15 de nov. de 2021

CONTRIBUIÇÕES DE ATORES DA REDE AGROFLORESTAL NO XII CBSAF - CONGRESSO BRASILEIRO DE SISTEMAS AGROFLORESTAIS

 



XII CBSAF - Congresso Brasileiro de Sistemas Agroflorestais

Conciliando Pessoas e Evoluindo Paradigmas
13 a 17 de dezembro de 2021
100% online


Contribuições no XII CBSAF dos Atores da Rede Agroflorestal do Vale do Paraíba:


Veja a programação abaixo com a participação de membros da Rede Agroflorestal:





Patrick Assumpção (esquerda) é produtor rural membro fundador da Rede Agroflorestal, que desenvolve plantios experimentais com madeiras nativas, ênfase em guanandi, na Fazenda Coruputuba, em Pindamonhangaba/SP. É referência no Vale do Paraíba sobre o cultivo e agregação de valor de madeiras nativas. Pesquisa novas formas de negócio a partir das transformações dos produtos que colhe nos SAF, tais como banana, PANC, mandioca amarela, guandu, e frutas nativas. Também trabalha com restauração florestal a partir de semeadura direta (muvuca de sementes florestais). No XII CBSAF apresentará no Seminário Economia e Organização Social as experiências do Instituto Coruputuba sobre Agregação de Valor para Espécies Arbóreas em SAF.
Informações: https://twitter.com/wwfbrasil/status/1330284540632371201

Clóvis José Fernandes de Oliveira Jr (direita) é pesquisador científico do Instituto de Botânica que integra atualmente o Instituto de Pesquisas Ambientais do Estado de São Paulo. É membro fundador da Rede Agroflorestal e referência em pesquisas sobre sistemas agroflorestais, plantas medicinais e sociobiodiversidade.  No XII CBSAF coordenará a Roda de Conversa  com o Tema Plantas Medicinais em Sistemas Agroflorestais.
Informações: https://www.researchgate.net/profile/Clovis-Oliveira-Jr
 




Janaína Anacleto (esquerda) é agricultora da reforma agrária que desenvolve projeto de cestas agroecológicas do Sítio Anacleto, assentamento Conquista, Tremembé/SP. Produz, transforma e comercializa alimentos  com suas duas filhas e o esposo. No ano de 2019, conheceu a Rede Agroflorestal, durante o Curso de Longa Duração de Agroecologia, e com apoio da APTA e do INCRA está diversificando e transformando a paisagem do sítio com sistemas de cultivo biodiversos. É uma referência feminina sobre sistemas agroflorestais e agroecologia no Vale do Paraíba.
Informações: https://www.facebook.com/sitioanacletoorganico/videos/4221834107842536

Thiago Ribeiro Coutinho (direita) é biólogo e agricultor da reforma agrária do assentamento Egídio Brunetto, Lagoinha/SP. É membro fundador da Rede Agroflorestal do Vale do Paraíba, trabalha com sistemas agroflorestais e pedagogia há 10 anos, disseminando os SAF por meio de mutirões que coordena em unidades em cinco assentamentos de reforma agrária no Vale do Paraíba. 
Informações: (a partir de 3:30minutos) https://www.youtube.com/watch?v=rsb01LJ2mXk&t=149s




Valdir Martins (esquerda, camisa verde), agricultor do assentamento Nova Esperança de São José dos Campos/SP, produz PANC em sistema agroflorestal há 10 anos. Promove o consumo consciente de PANC por meio de cestas de produtos agroecológicos que entrega aos consumidores via CSA Sítio Ecológico que formou com seus familiares. 
Informações: https://www.youtube.com/watch?v=culpNPJT5uU 

Cristina Maria de Castro (direita, braço estendido), é pesquisadora do Polo Regional Vale do Paraíba - APTA/SAA, desenvolve pesquisas sobre segurança e soberania alimentar e nutricional, com jardim de PANC em sistema agroflorestal em Pindamonhangaba que utiliza para pesquisas e aulas de campo. Para popularizar o uso das PANC desenvolve trabalhos com famílias camponesas e profissionais de saúde de Secretarias Municipais do Vale do Paraíba. 
Informações: https://www.portalr3.com.br/2021/03/video-pesquisadora-fala-sobre-estudos-com-pancs-na-apta-em-pindamonhangaba/




link para programação completa: 

https://5b3ee301-bccd-4e57-bbae-8a7de3965245.filesusr.com/ugd/61c566_c258e2e13a624492bea3e9f2f26b6dce.pdf

 


Contatos:

contato@sbsaf.org.br  I  91 9 8761-3474 (WhatsApp)



10 de nov. de 2021

MUTIRÃO AGROFLORESTAL PARA RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA DE ÁREA COMUNITÁRIA EM TREMEMBÉ - SP

Data: 13/11/2021 - próximo sábado

Início: 8:00 h 


Fig.1. Equipe de jovens que iniciaram a restauração ecológica e detalhe do local de plantio.

Local: Assentamento de Reforma Agrária Olga Benário, Tremembé - SP

Endereço: Acesso a partir da Estrada do Kanegae, ponto de referência bar do Farias, situado a 2km da rodovia Pedro Celete, via Tremembé ou a 8km da SP-132 via Pindamonhangaba.

Link com endereço: https://goo.gl/maps/duUpT2gzM9JWJeUj8

Avisos: só participe se estiver totalmente imunizado, use máscara, levar ferramentas para o plantio (motocoveador, cavadeira e enxadão), copos.

Organização: MST - Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

Parceiros: 

Universidade de São Paulo - Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" - Projeto de doação de mudas para reflorestamento nos assentamentos do estado de São Paulo.

APTA - Polo Vale do Paraíba, projetos: Fapesp - 18/17044-4 - 'Avaliação de crescimento e produção de espécies florestais nativas e culturas usando os modelos 3-PG e YieldSafe', 'Vitrine Agroecológica' e 'Agroecologia, Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional' 

Contatos: Carmem - 12-9-97055-5592 e Valdir - 12-9-9799-9629



3 de nov. de 2021

ENTREVISTA COM DEISE ALVES PARA O PLANO DE AÇÃO DA REDE AGROFLORESTAL DO VALE DO PARAÍBA

 

Data: 10.04.2021

Local: Assentamento Conquista, Tremembé - SP

Por: Patrícia Lopes

 

Esta entrevista com Deise Alves (Figura 1) traz muitas informações sobre as dinâmicas da introdução dos SAF em uma unidade de produção agroecológica em um assentamento de reforma agrária agroecológica do Vale do Paraíba, em Tremembé, bem como as prioridades para a Rede Agroflorestal trabalhar nos próximos anos. Boa leitura.  



Figura 1. Deise Alves (ao centro de máscara) em confraternização com equipe parceira após mutirão agroflorestal.

Bom dia. Patrícia aqui. Estou conversando com a Deise. Deise, qual é o seu nome completo, por favor?

DEISE: Deise Alves.

Onde você reside atualmente?

DEISE: Atualmente, ou melhor dizendo, há 27 anos, na estrada 13 e lote 28, no assentamento Conquista, no município de Tremembé (Figura 2).

Figura 2. Sítio de Agricultura Orgânica e Agroecológica Benvinda Conatti, Estrada 3, nº 1082 - Tremembé, Vale do Paraíba paulista.

E como que você chegou até aí, como começou essa vida no campo de produtora rural? Você sempre viveu aí? Qual foi o caminho que fez você chegar até aí? O que te motivou a fazer essa escolha?


DEISE: Essa escolha se deve a uma luta pela conquista da terra e à reforma agrária, através do MST. Desde 1986. Eu fui dirigente da frente de massa do MST, na década de 80 e 90, e a última ocupação que realizei foi aqui no assentamento Conquista, em Tremembé, em 1994.

O que te motivou?

DEISE: O que me motivou foi uma posição política, ideológica e de vida.

De que forma vocês estão organizados aí, tanto dentro da sua propriedade, mas também com o coletivo aí no assentamento? Como é que vocês se organizam?


