultores agroecológicos. Sonha em retirar renda apenas do sítio, que num futuro próximo, diante de tantas frentes de possibilidades, se concretizará. Que assim seja.
Esta é a apresentação de nosso primeiro módulo de agricultor de referência para O ASSENTAMENTO CONQUISTA.
      2)      Módulo 2: Agricultora Deise Alves, por Antonio Devide.
    3)      Módulo 3: Agricultor Paulo Luiz Pinto, por José Miguel Garrido Quevedo e Thiago Coutinho.

“Em mi sitio you reino”, assim me despedi do mestre José Luiz, neste último dia do curso de capacitação, abraço apertado pelo agradecimento que o convívio com este funcionário público me proporcionou nestes 3 meses de aprendizado, é no carro do filho que deixo as chaves do alojamento que me acolheu neste Centro de Saber, na área de agroecologia do Governo do Estado, quando retorno para minha Piracaia de madrugada. Seu pequeno quintal onde mora, é o seu reino, lá me ensinou como enxertou um pé de limão taiti, tinha feito a técnica da alporquia, tem ali seu moinho de cana, para tomar uma garapa, me presenteou com uma vassoura de sorgo, aquelas, de bruxo. Assim que saio daqui deste processo de formação, conhecendo um pouco, os segredos da Natureza, com meus mestres instrutores, aprendi a ouvir também meu coração, me recordei quando me tornei agrônomo do Estado, quando auxiliei meu companheiro Benedito Gomes da Silva, na fiscalização do imóvel rural.

Me tornei agrofloresteiro pelas mãos do amigo Antonio Devide, que muito mais que o ensinamento técnico me proporcionou o aprendizado espiritual. Pelas mãos do irmão Thiago Coutinho, me reconheci como extensionista, ao compartilhar saberes com aquela comunidade em formação. E ouvindo meu coração vi que sou poeta. Se você ao ler estes relatos, poder sentir um pouco do que senti, alcançamos nosso objetivo, de repassar um pouco do que vivemos nestes 3 meses de convívio e aprendizado.

Última etapa, como agradeci de ter sido teimoso, e contradizer o amigo Antonio, sim, modifiquei o planejado o quanto foi necessário, o quanto senti que valeria a pena. De um mutirão no Assentamento Conquista, conseguimos instalar três. Este último por ”imposição” nossa. O assentado Paulo Luiz estava preocupado com a alimentação, não sabia se daria as condições de recebermos a altura que ele desejava, pois está iniciando o caminhar agroflorestal. De origem urbana, trabalhador de fábrica, está vindo para o rural empreender nas terras do pai. É livre, sem vícios, inocente, solta aquele sorriso tímido, de quem afirma que não sabe, que está aprendendo. 

Para nós, que está apreendendo. Caprichoso, fez o melhor croqui que vimos em toda a capacitação. Em escala, colocou no papel exatamente o número de mudas de lichia que plantou, quantos pés de mamão existem ali, exatamente descreveu as Aléias que quer formar, a Aléia agroflorestal, a Aléia de bananas, a Aléia de mandioca. O que foi sugerido no encontro anterior quando discutíamos as possibilidades daquela área.

A tarefa do dia foi caprichosamente preparada, preparo dos berços com trator acoplados a uma furadeira, fizeram um trabalho excelente, complementados com o trabalho manual, por escavadeira.  Tínhamos um xadrez para escolher qual mudas colocaríamos em cada berço.

E nosso instrutor, o biólogo Thiago Coutinho nos pregou uma peça. Como vem de longe, tardou a chegar. Nos vimos obrigado a prestar o exame final do curso. Éramos os mestres a desenhar aquele SAF multidiverso. O Agrônomo Rodrigo Dametto, o assentado Paulo Luiz Pinto e este servidor fomos obrigados a ser arquitetos da Natureza.

