21 de jan. de 2022

VIVÊNCIA AGROECOLÓGICA SEM TERRA NO ASSENTAMENTO EGÍDIO BRUNETTO, LAGOINHA-SP

Por : José Miguel Garrido Quevedo - Engº Agrônomo do INCRA SP e da Rede Agroflorestal do Vale do Paraíba

Ana Ariel Terra - Acampada do Assentamento Egídio Brunetto, Lagoinha - SP


Figura 1. Imagem aérea da área de produção agroflorestal da família do Higor Leopoldo e Daniela Ferreira. Fonte: Rafael Bignotto (IPA/SIMA-SP).

Uma busca por um mundo melhor. É assim que pensaram os que aceitaram o chamado da vivência do casal Higor Leopoldo Costa e Daniela Ferreira no Assentamento Egídio Brunetto em Lagoinha-SP para vivenciar um final de semana Sem Terra regado pela Agroecologia. Montamos as barracas no acampamento, Tomamos banho frio. Utilizamos banheiro seco com serragem e saboreamos os quitutes vegetarianos servidos pela equipe de companheiras deste assentamento (Fig. 2 e 3).

 
Figura 2 e 3. Recepção com exposição de sementes e muitos alimentos feitos com produtos da terra.

Na apresentação (Fig. 3) percebeu-se que estes professores, arquitetos, médico, servidores públicos e funcionários vindos dos coletivos como o Coletivo Caiçara, a Ecovila do Proletariado, a Teia dos Povos vieram ver o que o MST tem de diferente. Descontentes com a perspectiva política que o país atravessa o MST se apresenta como uma alternativa ao sistema vigente.


Figura 3. Reunião para apresentações e início dos trabalhos.

A Mística já mostrou que estes atores têm consciência política, “vamos comer dinheiro, Vamos comer dinheiro” era uma das estrofes que emanaram de seu canto. A Cacau nos mostrou como a agroecologia começou a fazer sentido como bandeira de luta dentro do MST a partir de 2014.

Nos emocionamos com o depoimento do Carijó que tratou da longa luta pela terra. Já são 10 anos para cada uma destas 55 famílias conquistarem seu pedaço de chão (aqui a chamada do relato de vida do Carijó para ficar no rodapé).

Depois desta primeira conversa fomos visitar os arranjos que o Higor implantou em seu lote (Fig. 4). São três tipos de Sistemas Agroflorestais. O primeiro é o sistema multidiverso com linhas de frutíferas e linhas de nativas, com destaque para a banana e o pêssego intercalados com canteiros de abóbora, milho, quiabo, etc. O segundo mais voltado para o cultivo das olerícolas e ainda um terceiro nos morros com linhas de banana intercalado com canteiros de mandioca.

Figura 4. Higor Leopoldo Costa apresentando suas experiências de SAF.

Para finalizar o dia fomos brindados com boa música e cachaça ao redor de uma calorosa fogueira.

A noite ao caminhar para a barraca um fato me chamou atenção, o tempo nublado tinha um pequeno vão de céu enluarado, o céu estrelado bem acima do Egídio Brunetto me disse que os Orixás da Dani nos protegiam.

Café da manhã reforçado com as tortas da Dani. Fomos entender o trabalho do dia. Íamos implantar uma nova área de Saf. Linhas de Nativas intercaladas por linhas de frutíferas com bananas, feijão de porco e feijão guandu, como adubadoras.

As linhas de nativas seriam implantadas tendo o conceito de estratificação em mente. O MST tem o costume de fornecer mudas de nativas pioneiras e secundárias iniciais para promover o recobrimento inicial das áreas de Saf, com plantio posterior de mudas de espécies de futuro, associado a semeadura de sementes destas espécies, como o jatobá (Fig. 5 e 6).

 
Figura 5 e 6. Apresentação esquemática do projeto de SAF Neuza Vive. Entrelinhas com arroz de sequeiro.
 

As pioneiras e secundárias iniciais foram plantadas seguindo a seguinte regra (Fig.5 e 6):

  • 1º) pioneira emergente, percebida no tubete por tender a se estiolar.
  • 2º) pioneira de crescimento rápido, percebida no tubete por ter a canela grossa.
  • 3º) secundária inicial, percebida no tubete por ter caule fininho, indicando crescimento mais lento.
  • Ao redor de cada muda duas sementinhas de feijão de porco.

E no intervalo das mudas nativas os berços de sementinhas de feijão guandu e os berços dos rizomas de banana.

Nas linhas de frutíferas o mesmo conceito de estratificação foi aplicado, qual seja: Primeiro uma muda que ocupa o extrato superior quando adulta intercalado com uma espécie de extrato mais baixo, quando adulta. Da mesma forma intercalado de sementes de feijão de porco, feijão guandu e rizomas de banana. E assim se desenvolveu o mutirão com o método 'aprender fazendo', onde quem sabe mais ajuda a ensinar quem está chagando (Fig.7, 8 e 9).

Figura 7. Thiago Coutinho apresenta as mudas e o esquema de plantio.

 

Figura 8 e 9. Mutirão de plantio 'aprender fazendo' onde cada um que sabe mais ajuda a ensinar quem está chegando.

Para finalizar as chamadas do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra e a homenagem a companheira Neuza que nos deixou recentemente e batizou nosso Saf (Fig. 10). 

Figura 10. SAF em homenagem a companheira Neuza.

Neusa Paviatto Botelho Lima, dirigente do MST da região de Ribeirão Preto.

Neusa, uma trabalhadora costureira, mãe de quatro filhos, ingressou no MST nos anos 1990, a partir da ocupação do horto Boa Sorte, em Restinga-SP. De lá prá cá, foram anos de dedicação incansável na luta pela reforma agrária e pela construção do socialismo.

Atuou em todas as frentes do MST, com destaque para o setor de produção, onde ajudou a formar inúmeras associações e cooperativas.

Defendeu que "não há movimento sem movimento, a ocupação é o ar de uma organização”.

Neusa Paviatto Botellho Lima.

Presente!

13/03/1961-06/01/2022

Agora era hora de se refrescar na cachoeira do Assentamento e repor as energias com os vegetais colhidos na horta e o arroz com feijão e macarrão feitos com carinho e se despedir deste dia de “Sem Terra”.

Nota técnica para o relato do assentado de reforma agrária 'Carijó' sobre a história do assentamento Egídio Brunetto, de Lagoinha-SP:

"Rede Agroflorestal do Vale do Paraíba: AÇÕES COM SISTEMAS AGROFLORESTAIS NO ASSENTAMENTO EGÍDIO BRUNETTO EM LAGOINHA - SP" http://redeagroflorestalvaledoparaiba.blogspot.com/2019/10/acoes-com-sistemas-agroflorestais-no.html?m=1


Revisão: 

Verônica Andressa de Castro - Aluna de agronomia da Faculdade da Unesp de Botucatu

Edição para o blog: 

Antonio Carlos Pries Devide - Pesquisador da APTA - Polo Vale do Paraíba

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