DEISE: Se tratando da agroecologia, antes da pandemia, no nosso grupo aqui da agroecologia, que somos em cinco... havia esse compartilhamento, essa parceria de ajuda. Com a vinda da pandemia, isso anulou. Está muito difícil. No meu território, eu tenho que frequenta por aqui: o Rodrigo (Dametto Faria Santos), que é agrônomo e vem voluntariamente 2x por semana, e um outro rapaz de 20 anos que eu pago por mês para ele trabalhar aqui. Com a assessoria do Rodrigo, e que em breve, também vai ser incorporado aqui, com as atividades da horta agroecológica. Nos SAFs o Rodrigo está “tocando”. Ele minimamente já tem feito algumas coisas, pois só consegue vir 2x por semana. O rapaz fica direto, e mora aqui de 2ª a 6ª feira, e “toca” as demandas. A partir de 2ª feira será instalada a irrigação na horta agroecológica (fiz uma compra grande para irrigação), e a expectativa é de se viver com a renda dessa horta. Está tudo sendo feito na “raça”, com recursos próprios. O que temos de liderança, concretamente hoje, é a reestruturação de uma cooperativa. É uma cooperativa mista, que vai englobar o assentamento Nova Esperança (Mara Lúcia Galvão e outros), o pessoal de Lagoinha (que é um pessoal determinante, que produz) agroecologia, alguns aqui do Conquista, alguns pequenos produtores de Pindamonhangaba. A Cooperativa abriu para técnicos, agrônomos e outros técnicos que também irão entrar para a cooperativa. A gente espera que para o mês de maio a gente consiga definir a nova diretoria (a gestão anterior está vencendo). Estou muito envolvida porque essa questão da cooperativa dá muito trabalho. Se tem alguma liderança, vai ser essa entidade jurídica, essa diretoria que a gente vai formar. E o restante do assentamento – que aqui são 103 lotes, o restante trabalha no convencional. Infelizmente, aqui no assentamento, tem algumas deformações, sob o ponto de vista político, moral, e outras questões internas. Então, estamos priorizando pessoas que estão envolvidas com a agroecologia, na questão organizativa.

E o que você vê de importante, de diferente, que te fez escolher esse tipo de produção agroflorestal?

DEISE: Estamos em um processo bem inicial. Mas o que já estou vendo de importância é a mudança no solo, os pássaros que vem no SAFs, as sementes que a gente já começou a colher. No momento estou com muita tefrósia para colher (e vou ter de colher sozinha mesmo). Quer dizer, a paisagem já começa a mudar. Agora é mão-de-obra, né. Estou com um SAF de outubro do ano passado que estou com o serviço atrasado lá. Embora eu tenha feito um empréstimo e consegui comprar um tratorito, já tenho uma roçadeira, mas ainda sim é muito pouco. Precisa de gente para operar. Eu já não tenho mais força física para tal. Enfim, a ideia é a gente fazer parceria com as universidades, não só por uma visão utilitarista dos jovens estagiários, mas também para trazer essas pessoas para colocar a mão na massa (ampliar o aprendizado). Não adianta ficar só falando de agroecologia e as pessoas não virem até aqui participar. Aqui no lote onde eu moro, eu tomei a decisão de abrir para sociedade. Mas a sociedade tem que participar. E como que a gente faz isso? Amanhã vou ter uma visita – abri uma exceção, para três profissionais (fisioterapeutas) que querem desenvolver um trabalho com ervas medicinais aqui e vamos nos reunir para discutir essa parceria. Já fizeram o curso com o Hamilton (Trajano Cabral), e vou destinar uma parte aqui da área para as ervas medicinais e aromáticas. Acho importante. As pessoas estão vindo com propostas concretas. E eu tenho que coordenar isso para não chocar com outras coisas. Como já tem pessoas aqui, como o Rodrigo, que é técnico, agrônomo profissional, e voluntário, tem que vir pessoas, mas tudo muito bem-organizado para não chocar com o trabalho do outro que já está aqui. Embora eu acredite que está tudo integrado.

Figura 3. Deise Alves reuniu uma rede de parcerias com os assentados de reforma agrária Paulinho, Thiago Coutinho, Michelle Anita, Guilherme e outras pessoas de diversos assentamentos do Vale do Paraíba, além do apoio do agrônomo Rodrigo Dametto, para juntos realizarem o planejamento, a implantação e o manejo de SAF entre 2019-2021. 

A outra pergunta é mais ou menos o que você já respondeu, mas se você tiver mais alguma coisa para complementar, da forma como você vê a atuação da Rede Agroflorestal, até o momento.

DEISE: Eu sou nova na Rede. Eu, quando não tenho um tempo (de vivência) – como o Thiaguinho (Thiago Ribeiro Coutinho), a Mariana (Pimentel Pereira) e o Antonio (Devide), eu sou ainda “caloura” na Rede Agroflorestal. Eu posso mencionar os pontos positivos: é uma Rede que motiva. Quando você abre o grupo no whatsapp você vê uma diversidade de pessoas. Você vê técnicos, de todos os níveis sociais e econômicos, pessoas de classe média (a maioria), que mora no seu apartamento, que não tem terras, e que tem história diferente daqueles que conquistaram a terra, como nós assentados, que participam da Rede. Acho que tem essa parte super bacana, essa troca. E os especialistas, no caso do Antonio (Devide) e outros, que fazem parte como ele, que são fundamentais nesse processo. Isso é o que eu vejo de positivo. Agora, quando se trata de questões referentes a metodologia, de como vamos fazer, aí começa a dar problema... porque cada um tem a sua realidade, e não é fácil fazer essa troca. Principalmente nesse momento que estamos atravessando, muito difícil. Tem que ter muito tato, tem que ter muita paciência, de ver como a gente faz essa troca. Por exemplo, tem situações, do ponto de vista geográfico, nos assentamentos, principalmente, que não tem internet ou tem problemas de internet, como é o caso do Olga Benário (Tremembé) e de Lagoinha... e um pouco lá em Nova Esperança (São José dos Campos). Nós, aqui de Tremembé, a gente tem condição, um pouco. Porque aí precisa ter dinheiro para pagar o plano da internet, que nem todo mundo tem. Então, é difícil. Se não fosse a pandemia, com certeza você estaria aqui falando comigo pessoalmente e não fazendo essa conversa por telefone. Estaria fazendo presencialmente. Por causa da pandemia tem que ser dessa forma, não tem jeito. O desafio presencial é depois, pós pandemia, como vai se dar isso. Pois a Rede Agroflorestal é muito ampla. Você conhece as postagens no whatsapp, mas essa questão de dinamizar os SAFs, isso é uma coisa difícil. Não é fácil. E a questão da democracia, né. Quais são as formas de participação? Isso a gente só faz quando tem um processo de acúmulo, quando você já conhece a Rede. Quem são as pessoas, qual o engajamento dessas pessoas, efetivamente? Com um trabalho de base, do universo da agroecologia. É difícil. Mas tem pontos positivos.

 

Como é uma “rede” entorno da agroecologia... 

DEISE: eu vejo assim... isso já está no estatuto da associação da Rede Agroflorestal. Eu vejo que a Rede tem que cumprir o seu papel social, acima de tudo, e isso ela está cumprindo, com alguns limites, mas está cumprindo. Só o fato de ter tido um primeiro mutirão aqui e eu conseguir colher esse quiabo lá do SAF, e estar comendo esse quiabo ou estar dando continuidade no projeto, a Rede já está cumprindo o seu papel. Como em outros lotes dos assentados. Então, acho que esse papel social é importante. Agora, também não dá pra gente fugir da questão política, conjuntural. Porque nós estamos passando por uma fase muito difícil, que tem tudo a ver com meio ambiente. O meio ambiente está inserido nesse universo da conjuntura política, da conjuntura econômica do nosso país. Não dá pra dizer, “ah isso é separado, não quero saber de política”... isso não existe. Isso não existe! Então como uma sugestão para os próximos encontros: seja via on line ou seja presencial daqui um tempo... mas nós temos que trazer pessoas para fazer análise de conjuntura. É o que eu sinto falta na Rede Agroflorestal. Uma coisa é você fazer uma análise de conjuntura, especificamente da agroecologia dentro do universo do meio ambiente. Entendeu? Isso é uma coisa. Agora a gente precisa trazer especialistas, até para as pessoas que participam da Rede ter esse debate. Se não faz o debate, a gente “atrofia”. A gente não sabe como é essa coisa do debate dentro do campo da democracia. Então, a minha sugestão (não sei se eu posso fazer essa proposta) é colocar essa proposta para as pessoas que participam da Rede e ter essa iniciativa, e encontrar alguns nomes de especialistas que fariam isso na maior boa vontade, de fazer essa análise de conjuntura para os participantes da Rede. A questão da mulher, é muito importante, a participação da mulher nessa conjuntura. Por já termos um ano muito difícil, o ano que vem vai ser um ano decisivo para o país, que vai eleições em 2022. Mas não se trata de fazer campanha política. A questão é já ir preparando as pessoas. Eu estou sentindo falta de ter alguém dentro do nosso campo, da Rede Agroflorestal, fazendo análise de conjuntura. Mesmo que tenha discordância, importante debater as discordâncias, entendeu? Acho importante fazer uma análise de conjuntura política pra nós. Da Rede Agroflorestal tomar essa iniciativa. 