As lichias estavam plantadas a cada 10 metros tanto na linha como na entre linha, fazendo o papel de guia. 3 linhas de berços tinham sido formadas pelo trator, num espaçamento de 3 metros na linha, entre cada berço. Entre estas entre linhas, berços menores tinham sido cavados pelas mãos do agrofloresteiro aprendiz, Paulo Luiz.

Iniciamos pela linha do meio. Tínhamos a disposição algumas dezenas de mudas, vindas da APTA, cultivadas por ele mesmo em seu viveiro e fornecidos pela companheira Deise Alves. Não sabíamos identificar todas elas, mas conseguimos classifica-las nos grandes grupos, leguminosas e não leguminosas, emergentes e mais baixas, frutíferas e não frutíferas, as bananas carro chefe daquela Aleia.

Iniciamos pelas emergentes, depositamos na linha central muda a muda sobre o solo, ao lado do berço, a que nos percebíamos ser de maior porte, ao lado de uma de menor porte e ao lado de uma de menor porte ainda. Fazendo a onda de crescimento apreendido no módulo anterior.

Nas linhas laterais, dispusemos as mudas de banana, tendo o cuidado de deixar as diversas variedades fornecidas pela APTA, umas próximas as outras, para melhor controle. Passamos então a distribuir as mudas queridas do agricultor, mudas de nêspera, pitanga e uvaia, formadas por ele em seu viveiro. Atento, sempre coleta sementes durante as visitas no transcorrer do curso e nas suas viagens sentindo o chamado das árvores para colher seus frutos e formar novas mudas. 

Tudo isto observando e imaginando como crescerá as vedetes do sistema, as lichias espaçadas a 10 metros. As nêsperas, pitangas e uvaias, como são plantas de porte menor ou de crescimento meio esguio, foram dispostas em frente as lichias. Analisamos como será o crescimento da cultura principal e imaginamos como crescerá a muda que estamos dispondo naquele berço em específico. Como as duas crescerão juntas, lado a lado.

Passamos então a distribuir as mudas fornecidas pela companheira Deise, as castanhas do maranhão, por ter um crescimento intermediário, dispomos as mudas próximo ao quadrante das lichias, no centro das quatro mudas de lichias que formam um quadrado.

Por fim, dispusemos o restante das mudas, encaixando nos berços disponíveis, sempre tendo em mente o habitat da planta, seu gosto pela luz, como é afetada pelo sombreamento.

Nos berços realizados pela cavadeira, seriam semeamos as plantas de serviço, as adubadeiras, mamona, feijão guandú e trefósia, crescerão ali para alimentar o sistema em conjunto do manejo da braquiária, cultura “pele” do sistema.

Hora do almoço, a companheira Deise Alves, mostrou o que ela representa para este grupo de famílias, líder carismática, que dedica sua vida ao movimento social, liderança do bem, nos presenteou com um banquete: arroz, feijoada vegana feito com capricho pelas irmãs baianas, em preocupação à estudante vegana Verônica Castro, que acompanhou módulos anteriores, ovos caipiras, couve da guerreira Janaína e por que não uma bisteca suína feito com cebolas refogadas. 
Os mais urbanos, o agrônomo Rodrigo e este servidor, já esgotados pela labuta da terra, foram até seu sítio se alimentar, refazendo suas forças e levar as marmitas para os colegas que ficaram no campo.

Na sua cozinha, aquela mesma da troca e saberes e poltronas “retros”, sorri vendo aquela amiga de avental, toca na cabeça, mostrando seus “dotes” de tia a alimentar suas crianças e a me ralhar por misturar tudo na panelona de alumínio penteado que roubei e queimei nos fogões a lenha que me acompanharam no transcorrer do curso.
Refeito, fomos alimentar nossos companheiros.

Chegando lá, uma surpresa, o trabalho tinha terminado, mostrou-nos por que éramos os técnicos e eles os agricultores.

Imagens dos participantes do curso, Imagens das mãos - Isabella Lacaz 



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