Por : José Miguel Garrido
Quevedo -
Ana Ariel Terra -
Uma
busca por um mundo melhor. É assim que pensaram os que aceitaram o chamado da
vivência do casal Higor Leopoldo Costa e Daniela Ferreira no Assentamento Egídio Brunetto em Lagoinha-SP para vivenciar um final de semana Sem Terra regado pela Agroecologia. Montamos
as barracas no acampamento, Tomamos banho frio. Utilizamos banheiro seco com
serragem e saboreamos os quitutes vegetarianos servidos pela equipe de
companheiras deste assentamento (Fig. 2 e 3).
Na
apresentação (Fig. 3) percebeu-se que estes professores, arquitetos, médico, servidores
públicos e funcionários vindos dos coletivos como o Coletivo Caiçara, a Ecovila
do Proletariado, a Teia dos Povos vieram ver o que o MST tem de diferente.
Descontentes com a perspectiva política que o país atravessa o MST se apresenta
como uma alternativa ao sistema vigente.
A Mística já mostrou que estes atores têm consciência política, “vamos comer dinheiro, Vamos comer dinheiro” era uma das estrofes que emanaram de seu canto. A Cacau nos mostrou como a agroecologia começou a fazer sentido como bandeira de luta dentro do MST a partir de 2014.
Nos
emocionamos com o depoimento do Carijó que tratou da longa luta pela terra. Já
são 10 anos para cada uma destas 55 famílias conquistarem seu pedaço de chão
(aqui a chamada do relato de vida do Carijó para ficar no rodapé).
Depois
desta primeira conversa fomos visitar os arranjos que o Higor implantou em seu
lote (Fig. 4). São três tipos de Sistemas Agroflorestais. O primeiro é o sistema
multidiverso com linhas de frutíferas e linhas de nativas, com destaque para a
banana e o pêssego intercalados com canteiros de abóbora, milho, quiabo, etc. O
segundo mais voltado para o cultivo das olerícolas e ainda um terceiro nos
morros com linhas de banana intercalado com canteiros de mandioca.
Para
finalizar o dia fomos brindados com boa música e cachaça ao redor de uma
calorosa fogueira.
A
noite ao caminhar para a barraca um fato me chamou atenção, o tempo nublado
tinha um pequeno vão de céu enluarado, o céu estrelado bem acima do Egídio
Brunetto me disse que os Orixás da Dani nos protegiam.
Café da manhã reforçado com as tortas da Dani. Fomos entender o trabalho do dia. Íamos implantar uma nova área de Saf. Linhas de Nativas intercaladas por linhas de frutíferas com bananas, feijão de porco e feijão guandu, como adubadoras.
As linhas de nativas seriam implantadas tendo o conceito de estratificação em mente. O MST tem o costume de fornecer mudas de nativas pioneiras e secundárias iniciais para promover o recobrimento inicial das áreas de Saf, com plantio posterior de mudas de espécies de futuro, associado a semeadura de sementes destas espécies, como o jatobá (Fig. 5 e 6).
As
pioneiras e secundárias iniciais foram plantadas seguindo a seguinte regra (Fig.5 e 6):
- 1º) pioneira emergente, percebida no tubete por tender a se estiolar.
- 2º) pioneira de crescimento rápido, percebida no tubete por ter a canela grossa.
- 3º) secundária inicial, percebida no tubete por ter caule fininho, indicando crescimento mais lento.
- Ao redor de cada muda duas sementinhas de feijão de porco.
E no intervalo das mudas nativas os berços de sementinhas de feijão guandu e os berços dos rizomas de banana.
Nas linhas de frutíferas o mesmo conceito de estratificação foi aplicado, qual seja: Primeiro uma muda que ocupa o extrato superior quando adulta intercalado com uma espécie de extrato mais baixo, quando adulta. Da mesma forma intercalado de sementes de feijão de porco, feijão guandu e rizomas de banana. E assim se desenvolveu o mutirão com o método 'aprender fazendo', onde quem sabe mais ajuda a ensinar quem está chagando (Fig.7, 8 e 9).
Para finalizar as chamadas do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra e a homenagem a companheira Neuza que nos deixou recentemente e batizou nosso Saf (Fig. 10).
Neusa Paviatto Botelho Lima, dirigente do MST da região de Ribeirão Preto.
Neusa, uma trabalhadora costureira, mãe de quatro filhos,
ingressou no MST nos anos 1990, a partir da ocupação do horto Boa Sorte, em
Restinga-SP. De lá prá cá, foram anos de dedicação incansável na luta pela
reforma agrária e pela construção do socialismo.
Atuou em todas as frentes do MST, com destaque para o setor
de produção, onde ajudou a formar inúmeras associações e cooperativas.
Defendeu que "não há movimento sem movimento, a ocupação é o
ar de uma organização”.
Neusa Paviatto Botellho Lima.
Presente!
13/03/1961-06/01/2022
Agora
era hora de se refrescar na cachoeira do Assentamento e repor as energias com
os vegetais colhidos na horta e o arroz com feijão e macarrão feitos com
carinho e se despedir deste dia de “Sem Terra”.
Nota técnica para o relato do assentado de reforma agrária 'Carijó' sobre a história do assentamento Egídio Brunetto, de Lagoinha-SP:
"Rede Agroflorestal do Vale do Paraíba: AÇÕES COM SISTEMAS AGROFLORESTAIS NO ASSENTAMENTO EGÍDIO BRUNETTO EM LAGOINHA - SP" http://redeagroflorestalvaledoparaiba.blogspot.com/2019/10/acoes-com-sistemas-agroflorestais-no.html?m=1
Revisão:
Verônica Andressa de Castro - Aluna de agronomia da Faculdade da Unesp de Botucatu
Edição para o blog:
Antonio Carlos Pries Devide - Pesquisador da APTA - Polo Vale do Paraíba
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