Legal importante mesmo, né? Fazer as pessoas para esse exercício, de refletir e de discutir. A nossa forma de viver é um ato político. Pode ser ou não, dependendo de como se vive..

DEISE: É. É verdade.

O que que você vê como importante para ser trabalhado para ser desenvolvido daqui para frente? Para os próximos anos, o que a Rede precisa se preocupar, quais as demandas? O que que você vê que falta e que precisa melhorar?

DEISE: Mais essa questão técnica, eu mesma ainda continuo tendo dúvidas. As vezes tiro dúvidas com o Thiago. Importante ter uma avaliação técnica do SAF, por exemplo (algo como um monitoramento). Um SAF está aqui há dois anos. Seria bom ter alguém da Rede que a gente possa trocar essas ideias com pessoas que tem SAFs, que tem essa vivência, mais do que nós aqui, para saber se o que a gente está fazendo está certo. Por exemplo, ainda não tenho irrigação do SAF – só consegui irrigação para a horta. Saber como aproveitar a irrigação para o SAF, de alguma forma. Levar para o SAF também. Outra coisa, além disso, conseguir mais mudas - pra quem é jovem tudo bem demorar mais 5 ou 10 anos, mas pra mim que... se eu não conseguir mais mudas da Mata Atlântica... que aqui ainda tem muito pouco.. Eu acho que a gente precisa conseguir mais mudas. Eu já consegui uma doação de 2 mil mudas, entre nativas e outras, que nós distribuímos em vários assentamentos da nossa região. Agora, a gente precisa de mais mudas. E esse monitoramento de mudas que foram para os assentamentos (Olga Benário, o Conquista, Nova Esperança)... fazer um levantamento para saber se as pessoas cuidaram dessas mudas. Porque algum dia, a pessoa que me doou essas mudas vai querer saber, vai me cobrar, como que ficaram as mudas? Estão cuidando? Isso é uma responsabilidade que a gente tem que ter. Entendeu? Mas eu acho que tem que ter alguém para saber como está o SAF no lote 28 onde a Deise mora. Perguntar de precisamos de mais alguma coisa. Digo isso pós pandemia. Para a gente retomar essa troca.

Figura 4. Reuniões e oficinas são atividades regulares para o planejamento das atividades ao nível local e relação com parceiros do Sítio Benvinda Conatti, Tremembé - SP. 

É troca e fundamental mesmo. Agradeço muito.

DEISE:  Está certo.

27 de out. de 2021

CAPACITAÇÃO EM TÉCNICAS PARA MAIOR EFICIÊNCIA EM RESTAURAÇÃO FLORESTAL

Data: 29/09/2021 das 8 as 15 horas.

Por: Ceceo Chaves - Engenheiro Agrônomo da URBAM, membro fundador da Rede Agroflorestal do Vale do Paraíba, responsável por articular os agricultores para implantação de SAF experimentais na APTA - Polo Regional do Vale do Paraíba entre os anos de 2014-2016.

Objetivo: capacitar os funcionários da URBAM, empresa pública de São José dos Campos, que atuam em atividades de recomposição florestal.  

Metodologia/ Conteúdo programático:  Visita aos módulos de restauração florestal e banco de sementes de adubação verde da APTA. Técnicas de plantio e manejo de espécies utilizadas para adubação verde, cercas vivas e cordões vegetados em sistemas de restauração florestal. Manejo da matéria orgânica nos sistemas. Métodos de restauração com sementes X restauração com mudas.

Local: Agência Paulista de Tecnologia do Agronegócio, Polo Regional Vale do Paraíba – Avenida Dr. Antônio Pinheiro Junior, 4009 - Pindamonhangaba SP.

Professores/facilitadores: Antonio Carlos Pries Devide e Cristina Maria de Castro, pesquisadores  da APTA.

 

Introdução

Participaram desta capacitação 18 funcionários da URBAM , sendo que 17 não tinham praticamente nenhuma experiência com agroecologia, adubação verde e os temas abordados.  Todos trabalharam até o momento apenas com arborização urbana, paisagismo , viveiros e sistemas de restauração florestal simplificados que utilizam apenas plantios das mudas nativas exigidas nas compensações determinadas pela CETESB. Esses sistemas simplificados geralmente são pouco eficientes, com alta mortalidade de mudas, desenvolvimento lento e altos custos de manutenção , principalmente com a roçada das gramíneas espontâneas e reposição de mudas. Ao encerrar o processo de compensação (geralmente 36 meses após a conclusão do plantio), a diversidade de espécies arbóreas é muitas vezes baixa, predominando espécies pioneiras de crescimento mais rápido que geralmente são as espécies menos ameaçadas e de menor importância ecológica.

Objetivos:

Essa capacitação visou mudar a realidade dos trabalhos de restauração florestal realizados pela URBAM, empoderando os funcionários na compreensão da dinâmica dos sistemas, tornando-os ativos nos processos de decisão e não apenas meros executores das ordens dos responsáveis técnicos. Com emprego de plantas de serviço (adubação verde) e manejo da matéria orgânica espera-se aumentar a eficiência da mão de obra empregada, reduzindo a necessidade de roçadas e reposição de mudas e um desenvolvimento mais rápido das mudas nativas com resultado final mais biodiverso e ecologicamente relevante.

Desenvolvimento das atividades:

Conhecendo um módulo de SAF:

O dia iniciou com visita ao módulo SAF mais recente da APTA, (macaúba, frutas nativas, banana, mandioca , gliricídia e outras plantas de serviço) onde o pesquisador da APTA Antonio Devide apresentou uma breve introdução aos sistemas agroflorestais e de restauração florestal produtiva com emprego de plantas de serviço (adubações verdes) e as diversas vantagens em relação aos sistemas de restauração simplificados sem o emprego de outras plantas além das árboreas nativas (Figura 1).


 Figura 1. Diálogo no SAF macaúba sobre recobrimento do solo, manejo de Gliricidia sepium em consórcio com bananeira e frutas nativas da família Myrtacea.

Atividade prática:

Após conhecer um modelo de sistema já implantado como exemplo, o grupo realizou a prática de plantio escalonado de um pequeno módulo de  500 m2 com plantio de Eritrina (árvore nativa da mata atlântica, pioneira de rápido crescimento) feijão de porco e mamona como adubação verde, banana BRS Princesa, tipo maçã, cultivar da Embrapa tolerante ao mal do panamá e quiabo. Estas espécies plantadas inicialmente são pioneiras,  de rápido crescimento para recobrimento da área. Posteriormente numa 2° etapa de plantio serão plantadas espécies secundárias de crescimento mais lento e que se desenvolvem melhor nos ambientes parcialmente sombreados e mais protegidos proporcionados pelas plantas de recobrimento.

 

Figura 1. Orientação para realização da prática de plantio.

Figura 2. Atividade prática de plantio.

Conhecendo outros sistemas de restauração produtivos:

Após a prática de plantio foi realizada visita a outros módulos de restauração mais antigos, instalados na APTA. No “SAF Olho D’água” cuja implantação iniciou em janeiro de 2012 e encerrou em 2013 os visitantes puderam conhecer as diferenças entre os plantios realizados a partir de sementes e os realizados com mudas. Nessa área de 2000 m² foi realizado plantio no espaçamento comercial em área total de banana BRS Conquista, cultivar tolerante às principais doenças que atacam a cultura da banana juntamente com diversas árvores nativas como o guapuruvú e a palmeira jerivá e as frutíferas grumixama, araçá, cabeludinha, entre outras.

Em seguida o grupo conheceu uma área de pouco mais de 1 hectare , vizinha ao SAF olho d’água onde foi realizado um plantio de restauração exclusivo com sementes, em área total no sistema muvuca de sementes. Nessa área foram semeadas diversas espécies de adubação verde como feijão de porco e crotalária (exóticas) com adubações verdes nativas como o Anil (Indigofera tinctoria) e diversas espécies arbóreas nativas como pau viola, jatobá, sangra d'água e outras (Figura 2).

Figura 2. Plantio realizado por semeadura direta com mix de espécies nativas arbóreas e adubação verde

O pesquisador ressaltou as vantagens do plantio por sementes, que é realizado muito mais rápido e com baixo custo e ´menor necessidade de mão de obra em relação ao plantio de sementes.  Um diferencial específico desse plantio é o uso de  espécies nativas como adubação verde (o anil por exemplo) ao invés de apenas as espécies exóticas mais comumente utilizadas.

No período da tarde foram visitados ou 2 módulos de SAF mais antigos da APTA , implantados em 2011, o SAF Pupunha  e o SAF Banana. Nesses locais falou-se sobre a importância de fechar a área com cerca viva (nesse caso cerca de margaridão) para reduzir efeito de borda e a entrada de sementes de gramíneas indesejadas nos sistemas com o vento. Conheceram as espécies exóticas ornamentais que ocupam espaços no sistema e podem ser consideradas invasoras embora realizem a função ecológica ocupando o extrato herbáceo no sistema. Também viram os rizomas de cúrcuma espalhados na área que se desenvolvem espontaneamente com o início das chuvas, podendo ser colhidos todos os anos sem a necessidade de replantio posterior.  Em ambos os módulos, as bananeiras plantadas inicialmente foram retiradas do sistema devido ao sombreamento proporcionado com o avanço do desenvolvimento das árvores nos sistemas (Figura 3).

Figura 3. Visita ao SAF Pupunha.

Ao final conheceram o horta/coleção de PANCs apresentada pela pesquisadora Cristina Castro com diversas espécies que toleram sombra e podem ser cultivadas nos sistemas agroflorestais, e o banco de sementes de adubação verde podendo conhecer as diversas espécies e suas aplicações na restauração florestal.



9 de out. de 2021

ENTREVISTA com GOURA LILA DEVIDASSI PARA O PLANO DE AÇÃO DA REDE AGROFLORESTAL DO VALE DO PARAÍBA

Data:10/04/2021 - 9h

Local: on-line, Fazenda Nova Gokula, Pindamonhangaba.

Entrevistado: Goura Lila Devidassi - produtora agroflorestal 

Entrevistador: Patrícia Lopes - Pesquisadora

Esta entrevista com Goura Lila Devidassi (Figura 1) traz informações sobre a produção agroecológica de Nova Gokula, em Pindamonhangaba e as prioridades para a Rede Agroflorestal trabalhar. Boa leitura.  


Figura 1. Goura Lila Devidassi, em Nova Gokula, Pindamonhangaba - SP.

Bom, bom dia, meu nome é Patrícia. Estou aqui conversando com a Goura. Peço agora para você, por favor, me dizer seu nome completo.

Gilcelia Aparecida Gonçalves, o nome civil. E o meu nome espiritual é Goura Lila Devidassi.

Você está sediada em qual município?

GOURA: Pindamonhangaba. No bairro do Ribeirão Grande, na fazenda Nova Gokula.

Como que você chegou até a vida no campo, de produção rural, se você sempre viveu aí e qual foi o caminho para chegar até aí, nesse formato de vida? O que te motivou a fazer essa escolha?

GOURA: Eu vim para Nova Gokula em 2009, para fazer um trabalho de adequação ambiental para a fazenda Nova Gokula e comecei essa caminhada não como agricultora mas fazendo esse trabalho de articulação perante os órgãos ambientais, para regularizar algumas pendências ambientais que a Nova Gokula tinha na época. E em 2013 eu conheci o pessoal da Rede Agroflorestal, com o Antonio Devide e a Cristina (Castro - pesquisadora), e o pessoal do assentamento. Também vi a nossa carência de sustentabilidade e de apoio na área, para as famílias de baixa renda de Nova Gokula, e comecei a me engajar nesse movimento com parceria com o sindicato rural, na época era a Lucila Rangel. Fiz uma parceria com eles e trouxe um curso de capacitação, de olericultura orgânica para a Nova Gokula. Porque o devotos não tinham muita aptidão para a terra, achavam que era muito difícil plantar, mas através desse primeiro curso que eu consegui, eles viram que era mais fácil. E em 2014 o Antônio Devide trouxe um mutirão agroecológico, agroflorestal, aqui para a Nova Gokula (Figura 2). Aí comecei e não parei mais. Peguei gosto!

Figura 2. Mutirão agroflorestal realizado em 04/12/2014 na Fazenda Nova Gokula.

Como é que funciona a organização aí de vocês, né? Como é que existe uma organização mínima, de construção coletiva de esforços para mudanças que são necessárias, tanto na propriedade que você está inserida, quanto no entorno, com as outras propriedades do Ribeirão Grande? Existe uma articulação, tem uma liderança, tem um movimento que funciona ou que não funciona? Como é essa organização?

GOURA: Aqui a gente tem uma coordenadoria de agricultura e de proteção aos bovinos. Ela é institucionalizada e eu faço parte, sou a coordenadora. A gente trabalha com agricultura familiar, e com agricultura nas áreas que são da instituição. Nessas áreas institucionais, geralmente a gente planta em maior escala e a gente fomenta a agricultura familiar para fortalecer as famílias que tem essa aptidão, porque nem todos tem essa aptidão. A gente faz esse trabalho. Em relação ao entorno, eu conheço algumas pessoas, mas ainda não existe uma liderança, com alguns encontros pontuais. Isso é uma carência, apesar de existirem alguns agrofloresteiros por aqui. Tem o sr Fernando, a Marilda, a Angela, a Daniela Querido que é aqui do lado, e um outro pessoal. Tem o Vivaldo, o seu Antônio, o Claudio Macedo, que a gente também tem essa parceria com o entorno. Fazemos algumas trocas, mas a gente não tem nada formalizado e constituído, de uma forma que tenha encontros pontuais, ou alguma organização melhor. A gente tem também o apoio do pessoal que é do bairro, que a presidente e a vice que tem essa vontade de trazer algum projeto sustentável para os jovens do Ribeirão, algo agroecológico e agroflorestal. A gente até chegou a conversar sobre isso, mas entrou a pandemia justo quando apareceu o Instituto Auá, que começou esse movimento do entorno mais forte. Mas logo em seguida começou a pandemia e a gente sessou todos os trabalhos. Nesse momento, estou trabalhando com voluntários em Nova Gokula, nas áreas, e a gente está na caminhada.

E o que que você vê de importante na agrofloresta, nesse formato de produção agroflorestal?

GOURA: O que me interessou foi a diversidade, por que eu acho ser muito rico, a questão de inibir doenças e pragas, por ser um sistema que é mais saudável, é uma harmonia para todas as espécies inseridas, e acho a facilidade do manejo. Porque você já faz um consórcio com a sua necessidade do seu plantio, e isso minimiza bem o tempo de ter que trazer insumos de fora, ou comprar insumos. No começo é um pouco trabalhoso mas o que estou vendo com a minha experiência é que a longo prazo, ele é sustentável. E você sempre está colhendo alguma coisa, tem sempre produtos pra você colher. Isso é uma riqueza que me inspira muito na agroflorestal, na agroecologia.

E como que você define a Rede? O que que é a Rede Agroflorestal para você?

GOURA: Para mim a Rede Agroflorestal representa o apoio, que a gente tanto precisa e ela representa a sabedoria que eu adquiri, através da Rede. Quando eu comecei eu não sabia nada e através dos mutirões, muitas das vezes em consultorias com o Antonio Devide na APTA (Polo Regional Vale do Paraíba, setor de fitotecnia, 2GJW+9P Pindamonhangaba, São Paulo), eu fui adquirindo conhecimento. A Rede, pra mim, é muito importante na questão do aprendizado e na questão de fornecimento de sementes e mudas. Os mutirões também são muito ricos porque eles trazem essa ajuda que falta para o agricultor que trabalha sozinho. Pra mim, a Rede é essencial. A existência dela é muito significativa. E estou na Rede desde 2012, desde que começou eu estou participando. Não tão intensamente mas... Eu vi que ela transformou muitos lugares. Transformou muitas pessoas. Nos dias de hoje, onde a gente tem tantas áreas degradadas, tanto alimento contaminado, a Rede Agroflorestal trouxe esse alívio de produção de alimentos com qualidade, pessoas capacitadas. Pra mim, a Rede é essencial que permaneça, que exista.

A outra pergunta é mais ou menos o que você já respondeu, mas se você tiver mais alguma coisa para complementar, da forma como você vê a atuação da Rede Agroflorestal, até o momento.

GOURA: A Rede é essencial. O suporte que ela nos dá. Pra gente que está na área rural, é grande. A Rede é muito importante, apesar de eu achar que precise acrescentar alguns pontos, mas todo o trabalho que a Rede fez é muito importante pra mim. Trouxe sustentabilidade, trouxe esse aprendizado nas áreas de pesquisa da APTA, que a gente pôde vivenciar. A Rede fez um trabalho muito bonito, com muito esforço, com muita dedicação... então a Rede pra mim, sinceramente, é uma luz no fim do túnel. Para mim e para o entorno. Tantas pessoas que eu vi crescer, que eu vi transformar através da Rede, é muito importante.

O que que você vê como importante para ser trabalhado para ser desenvolvido daqui para frente? Para os próximos anos, o que a Rede precisa se preocupar, quais as demandas? O que que você vê que falta e que precisa melhorar?

GOURA: Uma coisa que pode melhorar são as visitas técnicas nas áreas que tem SAF implantados, principalmente SAF que são iniciais, que a pessoa não tem muita experiência. Uma outra coisa que tem muita carência é a questão do mercado de venda. A gente geralmente tem a fragilidade financeira e precisa criar esse mercado de rede agroecológica, que hoje não existe. E também que precisa trabalhar a questão do traslado. Como esse pequeno produtor pode chegar com seus produtos até as cidades... São Paulo, São José, Taubaté... isso é uma coisa que precisa. Não adianta só plantar. Se você não consegue vender tudo que você planta, para traze a sustentabilidade pra onde você está, acaba que fica um pouco amarrado. Trabalhar a questão do mercado, criar uma rede de colheita. Para poder estar trocando esses produtos, e a questão do traslado, que é muito importante. Fazer chegar até os pontos de entrega o produto da agrofloresta.

Tem alguma outra coisa, no dia a dia de vocês?

GOURA: Eu acho que no meu dia a dia, a Rede precisaria de desenvolver maquinários para agrofloresta. Ex: o tronco da babana é muito legal, mas vai você que é mulher cortar um tronco da banana pra você ver... A Rede poderia ter esse olhar, entendeu. Desenvolver uma ferramenta, como já existe no mercado mas a Rede poderia ter essa produção, que a gente pudesse comprar ou algum produtor da Rede entrar nessa linha. Ex: ter uma motosserra menor, ter esses maquinários. A gente sabe que tem no mercado para vender, mas às vezes, na nossa região não tem. Igual a um ferro que corta os troncos da banana, que é muito prático, mas nem toda a serralheria faz esse tipo de equipamento. Seria legal. A fazenda da Toca (de Itirapina - SP), eles desenvolveram esse maquinário para a agrofloresta. Acho que é muito bacana se a Rede tivesse esses equipamentos, porque muitas das vezes a gente não trabalha com muitas pessoas e isso facilita o manejo, ajuda muito. Essas são minhas sugestões.

Importante ter essa fluidez... de produção de manejo, de venda...

GOURA: A gente precisa fechar o ciclo, né... plantar, manter, aprender, colher, processar e vender. Tem que fechar esse círculo. Não dá só para plantar. Atualmente é a minha dificuldade. Às vezes você perde produto porque estou a 26km de Pinda e é difícil o acesso, não tenho carro, enfim.. precisa de fechar esse círculo. Trabalhar com esse olhar. Seria legal a Rede também ter o seu selo, uma plataforma de venda, ter um estande que vai para essas feiras nacionais e internacionais, desenvolver de fato um olhar de empreendedorismo.

Agradeço muitíssimo.

GOURA: Eu que agradeço!

6 de jul. de 2021

ENTREVISTA com PEDRO DE ALCÂNTARA MAGALHÃES PARA O PLANO DE AÇÃO DA REDE AGROFLORESTAL DO VALE DO PARAÍBA

Data: 9/4/2021 - 9h

Local: Sítio do Pedro na Estrada do Pinhão do Borba, Pindamonhangaba.

Entrevistado: Pedro de Alcântara Magalhães - veterinário e produtor agroflorestal 

Entrevistador: Antonio Devide - Pesquisador

Esta entrevista com o meu amigo Pedro (Figura 1) traz muitas informações sobre quais as prioridades que a Rede Agroflorestal precisa trabalhar, a oportunidade da integração da produção animal e vegetal, a necessidade do regimento interno e a certificação participativa, entre outros temas. A oralidade foi preservada. Então, não se avexe com os errinhos de nossa língua. Boa leitura.  

Figura 1. Pedro Magalhães e sua plantação de café em meio a diversidade de espécies: estrato baixo com cúrcuma, alto com banana, paineira e outras espécies, e emergente com mamão e imbiruçú.

Bom dia, eu tô aqui na casa de meu amigo Pedro, vou pedir para você se apresentar pra falar o seu nome e o local que a gente tá.

É, o meu nome é Pedro de Alcântara Magalhães. Eu tô aqui no bairro do Borba em Pindamonhangaba, perto da cidade, a mais ou menos 5 ou 6 km da cidade.

Pedro, essas perguntas que eu vou te fazer é prá um plano de ação da Rede Agroflorestal do Vale do Paraíba. Você concorda em ceder os direitos da tua voz e do contexto que vai ser a sua resposta pra contribuir com esse plano de ação?

Sim, sim.

Então tá bom. A primeira pergunta que eu vou te fazer é como você chegou ao campo? O que te trouxe pro campo, né? pra produzir e tudo mais, e o que que te trouxe para os sistemas agroflorestais?  

Então Devide, eu na realidade, eu sou... eu sou de uma cidade pequena. Então, a minha família, era uma família de agricultores. Era uma família que plantava café, que plantava... tinha gado caracu, naquela época. Então, a gente sempre teve ligado ao campo na realidade. E meu pai sempre foi uma pessoa, que talvez eu definiria como a primeira pessoa agroflorestal que eu conheci, né? Porque ele era muito, muito, muito ecológico. Ele tinha a fazenda dele... sempre foi uma floresta.

E qual o nome dele?

Irineu Magalhães. Irineu Magalhães. Já falecido. Ele nasceu em 1915. Quer dizer, naquela época não tinha aquele conceito ecológico. Naquela época era prá derrubar as coisas. O nosso conceito brasileiro era de derrubar florestas. A árvore era um incômodo prá todo mundo. E meu pai era uma pessoa, que pelo contrário, plantava árvores. Plantava muita árvores. E... então, esse foi o primeiro contato, na verdade, que eu tive com... como uma coisa ecológica. A gente já nasceu com o pensamento ecológico, né? De respeitar, de plantar mais coisas. Mesmo na época que eu... eu sempre tive sítio... Na época que eu tinha eu plantava no meio do mato. Plantava as coisas. Comprava muda, dava pros outros. Tinha essa preocupação de sempre... é uma coisa que vem dentro da gente, né? Basicamente, quando eu vim estudar medicina veterinária em Botucatu, né? Que... então, continuei. Um tempo trabalhei no campo, né? Trabalhei... naquela época quase ninguém se falava de medicina homeopática, na veterinária, já fazia curso de homeopatia. Então, sempre fui mais dessa área mais natural. Tratamento com homeopata. Tratamento com ervas, coisas que na época nem tinha. Tinha farmacêutico. Então o nosso... o nosso começo foi mais ou menos assim.  

Então a tua origem nos sistemas agroflorestais foi com essa história de família, né?

Sim. Eu também, passei uma época, é... perto de Belo Horizonte, num sítio que era um sítio ecológico. E lá eu comecei a ter mais consciência do que eu fazia. Porque nós távamos num lugar que era totalmente voltado para agricultura orgânica.

Que ano que era esse?

Era mais ou menos 80, 81... mais ou menos, né? Por aí. E eu passei alguns meses morando lá. E com a gente de lá... eu tive a sorte de conhecer um agrônomo que era austríaco, lá. Chamava ‘Frans Lehar’. ‘Frans Lehar’. Ele, na época, já tinha quase uns 80 anos. E ele era totalmente voltado para agricultura orgânica. Mas nem se falava esse nome orgânico.

E qual o nome desse sítio?

É... Mãe D’água. Sítio Mãe D’água.

Belo Horizonte?

Perto de Belo Horizonte. Era perto de Brumadinho, por alí. Então, alí realmente reforçou esse meu conceito de orgânico. De lá prá cá, quando eu saí de lá, nunca mais... fui morar em Mato Grosso, com prestígio lá, comprei propriedade, nunca mais soube o que é comprar um adubo químico. O que que é, nem sei que é quando se fala 4-14-8, nem sei o que que é isso mais. Eu não sei. Passei a trabalhar com rotativa, ervas, coisas mais culturais dentro da veterinária... né? Então, esse, depois, com o tempo me tornei... é... reforçou mais ainda a minha... o meu conceito agroflorestal foi aqui, aqui em Pinda, já. Através de vocês da Rede Agroflorestal. Né? Então, o Devide aqui, sempre um grande professor nosso. Eu sempre dele aqui. Olha, Devide é que me ensinou isso. Me ensinou aquilo. E... então, reforçou ainda mais meu conceito de... de... de ambiental que tá melhorando. É um passo a frente, né? Então, eu acho que esses três... esses três colegas... esses três momentos da minha vida, minha infância, o sítio lá e aqui na Rede reforçou muito a minha...       

Então, na situação recente, mais recente aí, essa fase que você indicou: a Rede Agroflorestal, como é que você define a Rede? Essa...

A Rede Agroflorestal foi fundamental aqui para o momento que nós estamos passando na Terra, inclusive, né? Eu acho que o conceito de agroflorestal é um conceito muito mais amplo, muito mais amplo na minha visão, que o próprio orgânico. Porque a própria terra ela faz, sim, a gente esquece do potencial da terra, a gente acha que a terra é uma coisa inerte, tá alí só prá receber adubo, prá receber... e a gente esquece a reciclagem que a terra faz. Ela é uma coisa viva. É uma coisa que eu noto aqui. Ela se impõe prá gente, a gente precisa aprender com ela. A Rede Agroflorestal é esse... digamos, conceito de humildade que a gente tem que ter. Nós somos apenas um elo dentro da terra, né? Nós somos apenas um pedacinho da vida. Então, o meu conceito... A Rede eu acho fundamental prá conscientizar os agricultores, os consumidores, né? Agregar, não só prá, para o meio ambiente, mas agregar valores assim, digamos, alimentos nutritivos com alta densidade de nutrientes, é o que estão precisando. Então, um conceito que eu acho fundamental da Rede é a recuperação do solo. Quando você recupera o solo, você recupera a vida das pessoas, né? Então, é uma interligação com as coisas. O solo, o ser humano, planta... tá tudo interligado. Quando nós destruímos o solo com a agricultura convencional nós fazemos destruir o homem lá na frente. Então, eu vejo a Rede prá mim é fundamental pro momento que nós estamos vivendo  (Figura 2)


Figura 2. Alta densidade e diversidade de espécies de plantas por metro quadrado em uma terra rica em húmus resultante da decomposição da matéria orgânica da poda de árvores.

Legal, então seria mais uma forma de regenerar essas questões, as ligações... as nossas ligações com a natureza, com a terra...

Sim.

Então, um tempo atrás a gente fez um projeto junto que você foi uma das pessoas que deu sentido pro projeto na escolha do título. Você lembra do título do projeto?

Olha. Aqui no momento, não lembro.

Não? Projeto Regeneração: religando o ser humano à natureza.  

Ah, sim! É...

É legal a gente lembrar desse título agora porque ele marca o início. Foi o primeiro projeto que a Rede Agroflorestal começou sem recurso, eu e você participou dele. A terceira pergunta que eu vou te falar é sobre as contribuições que a Rede, né, deu, até o presente, prá você, prá sua comunidade e a paisagem. A gente pode pensar nessas contribuições como uma questão pontual, né... foi um fermento para que algo acontecesse e eu chegasse aonde eu estou, e esse processo todo até onde eu estou trouxe que benefícios prá você? Que benefícios prás pessoas que mantém uma relação com você, no campo, na cidade, no consumo ou na amizade? E como que isso trouxe mudanças prá paisagem que te cerca?

É, eu começaria pelo final. A paisagem aqui, contando do meu sítio. Especificamente do meu sítio. É... mudou completamente. Eu chegava numa ponta do sítio e enxergava a outra ponta. Tinha algumas árvores que, inclusive, algumas até centenárias, né? Algumas, algumas, árvores grandes que eu tenho aqui. Mas, era só. Basicamente, era só. Então, a paisagem mudou radicalmente. O solo mudou radicalmente, né? A natureza mudou. Hoje eu tenho muito... até cachorro do mato, que tá perto da cidade, eu vejo aqui. Que tão chegando pro alimento. Então, a mudança da paisagem foi drástica, né? Porque, é... mudou completamente, né? A relação que eu acho é... não sei se eu entendi bem a pergunta, com a comunidade, com as pessoas da cidade...

Figura 3. Mudanças na paisagem no sítio do Pedro Magalhães, de 2010 para 2020, a agrofloresta se expandiu, no entorno a plantação de eucalipto diminuiu e as habitações na franja rurbana aumentaram.

E do entorno aqui, também...

Do entorno, eu acho que... eu acho que a gente crontribui pelo exemplo, né? Então, eu vejo assim que as pessoas daqui da região olham a gente, às vezes num primeiro momento, como uma pessoa que não tá fazendo nada. Que tá... aqui é um lugar que o mato cresceu e pronto. Que quando eles vêm aqui... e que eu mostro que tem muita banana, que tem muita goiaba, que tem muita acerola, que tem muito café, muito café, que tem muito mamão, que tem muito... a água tá brotando prá todo lado. Antes eu não tinha nada de água aqui. Hoje a água... tá muito mais abundante. Então a comunidade, pelo exemplo ela vai vendo que é um caminho. É um caminho. Né? E, com relação ao pessoal da cidade eu noto também que... existe hoje uma consciência maior de algumas pessoas em relação ao que consome, em relação ao que tem prá comer, e quando você fala como o seu sistema, como seu alimento é produzido, elas ficam encantadas. Então a gente tem exemplo ... que a gente faz a feirinha lá... Há muitos anos que eu levo os produtos, agora tá com uma barraquinha lá. E a gente vê a pessoa falar... olha, eu, ontem, na última feirinha, uma pessoa falou que não comia alface há muito tempo, porque o alface é ruim, é amargo. Quando ela levou o nosso ela voltou prá falar: olha, o melhor alface que eu comi na minha vida.

Eu comprei alface lá hoje!

Então, porque ele nasce naturalmente. Ele nasce com matéria orgânica. Não tem química prá ele crescer rápido. Então, nós estamos tentando resgatar, assim, aquilo que é natural. Aquilo que a natureza faz. Então, eu acho que a relação nossa com... com a comunidade, por exemplo, tem um senhos que tem um... um exemplo... tem um senhor que tem um filho com uma deficiência e precisava de açafrão. Mas ele não tinha uma confiança do açafrão que ele comprava. Então ele foi falar com a gente, sobre o nosso açafrão. Nós mostramos prá ele como é produzido e o mais importante, a gente deixa a porteira aberta prá quem quiser vir ver. Essa é a maior certificação que a gente pode ter. É você abrir a porteira. Você quer ir lá ver? E ele comprou o açafrão e na outra vez falou a diferença que era do outro açafrão que ele comprava. E o açafrão, eu não digo que estou mais produzindo açafrão. Porque o açafrão, a natureza produz. Eu plantei uma vez, agora ele vem. Então, a gente só vem numa boa, aí, colhendo.

Então, prá você, falou da comunidade, da paisagem,... prá você ajuda em que sentido? Esse trabalho da Rede?

Eu acho que ela (a Rede) ajuda mais na conscientização da gente, tá? Eu acho muito importante. Acho que nenhum trabalho consegue se formar se o ser humano não tiver consciência do que tá fazendo. Se eu simplesmente plantar árvore aqui, sem eu entender o porquê, sem entender os processos, sem entender o que eu vou esperar daqui um, dois, três, quatro anos. Então eu vou simplesmente não entender. Então, a conscientização que a Rede pode, que a Rede forneceu prá mim e pode fornecer prá outras pessoas é fundamental. Eu acho que a conscientização é a coisa mais importante que tem. Porque quando você é consciente, você faz a coisa certa (Figura 4).

Figura 4. Pedro mostra que precisa entender sobre a associação das plantas para fazer SAF: o mamoeiro produz sem varíola (fungo que ataca a espécie) numa ilha de luz,' com café ao fundo. 

Ótimo. A última pergunta, é... a gente vai ter um desafio, porque a gente precisa saber o que fazer, mas também como fazer, né? Então, vou pedir prá você organizar suas ideias e tentar responder prá mim assim: quais as prioridades da Rede para os próximos anos, dentro do Plano de Ação. Lembra que o Plano de Ação pode servir como um documento base prá gente trabalhar a questão da conscientização dos agricultores, dos técnicos, estudantes... ele pode servir prá gente focar a captação de recursos, projetos e mais recursos porque a Rede é uma associação que tá institucionalizada. Então, ela pode buscar editais, concorrer prá receber recursos. Então, eu queria que você visse a Rede como se fosse um lado também... não empresarial, no sentido frio, mas no sentido também da gente poder se organizar melhor prá atender algumas frentes. E que frentes são essas? As frentes prioritárias. Então, provavelmente a gente não consegue fazer tudo. A gente tem que buscar parcerias, também. Mas tem outras situações que já estão em andamento. Mas como Rede, o que você elencaria de prioridade pros próximos anos e como que a gente vai tratar essas prioridades?

É uma pergunta que precisaria pensar muito. Mas eu acredito, Devide, que a primeira coisa que eu, que eu... que eu notei nesses anos que a gente ficou junto, que a gente trabalhou junto, é que sempre que a gente começa a andar em uma direção, a gente já tá corrigindo os erros. Você só corrige os erros se você por a carroça prá andar. Então, eu acho assim, que... eu acho que a Rede ela precisa associar junto ao produtor o lado econômico, também. Porque o produtor tá lá, ele precisa colher o seu pão de cada dia. E muita gente implanta a agrofloresta, como nós vimos na última vez, na última vez quando eu tive lá, que a gente visitou vários produtores, e ele simplesmente achava que abandonava aquilo. Então, nós precisamos inserir o lado econômico dentro da Rede Agroflorestal. Ver qual a necessidade econômica da pessoa, até prá fixar o homem no campo. Prá deixar ela lá. Fazer a coisa ecológica. Fazer a coisa como deve ser feita. Então, esse eu acho que é um aspecto assim... é importante... é importante... aí você falou, não é só uma coisa fria, um lado econômico, frio, mas um lado econômico complicado. Nós estamos precisando realmente é, fazer com que a pessoa pare lá, que o filho dele pare lá. Então, ele precisa ter uma renda. Então, eu acho que o planejamento, nós precisamos, então é aí que eu falo, nós precisamos aprender com quem sabe mais. O japonês, ele diz que pensa em 10 anos e faz em um. E o brasileiro faz em um e fica 10 anos corrigindo. Então, eu acho muito importante, primeiro, planejar mais, conversar mais com a pessoa, por que você quer fazer a agrofloresta? Como? Só prá reflorestar? É uma coisa. Você quer pagar seu pão? Quer mexer com fruticultura, horticultura, pecuária? Então, eu acho isso é fundamental a gente antes de dar continuidade, fazer uma transformação no propósito da Rede. Antes de sair, até por aí... vamos aumentar, vamos chamar mais produtores, vamos fazer... não! Ver o que que cada um quer da agrofloresta. É muito amplo o... a agrofloresta. É muito bonito, porque ela é ampla. Você pode fazer horticultura, fruticultura, você pode criar cabrito, você... Então, eu acho muito importante fazer um planejamento melhor antes de ir na propriedade e conversar antes de implantar. Sentar com a pessoa e fazer um grande planejamento, prá buscar o quê que ela quer.     

Dentro dessa prioridade a gente já sabe que o planejamento, a questão econômica é um dos ponto fundamental prá fixar a pessoa e como fazer isso, né?

Como fazer isso? Com um bom planejamento.

Com um bom planejamento. Dentro das prioridades, qual seria a segunda prioridade... vamos falar assim, primeira, segunda, terceira, até a gente...

É dentro... dentro da área interna da Rede. Primeiro nós precisamos reestruturar essa parte. Fazer um planejamento melhor dessa parte. É... Antes de ir... é que eu falei... antes de ir no produtor, ver o quê que ele quer. Quê que é o sonho dele. Segunda coisa que eu acho dentro da Rede, é ampliar... Isso tá no meu conceito, né? Ampliar... prá fechar o ciclo, eu acho que prá fechar o ciclo de mentes, nós precisamos de animais na agrofloresta. Então, nós precisamos, principalmente, é... nós temos que fazer a agrofloresta com a consciência dele. Nós temos que fazer agrofloresta com ruminantes, nem que seja uma vaquinha só ou com dois, três cabritinhos. Se a pessoa é pequena, uma vaca equivale a oito cabras. Então, ele pode ter uma renda do leite, queijo. Ele pode ter uma renda e aproveitar é... tudo que a Rede Agroflorestal... por exemplo, vou dar um exemplo aqui que eu lembrei agora. O margaridão é muito usado na agrofloresta. Mas o margaridão é uma questão que é uma excelente forrageira. É uma excelente forrageira. Muito nutritivo. Pode ser feito silo com ela. Pode ser feito nutriente.  Então, é... você aproveita, né? O que tem na agroflorestal prá criar esse animal e esse animal vai reciclar os nutrientes que vai ser uma coisa que nunca mais vai acabar. Então, é, é... dentro dessa visão aqui, Devide, eu acho que a Rede teria que ter um núcleo dentro da Rede prá cuidar dessa área. Um terceiro aspecto que eu acho agora, é a gente tentar fazer alguma coisa que possa ouvir os agrofloresteiro. Como assim? Por exemplo, você falou, por exemplo, juçara. Poxa, será que nós podemos tirar açaí da juçara? A região é própria prá juçara. E porque que nós não podemos fazer uma pequena fábrica de polpa, que é uma coisa barata, não precisa de grandes investimentos. Por exemplo, né? Se cinco, seis agrofloresteiros, aí, que criam cabras, por exemplo, porque nós não podemos fazer um minilaticínio, ou uma coisa desse tipo? Então, é reunir todos com um propósito comum, prá farinheira, alguma coisa. Então, esse seria um terceiro aspecto.

Então o terceiro aspecto seria estruturar dentro da Rede áreas específicas, trazer as pessoas para essas áreas e criar um mecanismo que elas pudessem dialogar prá agroindústria de polpa, laticínio,

Isso...

Fábrica de vinagre, cada setor teria sua, seu coletivo e fazendo a... a coisa girar. É, eu vou me adiantar. Você na feira falou uma questão que era ligada à comercialização, certificação. Você pediu para trabalhar esse tema dentro da Rede, prá resgatar. Você mantém isso? Como é que você vê essas duas coisas? Caminham juntas? O quê que você propõe aí? É uma prioridade?

Olha, eu acho que é muita prioridade. Por que o quê que tá acontecendo? Eu acho que sequestraram esse termo orgânico. Eu acho que eles escravizaram o produtor. Eu acho que você pagar por aquilo que você faz é certo? Sendo que o teu vizinho alí, põe fogo, destrói? E você que tá fazendo certo tem que pagar por isso? Isso é um despropósito tal. Que eu acho que o brasileiro acostumou com aquilo que não é... que é um despropósito... Ele acostumou. Então, a gente segue como rebanho. Todo mundo tá fazendo, então eu vou fazer também. Eu vou certificar. Aí vem a certificadora aqui, fica meia hora aqui por ano, por ano, dentro da minha propriedade... são pessoas excelentes, eu não tô falando nada pessoal, são pessoas maravilhosas que vieram aqui... todas elas. Então, não é nada pessoal. Mas eu digo, o sistema. Ficam o máximo, no máximo que ficaram na minha propriedade por ano, foi uma hora. Dessa uma hora, Devide, ficou 40 minutos sentado aqui na mesa, vendo papel. Tá, semente, o que você produziu, o que não produziu, aí dá uma voltinha aqui, eu tô certificado. Então, se você for ver bem, isso é uma tapeação. O cara fala assim, eu finjo que certifico e você finge que acredita. Você finge que vende um produto bom. Então, o quê que eu quero... o que que eu quero dizer aqui, que nós ficamos reféns. Que agora nós precisamos, prá falar que eu sou orgânico, que eu tenho que pagar, e pro pequeno proprietário, o cara paga mil, mil e quinhentos reais por ano, isso quando ele faz certificação em grupo, senão, é muito mais caro. Ele pega dez anos, tem quinze mil reais. Ele tem quinze mil reais em dez anos. Que ele deu prá quem? Deu pro cara falar que ele é orgânico.

Prá gente voltar pro tema da Rede, é uma prioridade a Rede certificar? E isso tá associado... eu queria que você... é... trouxesse esse tema prá cá, assim, duma maneira bem pontual. Prioridade prá Rede...

Eu até já fiz esse preâmbulo aqui do orgânico prá dizer justamente que no caso a Rede Agroflorestal, bom, se for fazer isso aí, não pode cair nos mesmos erros do que eu tô te falando. Porque o que acontece. Nós vamos simplesmente atestar que a pessoa é... é... bom, faz a cosia certa...

Mas é uma prioridade a Rede certificar?

Total! Sim. Certificar. Por quê? Porque eu posso chegar com o meu produto amanhã e dizer: eu produzo no sistema agroflorestal certificado por tal certificadora. Mas essa certificadora não tá lá prá ganhar dinheiro em cima das minhas costas. É uma coisa que tem que ser, na minha visão, Devide, uma coisa assim é... naturalmente. Você, você... Por exemplo a Rede Agroflorestal... A Rede pode ter um atestadinho: o Pedro pertence à Rede Agroflorestal. Não precisa mais que isso. Aí o cara fala, mas quem e a Rede Agroflorestal... Aí, sim, eu vou te falar o que é a Rede Agroflorestal. É assim, assim, assado. Então, eu acho fundamental a gente sair dessa escravidão dos orgânicos. Eu acho bacana, é lógico que tem que ter as diretrizes, tem que ter a... tem que ter a... pode isso, não pode aquilo.

Pedro, aí você falou uma questão central, que precisa ter um certificado de produto agroflorestal e você falou como. A Rede emitir um certificado de que eu sou um associado da Rede Agroflorestal, é isso?

Sim.

Dentro desse processo de... de trazer a pessoa e oficializar a certificação, você falou duma questão de custo, despesa. Que nós não caímos no mesmo erro. Como é que você vê uma Rede funcionando dentro dessa dinâmica. Eu não queria fugir do objetivo de coletar suas perguntas, mas isso é um serviço que seria prestado. Você acha que a Rede deve arrecadar uma colaboração anual, você acha que a Rede deve fazer isso voluntariamente porque a essência da Rede sempre foi esse, esse tipo de serviço?

Então, Devide. Eu acho que aí, é... eu acho que precisa ter muita conversa. Que é lógico que eu não tenho a solução pronta prá você. Eu não tenho aqui a formulazinha pronta. É lógico que tudo hoje em dia tem um custo. A gente quando fez essa associação orgânica, a associação contribuiu... cada um contribuiu um pouquinho por mês. Isso é diferente. Então, paga as despesinhas da associação, né? Isso, então, precisaria, eu acho, a gente conversar mais prá chegar a um denominador comum. Eu não tenho, não tenho aqui a fórmula que seria.

Então a gente pode colocar isso como um quarto ponto, que são os acordos internos? A Rede criar os mecanismos, os momentos prá ter esses acordos internos? (risos)

Sim. 

Isso é uma prioridade, então. Tem que tornar... dar visibilidade a isso. Dentro dessas prioridades, teria mais alguma coisa que você queria falar, colocar pro grupo?

(risos)... Então, o Devide. Eu acho, assim. Tudo, tudo na vida acaba tendo uma solução. E a gente tem que achar um meio termo aí... prá dizer pro consumidor que nós produzimos um alimento saudável. Nós temos que achar isso, esse mecanismo de dizer prá pessoa, olha, você tá comprando uma coisa que você pode ter confiança. Isso que eu acho mais importante, sabe? Porque a gente... a gente, é tá lhe dando com muito tipo de gente, hoje. Hoje, mais desconfia do que confia no ser humano. Um desconfia do outro.

Seria, essa parte seria da comunicação social?

Tá, de uma comunicação assim... eu, o produtor, quando ele tá lá sozinho vendendo o seu produto, distribuindo o seu produto... Ele, ele, eu acho que ele poderia ter uma retaguarda... prá... inspirar confiança no consumidor... né? Então, essa... essa... inspiração de confiança, o orgânico está perdendo. Esse que eu não queria que a agrofloresta perdesse. Porque todo mundo sabe, o cara quando você conversa com ele, e fala, olha: o cara fica meia hora na minha propriedade e me certifica. Mas, depois que ele vai embora, se você quiser botar veneno, você põe? Ué, se eu quiser, eu ponho. E é o que acontece muitas vezes. Aqui aconteceu isso. Em Pindamonhangaba. Aconteceu isso, da pessoa pegar produto em Taubaté, no mercado, lá, no Mercatau, e vender como orgânico. E quem que descobre? A certificadora nunca vai descobrir. Então, é isso que eu acho que a gente precisa tá quando fala em agrofloresta. Eu acho que a agrofloresta é muito mais completo, é muito mais confiável, mas ela precisa é... da gente... o produtor que tá na agrofloresta, ele precisa um papelzinho... olha, eu sou da Rede Agroflorestal, por exemplo. Só isso. Mais nada. Mas dentro do estatuto da Rede tem que estar lá, escrito assim... olha, eu vou visitar a sua propriedade a hora que eu quiser. Tá, se eu chegar lá e ver alguma coisa muito errado eu sou obrigado a te falar.

Dentro da Rede a gente fez um estatuto e ele é um estatuto de uma associação como qualquer outra, quer dizer, ligado... ligado ao padrão, sob o ponto de vista jurídico, mais focado para a agrofloresta, prá agroecologia, prá agricultura familiar... prá esses valores aí. É... agora a gente... a gente tem uma das metas fazer o... o regimento interno.

Regimento interno.

É, isso poderia fazer parte do regimento interno. Eu posso colocar apresentando isso como uma prioridade dentro do regimento interno. As atribuições do associado, o credenciamento dele, e de uma certa maneira, não a fiscalização, né? Mas o reconhecimento.

Eu acho que o acompanhamento.

O acompanhamento. Porteira aberta.

Porque, outra coisa que eu acho que foi um erro muito grande da associação de orgânicos, lógico, que na hora ninguém parou prá pensar nisso. Foi a falta de um regimento interno. Porque a pessoa chegava lá, Devide, você não conhecia a pessoa, você não sabia onde ela tinha a propriedade. Você não sabia nem o nome da pessoa, e já certificavam. Então, a primeira coisa que eu acho... é... uma das coisas que... que... eu acho fundamental, você quer entrar na Rede Agroflorestal como produtor? Quanto mais gente, melhor, Mas, também, não podemos deixar entrar pessoas sem uma boa análise da pessoa.

Envolvimento, né?

Sem envolvimento dela. Sem envolvimento. Saber o que ela pensa, o que ela quer. Como que é a propriedade dela. O quê que ela tá fazendo? Que isso aí desmancha, desmanchou a nossa associação. Uma pessoa consegue desmanchar toda uma estrutura que estava pronta.

Você acha que teria que ter então um tempo de carência dessa pessoa ser... não é aceita, mas é... receber uma declaração de que faz parte...

Eu acho que tem que ter. Porque a gente punha a pessoa na associação de orgânicos, sem nunca ninguém ter entrado na propriedade dela.

E isso é uma tarefa que poderia ser feita pelos vizinhos, né? São os amigos mais próximos e isso fortaleceria o próprio núcleo, né?

Eu acho que foi uma ideia muito bacana da associação dos orgânicos. Eu acho que foi uma sugestão minha, até. Por que não faz uma reunião em cada sítio por mês? Todo mês faz num sítio. Alí você vê, você olha, você ajuda, você vê se a pessoa, tá certa, errada, você dá sugestão.

É, esse é o princípio do sistema participativo de garantia, SPG, né? Então, seria uma forma de a gente trazer isso prá Rede prá gente preparar isso. Dentro dessas prioridades tem mais alguma coisa que você quer colocar aqui, que não passou e precisa ser caracterizada ? É importante.

Olha Devide, eu acho que a gente teve uma boa conversa, sabe? Acho, eu acho muito importante essa... essa... isso que você faz. De coração eu falo. A gente precisa ter uma pessoa que una as outras. Porque, principalmente no meio rural, fica muito isolado um do outro. Apesar de hoje tá todo mundo se comunicando, zap e tal, mas o... alguém que coordena essa turma. Então eu acho muito importante vocês ficarem nessa liderança, sabe? Isso era uma sugestão que... porque sem liderança a coisa não anda. Sem liderança a coisa não anda.

Muito obrigado.

Eu que agradeço.

Obrigado pelo café, pela combucha, pelo vinagre, pelos queijos, um abraço.

Obrigado Devide. Apareça sempre.